sábado, 29 de maio de 2010

SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE (ano C)



Leitura do Livro dos Provérbios
(Prov 8,22-31)
Eis o que diz a Sabedoria de Deus: «O Senhor me criou como primícias da sua actividade, antes das suas obras mais antigas. Desde a eternidade fui formada, desde o princípio, antes das origens da terra. Antes de existirem os abismos e de brotarem as fontes das águas, já eu tinha sido concebida. Antes de se implantarem as montanhas e as colinas, já eu tinha nascido; ainda o Senhor não tinha feito a terra e os campos, nem os primeiros elementos do mundo. Quando Ele consolidava os céus, eu estava presente; Quando traçava sobre o abismo a linha do horizonte, quando condensava as nuvens nas alturas, quando fortalecia as fontes dos abismos, quando impunha ao mar os seus limites para que as águas não ultrapassassem o seu termo, quando lançava os fundamentos da terra, eu estava a seu lado como arquitecto, cheia de júbilo, dia após dia, deleitando-me continuamente na sua presença. Deleitava-me sobre a face da terra e as minhas delícias eram estar com os filhos dos homens».


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 8
Refrão: Como sois grande em toda a terra, Senhor, nosso Deus!

Quando contemplo os céus, obra das vossas mãos,
a lua e as estrelas que lá colocastes,
que é o homem para que Vos lembreis dele,
o filho do homem para dele Vos ocupardes?

Fizestes dele quase um ser divino,
de honra e glória o coroastes;
destes-lhes poder sobre a obra das vossas mãos,
tudo submetestes a seus pés:

Ovelhas e bois, todos os rebanhos,
e até os animais selvagens,
as aves do céu e os peixes do mar,
tudo o que se move nos oceanos.


Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
(Rom 5,1-5)
Irmãos: Tendo sido justificados pela fé, estamos em paz com Deus, por Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual temos acesso, na fé, a esta graça em que permanecemos e nos gloriamos, apoiados na esperança da glória de Deus. Mais ainda, gloriamo-nos nas nossas tribulações, porque sabemos que a tribulação produz a constância, a constância a virtude sólida, a virtude sólida a esperança. Ora a esperança não engana, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 16,12-15)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Tenho ainda muitas coisas para vos dizer, mas não as podeis compreender agora. Quando vier o Espírito da verdade, Ele vos guiará para a verdade plena; porque não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará o que está para vir. Ele Me glorificará, porque receberá do que é meu e vo-lo anunciará. Tudo o que o Pai tem é meu. Por isso vos disse que Ele receberá do que é meu e vo-lo anunciará».



(Atenção: mais do que um comentário à Solenidade da Santíssima Trindade, esta semana o meu texto é um convite a visitar Roma...)

CECÍLIA
Quem visita as catacumbas de S. Calisto em Roma, a uma certa altura do percurso subterrâneo, depara-se com uma estátua em mármore de uma jovem mulher, deitada de lado no chão com um véu que lhe cobre a cabeça. Esta estátua é uma cópia da obra prima do escultor Stefano Maderno e representa o corpo sem vida de Santa Cecília, cujo túmulo e escultura original se encontram hoje em dia, na basílica homónima em Trastevere.

Segundo a tradição, Cecília nasceu em Roma por volta do segundo século, no seio de uma família nobre. Durante a quarta grande perseguição, levada a cabo pelo imperador Marco Aurélio, as autoridades romanas descobriram que era cristã. Foi colocada na prisão, mas apesar das torturas e maus tratos, recusou sempre prestar homenagem aos deuses romanos e foi por isso condenada à morte e degolada. O seu corpo foi mais tarde colocado nas catacumbas de S. Calisto, no mesmo local onde hoje se encontra a cópia da famosa escultura de Maderno.

A estátua de Cecília é de uma beleza e perfeição extraordinárias, porém, transmite a quem a admira uma tristeza inquietante. Graças à arte de Stefano Maderno, o mármore branco revela-nos o corpo sem vida de uma jovem, cujo véu oculta parcialmente o rosto, mas não esconde o golpe profundo no pescoço, que lhe foi infligido pelos seus carcereiros. A lenda diz-nos que o escultor reproduziu fielmente a posição em que encontrou o corpo incorrupto de Santa Cecília. Na minha opinião, a parte mais interessante desta estátua são as mãos: três dedos na mão esquerda e um dedo na mão direita permanecem hirtos e distensos, numa posição pouco natural, que contrasta com a paz e a tranquilidade do resto do corpo. Diz-se que esse gesto é o último desafio que Cecília lança aos seus carrascos. Incapaz de falar e com as últimas forças que lhe restam, Cecília testemunha com os dedos das mãos aquele que é o mistério central da sua fé: três pessoas, um só Deus.

