sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA (ano B)

Em vez destas leituras, poderão ser proclamadas as duas primeiras do ano A.

Leitura do Livro do Génesis
(Gen 15, 1-6; 21, 1-3)
Naqueles dias, foi dirigida a Abrão a palavra do Senhor numa visão: «Não temas, Abrão: Eu sou o teu escudo; será grande a tua recompensa». Abrão respondeu: «Senhor, meu Deus, que me dareis? Vou partir desta vida sem descendência, e o herdeiro da minha casa é Eliezer de Damasco». E continuou: «Vós não me destes descendência, e um servo nascido na minha casa é que será o meu herdeiro». Então a palavra do Senhor foi-lhe dirigida nestes termos: «Não é ele que será o teu herdeiro; o teu herdeiro vai ser alguém nascido do teu sangue». Deus levou Abrão para fora de casa e disse-lhe: «Levanta os olhos para o céu e conta as estrelas, se as puderes contar». E acrescentou: «Assim será a tua descendência». Abrão acreditou no Senhor, o que lhe foi atribuído como justiça. O Senhor visitou Sara, como lhe tinha dito, e realizou nela o que prometera. Sara concebeu e deu um filho a Abraão, apesar da sua velhice, na data marcada por Deus. Ao filho que lhe nasceu de Sara deu Abraão o nome de Isaac.


SALMO RESPONSORIAL Salmo 104 (105), 1b-2.3-4.5-6.8-9
Refrão: O Senhor, nosso Deus, recorda sempre a sua aliança.

Aclamai o nome do Senhor,
anunciai entre os povos as suas obras.
Cantai-Lhe salmos e hinos,
proclamai todas as suas maravilhas.

Gloriai-vos no seu santo nome,
exulte o coração dos que procuram o Senhor.
Considerai o Senhor e o seu poder,
procurai sempre a sua face.

Recordai as maravilhas que Ele operou,
os seus prodígios e os oráculos da sua boca,
vós, descendentes de Abraão, seu servo,
filhos de Jacob, seu eleito.

Ele recorda sempre a sua aliança,
a palavra que empenhou para mil gerações,
o pacto que estabeleceu com Abraão,
o juramento que fez a Isaac.


Leitura da Epístola aos Hebreus
(Hebr 11, 8.11-12.17-19)
Irmãos: Pela fé, Abraão obedeceu ao chamamento e partiu para uma terra que viria a receber como herança; e partiu sem saber para onde ia. Pela fé, também Sara recebeu o poder de ser mãe já depois de passada a idade, porque acreditou na fidelidade d’Aquele que lho prometeu. Por isso, de um só homem – um homem que a morte já espreitava – nasceram descendentes tão numerosos como as estrelas do céu e inumeráveis como a areia que há na praia do mar. Pela fé, Abraão, submetido à prova, ofereceu o seu filho único, Isaac, que era o depositário das promessas, como lhe tinha sido dito: «É por Isaac que terás uma descendência com o teu nome». Ele considerava que Deus pode ressuscitar os mortos; por isso ele recuperou o filho como uma figura.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 2, 22-40)
Ao chegarem os dias da purificação, segundo a Lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, para O apresentarem ao Senhor, como está escrito na Lei do Senhor: «Todo o filho primogénito varão será consagrado ao Senhor», e para oferecerem em sacrifício um par de rolas ou duas pombinhas, como se diz na Lei do Senhor. Vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão, homem justo e piedoso, que esperava a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava nele. O Espírito Santo revelara-lhe que não morreria antes de ver o Messias do Senhor; e veio ao templo, movido pelo Espírito. Quando os pais de Jesus trouxeram o Menino, para cumprirem as prescrições da Lei no que lhes dizia respeito, Simeão recebeu-O em seus braços e bendisse a Deus, exclamando: «Agora, Senhor, segundo a vossa palavra, deixareis ir em paz o vosso servo, porque os meus olhos viram a vossa salvação, que pusestes ao alcance de todos os povos: luz para se revelar às nações e glória de Israel, vosso povo». O pai e a mãe do Menino Jesus estavam admirados com o que d’Ele se dizia. Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua Mãe: «Este Menino foi estabelecido para que muitos caiam ou se levantem em Israel e para ser sinal de contradição; – e uma espada trespassará a tua alma – assim se revelarão os pensamentos de todos os corações». Havia também uma profetisa, Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Era de idade muito avançada e tinha vivido casada sete anos após o tempo de donzela e viúva até aos oitenta e quatro. Não se afastava do templo, servindo a Deus noite e dia, com jejuns e orações. Estando presente na mesma ocasião, começou também a louvar a Deus e a falar acerca do Menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém. Cumpridas todas as prescrições da Lei do Senhor, voltaram para a Galileia, para a sua cidade de Nazaré. Entretanto, o Menino crescia, tornava-Se robusto e enchia-Se de sabedoria. E a graça de Deus estava com Ele.


BOA NOTÍCIA
O Cântico de Simeão
No próximo domingo celebraremos a Festa da Sagrada Família. O Evangelho que vamos escutar nesse dia descreve a Apresentação do Senhor: quarenta dias após o nascimento de Jesus, em obediência à lei de Moisés, Maria levou o menino ao templo, para que fosse consagrado a Deus. Aí encontrou um velhinho chamado Simeão, que ao ver a criança, não conseguiu conter a própria alegria…

Só Deus sabe o que terá pensado Maria quando Simeão, cheio de entusiasmo, pegou Jesus nos seus braços e começou a cantar. Será que se assustou? Eu imagino-a, com uma olhada discreta, a encorajar José para que retire o bebé das mãos daquele excêntrico velhinho... Imagino-a também, muitos anos mais tarde, quando a Igreja já move os primeiros passos, a contar este episódio a um jovem médico - chamado Lucas - que coloca por escrito a história de Jesus. Passaram muitos anos desde aquele encontro no templo, mas a memória de Maria vê sempre mais claramente os eventos do passado. Recorda bem o Cântico de Simeão e repete-o a Lucas, palavra por palavra, para que ele o escreva no seu Evangelho: «Agora, Senhor, segundo a vossa palavra, deixareis ir em paz o vosso servo, porque os meus olhos viram a vossa salvação, que pusestes ao alcance de todos os povos: luz para se revelar às nações e glória de Israel, vosso povo».

Dois milénios passaram. As palavras de Simeão foram traduzidas em todas as línguas. São proclamadas nas nossas igrejas e repetidas antes de adormecer por cristãos em tudo o mundo. São poucas linhas, mas a mensagem que contêm é clara: a vida e a morte não nos podem assustar. O encontro com Deus vence todos os medos, todos os receios. Não temam! Jesus Cristo é “Emanuel”, o “Deus-connosco”.

