quarta-feira, 30 de maio de 2012

SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE (ano B)


Leitura do Livro do Deuteronómio
(Deut 4,32-34.39-40)
Moisés falou ao povo, dizendo: «Interroga os tempos antigos que te precederam, desde o dia em que Deus criou o homem sobre a terra. Dum extremo ao outro dos céus, sucedeu alguma vez coisa tão prodigiosa? Ouviu-se porventura palavra semelhante? Que povo escutou como tu a voz de Deus a falar do meio do fogo e continuou a viver? Qual foi o deus que formou para si uma nação no seio de outra nação, por meio de provas, sinais, prodígios e combates, com mão forte e braço estendido, juntamente com tremendas maravilhas, como fez por vós o Senhor vosso Deus no Egipto, diante dos vossos olhos? Considera hoje e medita no teu coração que o Senhor é o único Deus, no alto dos céus e cá em baixo na terra, e não há outro. Cumprirás as suas leis e os seus mandamentos, que hoje te prescrevo, para seres feliz, tu e os teus filhos depois de ti, e tenhas longa vida na terra que o Senhor teu Deus te vai dar para sempre».


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 32 (33)
Refrão: Feliz o povo que o Senhor escolheu para sua herança.

A palavra do Senhor é recta,
da fidelidade nascem as suas obras.
Ele ama a justiça e a rectidão:
a terra está cheia da bondade do Senhor.

A palavra do Senhor criou os céus,
o sopro da sua boca os adornou.
Ele disse e tudo foi feito,
Ele mandou e tudo foi criado.

Os olhos do Senhor estão voltados para os que O temem,
para os que esperam na sua bondade,
para libertar da morte as suas almas
e os alimentar no tempo da fome.

A nossa alma espera o Senhor:
Ele é o nosso amparo e protector.
Venha sobre nós a vossa bondade,
porque em Vós esperamos, Senhor.


Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
(Romanos 8,14-17)
Irmãos: Todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Vós não recebestes um espírito de escravidão para recair no temor, mas o Espírito de adopção filial, pelo qual exclamamos: «Abba, Pai». O próprio Espírito dá testemunho, em união com o nosso espírito, de que somos filhos de Deus. Se somos filhos, também somos herdeiros, herdeiros de Deus e herdeiros com Cristo; se sofrermos com Ele, também com ele seremos glorificados.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 28,16-20)
Naquele tempo, os onze discípulos partiram para a Galileia, em direcção ao monte que Jesus lhes indicara. Quando O viram, adoraram-n’O; mas alguns ainda duvidaram. Jesus aproximou-Se e disse-lhes: «Todo o poder Me foi dado no Céu e na terra. Ide e fazei discípulos de todas as nações, baptizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a cumprir tudo o que vos mandei. Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos».


BOA NOTÍCIA
Criados à Sua imagem
No próximo domingo, dia 3, celebramos a solenidade da Santíssima Trindade. Conta-se que um dia, Santo Agostinho passeava na praia e com muito esforço tentava compreender este mistério da fé: um único Deus em três pessoas distintas... A uma certa altura, viu um menino que corria com um balde na mão. Repetidamente, o menino ia até ao mar, enchia o balde, levava-o com jeitinho até junto de um buraco na areia e vazava a água lá dentro. Agostinho perguntou-lhe: «O que estás a fazer?». O menino respondeu com simplicidade: «Estou a colocar o mar dentro deste buraco». Agostinho sorriu e disse: «Não vês que isso é impossível? O mar é tão grande e essa covinha é tão pequena!» O menino respondeu: «É mais fácil que o mar caiba nesta cova do que o mistério da Trindade seja entendido por um homem!».