Para verem uma foto desta esplêndida obra de arte, cliquem AQUI.
Para lerem o comentário do ano passado à Solenidade da Santíssima Trindade, cliquem AQUI.

Bom domingo!


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sábado, 22 de maio de 2010

SOLENIDADE DE PENTECOSTES (ano C)



Leitura dos Actos dos Apóstolos
(Actos 2,1-11)
Quando chegou o dia de Pentecostes, os Apóstolos estavam todos reunidos no mesmo lugar. Subitamente, fez-se ouvir, vindo do Céu, um rumor semelhante a forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde se encontravam. Viram então aparecer uma espécie de línguas de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que se exprimissem. Residiam em Jerusalém judeus piedosos, procedentes de todas as nações que há debaixo do céu. Ao ouvir aquele ruído, a multidão reuniu-se e ficou muito admirada, pois cada qual os ouvia falar na sua própria língua. Atónitos e maravilhados, diziam: «Não são todos galileus os que estão a falar? Então, como é que os ouve cada um de nós falar na sua própria língua? Partos, medos, elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frigia e da Panfília, do Egipto e das regiões da Líbia, vizinha de Cirene, colonos de Roma, tanto judeus como prosélitos, cretenses e árabes, ouvimo-los proclamar nas nossas línguas as maravilhas de Deus».


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 103 (104)
Refrão: Enviai, Senhor, o vosso Espírito e renovai a face da terra.

Bendiz, ó minha alma, o Senhor.
Senhor, meu Deus, como sois grande!
Como são grandes, Senhor, as vossas obras!

A terra está cheia das vossas criaturas.
Se lhes tirais o alento, morrem
e voltam ao pó donde vieram.
Se mandais o vosso Espírito, retomam a vida
e renovais a face da terra.

Glória a deus para sempre!
Rejubile o Senhor nas suas obras.
Grato Lhe seja o meu canto
e eu terei alegria no Senhor.


Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
(1 Cor 12,3b-7.12-13)
Irmãos: Ninguém pode dizer «Jesus é o Senhor», a não ser pela acção do Espírito Santo. De facto, há diversidade de dons espirituais, mas o Espírito é o mesmo. Há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diversas operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. Em cada um se manifestam os dons do Espírito para o bem comum. Assim como o corpo é um só e tem muitos membros e todos os membros, apesar de numerosos, constituem um só corpo, assim também sucede com Cristo. Na verdade, todos nós - judeus e gregos, escravos e homens livres – fomos baptizados num só Espírito, para constituirmos um só Corpo. E a todos nos foi dado a beber um único Espírito.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 20,19-23)
Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes serão retidos».


NINGUÉM É ESTRANGEIRO
Jesus sopra sobre os seus discípulos! É um gesto que recorda a acção de Deus na Criação, quando «formou o homem do pó da terra, lhe insuflou pelas narinas o sopro da vida e o homem se transformou num ser vivo» (Gn 2,7). Com este gesto Jesus diz-nos que o Espírito Santo é o sopro divino que dá vida à nova criação, assim como deu vida à primeira. Também o salmo responsorial põe bem em relevo esta realidade, quando nos convida a cantar: «Enviai, Senhor, o vosso Espírito e renovai a face da terra».

Amanhã, a igreja do Carmo em Milão assemelhar-se-á um pouco à praça de Jerusalém naquela manhã de Pentecostes: não teremos a presença de habitantes da Mesopotâmia, da Judeia ou da Capadócia, mas numerosos filipinos, italianos, ingleses, indianos, americanos, cingaleses, australianos... e um português, reunir-se-ão junto ao altar-mor para celebrar a Eucaristia e agradecer a Deus o dom do Espírito Santo.

A nossa comunidade é multicultural e plurilingue, no entanto, todos os domingos esforçamo-nos por superar a confusão bíblica da torre de Babel e vivemos, brevemente, o milagre do Pentecostes: sem renunciar à própria identidade, cada um de nós adere à única assembleia que escuta, medita e crê na Palavra de Deus. Por enquanto, estes pequenos laboratórios de “catolicismo” e fraternidade universal são experiências raras e circunscritas, mas graças ao fenómeno migratório, cada vez mais paróquias se deparam com a realidade de uma assembleia heterogénea. Onde antigamente preponderava uma única cultura, língua e sensibilidade religiosa, agora vive-se uma variedade colorida de tradições e costumes, emblema do anunciado renovamento da face da terra.

