quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA (ano A)

Leitura do Livro de Ben-Sirá
(Sir 3, 3-7.14-17a [gr. 2-6.12-14])
Deus quis honrar os pais nos filhos e firmou sobre eles a autoridade da mãe. Quem honra seu pai obtém o perdão dos pecados e acumula um tesouro quem honra sua mãe. Quem honra o pai encontrará alegria nos seus filhos e será atendido na sua oração. Quem honra seu pai terá longa vida, e quem lhe obedece será o conforto de sua mãe. Filho, ampara a velhice do teu pai e não o desgostes durante a sua vida. Se a sua mente enfraquece, sê indulgente para com ele e não o desprezes, tu que estás no vigor da vida, porque a tua caridade para com teu pai nunca será esquecida e converter-se-á em desconto dos teus pecados.


SALMO RESPONSORIAL - Salmo 127 (128), 1-2.3.4-5
Refrão: Felizes os que esperam no Senhor e seguem os seus caminhos.

Feliz de ti, que temes o Senhor
e andas nos seus caminhos.
Comerás do trabalho das tuas mãos,
serás feliz e tudo te correrá bem.

Tua esposa será como videira fecunda,
no íntimo do teu lar;
teus filhos serão como ramos de oliveira,
ao redor da tua mesa.

Assim será abençoado o homem que teme o Senhor.
De Sião te abençoe o Senhor:
vejas a prosperidade de Jerusalém,
todos os dias da tua vida.


Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Colossenses
(Col 3, 12-21)
Irmãos: Como eleitos de Deus, santos e predilectos, revesti-vos de sentimentos de misericórdia, de bondade, humildade, mansidão e paciência. Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente, se algum tiver razão de queixa contra outro. Tal como o Senhor vos perdoou, assim deveis fazer vós também. Acima de tudo, revesti-vos da caridade, que é o vínculo da perfeição. Reine em vossos corações a paz de Cristo, à qual fostes chamados para formar um só corpo. E vivei em acção de graças. Habite em vós com abundância a palavra de Cristo, para vos instruirdes e aconselhardes uns aos outros com toda a sabedoria; e com salmos, hinos e cânticos inspirados, cantai de todo o coração a Deus a vossa gratidão. E tudo o que fizerdes, por palavras ou por obras, seja tudo em nome do Senhor Jesus, dando graças, por Ele, a Deus Pai. Esposas, sede submissas aos vossos maridos, como convém no Senhor. Maridos, amai as vossas esposas e não as trateis com aspereza. Filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque isto agrada ao Senhor. Pais, não exaspereis os vossos filhos, para que não caiam em desânimo.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 2, 13-15.19-23)
Depois de os Magos partirem, o Anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse-lhe: «Levanta-te, toma o Menino e sua Mãe e foge para o Egipto e fica lá até que eu te diga, pois Herodes vai procurar o Menino para O matar». José levantou-se de noite, tomou o Menino e sua Mãe e partiu para o Egipto e ficou lá até à morte de Herodes. Assim se cumpriu o que o Senhor anunciara pelo Profeta: «Do Egipto chamei o meu filho». Quando Herodes morreu, o Anjo apareceu em sonhos a José, no Egipto, e disse-lhe: «Levanta-te, toma o Menino e sua Mãe e vai para a terra de Israel, pois aqueles que atentavam contra a vida do Menino já morreram». José levantou-se, tomou o Menino e sua Mãe e voltou para a terra de Israel. Mas, quando ouviu dizer que Arquelau reinava na Judeia, em lugar de seu pai, Herodes, teve receio de ir para lá. E, avisado em sonhos, retirou-se para a região da Galileia e foi morar numa cidade chamada Nazaré. Assim se cumpriu o que fora anunciado pelos Profetas: «Há-de chamar-Se Nazareno».


BOA NOTÍCIA
«José levantou-se de noite, tomou o Menino e sua Mãe e partiu para o Egipto»
O Evangelho do próximo domingo (primeiro domingo após o Natal e portanto, Festa da Sagrada Família) convida-nos a visitar de novo o presépio, mas descobrimos (com surpresa!) que o cenário sereno e bucólico do “menino nas palhinhas deitado” transformou-se completamente... Durante a noite de Natal emocionámo-nos com o clima de ternura e de consolação que se respirava no estábulo de Belém. É normal (e justo) que assim seja! É bonito imaginar os pastores que se ajoelham para contemplar o menino Jesus e os anjos que cantam «glória a Deus nas alturas». Porém, rapidamente, tudo se alterou: os pastores e os reis magos voltaram às próprias vidas e a família de Nazaré foi obrigada a fugir para o Egipto, para escapar da fúria homicida de Herodes.

Infelizmente, muitos (que se dizem) “cristãos” esquecem facilmente que a família de Jesus era uma família emigrante e que os primeiros anos da Sua vida foram passados numa terra onde era estrangeiro. A Festa da Sagrada Família e o episódio da fuga para o Egipto são uma boa ocasião para recordar que milhares de pessoas vivem neste preciso momento o drama de uma emigração triste e traumática, enfrentando geralmente viagens incrivelmente longas e perigosas, leis repressivas e xenófobas e um capitalismo proxeneta que, esfregando as mãos diante do desespero humano, propõe salários ridículos e condições de trabalho desumanas.

Dizia Bonhoeffer, teólogo alemão e mártir nos campos de concentração nazis: «Nós cristãos, não podemos nunca pronunciar as palavras últimas da fé, se antes não tivermos pronunciado as palavras penúltimas». A missão da Igreja é anunciar ao mundo as palavras “últimas”: anunciar o Reino, a esperança e a salvação plena. Mas este anúncio não é completo e autêntico se falta um compromisso sério no campo das realidades “penúltimas”, ou seja, se não nos batermos pela justiça, pelo progresso dos povos e pela dignidade humana.

Ao longo dos anos, João Paulo II insistiu várias vezes, nas suas mensagens para o Dia Mundial dos Migrantes e dos Refugiados, que «a catolicidade não se manifesta somente na comunhão fraterna dos baptizados, mas exprime-se também na hospitalidade assegurada ao estrangeiro, qualquer que seja a sua pertença religiosa, na rejeição de toda a exclusão ou discriminação racial e no reconhecimento da dignidade pessoal de cada um, com o consequente compromisso de promover os seus direitos inalienáveis.

«Era estrangeiro e acolheste-Me» (Mt 25,35). É tarefa da Igreja não só repropor ininterruptamente este ensinamento de fé do Senhor, mas também indicar a sua apropriada aplicação às diversas situações, que a variação dos tempos continua a suscitar. Hoje o migrante irregular apresenta-se-nos como aquele “estrangeiro”, em quem Jesus pede que seja reconhecido. Acolhê-lo e ser solidário com ele é dever de hospitalidade e fidelidade à própria identidade de cristão.

Na Igreja ninguém é estrangeiro, e a Igreja não é estrangeira a nenhum homem e em nenhum lugar. Enquanto sacramento de unidade, e portanto sinal e força agregante de todo o género humano, a Igreja é o lugar onde também os imigrados ilegais são reconhecidos e acolhidos como irmãos. É tarefa das diversas dioceses [e de cada cristão] mobilizar-se para que estas pessoas, constrangidas a viver fora da rede de protecção da sociedade civil, encontrem um sentido de fraternidade na comunidade cristã».