P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2017.12.29





sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

4º DOMINGO DO ADVENTO (ano B)

Leitura do Segundo Livro de Samuel
(2 Sam 7,1-5.8b-12.14a.16)
Quando David já morava em sua casa e o Senhor lhe deu tréguas de todos os inimigos que o rodeavam, o rei disse ao profeta Natã: «Como vês, eu moro numa casa de cedro, e a arca de Deus está debaixo de uma tenda». Natã respondeu ao rei: «Faz o que te pede o teu coração, porque o Senhor está contigo». Nessa mesma noite, o Senhor falou a Natã, dizendo: «Vai dizer ao meu servo David: Assim fala o Senhor: Pensas edificar um palácio para Eu habitar? Tirei-te das pastagens onde guardavas os rebanhos, para seres o chefe do meu povo de Israel. Estive contigo em toda a parte por onde andaste e exterminei diante de ti todos os teus inimigos. Dar-te-ei um nome tão ilustre como o nome dos grandes da terra. Prepararei um lugar para o meu povo de Israel: e nele o instalarei para que habite nesse lugar, sem que jamais tenha receio e sem que os perversos tornem a oprimi-lo como outrora, quando Eu constituía juízes no meu povo de Israel. Farei que vivas seguro de todos os teus inimigos. O Senhor anuncia que te vai fazer uma casa. Quando chegares ao termo dos teus dias e fores repousar com teus pais estabelecerei em teu lugar um descendente que há-de nascer de ti e consolidarei a tua realeza. Ele construirá um palácio ao meu nome e Eu consolidarei para sempre o teu trono real. Serei para ele um pai e ele será para Mim um filho. A tua casa e o teu reino permanecerão diante de Mim eternamente e o teu trono será firme para sempre.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 88 (89)
Refrão: Cantarei eternamente as misericórdias do Senhor.

Cantarei eternamente as misericórdias do Senhor
e para sempre proclamarei a sua fidelidade.
Vós dissestes: «A bondade está estabelecida para sempre»,
no céu permanece firme a vossa fidelidade.

«Concluí uma aliança com o meu eleito,
fiz um juramento a David meu servo:
‘Conservarei a tua descendência para sempre,
estabelecerei o teu trono por todas as gerações’».

«Ele Me invocará: ‘Vós sois meu Pai,
meu Deus, meu Salvador’.
Assegurar-lhe-ei para sempre o meu favor,
a minha aliança com ele será irrevogável».


Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
(Rom 16,25-27)
Irmãos: Àquele que tem o poder de vos confirmar, segundo o meu Evangelho e a pregação de Jesus Cristo – a revelação do mistério encoberto desde os tempos eternos mas agora manifestado e dado a conhecer a todos os povos pelas escrituras dos Profetas segundo a ordem do Deus eterno, dado a conhecer a todos os gentios para que eles obedeçam à fé – a Deus, o único sábio, por Jesus Cristo, seja dada glória pelos séculos dos séculos. Amen.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 1,26-38)
Naquele tempo, o Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma Virgem desposada com um homem chamado José. O nome da Virgem era Maria. Tendo entrado onde ela estava, disse o Anjo: «Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo; bendita és tu entre as mulheres». Ela ficou perturbada com estas palavras e pensava que saudação seria aquela. Disse-lhe o Anjo: «Não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo. O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David; e o seu reinado não terá fim». Maria disse ao Anjo: «Como será isto, se eu não conheço homem?» O Anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus. E a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice porque a Deus nada é impossível». Maria disse então: «Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra».


BOA NOTÍCIA
«Não temas!»
O Natal está quase à porta e no próximo domingo, dia 24, a liturgia propõe-nos o famoso episódio da Anunciação. Numa pequena aldeia da Galileia, chamada Nazaré, uma jovem de nome Maria é visitada por um anjo, que lhe anuncia: «Não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus».

A expressão “não temas” que abre o discurso do anjo é certamente uma das mais comuns na Sagrada Escritura. Encontramo-la em quase todos os livros da Bíblia, do Génesis ao Apocalipse, e normalmente antecede os convites que Deus propõe aos homens. “Não temas” é como um refrão que percorre toda a história da salvação e que encontramos quase dois mil anos mais tarde (em 1978), nas primeiras palavras do recém-eleito Papa João Paulo II. Este convite à coragem (se bem que no plural: “não tenhais medo”) torna-se a “bandeira” do Santo Padre durante os seus 26 anos de pontificado e recorda-nos uma realidade que transparece tão claramente na história de Maria de Nazaré: é graças à nossa coragem e generosidade que Deus manifesta o seu amor no mundo. É através do nosso “sim” ao Seu projecto, dos nossos gestos de caridade, de partilha e de serviço, que Deus Se torna presente e transforma, aos poucos, a nossa realidade. Neste domingo, que antecede de algumas horas o Natal, a história de Maria mostra-nos como é possível, também hoje, revelarmos Jesus ao mundo: através de um “sim” corajoso aos projectos de Deus.

Não tenhais medo: dizei “sim”! Abri as portas a Cristo!

P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2017.12.22








sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

3º DOMINGO DO ADVENTO (ano B)

Leitura do Livro de Isaías
(Is 61,1-2a.10-11)
O espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu e me enviou a anunciar a boa nova aos pobres, a curar os corações atribulados, a proclamar a redenção aos cativos e a liberdade aos prisioneiros, a promulgar o ano da graça do Senhor. Exulto de alegria no Senhor, a minha alma rejubila no meu Deus, que me revestiu com as vestes da salvação e em envolveu num manto de justiça, como noivo que cinge a fronte com o diadema e a noiva que se adorna com as suas jóias. Como a terra faz brotar os germes e o jardim germinar as sementes, assim o Senhor Deus fará brotar a justiça e o louvor diante de todas as nações.


SALMO RESPONSORIAL – Lc 1, 46-48.49-50.53-54
Refrão: Exulto de alegria no Senhor.

A minha alma glorifica o Senhor
e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador,
porque pôs os olhos na humildade da sua serva:
de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações.

O Todo-poderoso fez em mim maravilhas:
Santo é o seu nome.
A sua misericórdia se estende de geração em geração
sobre aqueles que O temem.

Aos famintos encheu de bens
e aos ricos despediu-os de mãos vazias.
Acolheu a Israel, seu servo,
lembrado da sua misericórdia.


Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses
(1 Tes 5,16-24)
Irmãos: Vivei sempre alegres, orai sem cessar, dai graças em todas as circunstâncias, pois esta é a vontade de Deus a vosso respeito em Cristo Jesus. Não apagueis o Espírito, não desprezeis os dons proféticos; mas avaliai tudo, conservando o que for bom. Afastai-vos de toda a espécie de mal. O Deus da paz vos santifique totalmente, para que todo o vosso ser – espírito, alma e corpo – se conserve irrepreensível para a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo. É fiel Aquele que vos chama e cumprirá as suas promessas.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 1,6-8.19-28)
Apareceu um homem enviado por Deus, chamado João. Veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos acreditassem por meio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz. Foi este o testemunho de João, quando os judeus lhe enviaram, de Jerusalém, sacerdotes e levitas, para lhe perguntarem: «Quem és tu?» Ele confessou a verdade e não negou; ele confessou: «Eu não sou o Messias». Eles perguntaram-lhe: «Então, quem és tu? És Elias?» «Não sou», respondeu ele. «És o Profeta?». Ele respondeu: «Não». Disseram-lhe então: «Quem és tu? Para podermos dar uma resposta àqueles que nos enviaram, que dizes de ti mesmo?» Ele declarou: «Eu sou a voz do que clama no deserto: ‘Endireitai o caminho do Senhor’, como disse o profeta Isaías». Entre os enviados havia fariseus que lhe perguntaram: «Então, porque baptizas, se não és o Messias, nem Elias, nem o Profeta?» João respondeu-lhes: «Eu baptizo em água, mas no meio de vós está Alguém que não conheceis: Aquele que vem depois de mim, a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias». Tudo isto se passou em Betânia, além Jordão, onde João estava a baptizar.


BOA NOTÍCIA
«Quem és tu?»
Na semana passada o Evangelho apresentou-nos brevemente esse homem extraordinário que foi S. João Baptista. O impacto que esta figura singular provocou nas gentes do seu tempo foi tão grande, que alguns suspeitaram, logo desde o início da sua pregação, se não seria ele o messias esperado. Após o martírio, a fama do Baptista aumentou incrivelmente. A história do profeta corajoso e temerário, cujo terrível destino seria selado tragicamente pela vaidade de Herodes e o dançar de Salomé, fascinou muitos israelitas e surgiram numerosos grupos e movimentos espirituais que se inspiraram na sua pregação de conversão e arrependimento. Ainda hoje no Iraque, a seita dos mandeístas venera-o como messias e pratica o ritual do baptismo segundo a sua tradição.

Foram estes equívocos que levaram os quatro evangelistas a dedicar tanto espaço ao esclarecimento da identidade de João Baptista. O Evangelho do próximo domingo, dia 17, é novamente centrado na sua figura e descreve-nos um episódio em que um grupo de sacerdotes e levitas lhe coloca três vezes a mesma pergunta: «Quem és tu?». Todas as respostas evitam qualquer afirmação que possa atrair a atenção sobre si. Ele não é o messias, não é Elias e não é o Profeta. Ele é «a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor».

João dá testemunho da luz, mas não é a luz. Ele é “somente” a voz que anuncia a Palavra de Deus. Mas qual Palavra? Quem é o verbo incarnado? Onde está a luz do mundo? A “voz” convida-nos a olhar para Jesus Cristo e responde com confiança: «Eu vi e dou testemunho que ele é o Eleito de Deus».

P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2017.12.15





sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

2º DOMINGO DO ADVENTO (ano B)

Leitura do Livro de Isaías
(Is 40,1-5.9-11)
Consolai, consolai o meu povo, diz o vosso Deus. Falai ao coração de Jerusalém e dizei-lhe em alta voz que terminaram os seus trabalhos e está perdoada a sua culpa, porque recebeu da mão do Senhor duplo castigo por todos os seus pecados. Uma voz clama: «No deserto preparai o caminho do Senhor, abri na estepe uma estrada para o nosso Deus. Sejam alteados todos os vales e abatidos os montes e as colinas; endireitem-se os caminhos tortuosos e aplanem-se as veredas escarpadas. Então se manifestará a glória do Senior e todo o homem verá a sua magnificência, porque a boca do Senhor falou». Sobe ao alto dum monte, arauto de Sião! Grita com voz forte, arauto de Jerusalém! Levanta sem temor a tua voz e diz às cidades de Judá: «Eis o vosso Deus. O Senhor Deus vem com poder, o seu braço dominará. Com Ele vem o seu prémio, precede-O a sua recompensa. Como um pastor apascentará o seu rebanho e reunirá os animais dispersos; tomará os cordeiros em seus braços, conduzirá as ovelhas ao seu descanso».


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 84 (85)
Refrão: Mostrai-nos o vosso amor e dai-nos a vossa salvação.

Escutemos o que diz o Senhor:
Deus fala de paz ao seu povo e aos seus fiéis.
A sua salvação está perto dos que O teme
e a sua glória habitará na nossa terra.

Encontraram-se a misericórdia e a fidelidade,
abraçaram-se a paz e a justiça.
A fidelidade vai germinar da terra
e a justiça descerá do Céu.

O Senhor dará ainda o que é bom
e a nossa terra produzirá os seus frutos.
A justiça caminhará à sua frente
e a paz seguirá os seus passos.


Leitura da Segunda Epístola de São Pedro
(2 Pedro 3,8-14)
Há uma coisa, caríssimos, que não deveis esquecer: um dia diante do Senhor é como mil anos e mil anos como um dia. O Senhor não tardará em cumprir a sua promessa, como pensam alguns. Mas usa de paciência para convosco e não quer que ninguém pereça, mas que todos possam arrepender-se. Entretanto, o dia do Senhor virá como um ladrão: nesse dia, os céus desaparecerão com fragor, os elementos dissolver-se-ão nas chamas e a terra será consumida com todas as obras que nela existem. Uma vez que todas as coisas serão assim dissolvidas, como deve ser santa a vossa vida e grande a vossa piedade, esperando e apressando a vinda do dia de Deus, em que os céus se dissolverão em chamas e os elementos se fundirão no ardor do fogo! Nós esperamos, segundo a promessa do Senhor, os novos céus e a nova terra, onde habitará a justiça. Portanto, caríssimos, enquanto esperais tudo isto, empenhai-vos, sem pecado nem motivo algum de censura, para que o Senhor vos encontre na paz.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
(Mc 1,1-8)
Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus. Está escrito no profeta Isaías: «Vou enviar à tua frente o meu mensageiro, que preparará o teu caminho. Uma voz clama no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas’». Apareceu João Baptista no deserto a proclamar um baptismo de penitência para remissão dos pecados. Acorria a ele toda a gente da região da Judeia e todos os habitantes de Jerusalém e eram baptizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados. João vestia-se de pêlos de camelo, com um cinto de cabedal em volta dos rins, e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre. E, na sua pregação, dizia: «Vai chegar depois de mim quem é mais forte do que eu, diante do qual eu não sou digno de me inclinar para desatar as correias das suas sandálias. Eu baptizo-vos na água, mas Ele baptizar-vos-á no Espírito Santo».