Porém, o caminho da “comunhão na diversidade” não é isento de tensões e dificuldades. Por vezes, preconceitos e temores levam alguns a gritar «a igreja é “nossa”!» ou «nós estávamos aqui primeiro!». Atenção querido leitor: estas frases não são “apenas” xenófobas. São anti-evangélicas. Anti-cristãs. A solenidade de hoje ensina que a união de todos os povos em Cristo faz parte da missão do Espírito Santo. Somos chamados a construir pontes, não a levantar muros. Não podemos deixar que sejam os nossos medos a ditar políticas e projectos comunitários. Tal como não podemos nunca (nunca!) esquecer, que na Igreja ninguém é estrangeiro.



(Tenham uma boa semana. E se quiserem ver o mosaico, que colocaremos amanhã junto ao altar, podem clicar AQUI. )



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sábado, 15 de maio de 2010

ASCENSÃO DO SENHOR (ano C)



Leitura dos Actos dos Apóstolos
(Actos 1,1-11)
No meu primeiro livro, ó Teófilo, narrei todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar, desde o princípio até ao dia em que foi elevado ao Céu, depois de ter dado, pelo Espírito Santo, as suas instruções aos Apóstolos que escolhera. Foi também a eles que, depois da sua paixão, Se apresentou vivo com muitas provas, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando-lhes do reino de Deus. Um dia em que estava com eles à mesa, mandou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, «da Qual – disse Ele – Me ouvistes falar. Na verdade, João baptizou com água; vós, porém, sereis baptizados no Espírito Santo, dentro de poucos dias». Aqueles que se tinham reunido começaram a perguntar: «Senhor, é agora que vais restaurar o reino de Israel?» Ele respondeu-lhes: «Não vos compete saber os tempos ou os momentos que o Pai determinou com a sua autoridade; mas recebereis a força do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém e em toda a Judeia e na Samaria e até aos confins da terra». Dito isto, elevou-Se à vista deles e uma nuvem escondeu-O a seus olhos. E estando de olhar fito no Céu, enquanto Jesus Se afastava, apresentaram-se-lhes dois homens vestidos de branco, que disseram: «Homens da Galileia, porque estais a olhar para o Céu? Esse Jesus, que do meio de vós foi elevado para o Céu, virá do mesmo modo que O vistes ir para o Céu».


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 46 (47)
Refrão: Por entre aclamações e ao som da trombeta, ergue-Se Deus, o Senhor.

Povos todos, batei palmas,
aclamai a Deus com brados de alegria,
porque o Senhor, o Altíssimo, é terrível,
o Rei soberano de toda a terra.

Deus subiu entre aclamações,
o Senhor subiu ao som da trombeta.
Cantai hinos a Deus, cantai,
cantai hinos ao nosso Rei, cantai.

Deus é Rei do universo:
cantai os hinos mais belos.
Deus reina sobre os povos,
Deus está sentado no seu trono sagrado.


Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Efésios
(Ef 1,17-23)
Irmãos: O Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda um espírito de sabedoria e de luz para O conhecerdes plenamente e ilumine os olhos do vosso coração, para compreenderdes a esperança a que fostes chamados, os tesouros de glória da sua herança entre os santos e a incomensurável grandeza do seu poder para nós os crentes. Assim o mostra a eficácia da poderosa força que exerceu em Cristo, que Ele ressuscitou dos mortos e colocou à sua direita nos Céus, acima de todo o Principado, Poder, Virtude e Soberania, acima de todo o nome que é pronunciado, não só neste mundo, mas também no mundo que há-de vir. Tudo submeteu aos seus pés e pô-l’O acima de todas as coisas como Cabeça de toda a Igreja, que é o seu Corpo, a plenitude d’Aquele que preenche tudo em todos.


Conclusão do santo Evangelho segundo São Lucas
(Lc 24,46-53)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Está escrito que o Messias havia de sofrer e de ressuscitar dos mortos ao terceiro dia e que havia de ser pregado em seu nome o arrependimento e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. Vós sois testemunhas disso. Eu vos enviarei Aquele que foi prometido por meu Pai. Por isso, permanecei na cidade, até que sejais revestidos com a força do alto». Depois Jesus levou os discípulos até junto de Betânia e, erguendo as mãos, abençoou-os. Enquanto os abençoava, afastou-Se deles e foi elevado ao Céu. Eles prostraram-se diante de Jesus, e depois voltaram para Jerusalém com grande alegria. E estavam continuamente no templo, bendizendo a Deus.