P. Carlos Caetano




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quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

4º DOMINGO DO ADVENTO (ano A)

Leitura do Livro de Isaías
(Is 7,10-14)
Naqueles dias, o Senhor mandou ao rei Acaz a seguinte mensagem: «Pede um sinal ao Senhor teu Deus, quer nas profundezas do abismo, quer lá em cima nas alturas». Acaz respondeu: «Não pedirei, não porei o Senhor à prova». Então Isaías disse: «Escutai, casa de David: Não vos basta que andeis a molestar os homens para quererdes também molestar o meu Deus? Por isso, o próprio Senhor vos dará um sinal: a virgem conceberá e dará à luz um filho e o seu nome será Emanuel».


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 23 (24)
Refrão: O Senhor virá: Ele é o rei da glória.

Do Senhor é a terra e o que nela existe,
o mundo e quantos nele habitam.
Ele a fundou sobre os mares
e a consolidou sobre as águas.

Quem poderá subir à montanha do Senhor?
Quem habitará no seu santuário?
O que tem as mãos inocentes e o coração puro,
que não invocou o seu nome em vão nem jurou falso.

Este será abençoado pelo Senhor
e recompensado por Deus, seu Salvador.
Esta é a geração dos que O procuram,
que procuram a face do Deus de Jacob.


Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
(Rom 1,1-7)
Paulo, servo de Jesus Cristo, apóstolo por chamamento divino, escolhido para o Evangelho que Deus tinha de antemão prometido pelos profetas nas Sagradas Escrituras, acerca de seu Filho, nascido da descendência de David, segundo a carne, mas, pelo Espírito que santifica, constituído Filho de Deus em todo o seu poder pela sua ressurreição de entre os mortos: Ele é Jesus Cristo, Nosso Senhor. Por Ele recebemos a graça e a missão de apóstolo, a fim de levarmos todos os gentios a obedecerem à fé, para honra do seu nome, dos quais fazeis parte também vós, chamados por Jesus Cristo. A todos os que habitam em Roma, amados por Deus e chamados a serem santos, a graça e a paz de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 1,18-24)
O nascimento de Jesus deu-se do seguinte modo: Maria, sua Mãe, noiva de José, antes de terem vivido em comum, encontrara-se grávida por virtude do Espírito Santo. Mas José, seu esposo, que era justo e não queria difamá-la, resolveu repudiá-la em segredo. Tinha ele assim pensado, quando lhe apareceu num sonho o Anjo do Senhor, que lhe disse: «José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que nela se gerou é fruto do Espírito Santo. Ela dará à luz um Filho e tu pôr-Lhe-ás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados». Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o senhor anunciara por meio do Profeta, que diz: «A Virgem conceberá e dará à luz um Filho, que será chamado ‘Emanuel’, que quer dizer ‘Deus connosco’». Quando despertou do sono, José fez como o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu sua esposa.


BOA NOTÍCIA
Motivação
O Evangelho do próximo domingo, dia 22, “acelera” um pouco os tempos e propõe-nos (apesar de ainda estarmos no Advento) o relato do nascimento de Jesus, na versão do evangelista Mateus. Nesta página é privilegiado o ponto de vista de José e é-nos descrita a sua reacção ao descobrir que Maria está grávida. «José (…) resolveu repudiá-la em segredo», pois sabe que a criança não é sua.

Mateus diz-nos que, mais tarde, José volta atrás na sua decisão: casa com Maria e acolhe o menino como seu filho. O Evangelista justifica este gesto relacionando-o com um sonho… No entanto, tal como ensina o poeta Pedro Calderón, «os sonhos, sonhos são» e uma decisão como esta, que compromete para a vida, pede uma motivação maior, uma motivação mais bonita: José amava Maria. Ele amava-a realmente.

É a única resposta com sentido. Qualquer outra explicação (medo, dever, vergonha…) não seria digna de José e tão pouco aceite por Deus. Um “sim” dito sem amor é uma vocação condenada à esterilidade. O amor é o único motor que desde o início dos tempos faz avançar a história da salvação. Encontramo-lo na Criação, na Incarnação e na cruz da Redenção. Se não fosse por amor, o gesto de José não teria qualquer sentido. Se não for por amor, se não for o amor a motivar-nos, tudo aquilo que fizermos, por muito nobre que pareça, é estéril e vazio aos olhos de Deus, pois tal como nos recorda são Paulo:

Ainda que eu tenha o dom da profecia
e conheça todos os mistérios e toda a ciência,
ainda que eu tenha tão grande fé que transporte montanhas,
se não tiver amor, nada sou.

Ainda que eu distribua todos os meus bens
e entregue o meu corpo para ser queimado,
se não tiver amor, de nada me serve.

P. Carlos Caetano

in LusoJornal 18.12.2013




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quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

3º DOMINGO DO ADVENTO (ano A)

Leitura do Livro de Isaías
(Is 35,1-6a.10)
Alegrem-se o deserto e o descampado, rejubile e floresça a terra árida, cubra-se de flores como o narciso, exulte com brados de alegria. Ser-lhe-á dada a glória do Líbano, o esplendor do Carmelo e do Sáron. Verão a glória do Senhor, o esplendor do nosso Deus. Fortalecei as mãos fatigadas e robustecei os joelhos vacilantes. Dizei aos corações perturbados: «Tende coragem, não temais: Aí está o vosso Deus, vem para fazer justiça e dar a recompensa. Ele próprio vem salvar-nos». Então se abrirão os olhos dos cegos e se desimpedirão os ouvidos dos surdos. Então o coxo saltará como um veado e a língua do mudo cantará de alegria. Voltarão os que o Senhor libertar, hão-de chegar a Sião com brados de alegria, com eterna felicidade a iluminar-lhes o rosto. Reinarão o prazer e o contentamento e acabarão a dor e os gemidos.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 145 (146)
Refrão: Vinde, Senhor, e salvai-nos.

O Senhor faz justiça aos oprimidos,
dá pão aos que têm fome
e a liberdade aos cativos.

O Senhor ilumina os olhos dos cegos,
o Senhor levanta ao abatidos,
o Senhor ama os justos.

O Senhor protege os peregrinos,
ampara o órfão e a viúva
e entrava o caminho aos pecadores.

O Senhor reina eternamente.
O teu Deus, ó Sião,
é rei por todas as gerações.


Leitura da Epístola de São Tiago
(Tg 5,7-10)
Irmãos: Esperai com paciência a vinda do Senhor. Vede como o agricultor espera pacientemente o precioso fruto da terra, aguardando a chuva temporã e a tardia. Sede pacientes, vós também, e fortalecei os vossos corações, porque a vinda do Senhor está próxima. Não vos queixeis uns dos outros, a fim de não serdes julgados. Eis que o Juiz está à porta. Irmãos, tomai como modelos de sofrimento e de paciência os profetas, que falaram em nome do Senhor.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 11,2-11)
Naquele tempo, João Baptista ouviu falar, na prisão, das obras de Cristo e mandou-Lhe dizer pelos discípulos: «És Tu Aquele que há-de vir ou devemos esperar outro?» Jesus respondeu-lhes: «Ide contar a João o que vedes e ouvis: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e a boa nova é anunciada aos pobres. E bem-aventurado aquele que não encontrar em Mim motivo de escândalo». Quando os mensageiros partiram, Jesus começou a falar de João às multidões: «Que fostes ver ao deserto? Uma cana agitada pelo vento? Então que fostes ver? Um homem vestido com roupas delicadas? Mas aqueles que usam roupas delicadas encontram-se nos palácios dos reis. Que fostes ver então? Um profeta? Sim – Eu vo-lo digo – e mais que profeta. É dele que está escrito: ‘Vou enviar à tua frente o meu mensageiro, para te preparar o caminho’. Em verdade vos digo: Entre os filhos de mulher, não apareceu ninguém maior do que João Baptista. Mas o menor no reino dos Céus é maior do que ele».


