sábado, 10 de outubro de 2009

XXVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM (ano B)



Leitura do Livro da Sabedoria
(Sab 7,7-11)
Orei e foi-me dada a prudência; implorei e veio a mim o espírito de sabedoria. Preferi-a aos ceptros e aos tronos e, em sua comparação, considerei a riqueza como nada. Não a equiparei à pedra mais preciosa, pois todo o ouro, à vista dela, não passa de um pouco de areia e, comparada com ela, a prata é considerada como lodo. Amei-a mais do que a saúde e a beleza e decidi tê-la como luz, porque o seu brilho jamais se extingue. Com ela me vieram todos os bens e, pelas suas mãos, riquezas inumeráveis.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 89 (90)

Refrão: Saciai-nos, Senhor, com a vossa bondade e exultaremos de alegria.

Ensinai-nos a contar os nossos dias,
para chegarmos à sabedoria do coração.
Voltai, Senhor! Até quando?
tende piedade dos vossos servos.

Saciai-nos, desde a manhã, com a vossa bondade,
para nos alegrarmos e exultarmos todos os dias.
Compensai em alegria os dias de aflição,
os anos em que sentimos a desgraça.

Manifestai a vossa obra aos vossos servos
e aos seus filhos a vossa majestade.
Desça sobre nós a graça do Senhor.
confirmai em nosso favor a obra das nossas mãos.


Leitura da Epístola aos Hebreus
(Heb 4,12-13)
A palavra de Deus é viva e eficaz, mais cortante que uma espada de dois gumes: ela penetra até ao ponto de divisão da alma e do espírito, das articulações e medulas, e é capaz de discernir os pensamentos e intenções do coração. Não há criatura que possa fugir à sua presença: tudo está patente e descoberto a seus olhos. É a ela que devemos prestar contas.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
(Mc 10,17-30)
Naquele tempo, ia Jesus pôr-Se a caminho, quando um homem se aproximou correndo, ajoelhou diante d’Ele e Lhe perguntou: «Bom Mestre, que hei-de fazer para alcançar a vida eterna?» Jesus respondeu: «Porque me chamas bom? Ninguém é bom senão Deus. Tu sabes os mandamentos: ‘Não mates; não cometas adultério; não roubes; não levantes falso testemunho; não cometas fraudes; honra pai e mãe’». O homem disse a Jesus: «Mestre, tudo isso tenho eu cumprido desde a juventude». Jesus olhou para ele com simpatia e respondeu: «Falta-te uma coisa: vai vender o que tens, dá o dinheiro aos pobres, e terás um tesouro no Céu. Depois, vem e segue-Me». Ouvindo estas palavras, anuviou-se-lhe o semblante e retirou-se pesaroso, porque era muito rico. Então Jesus, olhando à volta, disse aos discípulos: «Como será difícil para os que têm riquezas entrar no reino de Deus!» Os discípulos ficaram admirados com estas palavras. Mas Jesus afirmou-lhes de novo: «Meus filhos, como é difícil entrar no reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus». Eles admiraram-se ainda mais e diziam uns aos outros: «Quem pode então salvar-se?» Fitando neles os olhos, Jesus respondeu: «Aos homens é impossível, mas não a Deus, porque a Deus tudo é possível». Pedro começou a dizer-Lhe: «Vê como nós deixámos tudo para Te seguir». Jesus respondeu: «Em verdade vos digo: Todo aquele que tenha deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou terras, por minha causa e por causa do Evangelho, receberá cem vezes mais, já neste mundo, em casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, juntamente com perseguições, e, no mundo futuro, a vida eterna».


A PESSOA MAIS RICA...
Nestes últimos domingos, fomos confrontados com algumas das nossas reacções naturais a temas polémicos tais como: o poder (“Quem é o maior?”), a diversidade (“Não é dos nossos!”) e a afectividade (“Pode um homem repudiar a sua mulher?”). A cada um destes comportamentos, Jesus propôs uma atitude nova e radicalmente diversa. Hoje somos convidados a meditar sobre a nossa relação com os bens materiais e o nosso desejo de acumular.