O TEMPO DA IGREJA
A Ascensão, que celebramos hoje, assinala o fim de um capítulo: terminou o momento da presença física de Jesus Cristo e do Seu anúncio directo do verdadeiro rosto de Deus Pai. Com a solenidade de Pentecostes, que celebraremos no próximo domingo, recordamos a vinda do Espírito Santo e a entrada definitiva no tempo da Igreja. Deus confia (sabe-se lá porquê…) que os discípulos, os mesmos que O traíram, negaram e abandonaram no momento da crucificação, consigam anunciar e testemunhar com fidelidade tudo aquilo que Jesus lhes ensinou.

Não acham estranha esta decisão? Confiar a condução da sua Igreja a um grupo de homens pecadores e incoerentes? Não era melhor que Ele continuasse, pessoalmente, a guiar-nos? Alguns dirão até que o resultado está à vista de todos... Para além dos escândalos que recentemente enlutaram a comunidade católica, um estudo atento da história da Igreja revela (muitas coisas boas – sem dúvida – mas também) uma longa lista de erros e culpas. No entanto, Jesus continua a colocar o anúncio do Evangelho nas mãos frágeis de homens e mulheres.

Existe apenas uma explicação: Deus ama-nos e acredita em nós! Ele acredita que podemos ser a melhor versão possível de nós mesmos. Por incrível que pareça, Ele escolheu-nos (a ti e a mim, querido leitor!) para anunciarmos ao mundo a Palavra. Somos os melhores? Não. Os mais inteligentes e sábios? Não. Os mais bonitos e fascinantes? Não. Somos tal e qual como os apóstolos. Somos Pedro, Tiago, João... e às vezes, até Judas. Uma comunidade, não de gente perfeita, mas de gente perdoada. Uma Igreja sem soluções mágicas que caem do alto («Porque estais a olhar para o Céu?»), mas em caminho, confortada pelo Espírito e à procura de respostas para as perguntas que a História lhe coloca.

Deus ama-nos e quer que alcancemos a maturidade; que sejamos cristãos adultos. Ama-nos e por isso teve que esconder a sua presença, limitar a sua influência, para que pudéssemos ser livres nas nossas escolhas. Ama-nos! E confia que conseguiremos encontrar a maneira de construir o Reino, de purificar a nossa fé e de anunciar o Seu sorriso.

Mesmo que as nossas bocas estejam um pouco desdentadas...

Bom domingo!



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sábado, 8 de maio de 2010

6º DOMINGO DO TEMPO PASCAL (ano C)



Leitura dos Actos dos Apóstolos
(Actos 15,1-2.22-29)
Naqueles dias, alguns homens que desceram da Judeia ensinavam aos irmãos de Antioquia: «Se não receberdes a circuncisão, segundo a Lei de Moisés, não podereis salvar-vos». Isto provocou muita agitação e uma discussão intensa que Paulo e Barnabé tiveram com eles. Então decidiram que Paulo e Barnabé e mais alguns discípulos subissem a Jerusalém para tratarem dessa questão com os Apóstolos e os anciãos. Os Apóstolos e os anciãos, de acordo com toda a Igreja, decidiram escolher alguns irmãos e mandá-los a Antioquia com Barnabé e Paulo. Eram Judas, a quem chamavam Barsabás, e Silas, homens de autoridade entre os irmãos. Mandaram por eles esta carta: «Os Apóstolos e os anciãos, irmãos vossos, saúdam os irmãos de origem pagã residentes em Antioquia, na Síria e na Cilícia. Tendo sabido que, sem nossa autorização, alguns dos nossos vos foram inquietar, perturbando as vossas almas com as suas palavras, resolvemos, de comum acordo, escolher delegados para vo-los enviarmos juntamente com os nossos queridos Barnabé e Paulo, homens que expuseram a sua vida pelo nome de Nosso Senhor Jesus Cristo. Por isso vos mandamos Judas e Silas, que vos transmitirão de viva voz as nossas decisões. O Espírito Santo e nós decidimos não vos impor mais nenhuma obrigação, além destas que são indispensáveis: abster-se da carne imolada aos ídolos, do sangue, das carnes sufocadas e das relações imorais. Procedereis bem, evitando tudo isso. Adeus».