BOA NOTÍCIA
Desconcerto e surpresa
No Evangelho do próximo domingo, dia 15, escutaremos a pergunta que, da prisão, João Baptista pede que coloquem a Jesus: «És Tu Aquele que há-de vir ou devemos esperar outro?»

João esperava um Messias que viesse lançar fogo à terra, castigar os maus e os pecadores, dar início ao “juízo de Deus”. Para sua grande surpresa, Jesus não é um vingador justiceiro e o Seu modo de agir desorienta-o totalmente: desde o início da sua missão, Jesus, em vez de condenar os culpados, procurou aproximar-se dos pecadores, dos marginais e dos impuros. Estendeu-lhes a mão, mostrou-lhes o amor de Deus, ofereceu-lhes perdão e misericórdia. João e os seus discípulos estão muito confusos: será realmente este o Messias esperado, ou houve um engano e é preciso esperar um outro que venha actuar de uma forma mais decidida e mais justiceira?

O desconcerto de João é também o nosso; a sua dificuldade de entrar na lógica do Amor é a nossa dificuldade. Várias vezes ouvi cristãos caírem no erro de dividirem o mundo em maus e bons: os bons (normalmente, nós!) que serão salvos e os maus (os outros…) que serão implacavelmente punidos. Jesus troca-nos as voltas e em vez de condenar e punir, procura acima de tudo salvar e resgatar quem se afastou da Verdade.

Como é surpreendente o Senhor! Nós esperamos num Deus forte e majestoso e Ele vem como um bebé numa manjedoura; nós acreditamos num Deus encolerizado e Ele fala principalmente de amor e perdão; nós aguardamos um Deus triunfal e Ele revela-Se num crucificado.

Concluo com a inevitável questão que neste tempo do Advento todos somos convidados a responder: E tu? Qual é o Messias que esperas?

P. Carlos Caetano

in LusoJornal 11.12.2013



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quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

2º DOMINGO DO ADVENTO (ano A) - SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO DA VIRGEM SANTA MARIA - Padroeira de Portugal

Nota introdutória
Ao coincidir a Solenidade da Imaculada Conceição com o 2º Domingo do Advento, em Portugal a liturgia da Palavra conserva a segunda leitura deste domingo de Advento, sendo a primeira e o Evangelho da Solenidade da Imaculada Conceição (cf. Diretório Litúrgico).

Leitura do Livro do Génesis
(Gen 3, 9-15.20)
Depois de Adão ter comido da árvore, o Senhor Deus chamou-o e disse-lhe: «Onde estás?» Ele respondeu: «Ouvi o rumor dos vossos passos no jardim e, como estava nu, tive medo e escondi-me». Disse Deus: «Quem te deu a conhecer que estavas nu? Terias tu comido dessa árvore, da qual te proibira comer?» Adão respondeu: «A mulher que me destes por companheira deu-me do fruto da árvore e eu comi». O Senhor Deus perguntou à mulher: «Que fizeste?» E a mulher respondeu: «A serpente enganou-me e eu comi». Disse então o Senhor Deus à serpente: «Por teres feito semelhante coisa, maldita sejas entre todos os animais domésticos e entre todos os animais selvagens. Hás-de rastejar e comer do pó da terra todos os dias da tua vida. Estabelecerei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a descendência dela. Esta te esmagará a cabeça e tu a atingirás no calcanhar». O homem deu à mulher o nome de 'Eva', porque ela foi a mãe de todos os viventes.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 97
Refrão: Cantai ao Senhor um cântico novo:  o Senhor fez maravilhas.

Cantai ao Senhor um cântico novo,
pelas maravilhas que Ele operou.
A sua mão e o seu santo braço
Lhe deram a vitória.

O Senhor deu a conhecer a salvação,
revelou aos olhos das nações a sua justiça.
Recordou-Se da sua bondade e fidelidade
em favor da casa de Israel.

Os confins da terra puderam ver
a salvação do nosso Deus.
Aclamai o Senhor, terra inteira,
exultai de alegria e cantai.


Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
(Rom 15, 4-9)
Irmãos: Tudo o que foi escrito no passado foi escrito para nossa instrução, a fim de que, pela paciência e consolação que vêm das Escrituras, tenhamos esperança. O Deus da paciência e da consolação vos conceda que alimenteis os mesmos sentimentos uns para com os outros, segundo Cristo Jesus, para que, numa só alma e com uma só voz, glorifiqueis a Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo. Acolhei-vos, portanto, uns aos outros, como Cristo vos acolheu, para glória de Deus. Pois Eu vos digo que Cristo Se fez servidor dos judeus, para mostrar a fidelidade de Deus e confirmar as promessas feitas aos nossos antepassados. Por sua vez, os gentios dão glória a Deus pela sua misericórdia, como está escrito: «Por isso eu Vos bendirei entre as nações e cantarei a glória do vosso nome».


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 1, 26-38)
Naquele tempo, o Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma Virgem desposada com um homem chamado José. O nome da Virgem era Maria. Tendo entrado onde ela estava, disse o Anjo: «Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo». Ela ficou perturbada com estas palavras e pensava que saudação seria aquela. Disse-lhe o Anjo: «Não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo. O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David; reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim». Maria disse ao Anjo: «Como será isto, se eu não conheço homem?». O Anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus. E a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice e este é o sexto mês daquela a quem chamavam estéril; porque a Deus nada é impossível». Maria disse então: «Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra».


BOA NOTÍCIA
«Não temas!»
Enquanto na França a Solenidade da Imaculada Conceição será adiada para segunda-feira, em Portugal a festa da nossa padroeira nacional permanecerá no dia 8 de Dezembro. Em Portugal, portanto, será proclamado no próximo domingo o famoso Evangelho da Anunciação. Numa pequena aldeia da Galileia, chamada Nazaré, uma jovem de nome Maria é visitada por um anjo, que lhe anuncia: «Não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus».

A expressão “não temas” que abre o discurso do anjo é certamente uma das mais comuns na Sagrada Escritura. Encontramo-la em quase todos os livros da Bíblia, do Génesis ao Apocalipse, e normalmente antecede os convites que Deus propõe aos homens. “Não temas” é como um refrão que percorre toda a história da salvação e que encontramos quase dois mil anos mais tarde (em 1978), nas primeiras palavras do recém-eleito Papa João Paulo II. Este convite à coragem (se bem que no plural: “não tenhais medo”) torna-se a “bandeira” do Santo Padre durante os seus 26 anos de pontificado e recorda-nos uma realidade que transparece tão claramente na história de Maria de Nazaré: é graças à nossa coragem e generosidade que Deus manifesta o seu amor no mundo. É através do nosso “sim” ao Seu projecto, dos nossos gestos de caridade, de partilha e de serviço, que Deus Se torna presente e transforma, aos poucos, a nossa realidade. Neste 2º domingo do Advento que nos prepara para o Natal de Jesus, a história de Maria mostra-nos como é possível, também hoje, revelarmos Jesus ao mundo: através de um “sim” corajoso aos projectos de Deus.