A Solenidade do próximo domingo não é um convite a decifrar o enigma de “um Deus em três pessoas”: é uma oportunidade para meditarmos o que a Trindade nos ensina sobre nós mesmos. Deus não é solidão; não é o perfeito egoísta imutável que basta a si mesmo e subsiste sozinho. Deus é comunhão, relação, amor que se move na direcção do outro. E nós fomos criados à Sua imagem e semelhança! Jean-Paul Sartre dizia que «o inferno são os outros», mas Jesus mostra-nos que não podemos abraçar a felicidade sozinhos. A linguagem humana (finita e limitada) não conseguirá nunca definir completamente o mistério da Trindade mas, invocando o Pai, o Filho e o Espírito Santo, intuímos a nossa própria natureza e o lema que devemos seguir na construção da nossa vida, das nossas relações, da nossa Igreja: comunhão na diversidade!

P. Carlos Caetano

in LusoJornal 30.05.2012



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quarta-feira, 23 de maio de 2012

DOMINGO DE PENTECOSTES (ano B)


Leitura dos Actos dos Apóstolos
(Actos 2, 1-11)
Quando chegou o dia de Pentecostes, os Apóstolos estavam todos reunidos no mesmo lugar. Subitamente, fez-se ouvir, vindo do Céu, um rumor semelhante a forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde se encontravam. Viram então aparecer uma espécie de línguas de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que se exprimissem. Residiam em Jerusalém judeus piedosos, procedentes de todas as nações que há debaixo do céu. Ao ouvir aquele ruído, a multidão reuniu-se e ficou muito admirada, pois cada qual os ouvia falar na sua própria língua. Atónitos e maravilhados, diziam: «Não são todos galileus os que estão a falar? Então, como é que os ouve cada um de nós falar na sua própria língua? Partos, medos, elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília, do Egipto e das regiões da Líbia, vizinha de Cirene, colonos de Roma, tanto judeus como prosélitos, cretenses e árabes, ouvimo-los proclamar nas nossas línguas as maravilhas de Deus».


SALMO RESPONSORIAL - Salmo 103 (104), 1ab e 24ac.29bc-30.31.34
Refrão: Enviai, Senhor, o vosso Espírito e renovai a face da terra.

Bendiz, ó minha alma, o Senhor.
Senhor, meu Deus, como sois grande!
Como são grandes, Senhor, as vossas obras!
A terra está cheia das vossas criaturas.

Se lhes tirais o alento, morrem
e voltam ao pó donde vieram.
Se mandais o vosso espírito, retomam a vida
e renovais a face da terra.

Glória a Deus para sempre!
Rejubile o Senhor nas suas obras.
Grato Lhe seja o meu canto
e eu terei alegria no Senhor.


Leitura da Primeira Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios
(Cor 12, 3b-7.12-13)
Irmãos: Ninguém pode dizer «Jesus é o Senhor» a não ser pela acção do Espírito Santo. De facto, há diversidade de dons espirituais, mas o Espírito é o mesmo. Há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diversas operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. Em cada um se manifestam os dons do Espírito para o bem comum. Assim como o corpo é um só e tem muitos membros e todos os membros, apesar de numerosos, constituem um só corpo, assim também sucede com Cristo. Na verdade, todos nós – judeus e gregos, escravos e homens livres – fomos baptizados num só Espírito, para constituirmos um só Corpo. E a todos nos foi dado a beber um único Espírito.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 20,19-23)
Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes serão retidos».


BOA NOTÍCIA
Parabéns a você, nesta data querida…
Cinquenta dias depois da Páscoa, a Igreja convida-nos para o seu aniversário! No próximo domingo, dia 27, celebramos a solenidade de Pentecostes, que recorda, em primeiro lugar, o dom do Espírito Santo, mas também o “nascimento” da Igreja que, animada pela presença do Paráclito, pode finalmente anunciar ao mundo a boa notícia pascal: Jesus Cristo ressuscitou! E é precisamente Ele, o Ressuscitado, quem encontramos no evangelho deste domingo, a dar aos seus discípulos as últimas instruções e o dom prometido: «Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo».