BOA NOTÍCIA
Deserto
As leituras da missa do próximo domingo, 10 de Dezembro, “transportam-nos” até ao deserto da Palestina, onde encontramos João Baptista, tal como tinha sido anunciado pelo profeta Isaías: «Vou enviar à tua frente o meu mensageiro, que preparará o teu caminho. Uma voz clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor».

Quando se fala de deserto, normalmente pensa-se numa terra árida e morta. A água é rara, a vegetação escassa e a vida é quase impossível. Mas do ponto de vista bíblico, o deserto traz à memória uma segunda imagem: depois da fuga da escravidão do Egipto, foi no deserto que os israelitas descobriram a liberdade e nasceram como povo. Foi lá que receberam a Lei e estabeleceram uma aliança com Deus. Apesar da sua desolação e das suas dificuldades, o deserto recorda um período de graça na história de Israel.

Neste tempo do Advento, que nos prepara para o Natal, também nós somos convidados a viver um pouco de “deserto”. Ninguém quer sofrer. Ninguém quer conhecer a aridez da areia e o castigo do Sol. No entanto, para Isaías, o encontro com o Senhor não só acontece no deserto, mas por causa (!) da experiência do deserto, pois são as dificuldades que forjam o nosso carácter e robustecem a nossa fé. No deserto estamos nus e sozinhos: nada nos pode distrair; nada nos pode esconder. Mas a solidão não é total e o silêncio não é estéril. Longe das distracções do mundo, criam-se condições privilegiadas para escutar… E o Senhor disse (e diz-nos) uma única palavra: Jesus. Ele é o Verbo Incarnado, a Palavra que se fez carne e a única, verdadeira, Boa Notícia.

P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2017.12.08







sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

1º DOMINGO DO ADVENTO (ano B)

Leitura do Livro de Isaías
(Is 63,16b-17.19b; 64,2b-7)
Vós, Senhor, sois nosso Pai e nosso Redentor, desde sempre, é o vosso nome. Porque nos deixais, Senhor, desviar dos vossos caminhos e endurecer o nosso coração, para que não Vos tema? Voltai, por amor dos vossos servos e das tribos da vossa herança. Oh, se rasgásseis os céus e descêsseis! Ante a vossa face estremeceriam os montes! Mas Vós descestes e perante a vossa face estremeceram os montes. Nunca os ouvidos escutaram, nem os olhos viram que um Deus, além de Vós, fizesse tanto em favor dos que n’Ele esperam. Vós saís ao encontro dos que praticam a justiça e recordam os vossos caminhos. Estais indignado contra nós, porque pecámos e há muito que somos rebeldes, mas seremos salvos. Éramos todos como um ser impuro, as nossas acções justas eram todas como veste imunda. Todos nós caímos como folhas secas, as nossas faltas nos levavam como o vento. Ninguém invocava o vosso nome, ninguém se levantava para se apoiar em Vós, porque nos tínheis escondido o vosso rosto e nos deixáveis à mercê das nossas faltas. Vós, porém, Senhor, sois nosso Pai e nós o barro de que sois o Oleiro; somos todos obra das vossas mãos.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 79 (80)
Refrão: Senhor nosso Deus, fazei-nos voltar, mostrai-nos o vosso rosto e seremos salvos.

Pastor de Israel, escutai,
Vós que estais sentado sobre os Querubins, aparecei.
Despertai o vosso poder
e vinde em nosso auxílio.

Deus dos Exércitos, vinde de novo,
olhai dos céus e vede, visitai esta vinha.
Protegei a cepa que a vossa mão direita plantou,
o rebento que fortalecestes para Vós.

Estendei a mão sobre o homem que escolhestes,
sobre o filho do homem que para Vós criastes;
e não mais nos apartaremos de Vós:
fazei-nos viver e invocaremos o vosso nome.


Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
(1 Cor 1,3-9)
Irmãos: A graça e a paz vos sejam dadas da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. Dou graças a Deus, em todo o tempo, a vosso respeito, pela graça divina que vos foi dada em Cristo Jesus. Porque fostes enriquecidos em tudo: em toda a palavra e em todo o conhecimento; e deste modo, tornou-se firme em vós o testemunho de Cristo. De facto, já não vos falta nenhum dom da graça, a vós que esperais a manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele vos tornará firmes até ao fim, para que sejais irrepreensíveis no dia de Nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é Deus, por quem fostes chamados à comunhão com seu Filho, Jesus Cristo, Nosso Senhor.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
(Mc 13,33-37)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: "Acautelai-vos e vigiai, porque não sabeis quando chegará o momento. Será como um homem que partiu de viagem: ao deixar a sua casa, deu plenos poderes aos seus servos, atribuindo a cada um a sua tarefa, e mandou ao porteiro que vigiasse. Vigiai, portanto, visto que não sabeis quando virá o dono da casa: se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se de manhãzinha; não se dê o caso que, vindo inesperadamente, vos encontre a dormir. O que vos digo a vós, digo-o a todos: Vigiai!"


BOA NOTÍCIA
A raposa e o príncipe
O próximo domingo, dia 3, marca o início de um novo ano para a Igreja: é o primeiro domingo de Advento (do latim Adventus, que significa “chegada”), o tempo litúrgico que antecede o Natal. Mais uma vez o Evangelho convida-nos a vigiar: «Vigiai, porque não sabeis quando virá!» Porém, de tanto se insistir na vigilância, talvez alguns leitores comecem a perguntar-se: «Mas afinal, quem é que vai chegar? É um amigo ou um inimigo?»

Não devemos ter medo, pois o convite a vigiarmos não é uma frase isolada, mas está inserida num Evangelho que propõe uma imagem bem clara de Deus. Quem regressa não é um senhor terrível e tirano, mas sim o Pai de Misericórdia e Amor...

Nunca vos aconteceu ir espreitar à janela, de dez em dez minutos, mesmo sabendo que ainda faltam duas horas para que o vosso amor chegue? Só quem já amou pode entender a espera e a vigilância de que nos fala o Evangelho. É o aguardar apaixonado que tão habilmente foi descrito pela raposa ao principezinho, numa das mais belas páginas do famoso livro de Saint-Exupéry.

«(...) Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração (...)»

Eis o tempo de Advento! Eis a preparação para o Natal: esperamos com emoção o Senhor que nos cativou, que conquistou o nosso coração e durante quatro semanas preparamos com alegria a nossa casa e o nosso coração para O acolhermos bem.