Não tenhais medo: dizei “sim”! Abri as portas a Cristo!

P. Carlos Caetano

in LusoJornal 04.12.2013



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quarta-feira, 27 de novembro de 2013

1º DOMINGO DO TEMPO DO ADVENTO (ano A)

Leitura do Livro de Isaías
(Is 2,1-5)
Visão de Isaías, filho de Amós, acerca de Judá e de Jerusalém: Sucederá, nos dias que hão-de vir, que o monte do templo do Senhor se há-de erguer no cimo das montanhas e se elevará no alto das colinas. Ali afluirão todas as nações e muitos povos ocorrerão, dizendo: «Vinde, subamos ao monte do Senhor, ao templo do Deus de Jacob. Ele nos ensinará os seus caminhos e nós andaremos pelas suas veredas. De Sião há-de vir a lei e de Jerusalém a palavra do Senhor». Ele será juiz no meio das nações e árbitro de povos sem número. Converterão as espadas em relhas de arado e as lanças em foices. Não levantará a espada nação contra nação, nem mais se hão-de preparar para a guerra. Vinde, ó casa de Jacob, caminhemos à luz do Senhor.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 121 (122)
Refrão: Vamos com alegria para a casa do Senhor.

Alegrei-me quando me disseram:
«Vamos para a casa do Senhor».
Detiveram-se os nossos passos
às tuas portas, Jerusalém.

Para lá sobem as tribos, as tribos do Senhor,
segundo costume de Israel, para celebrar o nome do Senhor;
ali estão os tribunais da justiça,
os tribunais da casa de David.

Pedi a paz para Jerusalém:
«Vivam seguros quantos te amam.
Haja paz dentro dos teus muros,
tranquilidade em teus palácios».

Por amor de meus irmãos e amigos,
pedirei a paz para ti.
Por amor da casa do Senhor,
pedirei para ti todos os bens.


Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
(Rom 13,11-14)
Irmãos: Vós sabeis em que tempo estamos: Chegou a hora de nos levantarmos do sono, porque a salvação está agora mais perto de nós do que quando abraçámos a fé. A noite vai adiantada e o dia está próximo. Abandonemos as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz. Andemos dignamente, como em pleno dia, evitando comezainas e excessos de bebida, as devassidões e libertinagens, as discórdias e os ciúmes; não vos preocupeis com a natureza carnal, para satisfazer os seus apetites, mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 24,37-44)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Como aconteceu nos dias de Noé, assim sucederá na vinda do Filho do homem. Nos dias que precederam o dilúvio, comiam e bebiam, casavam e davam em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca; e não deram por nada, até que veio o dilúvio, que a todos levou. Assim será também na vinda do Filho do homem. Então, de dois que estiverem no campo, um será tomado e outro deixado; de duas mulheres que estiverem a moer com a mó, uma será tomada e outra deixada. Portanto, vigiai, porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor. Compreendei isto: se o dono da casa soubesse a que horas da noite viria o ladrão, estaria vigilante e não deixaria arrombar a sua casa. Por isso, estai vós também preparados, porque na hora em que menos pensais, virá o Filho do homem.


BOA NOTÍCIA
O Senhor virá
No próximo domingo, dia 1 de Dezembro, iniciaremos o primeiro ano do ciclo litúrgico trienal, o chamado “ano A”. O primeiro domingo do ano marca também o início do Advento (do latim Adventus, que significa “chegada”), o tempo litúrgico que antecede o Natal. Porém, inesperadamente, o primeiro evangelho, do primeiro domingo, do primeiro ano, fala-nos... do último dia, o dia do Senhor: «Vigiai, porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor».

Jesus convida-nos a vigiar! Mas vigiar o quê? Vigiar quem? Numa sociedade onde abundam as sentinelas tecnológicas perfeitamente camufladas, perdemos o hábito de vigiar e tornámo-nos distraídos e alheados.

Olhamos, mas não vemos. Ouvimos, mas não escutamos. E desperdiçamos imensas oportunidades de crescer na fé, de testemunhar o Evangelho, de construir mais um pedaço do Reino. Basta pensar no ano que está a terminar: quantas vezes fomos capazes de colher a presença do Senhor nas nossas vidas, no nosso quotidiano? Nos doze meses que passaram, quantas vezes fomos capazes de O reconhecer nas pessoas que encontrámos e nas experiências que fizemos? «Estai vós também preparados, porque na hora em que menos pensais, virá o Filho do homem».

Vigiai, vigiai! Pois cada minuto é importante. Cada momento da nossa vida (se não estamos distraídos) é uma nova oportunidade para acolher (ou rejeitar) o Senhor que vem, para escutar (ou ignorar) a Sua voz, para construir (ou demolir) o Reino.

Bom caminho, bom ano e não se distraiam demasiado!

P. Carlos Caetano

in LusoJornal 27.11.2013


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quarta-feira, 20 de novembro de 2013

SOLENIDADE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO

Leitura do Segundo Livro de Samuel
(2 Sam 5,1-3)
Naqueles dias, todas as tribos de Israel foram ter com David a Hebron e disseram-lhe: «Nós somos dos teus ossos e da tua carne. Já antes, quando Saul era o nosso rei, eras tu quem dirigia as entradas e saídas de Israel. E o Senhor disse-te: “Tu apascentarás o meu povo de Israel, tu serás rei de Israel”». Todos os anciãos de Israel foram à presença do rei, a Hebron. O rei David concluiu com eles uma aliança diante do Senhor e eles ungiram David como rei de Israel.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 121 (122)
Refrão: Vamos com alegria para a casa do Senhor.

Alegrei-me quando me disseram:
«Vamos para a casa do Senhor».
Detiveram-se os nossos passos
às tuas portas, Jerusalém.

Jerusalém, cidade bem edificada,
que forma tão belo conjunto!
Para lá sobem as tribos,
as tribos do Senhor.

Para celebrar o nome do Senhor,
segundo o costume de Israel;
ali estão os tribunais da justiça,
os tribunais da casa de David.


Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Colossenses
(Col 1,12-20)
Irmão: Damos graças a Deus Pai, que nos fez dignos de tomar parte na herança dos santos, na luz divina. Ele nos libertou do poder das trevas e nos transferiu para o reino do seu Filho muito amado, no qual temos a redenção, o perdão dos pecados. Cristo é a imagem de Deus invisível, o Primogénito de toda a criatura; Porque n’Ele foram criadas todas as coisas no céu e na terra, visíveis e invisíveis, Tronos e Dominações, Principados e Potestades: Ele é anterior a todas as coisas e n’Ele tudo subsiste. Ele é a cabeça da Igreja, que é o seu corpo. Ele é o Princípio, o Primogénito de entre os mortos; em tudo Ele tem o primeiro lugar. Aprouve a Deus que n’Ele residisse toda a plenitude e por Ele fossem reconciliadas consigo todas as coisas, estabelecendo a paz, pelo sangue da sua cruz, com todas as criaturas na terra e nos céus.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Lc 23,35-43)
Naquele tempo, os chefes dos judeus zombavam de Jesus, dizendo: «Salvou os outros: salve-Se a Si mesmo, se é o Messias de Deus, o Eleito». Também os soldados troçavam d’Ele; aproximando-se para Lhe oferecerem vinagre, diziam: «Se és o Rei dos judeus, salva-Te a Ti mesmo». Por cima d’Ele havia um letreiro: «Este é o Rei dos judeus». Entretanto, um dos malfeitores que tinham sido crucificados insultava-O, dizendo: «Não és Tu o Messias? Salva-Te a Ti mesmo e a nós também». Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o: «Não temes a Deus, tu que sofres o mesmo suplício? Quanto a nós, fez-se justiça, pois recebemos o castigo das nossas más acções. Mas Ele nada praticou de condenável». E acrescentou: «Jesus, lembra-Te de Mim, quando vieres com a tua realeza». Jesus respondeu-lhe: «Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no Paraíso».


BOA NOTÍCIA
Cristo Rei
Titulus Crucis (literalmente, “título da cruz”) é o nome tradicionalmente dado ao letreiro que, como escutaremos no Evangelho do próximo domingo, foi colocado no topo da cruz de Jesus. De facto, o código penal romano previa que se expusessem as motivações de uma sentença: era uma forma de incutir temor na população e assim prevenir futuros delitos. O “crime” de Jesus seria portanto alta traição: a inscrição «Este é o Rei dos judeus» sugere que conspirava contra a autoridade do imperador romano.

Face à situação em que Jesus Se encontra, o Titulus Crucis é obviamente carregado de grande ironia e uma ulterior humilhação às aspirações de independência e soberania do povo judeu: o “rei dos judeus” não está sentado num trono, mas pregado numa cruz, nu, indefeso e condenado a uma morte infame. Contudo, o Titulus Crucis é fiel, na perspectiva de Deus, à realidade do jovem carpinteiro condenado à morte: Ele é o “Rei” que preside, não do alto da sua omnipotência, assustando os seus súbditos com gestos espectaculares, mas que reina com a força desarmada do amor, da entrega, do dom da vida.

O Titulus Crucis é um convite a repensar a nossa existência... Diante deste “rei” despojado de tudo e pregado numa cruz, não nos parecem completamente ridículas as nossas pretensões de honras, de títulos, de aplausos, de reconhecimentos? Diante deste “rei” que dá a vida por amor, não nos parecem completamente sem sentido as nossas manias de grandeza, as lutas para conseguirmos mais poder, as rivalidades e invejas que nos magoam e separam dos irmãos? Diante deste “rei” que se dá sem guardar nada para si, não nos sentimos convidados a fazer da vida um dom?

P. Carlos Caetano

in LusoJornal 20.11.2013


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quarta-feira, 13 de novembro de 2013

XXXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM (ano C)

Leitura da Profecia de Malaquias
(Mal 4,1-2)
Há-de vir o dia do Senhor, ardente como uma fornalha; e serão como a palha todos os soberbos e malfeitores. O dia que há-de vir os abrasará – diz o Senhor do Universo – e não lhes deixará raiz nem ramos. Mas para vós que temeis o meu nome, nascerá o sol de justiça, trazendo nos seus raios a salvação.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 97 (98)
Refrão : O Senhor virá governar com justiça.

Cantai ao Senhor ao som da cítara,
ao som da cítara e da lira;
ao som da tuba e da trombeta,
aclamai o Senhor, nosso Rei.

Ressoe o mar e tudo o que ele encerra,
a terra inteira e tudo o que nela habita;
aplaudam os rios
e as montanhas exultem de alegria.

Diante do Senhor que vem,
que vem para julgar a terra;
julgará o mundo com justiça
e os povos com equidade.


Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses
(2Tes 3, 7-12)
Irmãos: Vós sabeis como deveis imitar-nos, pois não vivemos entre vós desordenadamente, nem comemos de graça o pão de ninguém. Trabalhámos dia e noite, com esforço e fadiga, para não sermos pesados a nenhum de vós. Não é que não tivéssemos esse direito, mas quisemos ser para vós exemplo a imitar. Quando ainda estávamos convosco, já vos dávamos esta ordem: quem não quer trabalhar, também não deve comer. Ouvimos dizer que alguns de vós vivem na ociosidade, sem fazerem trabalho algum, mas ocupados em futilidades. A esses ordenamos e recomendamos, em nome do Senhor Jesus Cristo, que trabalhem tranquilamente, para ganharem o pão que comem.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 21,5-19)
Naquele tempo, comentavam alguns que o templo estava ornado com belas pedras e piedosas ofertas. Jesus disse-lhes: «Dias virão em que, de tudo o que estais a ver, não ficará pedra sobre pedra: tudo será destruído». Eles perguntaram-lhe: «Mestre, quando sucederá isso? Que sinal haverá de que está para acontecer?» Jesus respondeu: «Tende cuidado; não vos deixeis enganar, pois muitos virão em meu nome e dirão: “sou eu”; e ainda: “O tempo está próximo”. Não os sigais. Quando ouvirdes falar de guerras e revoltas, não vos alarmeis: é preciso que estas coisas aconteçam primeiro, mas não será logo o fim». Disse-lhes ainda: «Há-de erguer-se povo e reino contra reino. Haverá grandes terramotos e, em diversos lugares, fomes e epidemias. Haverá fenómenos espantosos e grandes sinais no céu. Mas antes de tudo isto, deitar-vos-ão as mãos e hão-de perseguir-vos, entregando-vos às sinagogas e às prisões, conduzindo-vos à presença de reis e governadores, por causa do meu nome. Assim tereis ocasião de dar testemunho. Tende presente em vossos corações que não deveis preparar a vossa defesa. Eu vos darei língua e sabedoria a que nenhum dos vossos adversários poderá resistir ou contradizer. Sereis entregues até pelos vossos pais, irmãos, parentes e amigos. Causarão a morte a alguns de vós e todos vos odiarão por causa do meu nome; mas nenhum cabelo da vossa cabeça se perderá. Pela vossa perseverança salvareis as vossas almas.


BOA NOTÍCIA
Nem um cabelo se perderá
O Evangelho do próximo domingo, dia 17, faz parte dos famosos discursos sobre o “fim do tempos” que encontramos normalmente nas últimas celebrações do ano litúrgico (de facto, está à porta o novo ciclo de leituras - ano A -, que começará no dia 1 de Dezembro, com o primeiro domingo do tempo do Advento). Já aqui vos falei do género literário apocalíptico e de como estes textos, apesar das imagens espectaculares e aterradoras que utilizam, normalmente procuram veicular uma mensagem de esperança. O Evangelho do próximo domingo insere-se plenamente nesse filão: «Há-de erguer-se povo e reino contra reino. Haverá grandes terramotos e, em diversos lugares, fomes e epidemias (…) deitar-vos-ão as mãos e hão-de perseguir-vos, entregando-vos às sinagogas e às prisões, (…) por causa do meu nome». Esta página do Novo Testamento é um convite a não perder nunca a coragem e a esperança, mesmo nos momentos mais difíceis da nossa vida, porque «nenhum cabelo da vossa cabeça se perderá».