Jesus sopra sobre os seus discípulos! É um gesto que recorda a acção de Deus na Criação, tal como nos foi descrita poeticamente no livro de Génesis, quando Ele «formou o homem do pó da terra, lhe insuflou pelas narinas o sopro da vida e o homem se transformou num ser vivo» (Gn 2,7). Ao soprar sobre os seus discípulos, Jesus diz-nos que o Espírito Santo é o vento divino que dá vida à nova criação, assim como deu vida à primeira. Também o salmo responsorial põe bem em relevo esta realidade, quando nos convida a cantar: «Enviai, Senhor, o vosso Espírito e renovai a face da terra».

Foi no dia de Pentecostes que começou esse grande renovamento! O dom do Espírito Santo inaugurou um novo tempo: o tempo da Igreja, comunidade incoerente e frágil porque formada de homens e mulheres frágeis: eu que escrevo, tu que lês… Não é preciso pensar em outros. Frágeis! Mas capazes de feitos extraordinários (de santidade!) quando escutamos e vivemos o que o Espírito nos sugere.

P. Carlos Caetano

in LusoJornal 23.05.2012



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quarta-feira, 16 de maio de 2012

ASCENSÃO DO SENHOR (ano B)


Leitura dos Actos dos Apóstolos
(Act 1,1-11)
No meu primeiro livro, ó Teófilo, narrei todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar, desde o princípio até ao dia em que foi elevado ao Céu, depois de ter dado, pelo Espírito Santo, as suas instruções aos Apóstolos que escolhera. Foi também a eles que, depois da sua paixão, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando-lhes do reino de Deus. Um dia em que estava com eles à mesa, mandou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, «da Qual – disse Ele – Me ouvistes falar. Na verdade, João baptizou com água; vós, porém, sereis baptizados no Espírito Santo, dentro de poucos dias». Aqueles que se tinham reunido começaram a perguntar: «Senhor, é agora que vais restaurar o reino de Israel?» Ele respondeu-lhes: «Não vos compete saber os tempos ou os momentos que o Pai determinou com a sua autoridade; mas recebereis a força do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém e em toda a Judeia e na Samaria e até aos confins da terra». Dito isto, elevou-Se à vista deles e uma nuvem escondeu-O a seus olhos. E estando de olhar fito no Céu, enquanto Jesus se afastava, apresentaram-se-lhes dois homens vestidos de branco, que disseram: «Homens da Galileia, porque estais a olhar para o Céu? Esse Jesus, que do meio de vós foi elevado para o Céu, virá do mesmo modo que O vistes ir para o Céu».


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 46 (47)
Refrão: Por entre aclamações e ao som da trombeta, ergue-Se Deus, o Senhor.

Povos todos, batei palmas,
aclamai a Deus com brados de alegria,
porque o Senhor, o Altíssimo, é terrível,
o Rei soberano de toda a terra.

Deus subiu entre aclamações,
o Senhor subiu ao som da trombeta.
Cantai hinos a Deus, cantai,
cantai hinos ao nosso Rei, cantai.

Deus é Rei do universo:
cantai os hinos mais belos.
Deus reina sobre os povos,
Deus está sentado no seu trono sagrado.


Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Efésios
(Ef 1,17-23)
Irmãos: O Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda um espírito de sabedoria e de luz para O conhecerdes plenamente e ilumine os olhos do vosso coração, para compreenderdes a esperança a que fostes chamados, os tesouros de glória da sua herança entre os santos e a incomensurável grandeza do seu poder para nós os crentes. Assim o mostra a eficácia da poderosa força que exerceu em Cristo, que Ele ressuscitou dos mortos e colocou à sua direita nos Céus, acima de todo o Principado, Poder, Virtude e Soberania, acima de todo o nome que é pronunciado, não só neste mundo, mas também no mundo que há-de vir. Tudo submeteu aos seus pés e pô-l’O acima de todas as coisas como Cabeça de toda a Igreja, que é o seu Corpo, a plenitude d’Aquele que preenche tudo em todos.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
(Mc 16,15-20)
Naquele tempo, Jesus apareceu aos Doze e disse-lhes: «Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura. Quem acreditar e for baptizado será salvo; mas quem não acreditar será condenado. Eis os milagres que acompanharão os que acreditarem: expulsarão os demónios em meu nome; falarão novas línguas; se pegarem em serpentes ou beberem veneno, não sofrerão nenhum mal; e quando impuserem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados». E assim o Senhor Jesus, depois de ter falado com eles, foi elevado ao Céu e sentou-Se à direita de Deus. Eles partiram a pregar por toda a parte e o Senhor cooperava com eles, confirmando a sua palavra com os milagres que a acompanhavam.


