sábado, 30 de julho de 2011

XVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM (ano A)



Leitura do Livro de Isaías
(Is 55,1-3)
Eis o que diz o Senhor: “Todos vós que tendes sede, vinde à nascente das águas. Vós que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei. Vinde e comprai, sem dinheiro e sem despesa, vinho e leite. Porque gastais o vosso dinheiro naquilo que não alimenta e o vosso trabalho naquilo que não sacia? Prestai-Me atenção e vinde a Mim; escutai e a vossa alma viverá. Firmarei convosco uma aliança eterna, com as graças prometidas a David.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 144 (145)
Refrão: Abris, Senhor, as vossas mãos e saciais a nossa fome.

O Senhor é clemente e compassivo,
paciente e cheio de bondade.
O Senhor é bom para com todos
e a sua misericórdia se estende a todas as criaturas.

Todos têm os olhos postos em Vós
e a seu tempo lhes dais o alimento.
Abris as vossas mãos
e todos saciais generosamente.

O Senhor é justo em todos os seus caminhos
e perfeito em todas as suas obras.
O Senhor está perto de quantos O invocam,
de quantos O invocam em verdade.


Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
(Rom 8,35.37-39)
Irmãos: Quem poderá separar-nos do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo ou a espada? Mas em tudo isto somos vencedores, graças Àquele que nos amou. Na verdade, eu estou certo de que nem a morte nem a vida, nem os Anjos nem os Principados, nem o presente nem o futuro, nem as Potestades nem a altura nem a profundidade nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que se manifestou em Cristo Jesus, Nosso Senhor.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 14,13-21)
Naquele tempo, quando Jesus ouviu dizer que João Baptista tinha sido morto, retirou-Se num barco para um local deserto e afastado. Mas logo que as multidões o souberam, deixando as suas cidades, seguiram-n’O a pé. Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e, cheio de compaixão, curou os seus doentes. Ao cair da tarde, os discípulos aproximaram-se de Jesus e disseram-Lhe: “Este local é deserto e a hora avançada. Manda embora toda esta gente, para que vá às aldeias comprar alimento”. Mas Jesus respondeu-lhes: “Não precisam de se ir embora; dai-lhes vós de comer”. Disseram-Lhe eles: “Não temos aqui senão cinco pães e dois peixes”. Disse Jesus: “Trazei-mos cá”. Ordenou então à multidão que se sentasse na relva. Tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao Céu e recitou a bênção. Depois partiu os pães e deu-os aos discípulos e os discípulos deram-nos à multidão. Todos comeram e ficaram saciados. E, dos pedaços que sobraram, encheram doze cestos. Ora, os que comeram eram cerca de cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças.


«DAI-LHES VÓS DE COMER»
Esta semana, aqui em França, estas duas notícias apareceram no mesmo telejornal: a primeira informava que várias toneladas de fruta e legumes provenientes de Espanha, tinham sido destruídas por alguns agricultores franceses, que tentavam denunciar uma situação de concorrência desleal. A outra notícia destacava a dramática situação que, actualmente, se vive na África oriental, onde cerca de dois milhões de crianças, menores de cinco anos, correm o risco de morrer à fome.

Não podemos ser ingénuos ao ponto de ignorar os complexos e delicados equilíbrios sobre os quais se baseiam as economias dos países ocidentais: é verdade que várias famílias francesas estão à beira da ruína, pois os seus produtos agrícolas não conseguem competir com os preços das frutas e verduras importadas. No entanto, não nos pode não escandalizar que, contemporaneamente, crianças morram de fome e toneladas de alimentos sejam jogadas no lixo!