Porém, apesar do género literário utilizado, o discurso de Jesus não pode ser considerado puramente metafórico ou simbólico. As perseguições foram (e são...) uma realidade terrível. Para muitos de nós, as palavras de Jesus provavelmente soam distantes da nossa realidade, mas não nos esqueçamos que, infelizmente, neste preciso momento, vários nossos irmãos e irmãs vivem a assustadora realidade que Ele descreve. Sofrem entre «guerras e revoltas», «fomes e epidemias» e são «perseguidos e entregues às prisões». Rezemos por todos eles. Para que a paz volte às suas terras e para que, fiéis à própria fé, consigam testemunhar o amor e perdoar aqueles que os perseguem.

P. Carlos Caetano

in LusoJornal 13.11.2013


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quarta-feira, 6 de novembro de 2013

XXXII DOMINGO DO TEMPO COMUM (ano C)

Leitura do Segundo Livro de Macabeus
(2 Mac 7,1-2.9-14)
Naqueles dias, foram presos sete irmãos, juntamente com a mãe, e o rei da Síria quis obrigá-los, à força de golpes de azorrague e de nervos de boi, a comer carne de porco proibida pela Lei judaica. Um deles tomou a palavra em nome de todos e falou assim ao rei: «Que pretendes perguntar e saber de nós? Estamos prontos para morrer, antes que violar a lei de nossos pais». Prestes a soltar o último suspiro, o segundo irmão disse: «Tu, malvado, pretendes arrancar-nos a vida presente, mas o Rei do universo ressuscitar-nos-á para a vida eterna, se morrermos fiéis às suas leis». Depois deste começaram a torturar o terceiro. Intimado a pôr fora a língua, apresentou-a sem demora e estendeu as mãos resolutamente, dizendo com nobre coragem: «Do Céu recebi estes membros e é por causa das suas leis que os desprezo, pois do Céu espero recebê-los de novo». O próprio rei e quantos o acompanhavam estavam admirados com a força de ânimo do jovem, que não fazia nenhum caso das torturas. Depois de executado este último, sujeitaram o quarto ao mesmo suplício. Quando estava para morrer, falou assim: «Vale a pena morrermos às mãos dos homens, quando temos a esperança em Deus de que Ele nos ressuscitará; mas tu, ó rei, não ressuscitarás para a vida».


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 16 (17)
Refrão: Senhor, ficarei saciado, quando surgir a vossa glória.

Ouvi, Senhor, uma causa justa,
atendei a minha súplica.
Escutai a minha oração,
feita com sinceridade.

Firmai os meus passos nas vossas veredas,
para que não vacilem os meus pés.
Eu Vos invoco, ó Deus, respondei-me,
ouvi e escutai as minhas palavras.

Protegei-me à sombra das vossas asas,
longe dos ímpios que me fazem violência.
Senhor, mereça eu contemplar a vossa face
e ao despertar saciar-me com a vossa imagem.


Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses
(2 Tes 2,16-3,5)
Irmãos: Jesus Cristo, nosso Senhor, e Deus, nosso Pai, que nos amou e nos deu, pela sua graça, eterna consolação e feliz esperança, confortem os vossos corações e os tornem firmes em toda a espécie de boas obras e palavras. Entretanto, irmãos, orai por nós, para que a palavra do Senhor se propague rapidamente e seja glorificada, como acontece no meio de vós. Orai também, para que sejamos livres dos homens perversos e maus, pois nem todos têm fé. Mas o Senhor é fiel: Ele vos dará firmeza e vos guardará do Maligno. Quanto a vós, confiamos inteiramente no Senhor que cumpris e cumprireis o que vos mandamos. O Senhor dirija os vossos corações, para que amem a Deus e aguardem a Cristo com perseverança.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 20,27-38)
Naquele tempo, aproximaram-se de Jesus alguns saduceus – que negam a ressurreição – e fizeram-Lhe a seguinte pergunta: «Mestre, Moisés deixou-nos escrito: ‘Se morrer a alguém um irmão, que deixe mulher, mas sem filhos, esse homem deve casar com a viúva, para dar descendência a seu irmão’. Ora havia sete irmãos. O primeiro casou-se e morreu sem filhos. O segundo e depois o terceiro desposaram a viúva; e o mesmo sucedeu aos sete, que morreram e não deixaram filhos. Por fim, morreu também a mulher. De qual destes será ela esposa na ressurreição, uma vez que os sete a tiveram por mulher?» Disse-lhes Jesus: «Os filhos deste mundo casam-se e dão-se em casamento. Mas aqueles que forem dignos de tomar parte na vida futura e na ressurreição dos mortos, nem se casam nem se dão em casamento. Na verdade, já nem podem morrer, pois são como os Anjos, e, porque nasceram da ressurreição, são filhos de Deus. E que os mortos ressuscitam, até Moisés o deu a entender no episódio da sarça ardente, quando chama ao Senhor ‘o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob’. Não é um Deus de mortos, mas de vivos, porque para Ele todos estão vivos».


BOA NOTÍCIA
«Não é um Deus de mortos, mas de vivos»
Dizer abertamente «acredito na ressurreição dos mortos» é uma tarefa delicada. Por um lado, esta afirmação é um elemento irrenunciável da nossa fé. Por outro, sabemos que há quem veja na esperança da ressurreição apenas um “ópio do povo”, que procura adormecer a vontade de lutar por um mundo mais justo.

Como veremos no Evangelho do próximo domingo, dia 10, já no tempo de Jesus, a escola dos saduceus (uma das várias seitas judaicas) afirmava que a ressurreição era apenas uma ilusão onde o homem projectava os seus desejos de imortalidade. Quando ouviram Jesus falar de ressurreição, os saduceus não desperdiçaram a ocasião e tentaram ridicularizar a Sua fé, submetendo-Lhe um caso limite: se uma viúva se casa várias vezes, de quem será esposa na ressurreição?

A resposta de Cristo revoluciona o antigo conceito de ressurreição e diz-nos que não se trata de uma simples continuação da vida que vivemos neste mundo, mas de uma vida nova e distinta, uma vida de plenitude. E uma vida que começa já!

Ópio do povo? Precisamente o contrário… Para nós cristãos, a certeza da ressurreição não é apenas uma realidade que esperamos. É também o ideal no horizonte que nos apaixona e que influencia, desde já, a nossa existência terrena e que transforma as nossas opções, os nossos valores e as nossas atitudes. É precisamente a beleza da vida eterna prometida que nos dá a coragem de doar as nossas vidas e de enfrentar as forças de pecado que dominam o mundo, de forma a que o novo céu e a nova terra que nos esperam (e que entrevemos no horizonte) comecem a desenhar-se desde já.

