sábado, 28 de março de 2009

5º DOMINGO DO TEMPO DA QUARESMA (ano B)



Leitura do Livro de Jeremias
(Jer 31,31-34)
Dias virão, diz o Senhor, em que estabelecerei com a casa de Israel e com a casa de Judá uma aliança nova. Não será como a aliança que firmei com os seus pais, no dia em que os tomei pela mão para os tirar da terra do Egipto, aliança que eles violaram, embora Eu exercesse o meu domínio sobre eles, diz o Senhor. Esta é a aliança que estabelecerei com a casa de Israel, naqueles dias, diz o senhor: Hei-de imprimir a minha lei no íntimo da sua alma e gravá-la-ei no seu coração. Eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. Não terão já de se instruir uns aos outros, nem de dizer cada um a seu irmão: «Aprendei a conhecer o Senhor». Todos eles Me conhecerão, desde o maior ao mais pequeno, diz o Senhor. Porque vou perdoar os seus pecados e não mais recordarei as suas faltas.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 50 (51)

Refrão: Dai-me, Senhor, um coração puro.

Compadecei-Vos de mim, ó Deus, pela vossa bondade,
pela vossa grande misericórdia, apagai os meus pecados.
Lavai-me de toda a iniquidade
e purificai-me de todas as faltas.

Criai em mim, ó Deus, um coração puro
e fazei nascer dentro de mim um espírito firme.
Não queirais repelir-me da vossa presença
e não retireis de mim o vosso espírito de santidade.

Dai-me de novo a alegria da vossa salvação
e sustentai-me com espírito generoso.
Ensinarei aos pecadores os vossos caminhos
e os transviados hão-de voltar para Vós.


Leitura da Epístola aos Hebreus
(Heb 5,7-9)
Nos dias da sua vida mortal, Cristo dirigiu preces e súplicas, com grandes clamores e lágrimas, Àquele que O podia livrar da morte e foi atendido por causa da sua piedade. Apesar de ser Filho, aprendeu a obediência no sofrimento e, tendo atingido a sua plenitude, tornou-Se para todos os que Lhe obedecem causa de salvação eterna.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 12,20-33)
Naquele tempo, alguns gregos que tinha vindo a Jerusalém para adorar nos dias da festa, foram ter com Filipe, de Betsaida da Galileia, e fizeram-lhe este pedido: «Senhor, nós queríamos ver Jesus». Filipe foi dizê-lo a André; e então André e Filipe foram dizê-lo a Jesus. Jesus respondeu-lhes: «Chegou a hora em que o Filho do homem vai ser glorificado. Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só; mas se morrer, dará muito fruto. Quem ama a sua vida, perdê-la-á, e quem despreza a sua vida neste mundo conservá-la-á para a vida eterna. Se alguém Me quiser servir, que Me siga, e onde Eu estiver, ali estará também o meu servo. E se alguém Me servir, meu Pai o honrará. Agora a minha alma está perturbada. E que hei-de dizer? Pai, salva-Me desta hora? Mas por causa disto é que Eu cheguei a esta hora. Pai, glorifica o teu nome». Veio então do Céu uma voz que dizia: «Já O glorifiquei e tornarei a glorificá-l’O». A multidão que estava presente e ouvira dizia ter sido um trovão. Outros afirmavam: «Foi um Anjo que Lhe falou». Disse Jesus: «Não foi por minha causa que esta voz se fez ouvir; foi por vossa causa. Chegou a hora em que este mundo vai ser julgado. Chegou a hora em que vai ser expulso o príncipe deste mundo. E quando Eu for elevado da terra, atrairei todos a Mim». Falava deste modo, para indicar de que morte ia morrer


GETSÉMANI*
O discurso pronunciado por Jesus que encontramos no evangelho deste Domingo é “arrumado” por João imediatamente após o episódio da entrada triunfal em Jerusalém. Depois da experiência das multidões que o aclamam com ramos e o saúdam com o título de “rei de Israel”, Jesus propõe-nos uma profunda meditação sobre o verdadeiro significado de “glória” e o conteúdo de redenção escondido no destino de sofrimento e morte que brevemente deverá enfrentar.