O jovem rico do evangelho deste domingo não era uma “má pessoa”, mas Jesus sabia que entre ele e a proposta do Reino havia um obstáculo insuperável: era prisioneiro dos seus próprios bens. Algumas pessoas vivem tão obcecadas com os bens materiais que se tornam escravas da riqueza. Têm casas que nunca visitam, carros que nunca guiam, roupas que nunca vestem, mas mesmo assim desejam sempre mais riquezas e são incapazes de partilhar o que têm com os outros. É quase como uma doença! Pensam possuir muitas coisas, mas na verdade, são elas que são “possuídas”. Os bens materiais tornam-se um ídolo e essa divindade pode pedir sacrifícios muito grandes: amizades, saúde, laços familiares... Tudo é sacrificável no altar do “deus tostão”.

Ninguém nos pede que vivamos uma vida miserável, mas o “culto da riqueza” é absolutamente incompatível com a proposta de Jesus. O Senhor quer que os nossos corações sejam livres e o convite que Ele faz ao jovem rico pede (e, simultaneamente, promete!) uma grande liberdade interior. A pobreza extrema é um mal que conduz ao desespero e que temos sempre de combater, mas uma vida simples, dedicada à solidariedade, à partilha e à doação, é verdadeira felicidade ao alcance da mão.

Nos últimos doze anos mudei várias vezes de casa e notei que em cada mudança o número das bagagens foi diminuindo significativamente. Em parte é culpa das companhias aéreas, que aumentaram muito o valor das multas por excesso de peso; mas por outro lado é também a experiência que vai ensinando o quanto são supérfluas algumas coisas e quão pouco realmente basta para se viver dignamente. Se bem que ainda viaje com muita coisa inútil, aos poucos vou aprendendo esta verdade importante: a pessoa mais rica não é aquela que tem muito, mas sim a que não precisa de nada.

(Tenham uma boa semana!)


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3 comentários:

Padre Leo disse...

Padre Carlos, estou cada vez mais surprendido pelos teus comentários à Palavra de Deus; Louvo e agradeço o Senhor! Estou contido em oração para que o Espírito Santo te ilumine cada vez mais com o dom da Sabedoria. Fraternalmente, Padre Leo cs

dinah calado disse...

Boa tarde Padre Carlos
Uma vez mais, como sempre, beneficiei da sua paz e da sua palavra. Ela é certeira e, ao mesmo tempo, leve, adequada e como que cheia de luz...
Bem haja. Que Deus lhe dê força para continuar.
Com todo o afecto e admiração.
Dinah Calado.

gils disse...

Olá Carlos, aproveitando a maré de política que por cá se vive, não posso deixar de escrever este comentário, que para uns poderá parecer chocante, mas como me conheces, sabes que gosto de questionar e até racionalizar as coisas que me rodeiam.
Como tal esta faceta de partilha e igualdade que segundo a bíblia Jesus tinha, já me levou muitas vezes a concluir que Jesus foi o primeiro comunista a ser crucificado.
Pois vejamos brevemente o que defende o ideário dos "comedores de criancinhas":
"O objetivo do comunismo é atingir assim a mais ampla igualdade
entre os membros da sociedade. Pressupõe que a eliminação de
toda e qualquer desigualdade (pelo menos no que se refere ao bem-estar
material) também leve ao desaparecimento do antagonismo entre grupos e classes sociais e, portanto, as pré-condições da abundância de bens, cuja distribuição poderia deixar de ser antagônica, realizando-se a igualdade num situação de bem-estar geral."
Parece-me que há aqui muito em comum entre estas duas formas de ver a vida!
Contúdo, não consigo ainda perceber, o que levou duas formas de pensar, que em tantos pontos se cruzam, a uma separação tão radical. Quase que me atreveria a dizer repulsa mútua.
Curiosamente, os que partidos capitalistas, que mais preconizam a diferença entre as classes, a geração de fortunas e consequentemente a insatisfação face às posses e bens materiais, (partidos de direita), são aqueles que aparecem na fila da frente da igreja e que muitas vezes a utilizam como forma de captar mais alguns votos, aproveitando-se da fé de outras pessoas que não conseguem visualizar esta falta de coerência.
Contudo vai sendo cada vez mais difícil seguir esse ideal, pois qualquer dia já ninguém tem nada para partilhar...

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