BOA NOTÍCIA
Festa?
No próximo domingo celebramos a Festa da Ascensão: o regresso de Cristo ao Pai. Mas que sentido tem festejar o momento em que perdemos a presença material, visível de Jesus? A alegria proposta na liturgia deste domingo é uma alegria difícil de entender...

No fundo, a Ascensão é a última prova de que Deus, em Jesus, assumiu realmente e plenamente a nossa humanidade. Uma humanidade que se caracteriza por uma série de limites, sendo um deles o limite do tempo. Neste mundo ninguém vive para sempre. Uma regra que nem mesmo o mistério da Incarnação pôde quebrar. O Messias vence a morte, mas a sua presença tem de se transformar, porque os homens (e Cristo era verdadeiramente homem) saboreiam a eternidade somente quando juntos a Deus. Jesus não podia negar-se esta última experiência, tipicamente humana, que caracteriza a nossa existência terrena: a experiência da separação, da distância e da saudade.

Mas a Ascensão é verdadeiramente festa! O mistério do “regresso ao Pai” significa a dilatação máxima do Amor de Cristo, sem limites de tempo ou de espaço. E os seus “prodígios” (tal como foi prometido) continuam a acompanhar-nos: quando vencemos injustiças e opressões (“expulsarão demónios em meu nome”), quando somos mensageiros da paz (“falarão novas línguas”), quando levamos esperança e conforto aos que sofrem (“os doentes serão curados”) revelamos a presença de Jesus! Uma presença que não é uma força “mágica”, mas que é Amor que se incarna, que se doa, que se faz relação com os irmãos e que é presente, como dom, no meio de nós. Façamos festa por este grande dom!

P. Carlos Caetano

in LusoJornal 16.05.2012



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quarta-feira, 9 de maio de 2012

6º DOMINGO DA PÁSCOA (ano B)


Leitura dos Actos dos Apóstolos
(Act 10,25-26.34-35.44-48)
Naqueles dias, Pedro chegou a casa de Cornélio. Este veio-lhe ao incontro e prostrou-se a seus pés. Mas Pedro levantou-o, dizendo: «Levanta-te, que eu também sou um simples homem». Pedro disse-lhe ainda: «Na verdade, eu reconheço que Deus não faz acepção de pessoas, mas, em qualquer nação, aquele que O teme e pratica a justiça é-Lhe agradável». Ainda Pedro falava, quando o Espírito desceu sobre todos os que estavam a ouvir a palavra. E todos os fiéis convertidos do judaísmo, que tinham vindo com Pedro, ficaram maravilhados ao verem que o Espírito Santo se difundia também sobre os gentios, pois ouviam-nos falar em diversas línguas e glorificar a Deus. Pedro então declarou: «Poderá alguém recusar a água do Baptismo aos que receberam o Espírito Santo, como nós?» E ordenou que fossem baptizados em nome de Jesus Cristo. Então, pediram-lhe que ficasse alguns dias com eles.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 97 (98)
Refrão : O Senhor manifestou a salvação a todos os povos.

Cantai ao Senhor um cântico novo
pelas maravilhas que Ele operou.
A sua mão e o seu santo braço
Lhe deram a vitória.

O Senhor deu a conhecer a salvação,
revelou aos olhos das nações a sua justiça.
Recordou-Se da sua bondade e fidelidade
em favor da casa de Israel.

Os confins da terra puderam ver
a salvação do nosso Deus.
Aclamai o Senhor, terra inteira,
exultai de alegria e cantai.