«Agora a minha alma está perturbada. E que hei-de dizer? Pai, salva-Me desta hora? Mas por causa disto é que Eu cheguei a esta hora. Pai, glorifica o teu nome»

Os versículos 27 e 28 deste episódio são considerados o pequeno “Getsémani” do quarto evangelho, em perfeita sintonia com as palavras que os outros evangelistas colocam na oração de Jesus no monte das oliveiras, momentos antes da sua captura. É um homem angustiado e triste que encontramos no Evangelho desta semana. Na pergunta «Que hei-de dizer?» podemos intuir a tentação de fugir à morte horrível que o espera no monte Gólgota (quanto é humano o Deus que nasceu em Belém!). Mas Jesus enfrenta este medo recordando a própria missão e o projecto de salvação que lhe foi confiado pelo Pai.

Os gregos queriam “ver” Jesus. Provavelmente pensavam encontrar um líder carismático, ou um grande guerreiro. Jesus ensina(-nos) o que devem procurar aqueles que realmente O desejam ver: eu sou o grão de trigo que cai na terra e morre. E a minha glória é dar a vida, desaparecer, extinguir-Me, para que os frutos possam germinar, para que uma nova vida (mais bela, mais “abundante”) possa nascer.

Jesus não é um suicida. A sua morte é um verdadeiro homicídio, consequência da sua luta sem trégua contra as forças de ódio e de pecado que oprimiam a Palestina do seu tempo. Tentaram silenciá-l’O e dispersar os seus discípulos com uma morte escandalosa e humilhante na cruz. Mas Jesus redime a violência da crucificação e transforma aquele momento de aniquilamento na sua suprema lição.

Durante três anos Jesus falou. Tentou ensinar o que significa dar a vida por amor. Muitos não o escutaram. Quase ninguém o entendeu.
Mas na cruz... a lição torna-se realidade!
As palavras transformam-se em vida: vida que se doa.
O Verbo faz-se carne e morre por nós.

(Tenham uma boa semana!)

* nome de um jardim situado no sopé do Montes das Oliveiras, em Jerusalém. “Getsémani” significa literalmente “prensa de azeite”.



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sexta-feira, 20 de março de 2009

4º DOMINGO DO TEMPO DA QUARESMA (ano B)

Leitura do Segundo Livro das Crónicas
(2 Cr 36,14-16.19-23)
Naqueles dias, todos os príncipes dos sacerdotes e o povo multiplicaram as suas infidelidades, imitando os costumes abomináveis das nações pagãs, e profanaram o templo que o Senhor tinha consagrado para Si em Jerusalém. O Senhor, Deus de seus pais, desde o princípio e sem cessar, enviou-lhes mensageiros, pois queria poupar o povo e a sua própria morada. Mas eles escarneciam dos mensageiros de Deus, desprezavam as suas palavras e riam-se dos profetas, a tal ponto que deixou de haver remédio, perante a indignação do Senhor contra o seu povo. Os caldeus incendiaram o templo de Deus, demoliram as muralhas de Jerusalém. Lançaram fogo aos seus palácios e destruíram todos os objectos preciosos. O rei dos caldeus deportou para Babilónia todos os que tinham escapado ao fio da espada; e foram escravos deles e de seus filhos, até que se estabeleceu o reino dos persas. Assim se cumpriu o que o Senhor anunciara pela boca de Jeremias: «Enquanto o país não descontou os seus sábados, esteve num sábado contínuo, durante todo o tempo da sua desolação, até que se completaram setenta anos». No primeiro ano do reinado de Ciro, rei da Pérsia, para se cumprir a palavra do Senhor, pronunciada pela boca de Jeremias, o Senhor inspirou Ciro, rei da Pérsia, que mandou publicar, em todo o seu reino, de viva voz e por escrito, a seguinte proclamação: «Assim fala Ciro, rei da Pérsia: O Senhor, Deus do Céu, deu-me todos os reinos da terra e Ele próprio me confiou o encargo de Lhe construir um templo em Jerusalém, na terra de Judá. Quem de entre vós fizer parte do seu povo ponha-se a camino e que Deus esteja com ele».