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 66 (67)
Refrão: Louvado sejais, Senhor, pelos povos de toda a terra.

Deus Se compadeça de nós e nos dê a sua bênção,
resplandeça sobre nós a luz do seu rosto.
Na terra se conhecerão os vossos caminhos
e entre os povos a vossa salvação.

Alegrem-se e exultem as nações,
porque julgais os povos com justiça
e governais as nações sobre a terra.

Os povos Vos louvem, ó Deus,
todos os povos Vos louvem.
Deus nos dê a sua bênção
e chegue o seu louvor aos confins da terra.


Leitura do livro do Apocalipse
(Ap 21,10-14.22-23)
Um Anjo transportou-me em espírito ao cimo de uma alta montanha e mostrou-me a cidade santa de Jerusalém, que descia do Céu, da presença de Deus, resplandecente da glória de Deus. O seu esplendor era como o de uma pedra preciosíssima, como uma pedra de jaspe cristalino. Tinha uma grande e alta muralha, com doze portas e, junto delas, doze Anjos; tinha também nomes gravados, os nomes das doze tribos dos filhos de Israel: três portas a nascente, três portas ao norte, três portas ao sul e três portas a poente.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 14,23-29)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Quem Me ama guardará a minha palavra e meu Pai o amará; Nós viremos a ele e faremos nele a nossa morada. Quem Me não ama não guarda a minha palavra. Ora a palavra que ouvis não é minha, mas do Pai que Me enviou. Disse-vos estas coisas, estando ainda convosco. Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos recordará tudo o que Eu vos disse. Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como a dá o mundo. Não se perturbe nem se intimide o vosso coração. Ouvistes o que Eu vos disse: Vou partir, mas voltarei para junto de vós. Se Me amásseis, ficaríeis contentes por Eu ir para o Pai, porque o Pai é maior do que Eu. Disse-vo-lo agora, antes de acontecer, para que, quando acontecer, acrediteis».


Shalom (שָׁלוֹם)
Este domingo escutamos mais um trecho do discurso de despedida que Jesus pronunciou aos seus apóstolos durante a última ceia. A semana passada vimos como Ele revolucionou o mandamento do amor; esta semana somos convidados a reelaborar o nosso conceito de “paz”.

«Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como a dá o mundo».
A palavra que encontramos é “shalom”, um termo hebraico muito comum entre os judeus como saudação. Aliás, é precisamente com a expressão “shalom aleikhem” que Jesus saúda os seus discípulos, quando os encontra pela primeira vez depois da ressurreição e diz: «a Paz esteja convosco» (Jo 20, 19-21.26).

Porém, o conceito cristão de “paz” é muito mais do que a mera ausência de guerra ou conflito. Não podemos não condenar a violência, a agressividade e o desejo de vingança, mas a paz de que nos fala hoje Jesus Cristo é algo de mais enérgico, dinâmico e bonito: é o viver sem medo, que provém (apenas) da confiança no Senhor.

«Shalom aleikhem!»: é o primeiro dom que o Ressuscitado dá ao mundo, quando aparece diante dos discípulos temerosos. «Não se perturbe nem se intimide o vosso coração». Um coração pacificado é um coração que confia, que crê, que sabe que é amado, que não se assusta diante das dificuldades e que não recua na presença de um desafio. É a serena coragem que alimentou o ardor missionário dos primeiros cristãos e que ainda hoje se sente na Igreja cada vez que anunciamos Jesus num lugar hostil à nossa fé. «A Paz esteja convosco!» Para que possais anunciar o Amor! Doar as vossas vidas! Testemunhar o Ressuscitado!

Amigo, oxalá o teu coração esteja em paz...

Bom domingo!



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sábado, 1 de maio de 2010

5º DOMINGO DO TEMPO PASCAL (ano C)



Leitura dos Actos dos Apóstolos
(Actos 14,21b-27)
Naqueles dias, Paulo e Barnabé voltaram a Listra, a Icónio e a Antioquia. Iam fortalecendo as almas dos discípulos e exortavam-nos a permanecerem firmes na fé, «porque – diziam eles – temos de sofrer muitas tribulações para entrarmos no reino de Deus». Estabeleceram anciãos em cada Igreja, depois de terem feito orações acompanhadas de jejum, e encomendaram-nos ao Senhor, em quem tinham acreditado. Atravessaram então a Pisídia e chegaram à Panfília; depois, anunciaram a palavra em Perga e desceram até Atalia. De lá embarcaram para Antioquia, de onde tinham partido, confiados na graça de Deus, para a obra que acabavam de realizar. À chegada, convocaram a Igreja, contaram tudo o que Deus fizera com eles e como abrira aos gentios a porta da fé.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 144
Refrão: Louvarei para sempre o vosso nome, Senhor, meu Deus e meu Rei.

