sexta-feira, 29 de julho de 2022

18º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C

Leitura do Livro de Coelet
(Co (Ecle) 1,2; 2,21-23)
Vaidade das vaidades – diz Coelet – vaidade das vaidades: tudo é vaidade. Quem trabalhou com sabedoria, ciência e êxito, tem de deixar tudo a outro que nada fez. Também isto é vaidade e grande desgraça. Mas então, que aproveita ao homem todo o seu trabalho e a ânsia com que se afadigou debaixo do sol? Na verdade, todos os seus dias são cheios de dores e os seus trabalhos cheios de cuidados e preocupações; e nem de noite o seu coração descansa. Também isto é vaidade.
 
 
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 89 (90)
Refrão: Senhor, tendes sido o nosso refúgio através das gerações.
 
Vós reduzis o homem ao pó da terra
e dizeis: «Voltai, filhos de Adão».
Mil anos a vossos olhos são como o dia de ontem que passou
e como uma vigília da noite.
 
Vós os arrebatais como um sonho,
como a erva que de manhã reverdece;
de manhã floresce e viceja,
de tarde ela murcha e seca.
 
Ensinai-nos a contar os nossos dias,
para chegarmos à sabedoria do coração.
Voltai, Senhor! Até quando…
Tende piedade dos vossos servos.
 
Saciai-nos desde a manhã com a vossa bondade,
para nos alegrarmos e exultarmos todos os dias.
Desça sobre nós a graça do Senhor nosso Deus.
Confirmai, Senhor, a obra das nossas mãos.
 
 
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Colossenses
(Col 3,1-5.9-11)
Irmãos: Se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra. Porque vós morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a vossa vida, Se manifestar, também vós vos haveis de manifestar com Ele na glória. Portanto, fazei morrer o que em vós é terreno: imoralidade, impureza, paixões, maus desejos e avareza, que é uma idolatria. Não mintais uns aos outros, vós que vos despojastes do homem velho com as suas acções e vos revestistes do homem novo, que, para alcançar a verdadeira ciência, se vai renovando à imagem do seu Criador. Aí não há grego ou judeu, circunciso ou incircunciso, bárbaro ou cita, escravo ou livre; o que há é Cristo, que é tudo e está em todos.
 
 
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 12,13-21)
Naquele tempo, alguém, do meio da multidão, disse a Jesus: «Mestre, diz a meu irmão que reparta a herança comigo». Jesus respondeu-lhe: «Amigo, quem Me fez juiz ou árbitro das vossas partilhas?» Depois disse aos presentes: «Vede bem, guardai-vos de toda a avareza: a vida de uma pessoa não depende da abundância dos seus bens». E disse-lhes esta parábola: «O campo dum homem rico tinha produzido excelente colheita. Ele pensou consigo: ‘Que hei-de fazer, pois não tenho onde guardar a minha colheita? Vou fazer assim: Deitarei abaixo os meus celeiros para construir outros maiores, onde guardarei todo o meu trigo e os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: Minha alma, tens muitos bens em depósito para longos anos. Descansa, come, bebe, regala-te’. Mas Deus respondeu-lhe: ‘Insensato! Esta noite terás de entregar a tua alma. O que preparaste, para quem será?’ Assim acontece a quem acumula para si, em vez de se tornar rico aos olhos de Deus».
 
 
BOA NOTÍCIA
Mudam-se os tempos
Mudam-se os tempos, mas nem sempre se mudam as vontades... e a vontade de acumular riquezas, a preocupação de ter sempre mais e o medo de renunciar ao que quer que seja, são sentimentos tão actuais hoje quanto ontem, na Palestina Antiga. O problema das partilhas e das heranças não é uma questão moderna, mas já no tempo de Jesus era fonte de aborrecimentos e tensões entre familiares.
 
Se pensarmos bem, é quase paradoxal que isso aconteça, pois a partilha de uma herança pressupõe que a família viva um momento de luto. O falecimento de alguém não deveria ser a lição mais evidente do quanto é inútil todo este apegamento aos bens materiais? A constatação de que não levamos nada connosco para a túmulo não deveria suscitar em nós um são relativismo (e desinteresse) em relação às coisas materiais?
 
No Evangelho do próximo domingo, Jesus aproveita a deixa de um pedido de ajuda numa questão de heranças («Mestre, diz a meu irmão que reparta a herança comigo») para ir para lá daquele caso específico e propor, a quem o escuta, uma catequese sobre a justa relação que devemos estabelecer com os bens terrenos.
 