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 136 (137)
Refrão: Se eu me não lembrar de ti, Jerusalém, fique presa a minha língua.

Sobre os rios de Babilónia nos sentámos a chorar,
com saudades de Sião.
Nos salgueiros das suas margens,
dependurámos nossas harpas.

Aqueles que nos levaram cativos
queriam ouvir os nossos cânticos
e os nossos opressores uma canção de alegria:
«Cantai-nos um cântico de Sião».

Como poderíamos nós cantar um cântico do Senhor
em terra estrangeira?
Se eu me esquecer de ti, Jerusalém,
esquecida fique a minha mão direita.

Apegue-se-me a língua ao paladar,
se não me lembrar de ti,
se não fizer de Jerusalém
a maior das minhas alegrias.


Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Efésios
(Ef 2,4-10)
Irmãos: Deus, que é rico em misericórdia, pela grande caridade com que nos amou, a nós, que estávamos mortos por causa dos nossos pecados, restituiu-nos à vida em Cristo – é pela graça que fostes salvos – e com Ele nos ressuscitou e nos fez sentar nos Céus com Cristo Jesus, para mostrar aos séculos futuros a abundante riqueza da sua graça e da sua bondade para connosco, em Cristo Jesus. De facto, é pela graça que fostes salvos, por meio da fé. A salvação não vem de vós: é dom de Deus. Não se deve às obras: ninguém se pode gloriar. Na verdade, nós somos obra sua, criados em Cristo Jesus, em vista das boas obras que Deus de antemão preparou, como caminho que devemos seguir.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 3,14-21)
Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: «Assim como Moisés elevou a serpente no deserto, também o Filho do homem será elevado, para que todo aquele que acredita n’Ele não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus não enviou o Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele. Quem acredita n’Ele não é condenado, mas quem não acredita já está condenado, porque não acreditou em nome do Filho Unigénito de Deus. E a causa da condenação é esta: a luz veio ao mundo e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque eram más as suas obras. Todo aquele que pratica más acções odeia a luz e não se aproxima dela, para que as suas obras não sejam denunciadas. Mas quem pratica a verdade aproxima-se da luz, para que as suas obras sejam manifestas, pois são feitas em Deus.

CRIME E CASTIGO
Não penso que se possa ser mais claro: «Deus não enviou o Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele». Ainda não basta? Precisamos de mais afirmações como esta? De outras páginas no Evangelho que nos anunciem esta boa notícia? Ainda não conseguimos abandonar a imagem do “deus juiz-contabilista” que é preciso temer, porque se nos portamos mal Ele castiga-nos severamente?

Deus é amor! Deus é misericórdia! Deus é perdão!

Mas então... não existe castigo? Podemos fazer todos os disparates deste mundo impunemente?

Leiamos de novo o Evangelho: «(...) quem não acredita já está condenado, porque não acreditou».


A condenação existe, mas não vem de Deus. E a pena é terrível: uma vida longe de Deus, longe do seu amor e vivida na solidão do próprio egoísmo e no remorso do próprio pecado. Uma vida triste. Uma vida sem sentido.

A salvação que Jesus nos quer oferecer é o contrário de tudo isto. É vida e vida em abundância! É felicidade profunda, alegria verdadeira. Tudo isto está ao nosso alcance. Tudo isto nos é oferecido. Mas muitos não o aceitam porque têm medo da luz que esta prenda contêm. Têm medo de descobrir (e que sejam descobertos) os próprios limites e fraquezas. Receiam que aquela luz possa iluminar uma verdade dura de enfrentar, difícil de aceitar. E por isso escolhem permanecer na sombra, na “feliz” ignorância ou no conforto da dissimulação. Queridos irmãos, a condenação existe... e somos nós que a escolhemos.

O Senhor convida-nos a viver na luz, na verdade. Não tenhamos medo. Saiamos da sombra e aceitemos a sua prenda. Eis a Páscoa. Eis a Salvação.

(Tenham uma boa semana!)