P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2017.12.01






sexta-feira, 24 de novembro de 2017

SOLENIDADE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO (ano A)

Leitura da Profecia de Ezequiel
(Ez 34,11-12.15-17)
Eis o que diz o Senhor Deus: «Eu próprio irei em busca das minhas ovelhas e hei-de encontrá-las. Como o pastor vigia o seu rebanho, Quando estiver no meio das ovelhas que andavam tresmalhadas, para as tirar de todos os sítios em que se desgarraram num dia de nevoeiro e de trevas. Eu apascentarei as minhas ovelhas, Eu as levarei a repousar, diz o Senhor. Hei-de procurar a que anda tresmalhada. Tratarei a que estiver ferida, darei vigor à que andar enfraquecida E velarei pela gorda e vigorosa. Hei-de apascentá-las com justiça. Quanto a vós, meu rebanho, assim fala o Senhor Deus: Hei-de fazer justiça entre ovelhas e ovelhas, entre carneiros e cabritos».


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 22 (23)
Refrão: O Senhor é meu pastor: nada me faltará.

O Senhor é meu pastor: nada me falta.
Leva-me a descansar em verdes prados,
conduz-me às águas refrescantes
e reconforta a minha alma.

Ele me guia por sendas direitas,
por amor do seu nome.
Ainda que tenha de andar por vales tenebrosos
não temerei nenhum mal, porque Vós estais comigo.

Para mim preparais a mesa
à vista dos meus adversários;
com óleo me perfumais a cabeça
e o meu cálice transborda.

A bondade e a graça hão-de acompanhar-me
todos os dias da minha vida,
e habitarei na casa do Senhor
para todo o sempre.


Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
(1 Cor 15,20-26.28)
Irmãos: Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram. Uma vez que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos; porque, do mesmo modo que em Adão todos morreram, assim também em Cristo serão todos restituídos à vida. Cada qual, porém, na sua ordem: primeiro, Cristo, como primícias; a seguir, os que pertencem a Cristo, por ocasião da sua vinda. Depois será o fim, quando Cristo entregar o reino a Deus seu Pai. É necessário que Ele reine, até que tenha posto todos os inimigos debaixo dos seus pés. E o último inimigo a ser aniquilado é a morte, porque Deus «tudo submeteu debaixo dos seus pés». Quando todas as coisas Lhe forem submetidas, então também o próprio Filho Se há-de submeter àquele que Lhe submeteu todas as coisas, para que Deus seja tudo em todos.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 25,31-46)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Quando o Filho do homem vier na sua glória com todos os seus Anjos, sentar-Se-á no seu trono glorioso. Todas as nações se reunirão na sua presença e Ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos; e colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Vinde, bem ditos de meu Pai; recebei como herança o reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Porque tive fome e destes-Me de comer; tive sede e destes-me de beber; era peregrino e Me recolhestes; não tinha roupa e Me vestistes; estive doente e viestes visitar-Me; estava na prisão e fostes ver-Me’. Então os justos Lhe dirão: ‘Senhor, quando é que Te vimos com fome e Te demos de comer, ou com sede e Te demos de beber? Quando é que Te vimos peregrino e te recolhemos, ou sem roupa e Te vestimos? Quando é que Te vimos doente ou na prisão e Te fomos ver?’ E o Rei lhes responderá: ‘Em verdade vos digo: Quantas vezes o fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos, a Mim o fizestes’. Dirá então aos que estiverem à sua esquerda: ‘Afastai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o demónio e os seus anjos. Porque tive fome e não Me destes de comer; tive sede e não Me destes de beber; era peregrino e não Me recolhestes; estava sem roupa e não Me vestistes; estive doente e na prisão e não Me fostes visitar’. Então também eles Lhe hão-de perguntar: ‘Senhor, quando é que Te vimos com fome ou com sede, peregrino ou sem roupa, doente ou na prisão, e não Te prestámos assistência?’ E Ele lhes responderá: ‘Em verdade vos digo: Quantas vezes o deixastes de fazer a um dos meus irmãos mais pequeninos, também a Mim o deixastes de fazer’. Estes irão para o suplício eterno e os justos para a vida eterna».


BOA NOTÍCIA
Quando, quando, quando?
No Evangelho do próximo domingo - o último deste ano litúrgico - encontramos vários pontos de interrogação na descrição que Jesus faz do “Juízo final”. Não estão ali por acaso, mas servem para ilustrar o “cair das nuvens” das pessoas que encontram o Rei/Juiz. Na verdade, o elemento surpresa é parte integrante da mensagem de Jesus, onde Ele insiste que muitos dos que se acham “justos” hão-de descobrir-se indignos… Porém, talvez nos surpreenda o facto desta página dar mais ênfase e espaço às perguntas (e à surpresa) dos que foram reputados “bons” pelo Juiz.

«Senhor, quando é que Te vimos com fome e Te demos de comer, ou com sede e Te demos de beber? Quando é que Te vimos peregrino e te recolhemos, ou sem roupa e Te vestimos? Quando é que Te vimos doente ou na prisão e Te fomos ver?»

Como se pode verificar, eles não sabiam. Não pensavam que ajudando os irmãos mais pobres se colocavam ao serviço do Rei/Cristo. Não tinham os olhos colocados em nenhuma recompensa, mas agiam com espírito de pura gratuidade. Com estas perguntas, Jesus recorda-nos que o verdadeiro amor deve ser assim: gratuito!

Muitos pensam que ser “bons cristãos” significa dar muitas esmolas, mas a nossa fé é intensamente mais bonita e complexa. Quando ajudamos alguém não o podemos fazer por obrigação (porque somos cristãos...) ou porque achamos que assim vamos poder “comprar” a nossa salvação. Não é a ideia da herança que conduz a vida dos justos: é o amor! Eis a vontade de Deus Pai: que nos amemos uns aos outros. Todavia, o verdadeiro amor não tem segundos fins ou propósitos escondidos: é livre e gratuito. Gratuito ao ponto de se surpreender quando recebe uma recompensa.

P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2017.11.24





sexta-feira, 17 de novembro de 2017

33º DOMINGO DO TEMPO COMUM (ano A)

Leitura do Livro dos Provérbios
(Prov 31,10-13.19-20.30-31)
Quem poderá encontrar uma mulher virtuosa? O seu valor é maior que o das pérolas. Nela confia o coração do marido, e jamais lhe falta coisa alguma. Ela dá-lhe bem-estar e não desventura, em todos os dias da sua vida. Procura obter lã e linho e põe mãos ao trabalho alegremente. Toma a roca em suas mãos, seus dedos manejam o fuso. Abre as mãos ao pobre e estende os braços ao indigente. A graça é enganadora e vã a beleza; a mulher que teme o Senhor é que será louvada. Dai-lhe o fruto das suas mãos, e suas obras a louvem às portas da cidade.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 127
Refrão: Ditoso o que segue o caminho do Senhor.