Ao ler o Evangelho deste domingo, recordei imediatamente um antigo slogan que ainda hoje acompanha várias campanhas de solidariedade: «se não podes fazer o milagre da multiplicação, faz o da divisão». Não podemos continuar a ignorar a lição que Jesus hoje nos propõe: diante do apelo dos pobres, a comunidade cristã tem de aprender a partilhar. Nenhum de nós pode dizer que não tem culpa pelo facto de 80 por cento da humanidade ser obrigada a viver com 20 por cento dos recursos disponíveis. Nenhum cristão pode “lavar as mãos” quando se gastam em armas e extravagâncias recursos que deviam estar ao serviço da saúde, da educação, da habitação, da construção de redes de saneamento básico…

Aliás, não é uma coincidência que o Evangelho de hoje tenha um inegável contexto eucarístico (as palavras «ergueu os olhos ao céu e recitou a bênção, partiu os pães e deu-os aos discípulos» recordam a fórmula que usamos sempre que celebramos a Eucaristia). Na verdade, sentar-se à mesa com Jesus e receber o pão que Ele oferece (Eucaristia) é comprometer-se com a dinâmica do Reino e assumir, portanto, a lógica da partilha, do amor, do serviço. Na Eucaristia, todos somos convidados a lutar contra as desigualdades, os sistemas de exploração, os esquemas de açambarcamento dos bens, os esbanjamentos, a procura de bens supérfluos…

Quando unimos à celebração da Eucaristia esta lógica de partilha e de serviço, testemunhamos de forma credível a presença de Jesus no mundo e fazemos com que o Reino seja, cada vez mais, uma realidade viva na história dos homens.


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sábado, 23 de julho de 2011

XVII DOMINGO DO TEMPO COMUM (ano A)



Leitura do Primeiro Livro dos Reis
(1 Reis 3,5.7-12)
Naqueles dias, O Senhor apareceu em sonhos a Salomão durante a noite e disse-lhe: "Pede o que quiseres". Salomão respondeu: "Senhor, meu Deus, Vós fizestes reinar o vosso servo em lugar do meu pai David e eu sou muito novo e não sei como proceder. Este vosso servo está no meio do povo escolhido, um povo imenso, inumerável, que não se pode contar nem calcular. Dai, portanto, ao vosso servo um coração inteligente, para saber distinguir o bem do mal; pois, quem poderia governar este vosso povo tão numeroso?" Agradou ao Senhor esta súplica de Salomão e disse-lhe: "Porque foi este o teu pedido, e já que não pediste longa vida, nem riqueza, nem a morte dos teus inimigos, mas sabedoria para praticar a justiça, vou satisfazer o teu desejo. Dou-te um coração sábio e esclarecido, como nunca houve antes de ti nem haverá depois de ti".


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 118 (119)
Refrão: Quanto amo, Senhor, a vossa lei!

Senhor, eu disse: A minha herança
é cumprir as vossas palavras.
Para mim vale mais a lei da vossa boca
do que milhões em ouro e prata.

Console-me a vossa bondade,
segundo a promessa feita ao vosso servo.
Desçam sobre mim as vossas misericórdias e viverei,
porque a vossa lei faz as minhas delícias.

Por isso, eu amo os vossos mandamentos,
mais que o ouro, o ouro mais fino.
Por isso, eu sigo todos os vossos preceitos
e detesto todo o caminho da mentira.

São admiráveis as vossas ordens,
por isso, a minha alma as observa.
A manifestação das vossas palavras ilumina
e dá inteligência aos simples.


Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
(Rom 8,28-30)
Irmãos: Nós sabemos que Deus concorre em tudo para o bem daqueles que O amam, dos que são chamados, segundo o seu desígnio. Porque os que Ele de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que Ele seja o Primogénito de muitos irmãos. E àqueles que predestinou, também os chamou; àqueles que chamou, também os justificou; e àqueles que justificou, também os glorificou.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 13,44-52)
Naquele tempo, disse Jesus às multidões: «O reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido num campo. O homem que o encontrou tornou a escondê-lo e ficou tão contente que foi vender tudo quanto possuía e comprou aquele campo. O reino dos Céus é semelhante a um negociante que procura pérolas preciosas. Ao encontrar uma de grande valor, foi vender tudo quanto possuía e comprou essa pérola. O reino dos Céus é semelhante a uma rede que, lançada ao mar, apanha toda a espécie de peixes. Logo que se enche, puxam-na para a praia e, sentando-se, escolhem os bons para os cestos e o que não presta deitam-no fora. Assim será no fim do mundo: os Anjos sairão a separar os maus do meio dos justos e a lançá-los na fornalha ardente. Aí haverá choro e ranger de dentes. Entendestes tudo isto?» Eles responderam-Lhe: «Entendemos». Disse-lhes então Jesus: «Por isso, todo o escriba instruído sobre o reino dos Céus é semelhante a um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e coisas velhas».


CAÇA AO TESOURO
Esta é a terceira semana consecutiva (e a última, durante uns tempos) em que encontramos uma página do Evangelho dedicada às parábolas do Reino. A última parábola (a da rede e dos peixes) propõe uma lição semelhante à da parábola do domingo passado, do trigo e do joio: ela diz-nos que o Reino não é um condomínio fechado, onde só há gente escolhida e santa, mas é uma realidade onde o mal e o bem crescem simultaneamente. Diz-nos também que Deus não quer condenar ou destruir o pecador. Por isso, dá ao homem o tempo necessário para amadurecer as suas opções e para fazer as suas escolhas. Por sua vez, a primeira e a segunda (as parábolas do tesouro e da pérola) falam-nos da experiência de encontrar algo tão precioso, que a própria vida é radicalmente transformada por essa descoberta…

Um homem encontra um tesouro enquanto está a cavar, cobre de novo tudo e compra esse terreno. Um negociante descobre uma pérola tão rara que decide vender tudo o que tem para a adquirir. Em ambas as parábolas a ideia de fundo é a mesma: a vida é uma autêntica “caça ao tesouro”, onde procuramos êxito, sentido e felicidade. Jesus garante-nos que apenas Deus pode apaziguar completamente essa nossa sede de realização. Só Ele sabe o que nos torna verdadeiramente felizes. E se por vezes encontramos o tesouro sem sequer o procurarmos (como o homem que lavra o terreno com a enxada), outras vezes esse encontro é fruto de uma longa busca (como acontece ao negociante). Seja como for, em ambas as ocasiões essa descoberta impõe uma decisão, pois caso contrário, vive-se sob o risco de perder completamente o tesouro!

No fundo, a questão abordada nas duas parábolas é a das nossas prioridades. Para Mateus, não há qualquer dúvida: escolher o Reino (o tesouro!) não é agradar a Deus e ao diabo ou pactuar com realidades que mutuamente se excluem, mas é ter como prioridade, como objectivo mais importante, como valor fundamental, o Reino. Tudo o resto é abandonado, ou melhor, colocado em segundo plano, pois o Caminho que Deus nos propõe merece o melhor de nós mesmos, das nossas forças e do nosso tempo. A alternativa significa arriscar a perda do tesouro, ou seja, viver uma vida incoerente, superficial e ambígua. E quem poderia ser feliz com uma vida assim?


(Tenham uma boa semana!)


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sábado, 16 de julho de 2011

XVI DOMINGO DO TEMPO COMUM (ano A)



Leitura do Livro da Sabedoria
(Sab 12,13.16-19)
Não há Deus, além de Vós, que tenha cuidado de todas as coisas; a ninguém tendes de mostrar que não julgais injustamente. O vosso poder é o princípio da justiça e o vosso domínio soberano torna-Vos indulgente para com todos. Mostrais a vossa força aos que não acreditam na vossa omnipotência e confundis a audácia daqueles que a conhecem. Mas Vós, o Senhor da força, julgais com bondade e governais-nos com muita indulgência, porque sempre podeis usar da força quando quiserdes. Agindo deste modo, ensinastes ao vosso povo que o justo deve ser humano e aos vossos filhos destes a esperança feliz de que, após o pecado, dais lugar ao arrependimento.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 85 (86)
Refrão: Senhor, sois um Deus clemente e compassivo.