«O campo dum homem rico tinha produzido excelente colheita. Ele pensou consigo: (…) Deitarei abaixo os meus celeiros para construir outros maiores (…) Mas Deus respondeu-lhe: ‘Insensato! Esta noite terás de entregar a tua alma. O que preparaste, para quem será?’ (…)»
 
O que é que Ele pretende ensinar, ao contar a pequena parábola do homem rico? Convidar os seus discípulos a despojar-se de todos os bens? Ensinar aos seus seguidores que não devem preocupar-se com o futuro? Propor aos que aderem ao Reino uma existência de miséria, sem o necessário para uma vida minimamente digna e humana? Não. O que Jesus nos diz é que não podemos viver na escravatura do dinheiro e dos bens materiais, como se eles fossem a coisa mais importante da nossa vida.
 
O que Cristo condena não é a posse de bens materiais em sim, mas a deificação da riqueza. Nas nossas sociedades a forma mais comum de idolatria é a cobiça dos bens; o desejo insaciável de ter. “Insensato” é o nome que Deus dá àqueles que desperdiçam a vida buscando fortuna, sacrificando muitas vezes as relações familiares e até a própria saúde. Já uma vez aqui disse e volto a repetir: a pessoa mais rica não é a que tem muitas coisas, mas sim a que não precisa de nada.
 
P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2022.07.22



 

sábado, 23 de julho de 2022

17º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C

Leitura do Livro do Génesis
(Gen 18,20-32)
Naqueles dias, disse o Senhor: «O clamor contra Sodoma e Gomorra é tão forte, o seu pecado é tão grave que Eu vou descer para verificar se o clamor que chegou até Mim corresponde inteiramente às suas obras. Se sim ou não, hei-de sabê-lo». Os homens que tinham vindo à residência de Abraão dirigiram-se então para Sodoma, enquanto o Senhor continuava junto de Abraão. Este aproximou-se e disse: «Irás destruir o justo com o pecador? Talvez haja cinquenta justos na cidade. Matá-los-ás a todos? Não perdoarás a essa cidade, por causa dos cinquenta justos que nela residem? Longe de Ti fazer tal coisa: dar a morte ao justo e ao pecador, de modo que o justo e o pecador tenham a mesma sorte! Longe de Ti! O juiz de toda a terra não fará justiça?» O Senhor respondeu-lhe: «Se encontrar em Sodoma cinquenta justos, perdoarei a toda a cidade por causa deles». Abraão insistiu: «Atrevo-me a falar ao meu Senhor, eu que não passo de pó e cinza: talvez para cinquenta justos faltem cinco. Por causa de cinco, destruirás toda a cidade?» O Senhor respondeu: «Não a destruirei se lá encontrar quarenta e cinco justos». Abraão insistiu mais uma vez: «Talvez não se encontrem nela mais de quarenta». O Senhor respondeu: «Não a destruirei em atenção a esses quarenta». Abraão disse ainda: «Se o meu Senhor não levar a mal, falarei mais uma vez: talvez haja lá trinta justos». O Senhor respondeu: «Não farei a destruição, se lá encontrar esses trinta». Abraão insistiu novamente: «Atrevo-me ainda a falar ao meu Senhor: talvez não se encontrem lá mais de vinte justos». O Senhor respondeu: «Não destruirei a cidade em atenção a esses vinte». Abraão prosseguiu: «Se o meu Senhor não levar a mal, falarei ainda esta vez: talvez lá não se encontrem senão dez». O Senhor respondeu: «Em atenção a esses dez, não destruirei a cidade».
 
 
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 137 (138)
Refrão: Quando Vos invoco, sempre me atendeis, Senhor.
 
De todo o coração, Senhor, eu Vos dou graças,
porque ouvistes as palavras da minha boca.
Na presença dos Anjos hei-de cantar-Vos
e adorar-Vos, voltando para o vosso templo santo.
 
Hei-de louvar o vosso nome pela vossa bondade e fidelidade,
porque exaltastes acima de tudo o vosso nome e a vossa promessa.
Quando Vos invoquei, me respondestes,
aumentastes a fortaleza da minha alma.
 
O Senhor é excelso e olha para o humilde,
ao soberbo conhece-o de longe.
No meio da tribulação Vós me conservais a vida,
Vós me ajudais contra os meus inimigos.
 