Feliz de ti que temes o Senhor
e andas nos seus caminhos.
Comerás do trabalho das tuas mãos,
serás feliz e tudo te correrá bem.

Tua esposa será como videira fecunda,
no íntimo do teu lar;
teus filhos serão como ramos de oliveira,
ao redor da tua mesa.

Assim será abençoado o homem que teme o Senhor.
De Sião te abençoe o Senhor:
vejas a prosperidade de Jerusalém,
todos os dias da tua vida.


Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses
(1 Tes 5,1-6)
Irmãos: Sobre o tempo e a ocasião, não precisais que vos escreva, pois vós próprios sabeis perfeitamente que o dia do Senhor vem como um ladrão nocturno. E quando disserem: «Paz e segurança», é então que subitamente cairá sobre eles a ruína, como as dores da mulher que está para ser mãe, e não poderão escapar. Mas vós, irmãos, não andeis nas trevas, de modo que esse dia vos surpreenda como um ladrão, porque todos vós sois filhos da luz e filhos do dia: nós não somos da noite nem das trevas. Por isso, não durmamos como os outros, mas permaneçamos vigilantes e sóbrios.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 25,14-30)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola: «Um homem, ao partir de viagem, chamou os seus servos e confiou-lhes os seus bens. A um entregou cinco talentos, a outro dois e a outro um, conforme a capacidade de cada qual; e depois partiu. O que tinha recebido cinco talentos fê-los render e ganhou outros cinco. Do mesmo modo, o que recebera dois talentos ganhou outros dois. Mas, o que recebera um só talento foi escavar na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor. Muito tempo depois, chegou o senhor daqueles servos e foi ajustar contas com eles. O que recebera cinco talentos aproximou-se e apresentou outros cinco, dizendo: ‘Senhor, confiaste-me cinco talentos: aqui estão outros cinco que eu ganhei’. Respondeu-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel. Porque foste fiel em coisas pequenas, confiar-te-ei as grandes. Vem tomar parte na alegria do teu senhor’. Aproximou-se também o que recebera dois talentos e disse: ‘Senhor, confiaste-me dois talentos: aqui estão outros dois que eu ganhei’. Respondeu-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel. Porque foste fiel em coisas pequenas, confiar-te-ei as grandes. Vem tomar parte na alegria do teu senhor’. Aproximou-se também o que recebera um só talento e disse: ‘Senhor, eu sabia que és um homem severo, que colhes onde não semeaste e recolhes onde nada lançaste. Por isso, tive medo e escondi o teu talento na terra. Aqui tens o que te pertence’. O senhor respondeu-lhe: ‘Servo mau e preguiçoso, sabias que ceifo onde não semeei e recolho onde nada lancei; devias, portanto, depositar no banco o meu dinheiro e eu teria, ao voltar, recebido com juro o que era meu. Tirai-lhe então o talento e dai-o àquele que tem dez. Porque, a todo aquele que tem, dar-se-á mais e terá em abundância; mas, àquele que não tem, até o pouco que tem lhe será tirado. Quanto ao servo inútil, lançai-o às trevas exteriores. Aí haverá choro e ranger de dentes’».


BOA NOTÍCIA
A fé desperta-nos!
Ao longo da História vários autores acusaram a religião de ser um mero instrumento de controlo das massas; uma distracção para que ninguém lute por uma sociedade mais justa, ou como dizia Karl Marx, de ser o “ópio do povo”. É um facto que a religião pode ser manipulada para manter o status quo, no entanto, na missa do próximo domingo, dia 19, descobrimos que a essência da vida cristã é o oposto da apatia e do comodismo. É-nos proposta a famosa “parábola dos talentos” que descreve o comportamento de três servos, a quem tinham sido confiados os bens de um senhor (um “talento”, no tempo de Jesus, era uma unidade de peso que correspondia a 36 quilos de prata). Quando o senhor pergunta como foram investidos os seus bens, um desses servos responde: «Tive medo e escondi o teu talento na terra».

Dificilmente encontramos na Bíblia palavras tão duras como as reservadas a este servo! Ai de quem (por medo ou preguiça) esconder os dons que Deus lhe deu e se alhear dos problemas do mundo! Esta parábola diz-nos que os discípulos de Jesus não podem renunciar a um papel activo na luta por uma sociedade mais justa e mais fraterna; não podem não denunciar erros e injustiças; não podem não investir os próprios talentos e capacidades na construção de um mundo melhor. Porque o reino de Deus, anunciado por Jesus Cristo, começa aqui e agora. E todos somos convidados a colaborar na sua construção, colocando os nossos talentos ao serviço da família humana.

Amigo, se achas que ser cristão é viver alienado e com a cabeça nas nuvens, não podias estar mais enganado…

P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2017.11.17





sexta-feira, 10 de novembro de 2017

32º DOMINGO DO TEMPO COMUM (ano A)

Leitura do Livro da Sabedoria
(Sab 6,12-16)
A Sabedoria é luminosa e o seu brilho é inalterável; deixa-se ver facilmente àqueles que a amam e faz-se encontrar aos que a procuram. Antecipa-se e dá-se a conhecer aos que a desejam. Quem a busca desde a aurora não se fatigará, porque há-de encontrá-la já sentada à sua porta. Meditar sobre ela é prudência consumada, e quem lhe consagra as vigílias depressa ficará sem cuidados. Procura por toda a parte os que são dignos dela: aparece-lhes nos caminhos, cheia de benevolência, e vem ao seu encontro em todos os seus pensamentos.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 62 (63)
Refrão: A minha alma tem sede de Vós, meu Deus.

Senhor, sós o meu Deus: desde a aurora Vos procuro.
A minha alma tem sede de Vós.
Por Vós suspiro,
como terra árida, sequiosa, sem água.

Quero contemplar-Vos no santuário,
para ver o vosso poder e a vossa glória.
A vossa graça vale mais que a vida;
por isso, os meus lábios hão-de cantar-Vos louvores.

Assim Vos bendirei toda a minha vida
e em vosso louvor levantarei as mãos.
Serei saciado com saborosos manjares
e com vozes de júbilo Vos louvarei.

Quando no leito Vos recordo,
passo a noite a pensar em Vós.
Porque Vos tornastes o meu refúgio,
exulto à sombra das vossas asas.


Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses
(1 Tes 4,13-18)
Não queremos, irmãos, deixar-vos na ignorância a respeito dos defuntos, para não vos contristardes como os outros, que não têm esperança. Se acreditamos que Jesus morreu e ressuscitou, do mesmo modo, Deus levará com Jesus os que em Jesus tiverem morrido. Eis o que temos para vos dizer, segundo a palavra do Senhor: Nós, os vivos, os que ficarmos para a vinda do Senhor, não precederemos os que tiverem morrido. Ao sinal dado, à voz do Arcanjo e ao som da trombeta divina, o próprio Senhor descerá do Céu, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro. Em seguida, nós, os vivos, os que tivermos ficado, seremos arrebatados juntamente com eles sobre as nuvens, para irmos ao encontro do Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Consolai-vos uns aos outros com estas palavras.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 25,1-13)
Naquele tempo, Disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola: «O reino dos Céus pode comparar-se a dez virgens, que, tomando as suas lâmpadas, foram ao encontro do esposo. Cinco eram insensatas e cinco eram prudentes. As insensatas, ao tomarem as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo, enquanto as prudentes, com as lâmpadas, levaram azeite nas almotolias. Como o esposo se demorava, começaram todas a dormitar e adormeceram. No meio da noite ouviu-se um brado: ‘Aí vem o esposo; ide ao seu encontro’. Então, as virgens levantaram-se todas e começaram a preparar as lâmpadas. As insensatas disseram às prudentes: ‘Dai-nos do vosso azeite, que as nossas lâmpadas estão a apagar-se’. Mas as prudentes responderam: ‘Talvez não chegue para nós e para vós. Ide antes comprá-lo aos vendedores’. Mas, enquanto foram comprá-lo, chegou o esposo. As que estavam preparadas entraram com ele para o banquete nupcial; e a porta fechou-se. Mais tarde, chegaram também as outras virgens e disseram: ‘Senhor, senhor, abre-nos a porta’. Mas ele respondeu: ‘Em verdade vos digo: Não vos conheço’. Portanto, vigiai, porque não sabeis o dia nem a hora.


BOA NOTÍCIA
Vigiar não é temer
Na missa do próximo domingo, dia 12 de Novembro, é-nos proposta a parábola “das dez virgens” ou (se quisermos actualizar) das dez damas de honor. A parábola descreve a triste sorte reservada a cinco delas que, por uma imprudência, se ausentam antes que a festa inicie. Acabam por perder a chegada do noivo e ficam trancadas do lado de fora do banquete nupcial, sem qualquer possibilidade de entrar. A história termina com um aviso: «Vigiai, porque não sabeis o dia nem a hora».

É para nos assustar que Jesus conta esta parábola? Por vezes a Bíblia recorre a metáforas que procuram propositadamente inquietar-nos, mas reduzir esta e outras parábolas a uma “pedagogia do medo”, simplesmente, não é correcto. O objectivo desta catequese não é dizer-nos que, se não nos portamos bem, Deus castiga-nos e fecha as portas do paraíso. O que Jesus Cristo procura é alertar-nos para a seriedade com que devemos avaliar as nossas escolhas, de forma a não desperdiçarmos a nossa vida com banalidades e distracções.

Ninguém sabe quanto tempo tem e quando será o último encontro definitivo com o Senhor. Pode ser daqui a muitos anos, ou pode ser já hoje. Mas não devemos viver no terror. Aliás, esta parábola ajuda-nos a vencer o medo! Quem vigia, quem vive com os olhos e o coração abertos, acaba por encontrar o Senhor várias vezes ao longo da própria vida e por isso não teme, pois sabe que, no último dia, não é o desconhecido (ou “um” desconhecido) que a espera, mas é alguém que conhecemos e que nos conhece também. É um amigo. É Jesus.

P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2017.11.10






quinta-feira, 2 de novembro de 2017

31º DOMINGO DO TEMPO COMUM (ano A)

Leitura da Profecia de Malaquias
(Mal 1,14b-2,2b.8-10)
Eu sou um grande Rei, diz o Senhor do Universo, e o meu nome é temível entre as nações. Agora, este aviso é para vós, sacerdotes: Se não Me ouvirdes, se não vos empenhardes em dar glória ao meu nome, diz o Senhor do Universo, mandarei sobre vós a maldição. Vós desviastes-vos do caminho, fizestes tropeçar muitos na lei e destruístes a aliança de Levi, diz o Senhor do Universo. Por isso, como não seguis os meus caminhos e fazeis acepção de pessoas perante a lei, também Eu vos tornarei desprezíveis e abjectos aos olhos de todo o povo. Não temos todos nós um só Pai? Não foi o mesmo Deus que nos criou? Então porque somos desleais uns para com os outros, profanando a aliança dos nossos pais?


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 130 (131)
Refrão: Guardai-me junto de Vós, na vossa paz, Senhor.

Senhor, não se eleva soberbo o meu coração,
nem se levantam altivos os meus olhos.
Não ambiciono riquezas,
nem coisas superiores a mim.

Antes fico sossegado e tranquilo,
como criança ao colo da mãe.
Espera, Israel, no Senhor,
agora e para sempre.


Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses
(1 Tes 2,7b-9.13)
Irmãos: Fizemo-nos pequenos no meio de vós. Como a mãe que acalenta os filhos que anda a criar, assim nós também, pela viva afeição que vos dedicamos, desejaríamos partilhar convosco, não só o Evangelho de Deus, mas ainda própria vida, tão caros vos tínheis tornado para nós. Bem vos lembrais, irmãos, dos nossos trabalhos e canseiras. Foi a trabalhar noite e dia, para não sermos pesados a nenhum de vós, que vos pregámos o Evangelho de Deus. Por isso, também nós damos graças a Deus sem cessar, porque, depois de terdes ouvido a palavra de Deus por nós pregada, vós a acolhestes, não como palavra humana, mas como ela é realmente, palavra de Deus, que permanece activa em vós, os crentes.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 23,1-12)
Naquele tempo, Jesus falou à multidão e aos discípulos, dizendo: «Na cadeira de Moisés sentaram-se os escribas e os fariseus. Fazei e observai tudo quanto vos disserem, mas não imiteis as suas obras, porque eles dizem e não fazem. Atam fardos pesados e põem-nos aos ombros dos homens, mas eles nem com o dedo os querem mover. Tudo o que fazem é para serem vistos pelos homens: alargam os filactérios e ampliam as borlas; gostam do primeiro lugar nos banquetes e dos primeiros assentos nas sinagogas, das saudações nas praças públicas e que os tratem por ‘Mestres’. Vós, porém, não vos deixeis tratar por ‘Mestres’, porque um só é o vosso Mestre e vós sois todos irmãos. Na terra não chameis a ninguém vosso ‘Pai’, porque um só é o vosso pai, o Pai celeste. Nem vos deixeis tratar por ‘Doutores’, porque um só é o vosso doutor, o Messias. Aquele que for o maior entre vós será o vosso servo. Quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado».