Vós, Senhor, sois bom e indulgente,
cheio de misericórdia para com todos os que Vos invocam.
Ouvi, Senhor, a minha oração,
atendei a voz da minha súplica.

Todos os povos que criastes virão adorar-vos, Senhor,
e glorificar o vosso nome,
porque Vós sois grande e operais maravilhas,
Vós sois o único Deus.

Senhor, sois um Deus bondoso e compassivo,
paciente e cheio de misericórdia e fidelidade.
Voltai para mim os vossos olhos
e tende piedade de mim.


Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
(Rom 8,26-27)
Irmãos: O Espírito Santo vem em auxílio da nossa fraqueza, porque não sabemos que pedir nas nossas orações; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis. E Aquele que vê no íntimo dos corações conhece as aspirações do Espírito, sabe que Ele intercede pelos santos em conformidade com Deus.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 13,24-43)
Naquele tempo, Jesus disse às multidões mais esta parábola: “O reino dos Céus pode comparar-se a um homem que semeou boa semente no seu campo. Enquanto todos dormiam, veio o inimigo, semeou joio no meio do trigo e foi-se embora. Quando o trigo cresceu e deu fruto, apareceu também o joio. Os servos do dono da casa foram dizer-lhe: ‘Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde vem então o joio? Ele respondeu-lhes: ‘Foi um inimigo que fez isso’. Disseram-lhe os servos: ‘Queres que vamos arrancar o joio?’ ‘Não! – disse ele – não suceda que, ao arrancardes o joio, arranqueis também o trigo. Deixai-os crescer ambos até à ceifa e, na altura da ceifa, direi aos ceifeiros: Apanhai primeiro o joio e atai-o em molhos para queimar; e ao trigo, recolhei-o no meu celeiro’“. Jesus disse-lhes outra parábola: “O reino dos Céus pode comparar-se a um grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. Sendo a menor de todas as sementes, depois de crescer, é a maior de todas as plantas da horta e torna-se árvore, de modo que as aves do céu vêm abrigar-se nos seus ramos”. Disse-lhes outra parábola: “O reino dos Céus pode comparar-se ao fermento que uma mulher toma e mistura em três medidas de farinha, até ficar tudo levedado”. Tudo isto disse Jesus em parábolas, e sem parábolas nada lhes dizia, a fim de se cumprir o que fora anunciado pelo profeta, que disse: “Abrirei a minha boca em parábolas, proclamarei verdades ocultas desde a criação do mundo”. Jesus deixou então as multidões e foi para casa. Os discípulos aproximaram-se d’Ele e disseram-Lhe: “Explica-nos a parábola do joio no campo”. Jesus respondeu: “Aquele que semeia a boa semente é o Filho do homem e o campo é o mundo. A boa semente são os filhos do reino, o joio são os filhos do Maligno e o inimigo que o semeou é o Demónio. A ceifa é o fim do mundo e os ceifeiros são os Anjos. Como o joio é apanhado e queimado no fogo, assim será no fim do mundo: o Filho do homem enviará os seus Anjos, que tirarão do seu reino todos os escandalosos e todos os que praticam a iniquidade, e hão-de lançá-los na fornalha ardente; aí haverá choro e ranger de dentes. Então, os justos brilharão como o sol no reino do seu Pai. Quem tem ouvidos, oiça”.