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sábado, 14 de março de 2009

3º DOMINGO DO TEMPO DA QUARESMA (ano B)


Leitura do Livro do Êxodo
(Ex 20,1-17)
Naqueles dias, Deus pronunciou todas estas palavras: «Eu sou o senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egipto, dessa casa da escravidão. Não terás outros deuses perante Mim. Não farás para ti qualquer imagem esculpida, nem figura do que já existe lá no alto dos céus ou cá em baixo na terra ou nas águas debaixo da terra. Não adorarás outros deuses nem lhes prestarás culto. Eu, o senhor teu Deus, sou um Deus cioso: castigo a ofensa dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que Me ofendem; mas uso de misericórdia até à milésima geração para com aqueles que Me amam e guardam os meus mandamentos. Não invocarás em vão o nome do Senhor teu Deus, porque o Senhor não deixa sem castigo aquele que invoca o seu nome em vão. Lembrar-te-ás do dia de sábado, para o santificares. Durante seis dias trabalharás e levarás a cabo todas as tuas tarefas. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus. Não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo nem a tua serva, nem os teus animais domésticos, nem o estrangeiro que vive na tua cidade. Porque em seis dias o Senhor fez o céu, a terra, o mar e tudo o que eles contêm; mas no sétimo dia descansou. Por isso, o Senhor abençoou e consagrou o dia de sábado. Honra pai e mãe, a fim de prolongares os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te vai dar. Não matarás. Não cometerás adultério. Não furtarás. Não levantarás falso testemunho contra o teu próximo. Não cobiçarás a casa do teu próximo; não desejarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo nem a sua serva, o seu boi ou o seu jumento, nem coisa alguma que lhe pertença».


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 18 (19)
Refrão: Senhor, Vós tendes palavras de vida eterna.

A lei do Senhor é perfeita,
ela reconforta a alma;
as ordens do Senhor são firmes,
dão sabedoria aos simples.

Os preceitos do Senhor são rectos
e alegram o coração;
os mandamentos do Senhor são claros
e iluminam os olhos.

O temor do senhor é puro
e permanece para sempre;
os juízos do Senhor são verdadeiros
todos eles são rectos.

São mais preciosos que o ouro,
o ouro mais fino;
são mais doces que o mel,
o puro mel dos favos.


Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
(1 Cor 1,22-25)
Irmãos: Os judeus pedem milagres e os gregos procuram a sabedoria. Quanto a nós, pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios; mas para aqueles que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo é poder e sabedoria de Deus. Pois o que é loucura de Deus é mais sábio do que os homens e o que é fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 2,13-25)
Estava próxima a Páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém. Encontrou no templo os vendedores de bois, de ovelhas e de pombas e os cambistas sentados às bancas. Fez então um chicote de cordas e expulsou-os a todos do templo, com as ovelhas e os bois; deitou por terra o dinheiro dos cambistas e derrubou-lhes as mesas; e disse aos que vendiam pombas: «Tirai tudo isto daqui; não façais da casa de meu Pai casa de comércio». Os discípulos recordaram-se do que estava escrito: «Devora-me o zelo pela tua casa». Então os judeus tomaram a palavra e perguntaram-Lhe: «Que sinal nos dás de que podes proceder deste modo?» Jesus respondeu-lhes: «Destruí este templo e em três dias o levantarei». Disseram os judeus: «Foram precisos quarenta e seis anos para se construir este templo e Tu vais levantá-lo em três dias?» Jesus, porém, falava do templo do seu corpo. Por isso, quando Ele ressuscitou dos mortos, os discípulos lembraram-se do que tinha dito e acreditaram na Escritura e nas palavras que Jesus dissera. Enquanto Jesus permaneceu em Jerusalém pela festa da Páscoa, muitos, ao verem os milagres que fazia, acreditaram no seu nome. Mas Jesus não se fiava deles, porque os conhecia a todos e não precisava de que Lhe dessem informações sobre ninguém: Ele bem sabia o que há no homem.


VENDE-SE!
Quando visitamos um santuário importante, meta de peregrinações e romarias, é impossível não encontrar vendedores e comerciantes, que ganham a vida com o comércio gerado pela passagem dos peregrinos. E se entramos numa igreja que acolhe obras de arte importantes, não é difícil encontrarmos à venda (mesmo dentro do templo...), postais, estatuinhas ou livros que os turistas podem comprar como recordação daquela visita.