Leitura da Primeira Epístola de São João
(1 Jo 4,7-10)
Caríssimos: Amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus. Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor. Assim se manifestou o amor de Deus para connosco: Deus enviou ao mundo o seu Filho Unigénito, para que vivamos por Ele. Nisto consiste o amor: não fomos nós que amámos a Deus, mas foi Ele que nos amou e enviou o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 15,9-17)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Assim como o Pai Me amou, também Eu vos amei. Permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, Assim como Eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e permaneço no seu amor. Disse-vos estas coisas, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa. É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros, como Eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos amigos. Vós sois meus amigos, se fizerdes o que Eu vos mando. Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas chamo-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi a meu Pai. Não fostes vós que Me escolhestes; fui eu que vos escolhi e destinei, para que vades e deis fruto e o vosso fruto permaneça. E assim, tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, Ele vo-lo concederá. O que vos mando é que vos ameis uns aos outros».


BOA NOTÍCIA
Ágape
No evangelho do próximo domingo, dia 13, encontramos a “lei” fundamental que Jesus nos deixou: «É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros, como Eu vos amei». Porém, o que significa exactamente “amar”? Pesquisar o termo “amor” na internet produz cerca de 789 000 000 resultados diferentes! São páginas e páginas de discordâncias e contradições, que ilustram claramente os mil usos (e abusos) que fazemos desta palavra hoje em dia.

Por sua vez, o grego antigo (a língua em que foi escrito este evangelho) possui quatro palavras diferentes, que podem ser traduzidas com o termo “amor”. “Éros”, que designa o amor passional, carregado de desejo sensual e atracção física. “Phília”, que significa amizade ou o amor entre amigos e familiares. “Stórghe”, uma palavra utilizada ainda hoje no grego moderno e que se refere principalmente ao afecto natural que se gera, por exemplo, entre pais e filhos.

A última palavra é “ágape”: é este o termo que encontramos no evangelho desta semana. “Ágape” indica um sentimento diferente, muito especial e que caracteriza a revelação que Jesus Cristo fez de Seu Pai. “Ágape” é o amor de dilecção, oblativo, gratuito. Um amor que não procura o próprio interesse mas sim o bem do outro. Um amor que não se preocupa em receber, mas que vive para dar. “Ágape” é o amor que perdura, mesmo quando não obtém resposta; que subsiste ainda que seja ferido ou magoado. Este é o amor que Jesus testemunhou com a Sua vida. É o amor que somos convidados a viver; é a estrada que somos chamados a percorrer. Bom caminho!

P. Carlos Caetano

in LusoJornal 09.05.2012



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quarta-feira, 2 de maio de 2012

5º DOMINGO DA PÁSCOA (ano B)


Leitura dos Actos dos Apóstolos
(Act 9,26-31)
Naqueles dias, Saulo chegou a Jerusalém e procurava juntar-se aos discípulos. Mas todos os temiam, por não acreditarem que fosse discípulo. Então, Barnabé tomou-o consigo, levou-o aos Apóstolos e contou-lhes como Saulo, no caminho, tinha visto o Senhor, que lhe tinha falado, e como em Damasco tinha pregado com firmeza em nome de Jesus. A partir desse dia, Saulo ficou com eles em Jerusalém e falava com firmeza no nome do Senhor. Conversava e discutia também com os helenistas, mas estes procuravam dar-lhe a morte. Ao saberem disto, os irmãos levaram-no para Cesareia e fizeram-no seguir para Tarso. Entretanto, a Igreja gozava de paz por toda a Judeia, Galileia e Samaria, edificando-se e vivendo no temor do Senhor e ia crescendo com a assistência do Espírito Santo.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 21 (22)
Refrão: Eu Vos louvo, Senhor, na assembleia dos justos.

Cumprirei a minha promessa na presença dos vossos fiéis.
Os pobres hão-de comer e serão saciados,
louvarão o Senhor os que O procuram:
vivam para sempre os seus corações.