O Senhor é clemente e compassivo,
paciente e cheio de bondade.
O Senhor é bom para com todos
e a sua misericórdia se estende a todas as criaturas.

Graças Vos dêem, senhor, todas as criaturas
e bendigam-Vos os vossos fiéis.
Proclamem a glória do vosso reino
e anunciem os vossos feitos gloriosos.

Para darem a conhecer aos homens o vosso poder,
a glória e o esplendor do vosso reino.
O vosso reino é um reino eterno,
o vosso domínio estende-se por todas as gerações.


Leitura do Livro do Apocalipse
(Ap 21,1-5ª)
Eu, João, vi um novo céu e uma nova terra, porque o primeiro céu e a primeira terra tinham desaparecido e o mar já não existia. Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do Céu, da presença de Deus, bela como noiva adornada para o seu esposo. Do trono ouvi uma voz forte que dizia: «Eis a morada de Deus com os homens. Deus habitará com os homens: eles serão o seu povo e o próprio Deus, no meio deles, será o seu Deus. Ele enxugará todas as lágrimas dos seus olhos; nunca mais haverá morte nem luto, nem gemidos nem dor, porque o mundo antigo desapareceu». Disse então Aquele que estava sentado no trono: «Vou renovar todas as coisas».


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 13,31-33a.34-35)
Quando Judas saiu do cenáculo, disse Jesus aos seus discípulos: «Agora foi glorificado o Filho do homem e Deus glorificado n’Ele. Se Deus foi glorificado n’Ele, Deus também O glorificará em Si mesmo e glorificá-l’O-á sem demora. Meus filhos, é por pouco tempo que ainda estou convosco. Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros. Como Eu vos amei, amai-vos também uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros».


NOVIDADE
Se pegarmos na Bíblia e abrirmos o capítulo 19 do Levítico, encontramos este mandamento no versículo 18: «Não te vingarás nem guardarás rancor aos filhos do teu povo, mas amarás o teu próximo como a ti mesmo». O livro do Levítico é o terceiro livro da Torah hebraica e da Bíblia cristã e a sua redacção definitiva é normalmente colocada entre o sexto e o quinto século antes do nascimento de Cristo. O mandamento não foi portanto “inventado” por Jesus, mas já no Antigo Testamento, há pelo menos 2500 anos atrás, os profetas convidavam os homens a viverem o preceito do amor.

«Não penseis que vim anular a Lei ou os Profetas. Não vim anulá-los, mas levá-los à perfeição» (Mt 5,17). Com estas palavras, Jesus convida-nos a não abandonar a sabedoria do Antigo Testamento, mas a reler tudo à luz da Sua vida e do Seu testemunho. Em Jesus Cristo, o antigo mandamento do amor é revolucionado totalmente, adquirindo uma dimensão e profundidade até então inéditas.

O primeiro conceito a ser transformado é a noção de “próximo”. Para os antigos judeus, o preceito do amor abrangia apenas os filhos do povo hebraico. Jesus supera a noção tribal da lei e, com a parábola do bom samaritano, reescreve a definição de “próximo”. Ele ensina-nos a ultrapassar fronteiras raciais, linguísticas, culturais ou religiosas, e dilata a extensão do mandamento do amor até alcançar todos os homens e mulheres, sem excepção.

Mas o que realmente altera radicalmente a antiga lei não é tanto a universalidade do “novo” mandamento, quanto a profundidade, a intensidade com que ele deve ser vivido. A medida do amor já não é o amor que provamos por nós mesmos, mas sim, o amor que Jesus Cristo revelou com a sua vida e morte. É o amor total, capaz de doar tudo, suportar tudo, enfrentar tudo.

«Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros».
A última grande novidade de Jesus concerne à sua Igreja. Verdadeiro cristão não é quem observa uma série de ritos, traz um crucifixo ao pescoço ou reza de uma certa forma. É o amor que nos distingue, que nos identifica. E se não abraçamos esta nova lógica do mandamento do amor, não podemos ter qualquer pretensão de integrar a comunidade de Jesus.


(Tenham uma boa semana!)



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