JOIO E TRIGO
Das três parábolas que hoje nos são propostas, duas (a do grão de mostarda e a do fermento) ensinam-nos que o “Reino” é uma realidade irreversível que cresce no mundo. Nem sempre é fácil verificar que o “Reino” está em processo de construção, principalmente quando o materialismo, a futilidade e o efémero sobressaem, de forma tão marcada, na vida de tantos homens e mulheres. No entanto, a Palavra de Deus convida-nos a não perder a confiança e a esperança. Apesar das aparências, o dinamismo do “Reino” está presente e fermenta positivamente a história e a vida dos homens.

Neste Evangelho temos também a parábola do trigo e do joio, onde Jesus nos explica que os esquemas de Deus não prevêem a destruição do pecador ou a segregação dos maus. O Deus de Jesus Cristo é um Deus de amor e de misericórdia, sem pressa para castigar, que dá ao homem “todo o tempo do mundo” para crescer, para descobrir o dom de Deus e para fazer as suas escolhas.

A “paciência de Deus” com o joio convida-nos também a rejeitarmos as atitudes de rigidez, de intolerância e de vingança nas nossas relações com os outros. O “senhor” da parábola não aceita a impaciência e o radicalismo dos servos que pretendem “cortar o mal pela raiz”, correndo o risco de serem injustos, de se enganarem, de meterem mal e bem no mesmo saco. A Palavra de Deus convida-nos a moderar a nossa dureza, a nossa intolerância, a nossa intransigência e a contemplar os irmãos (com as suas falhas, defeitos, diferenças, comportamentos religiosa ou socialmente incorrectos) com os olhos benevolentes, compreensivos e pacientes de Deus.

No mundo dificilmente encontramos o mal puro de um lado e o bem puro do outro… Mal e bem misturam-se na sociedade, na vida e no coração de cada um de nós. Dividir os indivíduos em bons (os amigos, aqueles que nos apoiam e que estão sempre de acordo connosco) e maus (aqueles que nos fazem frente, que nos dizem verdades que são difíceis de escutar, que não concordam connosco) é uma atitude simplista, que nos leva frequentemente a assumir atitudes injustas, que geram exclusão, marginalização e sofrimento. Saibamos olhar para o mundo e para as pessoas sem preconceitos, com a mesma bondade, compreensão e tolerância que Deus manifesta face a cada homem e a cada mulher, independentemente das suas escolhas e do seu ritmo de caminhada.

Bom domingo!


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sábado, 9 de julho de 2011

XV DOMINGO DO TEMPO COMUM (ano A)



Leitura do Livro de Isaías
(Is 55,10-11)
Eis o que diz o Senhor: “Assim como a chuva e a neve que descem do céu não voltam para lá sem terem regado a terra, sem a terem fecundado e feito produzir, para que dê a semente ao semeador e o pão para comer, assim a palavra que sai da minha boca não volta sem ter produzido o seu efeito, sem ter cumprido a minha vontade, sem ter realizado a sua missão”.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 64 (65)
Refrão: A semente caiu em boa terra e deu muito fruto.

Visitastes a terra e a regastes,
enchendo-a de fertilidade.
As fontes do céu transbordam em água
e fazeis brotar o trigo.

Assim preparais a terra;
regais os seus sulcos e aplanais as leivas,
Vós a inundais de chuva
e abençoais as sementes.

Coroastes o ano com os vossos benefícios,
por onde passastes brotou a abundância.
Vicejam as pastagens do deserto
e os outeiros vestem-se de festa.

Os prados cobrem-se de rebanhos
e os vales enchem-se de trigo.
Tudo canta e grita de alegria.


Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
(Rom 8,18-23)
Irmãos: Eu penso que os sofrimentos do tempo presente não têm comparação com a glória que se há-de manifestar em nós. Na verdade, as criaturas esperam ansiosamente a revelação dos filhos de Deus. Elas estão sujeitas à vã situação do mundo, não por sua vontade, mas por vontade d’Aquele que as submeteu, com a esperança de que as mesmas criaturas sejam também libertadas da corrupção que escraviza, para receberem a gloriosa liberdade dos filhos de Deus. Sabemos que toda a criatura geme ainda agora e sofre as dores da maternidade. E não só ela, mas também nós, que possuímos as primícias do Espírito, gememos interiormente, esperando a adopção filial e a libertação do nosso corpo.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 13,1-23)
Naquele dia, Jesus saiu de casa e foi sentar-Se à beira-mar. Reuniu-se à sua volta tão grande multidão que teve de subir para um barco e sentar-Se, enquanto a multidão ficava na margem. Disse muitas coisas em parábolas, nestes termos: “Saiu o semeador a semear. Quando semeava, caíram algumas sementes ao longo do caminho: vieram as aves e comeram-nas. Outras caíram em sítios pedregosos, onde não havia muita terra, e logo nasceram porque a terra era pouco profunda; mas depois de nascer o sol, queimaram-se e secaram, por não terem raiz. Outras caíram entre espinhos e os espinhos cresceram e afogaram-nas. Outras caíram em boa terra e deram fruto: umas, cem; outras, sessenta; outras, trinta por um. Quem tem ouvidos, oiça”. Os discípulos aproximaram-se de Jesus e disseram-Lhe: “Porque lhes falas em parábolas?” Jesus respondeu-lhes: “Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos Céus, mas a eles não. Pois àquele que tem dar-se-á e terá em abundância; mas àquele que não tem, até o pouco que tem lhe será tirado. É por isso que lhes falo em parábolas, porque vêem sem ver e ouvem sem ouvir nem entender. Neles se cumpre a profecia de Isaías que diz: ‘Ouvindo ouvireis, mas sem compreender; olhando olhareis, mas não vereis. Porque o coração deste povo tornou-se duro: endureceram os seus ouvidos e fecharam os seus olhos, para não acontecer que, vendo com os olhos e ouvindo com os ouvidos e compreendendo com o coração, se convertam e Eu os cure’. Quanto a vós, felizes os vossos olhos porque vêem e os vossos ouvidos porque ouvem! Em verdade vos digo: muitos profetas e justos desejaram ver o que vós vedes e não viram e ouvir o que vós ouvis e não ouviram. Vós, portanto, escutai o que significa a parábola do semeador: Quando um homem ouve a palavra do reino e não a compreende, vem o Maligno e arrebata o que foi semeado no seu coração. Este é o que recebeu a semente ao longo do caminho. Aquele que recebeu a semente em sítios pedregosos é o que ouve a palavra e a acolhe de momento, mas não tem raiz em si mesmo, porque é inconstante, e, ao chegar a tribulação ou a perseguição por causa da palavra, sucumbe logo. Aquele que recebeu a semente entre espinhos é o que ouve a palavra, mas os cuidados deste mundo e a sedução da riqueza sufocam a palavra, que assim não dá fruto. E aquele que recebeu a palavra em boa terra é o que ouve a palavra e a compreende. Esse dá fruto, produz ora cem, ora sessenta, ora trinta por um”.


ESBANJAR
Que comentário se poderá acrescentar a uma página do Evangelho, onde escutamos uma parábola e a sua explicação é-nos imediatamente dada pelo próprio Jesus Cristo? Ele mesmo nos esclarece quanto às várias atitudes possíveis diante do anúncio do Reino... Há aqueles que têm um coração duro como o chão de terra batida dos caminhos: a Palavra não poderá penetrar nesse terreno e dar fruto. Depois, há aqueles que têm um coração inconstante, capaz de se entusiasmar instantaneamente, mas também de desanimar perante as primeiras dificuldades: a Palavra não poderá criar raízes. Também há aqueles que têm um coração materialista, que dá sempre prioridade à riqueza e aos bens deste mundo: a Palavra será facilmente sufocada por esses outros interesses. Por fim, há também aqueles que têm um coração disponível e bom, aberto aos desafios de Deus: nesse terreno a Palavra será acolhida e dará muito fruto!