Hão-de lembrar-se do Senhor e converter-se a Ele
todos os confins da terra;
e diante d’Ele virão prostrar-se
todas as famílias das nações.

Só a Ele hão-de adorar
todos os grandes do mundo,
diante d’Ele se hão-de prostrar
todos os que descem ao pó da terra.

Para Ele viverá a minha alma,
há-de servi-l’O a minha descendência.
Falar-se-á do Senhor às gerações vindouras
e a sua justiça será revelada ao povo que há-de vir:
«Eis o que fez o Senhor».


Leitura da Primeira Epístola de São João
(1 Jo 3,18-24)
Meus filhos, não amemos com palavras e com a língua, mas com obras e em verdade. Deste modo saberemos que somos da verdade e tranquilizaremos o nosso coração diante de Deus; porque, se o nosso coração nos acusar, Deus é maior que o nosso coração e conhece todas as coisas. Caríssimos, se o coração não nos acusa, tenhamos confiança diante de Deus e receberemos d’Ele tudo o que Lhe pedirmos, porque cumprimos os seus mandamentos e fazemos o que Lhe é agradável. É este o seu mandamento: acreditar no nome de seu Filho, Jesus Cristo, e amar-nos uns aos outros, como Ele nos mandou. Quem observa os seus mandamentos permanece em Deus e Deus nele. E sabemos que permanece em nós pelo Espírito que nos concedeu.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 15,1-8)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Eu sou a verdadeira vide e meu Pai é o agricultor. Ele corta todo o ramo que está em Mim e não dá fruto e limpa todo aquele que dá fruto, para que dê ainda mais fruto. Vós já estais limpos, por causa da palavra que vos anunciei. Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em Mim. Eu sou a videira, vós sois os ramos. Se alguém permanece em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto, porque sem Mim nada podeis fazer. Se alguém não permanece em Mim, será lançado fora, como o ramo, e secará. Esses ramos, apanham-nos, lançam-nos ao fogo e eles ardem. Se permanecerdes em Mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes e ser-vos-á concedido. A glória de meu Pai é que deis muito fruto. Então vos tornareis meus discípulos».


BOA NOTÍCIA
Podar para prosperar
Eis uma das ideias mais distorcidas que podemos criar da religião cristã: que ela seja uma doutrina enigmática e misteriosa, acessível unicamente a poucos iluminados, depois de anos e anos de estudo. Jesus quer revelar ao mundo o verdadeiro rosto do Pai. Ao mundo inteiro! Quer que todos os homens e mulheres descubram a beleza do Evangelho e a alegria da fé! E ao lermos a Bíblia, vemos claramente que Ele não quer uma religião de mistérios e segredos, onde as coisas de Deus são reservadas apenas a um pequeno grupo de instruídos. Jesus fala de peixes aos pescadores, de ovelhas aos pastores e de vinhas aos camponeses. Palavras simples e claras; exemplos concretos, tirados da vida quotidiana, para explicar o absoluto de Deus. Os pobres, os humildes, os analfabetos… todos podem entender e acolher a Boa Nova, a boa notícia, o Evangelho de Jesus. Tal como acontece ainda hoje, é nas pequenas coisas do quotidiano que Deus se revela.

No próximo domingo, dia 6, Jesus propõe-nos, justamente, a imagem da vinha e diz: «Eu sou a videira, vós sois os ramos. Se alguém permanece em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto». Graças a esta metáfora, cai também uma outra ideia errada: a ideia de que o Cristianismo seja um longo suceder de renúncias e abstinências estéreis. Valendo-se da experiência dos camponeses, Jesus evoca a actividade da poda e explica-nos que, tal como o agricultor limpa e desbasta os ramos para que a árvore dê mais e melhores frutos, também nós somos convidados a “podar” a nossa vida. Para quê? Para que possamos doar ao mundo, frutos abundantes de amor, generosidade e misericórdia…

P. Carlos Caetano

in LusoJornal 02.05.2012



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