Compreendo que este tipo de comércio possa ferir a sensibilidade de alguns. Confesso que também não é uma coisa que me entusiasme muito, mas não me escandalizo se um devoto quer levar consigo algo que lhe lembre a sua peregrinação. Porém, não é correcto apelar-se ao Evangelho deste Domingo se não estamos de acordo com este tipo de comércio, porque a mensagem de Jesus fala de algo muito mais profundo e importante.

O problema não é o comércio em si, mas a mentalidade que está por detrás da barafunda que Jesus encontrou no templo de Jerusalém. Os mercantes e os cambistas não estavam ali a vender recordações, mas fomentavam, com a própria actividade, a ideia errada e ofensiva de poder negociar com Deus. Iludiam os peregrinos com a promessa de poder comprar favores divinos, em troca de uma oferta ao templo.

Ainda hoje esta mentalidade corrói a fé de tantos baptizados: “aguentam” celebrações soporíferas e enfadonhas; deixam ofertas (com mau humor...) nas caixas das esmolas; fazem renúncias e penitências sem sequer saber porquê. Suportam tudo isto porque, secretamente, acreditam que desta forma, Deus (finalmente!) lhes dará o que desejam. Como se Deus fosse um déspota que é preciso corromper ou um devasso que podemos subornar.

Muitos não querem abandonar esta mentalidade porque isso significa renunciar à esperança de “controlar” Deus, de poder obrigá-l’O a obedecer à nossa vontade e a eliminar os nossos problemas. Mas enganam-se, porque o Pai que nos foi revelado no Filho, não é um comerciante de milagres. Ele é Caminho, Verdade e Vida. E quando finalmente tivermos compreendido o significado desta afirmação, então conseguiremos dizer, com confiança, com serenidade, com alegria, «seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu».


(Tenham uma boa semana!)



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sábado, 7 de março de 2009

2º DOMINGO DO TEMPO DA QUARESMA (ano B)



Leitura do Livro do Génesis
(Gen 22,1-2.9a.10-13.15-18)
Naqueles dias, Deus quis pôr à prova Abraão e chamou-o: «Abraão!» Ele respondeu: «Aqui estou». Deus disse: «Toma o teu filho, o teu único filho, a quem tanto amas, Isaac, e vai à terra de Moriá, onde o oferecerás em holocausto, num dos montes que Eu te indicar. Quando chegaram ao local designado por Deus, Abraão levantou um altar e colocou a lenha sobre ele. Depois, estendendo a mão, puxou do cutelo para degolar o filho. Mas o Anjo do Senhor gritou-lhe do alto do Céu: «Abraão, Abraão!» «Aqui estou, Senhor», respondeu ele. O Anjo prosseguiu: «Não levantes a mão contra o menino, não lhe faças mal algum. Agora sei que na verdade temes a Deus, uma vez que não Me recusaste o teu filho, o teu único filho». Abraão ergueu os olhos e viu atrás de si um carneiro, preso pelos chifres num silvado. Foi buscá-lo e ofereceu-o em holocausto, em vez do filho. O Anjo do Senhor chamou Abraão do Céu pela segunda vez e disse-lhe: «Por Mim próprio te juro – oráculo do Senhor – já que assim procedeste e não Me recusaste o teu filho, o teu único filho, abençoar-te-ei e multiplicarei a tua descendência como as estrelas do céu e como a areia das praias do mar, e a tua descendência conquistará as portas das cidades inimigas. Porque obedeceste à minha voz, na tua descendência serão abençoadas todas as nações da terra».


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 115 (116)
Refrão: Caminharei na terra dos vivos na presença do Senhor.

Confiei no Senhor, mesmo quando disse:
«Sou um homem de todo infeliz».
É preciosa aos olhos do Senhor
a morte dos seus fiéis.

Senhor, sou vosso servo, filho da vossa serva:
quebrastes as minhas cadeias.
Oferecer-Vos-ei um sacrifício de louvor,
invocando, Senhor, o vosso nome.