P. Carlos Caetano

in LusoJornal 06.11.2013




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quarta-feira, 30 de outubro de 2013

XXXI DOMINGO DO TEMPO COMUM (ano C)

Leitura do Livro da Sabedoria
(Sab 11,22-12,2)
Diante de Vós, Senhor, o mundo inteiro é como um grão de areia na balança, como a gota de orvalho que de manhã cai sobre a terra. De todos Vós compadeceis, porque sois omnipotente, e não olhais para os seus pecados, para que se arrependam. Vós amais tudo o que existe e não odiais nada do que fizestes; porque, se odiásseis alguma coisa, não a teríeis criado. e como poderia subsistir, se Vós não a quisésseis? Como poderia durar, se não a tivésseis chamado à existência? Mas a todos perdoais, porque tudo é vosso, Senhor, que amais a vida. O vosso espírito incorruptível está em todas as coisas. Por isso castigais brandamente aqueles que caem e advertis os que pecam, recordando-lhes os seus pecados, para que se afastem do mal e acreditem em Vós, Senhor.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 144(145)
Refrão: Louvarei para sempre o vosso nome, Senhor meu Deus e meu Rei.

Quero exaltar-Vos meu Deus e meu Rei
e bendizer o vosso nome para sempre.
Quero bendizer-vos, dia após dia,
e louvar o vosso nome para sempre.

O Senhor é clemente e compassivo,
paciente e cheio de bondade.
O Senhor é bom para com todos
e a sua misericórdia se estende a todas as criaturas.

Graças Vos dêem, Senhor, todas as criaturas
e bendigam-Vos os vossos fiéis.
Proclamem a glória do vosso Reino
e anunciem os vossos feitos gloriosos.

O Senhor é fiel à sua palava
e perfeito em todas as suas obras.
O Senhor ampara os que vacilam
e levanta todos os oprimidos.


Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses
(2 Tes 1,11-2,2)
Irmãos: Oramos continuamente por vós, para que Deus vos considere dignos do seu chamamento e, pelo seu poder, se realizem todos os vosso bons propósitos e se confirme o trabalho da vossa fé. Assim o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo será glorificado em vós, e vós n’Ele, segundo a graça do nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo. Nós vos pedimos, irmãos, a propósito da vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo e do nosso encontro com Ele: Não vos deixeis abalar facilmente nem alarmar por qualquer manifestação profética, por palavras ou por cartas, que se digam vir de nós, pretendendo que o dia do Senhor está iminente.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 19,1-10)
Naquele tempo, Jesus entrou em Jericó e começou a atravessar a cidade. Vivia ali um homem rico chamado Zaqueu, que era chefe de publicanos. Procurava ver quem era Jesus, mas, devido à multidão, não podia vê-l’O, porque era de pequena estatura. Então correu mais à frente e subiu a um sicómoro, para ver Jesus, que havia de passar por ali. Quando Jesus chegou ao local, olhou para cima e disse-lhe: «Zaqueu, desce depressa, que Eu hoje devo ficar em tua casa». Ele desceu rapidamente e recebeu Jesus com alegria. Ao verem isto, todos murmuravam, dizendo: «Foi hospedar-Se em casa dum pecador». Entretanto, Zaqueu apresentou-se ao Senhor, dizendo: «Senhor, vou dar aos pobres metade dos meus bens e, se causei qualquer prejuízo a alguém, restituirei quatro vezes mais». Disse-lhe Jesus: «Hoje entrou a salvação nesta casa, porque Zaqueu também é filho de Abraão. Com efeito, o Filho do homem veio procurar e salvar o que estava perdido».


BOA NOTÍCIA
Amar sem excepção
No Evangelho do próximo domingo, dia 3, Jesus pede alojamento a Zaqueu (um pecador público, chefe dos publicanos) e revela uma das verdades mais bonitas, inesperadas e comoventes do Evangelho: Deus ama todos os seus filhos, sem excepção, e não exclui do Seu amor os pecadores. Pelo contrário, é precisamente por eles que Deus manifesta uma especial predilecção: «o Filho do homem veio procurar e salvar o que estava perdido».

A reacção de Zaqueu é muito importante para a nossa reflexão: ele não só acolhe Jesus com alegria, mas também se converte à lógica do Seu amor. Mas atenção: repare-se que Zaqueu só muda de vida depois (!) do encontro com Jesus. Não foi após a conversão que o amor de Deus “visitou” o pecador mas, pelo contrário, foi essa visita (esse amor) que provocou a conversão e que transformou o egoísmo de Zaqueu em generosidade.

Muitas vezes, em nome de Deus, marginalizamos e excluímos. Assumimos atitudes de censura, de crítica, de acusação que, longe de provocar a conversão do pecador, afastam-no ainda mais e levam-no a radicalizar as suas atitudes. Jesus diz-nos que só o amor gera amor e que só com amor (não com intolerância ou fanatismo) conseguiremos transformar o mundo e o coração dos homens.

No entanto, testemunhar o Deus que ama (e que acolhe todos os homens) não significa branquear o pecado e pactuar com o que está errado. Tudo aquilo que é mau deve ser combatido. Contudo, distingamos (sempre!) entre pecador e pecado: Deus convida-nos a denunciar e a combater o pecado, mas não seríamos verdadeiros cristãos se não nos esforçássemos por amar e respeitar os pecadores.

P. Carlos Caetano

in LusoJornal 30.10.2013



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quarta-feira, 23 de outubro de 2013

XXX DOMINGO DO TEMPO COMUM (ano C)

Leitura do Livro de Ben-Sirá
(Sir 35,15b-17.20-22a)
O Senhor é um juiz que não faz acepção de pessoas. Não favorece ninguém em prejuízo do pobre e atende a prece do oprimido. Não despreza a súplica do órfão nem os gemidos da viúva. Quem adora a Deus será bem acolhido e a sua prece sobe até às nuvens. A oração do humilde atravessa as nuvens e não descansa enquanto não chega ao seu destino. Não desiste, até que o Altíssimo o atenda, para estabelecer o direito dos justos e fazer justiça.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 33 (34)
Refrão: O pobre clamou e o Senhor ouviu a sua voz.

A toda a hora bendirei o Senhor,
o seu louvor estará sempre na minha boca.
A minha alma gloria-se no Senhor:
escutem e alegrem-se os humildes.

A face do Senhor volta-se contra os que fazem o mal,
para apagar da terra a sua memória.
Os justos clamaram e o Senhor os ouviu,
livrou-os de todas as angústias.

O Senhor está perto dos que têm o coração atribulado
e salva os de ânimo abatido.
O Senhor defende a vida dos seus servos,
não serão castigados os que n’Ele confiam.


Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo
(2 Tim 4,6-8.16-18)
Caríssimo: Eu já estou oferecido em libação e o tempo da minha partida está iminente. Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. E agora já me está preparada a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me há-de dar naquele dia; e não só a mim, mas a todos aqueles que tiverem esperado com amor a sua vinda. Na minha primeira defesa, ninguém esteve a meu lado: todos me abandonaram. Queira Deus que esta falta não lhes seja imputada. O Senhor esteve a meu lado e deu-me força, para que, por meu intermédio, a mensagem do Evangelho fosse plenamente proclamada e todas as nações a ouvissem; e eu fui libertado da boca do leão. O Senhor me livrará de todo o mal e me dará a salvação no seu reino celeste. Glória a Ele pelos séculos dos séculos. Amen.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 18,9-14)
Naquele tempo, Jesus disse a seguinte parábola para alguns que se consideravam justos e desprezavam os outros: «Dois homens subiram ao templo para orar; um era fariseu e o outro publicano. O fariseu, de pé, orava assim: ‘Meu Deus, dou-Vos graças por não ser como os outros homens, que são ladrões, injustos e adúlteros, nem como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e pago o dízimo de todos os meus rendimentos’. O publicano ficou a distância e nem sequer se atrevia a erguer os olhos ao Céu; Mas batia no peito e dizia: ‘Meu Deus, tende compaixão de mim, que sou pecador’. Eu vos digo que este desceu justificado para sua casa e o outro não. Porque todo aquele que se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado».