No entanto, não podemos pensar que esta explicação tenha “esgotado” a parábola do semeador e da semente! A Bíblia é uma fonte inextinguível de sabedoria e conhecimento, onde podemos constantemente encontrar «tesouros novos e velhos» (Cfr. Mt 13,52) e esta página não é excepção. Relendo a parábola com atenção, notamos certamente algo de curioso: Deus é um incapaz quando se trata de semear! Quem semeia desta forma? Desperdiçando a semente a torto e a direito? Esbanjando semente boa em terrenos onde sabemos que nunca nada poderá frutificar?

Porém este é o Deus que Jesus Cristo nos revela e que a parábola insiste em descrever. Ele é o Pai que esbanja (desperdiça!) com generosidade a própria Palavra e Amor. Ele ama, mesmo quando é altamente improvável que esse amor encontre correspondência. Ele doa-Se, mesmo onde o bom senso diz que ninguém acolherá o Seu dom. Ele semeia, mesmo nos terrenos que parecem mais áridos, mais estéreis, mais improváveis. Ele é o semeador confiante, cujas mãos, guiadas pela esperança, esbanjam e distribuem amor em todas as direcções!

A parábola deste domingo, no fundo, é também um convite a imitar o exemplo do semeador pródigo! A esbanjarmos, sem medo, o nosso amor. E tudo isto me recorda uma oração de Madre Teresa de Calcutá:

O homem é irracional, ilógico, egocêntrico:
não importa, ama-o.
Se praticares o bem, dirão que o fazes por egoísmo e com segundas intenções:
não importa, pratica o bem.
Se realizares os teus objectivos, encontrarás quem te crie obstáculos:
não importa, realiza-os.
O bem que fazes hoje talvez amanhã venha a ser esquecido:
não importa, faz o bem.
A honestidade e a sinceridade tornam-te vulnerável:
não importa, sê honesto e sincero.
Tudo o que construíste pode vir a ser destruído:
não importa, constrói.
As pessoas que ajudaste, porventura não te agradecerão:
não importa, ajuda-as.
Dás o melhor de ti às pessoas, e elas atiram-te pedras:
não importa, dá o melhor de ti!


Não existe argumento humano capaz de resistir à desconcertante razão do amor.
Tenham um bom domingo!


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sábado, 2 de julho de 2011

XIV DOMINGO DO TEMPO COMUM (ano A)



Leitura da Profecia de Zacarias
(Zac 9,9-10)
Eis o que diz o Senhor: “Exulta de alegria, filha de Sião, solta brados de júbilo, filha de Jerusalém. Eis o teu Rei, justo e salvador, que vem ao teu encontro, humildemente montado num jumentinho, filho duma jumenta. Destruirá os carros de combate de Efraim e os cavalos de guerra de Jerusalém; e será quebrado o arco de guerra. Anunciará a paz às nações: o seu domínio irá de um mar ao outro mar e do Rio até aos confins da terra.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 144 (145)
Refrão: Louvarei para sempre o vosso nome, Senhor, meu Deus e meu Rei.

Quero exaltar-Vos, meu Deus e meu Rei,
e bendizer o vosso nome para sempre.
Quero bendizer-Vos, dia após dia,
e louvar o vosso nome para sempre.

O Senhor é clemente e compassivo,
paciente e cheio de bondade.
O Senhor é bom para com todos
e a sua misericórdia se estende a todas as criaturas.

Graças Vos dêem, Senhor, todas as criaturas
e bendigam-Vos os vossos fiéis.
Proclamem a glória do vosso reino
e anunciem os vossos feitos gloriosos.

O Senhor é fiel à sua palavra
e perfeito em todas as suas obras.
O Senhor ampara os que vacilam
e levanta todos os oprimidos.


Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
(Rom 8,9.11-13)
Irmãos: Vós não estais sob o domínio da carne, mas do Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas se alguém não tem o Espírito de Cristo, não Lhe pertence. Se o Espírito d’Aquele que ressuscitou Jesus de entre os mortos habita em vós, Ele, que ressuscitou Cristo Jesus de entre os mortos, também dará vida aos vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que habita em vós. Assim, irmãos, não somos devedores à carne, para vivermos segundo a carne. Se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo Espírito fizerdes morrer as obras da carne, vivereis.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 11,25-30)
Naquele tempo, Jesus exclamou: “Eu Te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas verdades aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Tudo me foi dado por meu Pai. Sim, Pai, Eu Te bendigo, porque assim foi do teu agrado. Ninguém conhece o Filho senão o Pai e ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar. Vinde a Mim, todos os que andais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e a minha carga é leve”.


JUGO OU LIBERTAÇÃO?
O Evangelho deste domingo é composto por três partes distintas: uma oração («Eu Te bendigo, ó Pai…»), uma declaração («Tudo me foi dado por meu Pai…») e um convite («Vinde a Mim, todos os que andais cansados e oprimidos…»). Ao escutar o último trecho (a convocação de Jesus) é difícil não recordar o famoso soneto de Emma Lazarus, “The New Colossus”, cujos versos foram gravados em 1903, numa laje de bronze, no interior da Estátua da Liberdade, como que a sugerir que ela mesma os declamasse, ao saudar os milhões de emigrantes que desembarcavam, naqueles anos, nos portos do estado de Nova Iorque: Give me your tired, your poor, / Your huddled masses yearning to breathe free, (Dai-me os vossos cansados, os vossos pobres, / As vossas multidões que anseiam por um ar de liberdade).

É bem possível que o Evangelho tenha inspirado estes versos; no fundo, ambos os textos evocam o mesmo sentimento, o mesmo desejo de liberdade que habita o coração de cada homem. No caso de Jesus, o cansaço e a opressão de que Ele promete libertar-nos são o fruto de uma interpretação idolátrica da antiga Lei, que formava consciências pesadas e atormentadas. Muitos crentes, incapazes de respeitar diariamente os 613 mandamentos da Lei judaica, sentiam-se condenados, afastados de Deus e indignos da salvação. A Lei aprisionava, em lugar de libertar e afastava os homens de Deus, em lugar de os conduzir para a comunhão com o Pai.

Jesus anuncia que veio libertar o Homem da escravidão da Lei! A sua proposta de libertação plena dirige-se aos doentes (na perspectiva da teologia judaica, vítimas de um castigo de Deus), aos pecadores (os publicanos, as mulheres de má vida, todos aqueles que tinham publicamente comportamentos política, social ou religiosamente incorrectos), ao povo simples do país (que, pela dureza da vida que levava, não podia cumprir escrupulosamente todos os ritos da Lei), a todos aqueles que a Lei exclui e amaldiçoa. Jesus garante-lhes que Deus não os exclui nem amaldiçoa e convida-os a integrar o mundo novo do “Reino”.

O convite de Jesus é, igualmente, uma grande provocação para todos nós... Cristo quis oferecer a libertação e a esperança aos pobres, aos marginalizados, aos pequenos e a todos aqueles que a Lei escravizava e oprimia. Perante este convite (esta promessa) a questão impõe-se: os pobres, os débeis, os marginalizados, continuam a encontrar nas nossas comunidades essa proposta de libertação e de esperança? Ou será que perdemos de vista a novidade cristã e caímos de novo no erro de absolutizar a Lei? A “prova dos nove” será a resposta a uma outra questão: para mim, ser cristão é alegria e liberdade ou é um jugo pesado? Pois se a fé é apenas um fardo fatigante que suporto, isso significa que, não só não entendi ainda o que significa ser cristão, como também sou (e serei) incapaz de testemunhar essa liberdade e esperança: tal como diz o povo, ninguém pode dar aquilo que também não tem!

(Bom domingo e boa meditação!)


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