Cumprirei as minhas promessas ao Senhor
na presença de todo o povo,
nos átrios da casa do Senhor,
dentro dos teus muros, Jerusalém.


Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
(Rom 8,31b-34)
Irmãos: Se Deus está por nós, quem estará contra nós? Deus, que não poupou o seu próprio Filho, mas O entregou à morte por todos nós, como não havia de nos dar, com Ele, todas as coisas? Quem acusará os eleitos de Deus? Deus, que os justifica? E quem os condenará? Cristo Jesus, que morreu, e mais ainda, que ressuscitou e que está à direita de Deus e intercede por nós?



Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
(Mc 9,2-10)
Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e subiu só com eles para um lugar retirado num alto monte e transfigurou-Se diante deles. As suas vestes tornaram-se resplandecentes, de tal brancura que nenhum lavadeiro sobre a terra as poderia assim branquear. Apareceram-lhes Moisés e Elias, conversando com Jesus. Pedro tomou a palavra e disse a Jesus: «Mestre, como é bom estarmos aqui! Façamos três tendas: uma para Ti, outra para Moisés, outra para Elias». Não sabia o que dizia, pois estavam atemorizados. Veio então uma nuvem que os cobriu com a sua sombra e da nuvem fez-se ouvir uma voz: «Este é o meu Filho muito amado: escutai-O». De repente, olhando em redor, não viram mais ninguém, a não ser Jesus, sozinho com eles. Ao descerem do monte, Jesus ordenou-lhes que não contassem a ninguém o que tinham visto, enquanto o Filho do homem não ressuscitasse dos mortos. Eles guardaram a recomendação, mas perguntavam entre si o que seria ressuscitar dos mortos.


BELEZA
No Evangelho deste Domingo, Deus revela a sua inebriante beleza a Pedro, Tiago e João. Uma beleza que contém todos os ingredientes que um trio de hebreus da Palestina antiga poderia apreciar e compreender.

O primeiro elemento é o monte, local privilegiado da revelação de Deus, capaz de evocar diversas experiências decisivas da história da revelação, como por exemplo, a aliança do monte Sinai (Ex 34,2-28). As vestes brilhantes recordam o resplendor de Moisés depois do encontro com Yahweh (Ex 34,29) e a nuvem, por sua vez, lembra a presença divina que conduzia o povo de Israel através do deserto (cf. Ex 40,35; Nm 9,18.22; 10,34). Moisés e Elias representam a Lei e os Profetas. Além disso, são personagens que, de acordo com a catequese judaica, deviam aparecer no “dia do Senhor”, quando se manifestasse a salvação definitiva (cf. Dt 18,15-18; Mal 3,22-23). Enfim, a voz que os discípulos escutam sugere uma perfeita continuidade com as palavras que Marcos nos propõem no episódio do baptismo de Jesus: «Tu és o meu Filho muito amado; em ti pus toda a minha complacência» (Mc 1,11).

«Mestre, como é bom estarmos aqui!» A palavra “kalós”, no grego antigo pode traduzir-se de duas maneiras: “bom” ou então, “belo”. Eu prefiro a segunda opção porque descreve com maior exactidão a experiência, essencialmente visual, que o Evangelho nos propõe. Mestre, como é BELO estarmos aqui! No monte Tabor, Deus revelou a sua beleza a Pedro, Tiago e João.

É urgente recuperar o sentido da beleza da nossa fé. Somos cristãos, não porque temos medo de Deus, ou porque concordamos com uma moral que encontrámos escrita na Bíblia. Acreditamos porque experimentámos a beleza da fé, a beleza de Jesus Cristo. E é essa beleza que nos dá força, coragem, ânimo para escalar um outro monte: a colina do Calvário, o monte Gólgota, a experiência da cruz. Se não fizermos a experiência da beleza de Deus, se nunca sentirmos como é belo acreditar, então a nossa fé será apenas um peso oprimente e um esforço inútil.

O Evangelho é a “Bela” Notícia (“kalós”!). Jesus Cristo é o Pastor “Belo”. E é essa beleza que devemos anunciar. Como dizia o grande escritor russo Dostoiévski: «A beleza converterá o mundo».


(Tenham uma boa semana!)



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