BOA NOTÍCIA
Todos diferentes, todos iguais
Não são apenas os bispos e os padres, mas qualquer cristão corre o risco de cair no erro de se achar mais importante que os outros fiéis. A alguns, basta confiar-lhes uma pequena responsabilidade em paróquia e já se sentem generais ao comando das tropas. Outros, por pertencerem a um movimento, ou terem feito algum curso, tropeçam imediatamente na síndrome do “guru” e distribuem conselhos a torto e a direito, não fazendo caso das palavras de Paulo VI que dizia que «o mundo não precisa de mestres, mas de testemunhas», uma vez que «as palavras movem, mas o exemplo arrasta».

O Evangelho do próximo domingo, dia 5, propõe-nos precisamente o tema da hierarquia na Igreja e os perigos da vaidade, da arrogância e da hipocrisia. Todos sabemos o quanto é fácil esquecer que a autoridade não é um privilégio, mas um serviço. Apesar de erros, incoerências e abusos, é evidente que na Igreja fundada por Cristo, os títulos de honra e a luta pelos primeiros lugares, não fazem qualquer sentido. À ostentação e vaidade dos antigos mestres de Israel, Jesus contrapõe uma nova atitude que os seus discípulos devem assumir em uníssono: a humildade! Para ilustrar claramente esta lógica, no próximo domingo Jesus Cristo propõe-nos uma afirmação desconcertante que desafia a lógica do mundo: «Aquele que for o maior entre vós será o vosso servo».

É uma declaração extraordinária, que nos deve inquietar a todos e que nos recorda que os “títulos” na Igreja, se os há, são nomes de serviços, não motivos de vã glória! Na comunidade cristã, só o amor e o serviço devem ter o primeiro lugar!

P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2017.11.03





sexta-feira, 27 de outubro de 2017

30º DOMINGO DO TEMPO COMUM (ano A)

Leitura do Livro do Êxodo
(Ex 22,20-26)
Eis o que diz o Senhor: «Não prejudicarás o estrangeiro, nem o oprimirás, porque vós próprios fostes estrangeiros na terra do Egipto. Não maltratarás a viúva nem o órfão. Se lhes fizeres algum mal e eles clamarem por Mim, escutarei o seu clamor;inflamar-se-á a minha indignação e matar-vos-ei ao fio da espada. As vossas mulheres ficarão viúvas, e órfãos os vossos filhos. Se emprestares dinheiro a alguém do meu povo, ao pobre que vive junto de ti, não procederás com ele como um usurário, sobrecarregando-o com juros. Se receberes como penhor a capa do teu próximo, terás de lha devolver até ao pôr do sol, pois é tudo o que ele tem para se cobrir, é o vestuário com que cobre o seu corpo. Com que dormiria ele? Se ele Me invocar, escutá-lo-ei, porque sou misericordioso».


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 17 (18)
Refrão: Eu vos amo, Senhor: sois a minha força.

Eu Vos amo, Senhor, minha força,
minha fortaleza, meu refúgio e meu libertador.
Meu Deus, auxílio em que ponho a minha confiança,
meu protector, minha defesa e meu salvador.

Na minha aflição invoquei o Senhor
e clamei pelo meu Deus.
Do seu templo Ele ouviu a minha voz,
e o meu clamor chegou aos seus ouvidos.

Viva o Senhor, bendito seja o meu protector;
exaltado seja Deus, meu salvador.
O Senhor dá ao Rei grandes vitórias
e usa de bondade para com o seu ungido.


Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses
(1 Tes 1,5c-10)
Irmãos: Vós sabeis como procedemos no meio de vós, para vosso bem. Tornaste-vos imitadores nossos e do Senhor, recebendo a palavra no meio de muitas tribulações, com a alegria do Espírito Santo; e assim vos tornastes exemplo para todos os crentes da Macedónia e da Acaia. Porque, partindo de vós, a palavra de Deus ressoou não só na Macedónia e na Acaia, mas em toda a parte se divulgou a vossa fé em Deus, de modo que não precisamos de falar sobre ela. De facto, são eles próprios que relatam o acolhimento que tivemos junto de vós e como dos ídolos vos convertestes a Deus, para servir ao Deus vivo e verdadeiro e esperar dos Céus o seu Filho, a quem ressuscitou dos mortos: Jesus, que nos livrará da ira que há-de vir.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 22,34-40)
Naquele tempo, os fariseus, ouvindo dizer que Jesus tinha feito calar os saduceus, reuniram-se em grupo, e um doutor da Lei perguntou a Jesus, para O experimentar: «Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?». Jesus respondeu: «‘Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu espírito’. Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo, porém, é semelhante a este: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’. Nestes dois mandamentos se resumem toda a Lei e os Profetas».


BOA NOTÍCIA
A clave musical
No nosso dia-a-dia quantas são as regras que seguimos? Regras de condução… regras de boa educação… regras de trabalho… e também, regras religiosas. Dois mil anos de história fizeram com que a Igreja acumulasse uma pesada herança de preceitos, proibições e leis. Mas será que, para se ser católico, é necessário conhecer e respeitar os 1752 cânones do Direito Canónico…? Felizmente, no Evangelho do próximo domingo, dia 29, Jesus esclarece-nos as ideias e diz-nos que os mandamentos necessários para a vida são apenas dois: «Amarás o Senhor teu Deus e o próximo como a ti mesmo».

No fundo, não são duas regras distintas. “Amar Deus” e “amar os irmãos” são duas faces duma mesma moeda, que Santo Agostinho reformula com esta bonita provocação: «Ama e faz o que quiseres!». Mas se isso é verdade, então para que servem todas as leis da Igreja?

Podemos fazer a seguinte comparação: se numa composição musical é a clave que dá o nome a cada uma das notas na pauta, no caso da fé cristã é o amor a Deus e o amor ao próximo que dão sentido às outras regras. Todos estamos a par das grandes controvérsias por detrás de algumas leis da Igreja. Refiro-me, por exemplo, às normas sobre os contraceptivos, o aborto, ou a questão do divórcio. São temas complexos que suscitam muitas questões e que merecem um debate honesto. Mas atenção: só teremos uma resposta verdadeiramente cristã, uma resposta que seja realmente Caminho, Verdade e Vida, quando conseguirmos interiorizar a clave musical, ou seja, os dois mandamentos que dão sentido a todos os outros: amar a Deus e amar o próximo.

P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2017.10.27






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