BOA NOTÍCIA
Santos e pecadores
A famosa parábola do fariseu e do publicano, que escutaremos no próximo domingo dia 27, normalmente é interpretada desta forma: enquanto que no fariseu (devoto escrupuloso) vemos todos aqueles que se acreditam irrepreensíveis e superiores, no publicano (pecador público) vemos a pessoa que reconhece os próprios erros e pede perdão a Deus. Jesus louva a atitude de arrependimento e ensina-nos que «todo aquele que se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado».

Mas para os cristãos do nosso tempo esta interpretação não estará já “fora do prazo”? A nossa sociedade é tão diferente da de Jesus… Ele contava as suas parábolas a um mundo profundamente religioso, onde a hipocrisia consistia em ostentar uma imagem de “beatitude” e ortodoxia. Hoje em dia o que se admira é precisamente o contrário: o aplauso vai para quem contesta as normas religiosas e o adjectivo “transgressivo” tornou-se um dos elogios mais desejados.

Provavelmente somos obrigados a alterar os termos da parábola, se queremos preservar o seu significado original. Os publicanos de ontem são os novos fariseus de hoje, que dizem «Ainda bem que não sou como aqueles crentes hipócritas, que passam a vida a rezar, mas no fundo são piores do que os outros!».

Inevitavelmente, ninguém é totalmente fariseu ou totalmente publicano. Já que temos de conciliar estas duas dimensões, pelo menos que seja desta forma: como o fariseu, esforcemo-nos por não roubar, respeitar as leis e pagar os impostos. Como o publicano, reconheçamos, quando estamos diante de Deus, que o que fizemos é sempre pouco e que necessitamos da Sua misericórdia.

P. Carlos Caetano

in LusoJornal 23.10.2013




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quarta-feira, 16 de outubro de 2013

XXIX DOMINGO DO TEMPO COMUM (ano C)

Leitura do Livro do Êxodo
(Ex 17,8-13a)
Naqueles dias, Amalec veio a Refidim atacar Israel. Moisés disse a Josué: «Escolhe alguns homens e amanhã sai a combater Amalec. Eu irei colocar-me no cimo da colina, com a vara de Deus na mão». Josué fez o que Moisés lhe ordenara e atacou Amalec, enquanto Moisés, Aarão e Hur subiram ao cimo da colina. Quando Moisés tinha as mãos levantadas, Israel ganhava vantagem; mas quando as deixava cair, tinha vantagem Amalec. Como as mãos de Moisés se iam tornando pesadas, trouxeram uma pedra e colocaram-no por debaixo para que ele se sentasse, enquanto Aarão e Hur, um de cada lado, lhe seguravam as mãos. Assim se mantiveram firmes as suas mãos até ao pôr do sol e Josué desbaratou Amalec e o seu povo ao fio da espada.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 120 (121)
Refrão: O nosso auxílio vem do Senhor, que fez o céu e a terra.

Levanto os meus olhos para os montes:
donde me virá o auxílio?
O meu auxílio vem do Senhor,
que fez o céu e a terra.

Não permitirá que vacilem os teus passos,
não dormirá Aquele que te guarda.
Não há-de dormir nem adormecer
aquele que guarda Israel.

O Senhor é quem te guarda,
o Senhor está a teu lado, Ele é o teu abrigo.
O sol não te fará mal durante o dia,
nem a luz durante a noite.

O Senhor te defende de todo o mal,
o Senhor vela pela tua vida.
Ele te protege quando vais e quando vens,
agora e para sempre.


Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo
(2 Tim 3,14-4,2)
Caríssimo: Permanece firme no que aprendeste e aceitaste como certo, sabendo de quem o aprendeste. Desde a infância conheces as Sagradas Escrituras; elas podem dar-te a sabedoria que leva à salvação, pela fé em Cristo Jesus. Toda a Escritura, inspirada por Deus, é útil para ensinar, persuadir, corrigir e formar segundo a justiça. Assim o homem de Deus será perfeito, bem preparado para todas as boas obras. Conjuro-te diante de Deus e de Jesus Cristo, que há-de julgar os vivos e os mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino: Proclama a palavra, insiste a propósito e fora de propósito, argumenta, ameaça e exorta, com toda a paciência e doutrina.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 18,1-8)
Naquele tempo, Jesus disse aos seus discípulos uma parábola sobre a necessidade de orar sempre sem desanimar: «Em certa cidade vivia um juiz que não temia a Deus nem respeitava os homens. Havia naquela cidade uma viúva que vinha ter com ele e lhe dizia: ‘Faz-me justiça contra o meu adversário’. Durante muito tempo ele não quis atendê-la. Mas depois disse consigo: ‘É certo que eu não temo a Deus nem respeito os homens; mas, porque esta viúva me importuna, vou fazer-lhe justiça, para que não venha incomodar-me indefinidamente’». E o Senhor acrescentou: «Escutai o que diz o juiz iníquo!... E Deus não havia de fazer justiça aos seus eleitos, que por Ele clamam dia e noite, e iria fazê-los esperar muito tempo? Eu vos digo que lhes fará justiça bem depressa. Mas quando voltar o Filho do homem, encontrará fé sobre esta terra?»


BOA NOTÍCIA
Rezar para quê?
No próximo domingo, dia 20, com uma parábola que nos fala de um juiz iníquo e de uma viúva obstinada, Jesus ensina-nos o valor da oração perseverante, constante e cheia de confiança: se até mesmo um juiz mau e “surdo” acaba por escutar os pedidos de uma mulher teimosa e insistente, quanto mais Deus (o Pai misericordioso!) escutará os que O procuram incansavelmente.

Mas rezar para quê, se acreditamos que o «Pai celeste sabe tudo o que necessitamos antes mesmo que o peçamos» (Mt 6,8)? Rezamos, porque é nesse diálogo que Deus transforma os nossos corações. É nesse diálogo que aprendemos a entregarmo-nos nas mãos de Deus e a confiar n’Ele. A oração não é uma fórmula mágica e automática para levar Deus a fazer-nos as “vontadinhas”… É um exercício, um instrumento, um Caminho que percorremos para crescer na comunhão profunda com Ele.

O significado da frase de Jesus «pedi, e ser-vos-á dado; procurai, e encontrareis; batei, e hão-de abrir-vos» (Mt 7,7) pode ser compreendido somente após uma longa experiência de oração fiel e perseverante. O fruto dessa oração é a intimidade com o Pai. Intimidade (comunhão) que nos torna conscientes de que a porta que se abre pode não ser aquela a que inicialmente batíamos, mas corresponde (sempre) à que realmente necessitamos. E é por isso que nós cristãos podemos rezar com confiança na oração do Pai Nosso: «faça-se a Tua vontade, assim na terra como no céu» (Mt 6,10).

P. Carlos Caetano

in LusoJornal 16.10.2013


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