A vossa mão direita me salvará,
o Senhor completará o que em meu auxílio começou.
Senhor, a vossa bondade é eterna,
não abandoneis a obra das vossas mãos.
 
 
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Colossenses
(Col 2,12-14)
Irmãos: Sepultados com Cristo no baptismo, também com Ele fostes ressuscitados pela fé que tivestes no poder de Deus que O ressuscitou dos mortos. Quando estáveis mortos nos vossos pecados e na incircuncisão da vossa carne, Deus fez que voltásseis à vida com Cristo e perdoou-nos todas as nossas faltas. Anulou o documento da nossa dívida, com as suas disposições contra nós; suprimiu-o, cravando-o na cruz.
 
 
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 11,1-13)
Naquele tempo, Estava Jesus em oração em certo lugar. Ao terminar, disse-Lhe um dos discípulos: «Senhor, ensina-nos a orar, como João Baptista ensinou também os seus discípulos». Disse-lhes Jesus: «Quando orardes, dizei:
 
‘Pai,
santificado seja o vosso nome;
venha o vosso reino;
dai-nos em cada dia o pão da nossa subsistência;
perdoai-nos os nossos pecados,
porque também nós perdoamos a todo aquele que nos ofende;
e não nos deixeis cair em tentação’».
 
Disse-lhes ainda: «Se algum de vós tiver um amigo, poderá ter de ir a sua casa à meia-noite, para lhe dizer: ‘Amigo, empresta-me três pães, porque chegou de viagem um dos meus amigos e não tenho nada para lhe dar’. Ele poderá responder lá de dentro: ‘Não me incomodes; a porta está fechada, eu e os meus filhos estamos deitados e não posso levantar-me para te dar os pães’. Eu vos digo: Se ele não se levantar por ser amigo, ao menos, por causa da sua insistência, levantar-se-á para lhe dar tudo aquilo de que precisa. Também vos digo: Pedi e dar-se-vos-á; procurai e encontrareis; batei à porta e abrir-se-vos-á. Porque quem pede recebe; quem procura encontra e a quem bate à porta, abrir-se-á. Se um de vós for pai e um filho lhe pedir peixe, em vez de peixe dar-lhe-á uma serpente? E se lhe pedir um ovo, dar-lhe-á um escorpião? Se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo àqueles que Lho pedem!».
 
 
BOA NOTÍCIA
Um "novo" Pai-nosso?
No Evangelho do próximo domingo, dia 24, encontraremos o episódio em que Jesus ensina aos seus discípulos o Pai-nosso. Escutaremos a oração na versão de São Lucas, ligeiramente diferente do texto de São Mateus e também da tradução oficial que memorizámos na catequese.
 
Em Dezembro de 2017, os católicos franceses acolheram a nova tradução oficial do Pai-nosso, onde a antiga versão «ne nous soumets pas à la tentation» foi substituída por «ne nous laisse pas entrer en tentation». Nessa altura, não passou despercebido aos migrantes portugueses que, nem a antiga nem a nova versão correspondem exactamente à tradicional tradução portuguesa «não nos deixeis cair em tentação».
 
Obviamente, nenhuma tradução é 100% fidedigna. Há até um antigo provérbio italiano que afirma que o tradutor é um traidor (traduttore, traditore). O importante é que o sentido original do texto seja respeitado e compreendido pelos leitores. Mas estes exercícios de tradução são também uma catequese para o povo de Deus, pois recordam-nos que somos uma Igreja "em Caminho" e que se a língua evolui (há termos novos que aparecem; outros deixam de estar em uso) então, os textos bíblicos também têm de acompanhar essa evolução. Usando uma expressão da própria Sagrada Escritura: a Palavra de Deus é viva!
 
P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2022.07.23



 
 

quinta-feira, 14 de julho de 2022

16º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C

Leitura do Livro do Génesis
(Gen 18,1-10a)
Naqueles dias, o Senhor apareceu a Abraão junto do carvalho de Mambré. Abraão estava sentado à entrada da sua tenda, no maior calor do dia. Ergueu os olhos e viu três homens de pé diante dele. Logo que os viu, deixou a entrada da tenda e correu ao seu encontro; prostrou-se por terra e disse: «Meu Senhor, se agradei aos vossos olhos, não passeis adiante sem parar em casa do vosso servo. Mandarei vir água, para que possais lavar os pés e descansar debaixo desta árvore. Vou buscar um bocado de pão, para restaurardes as forças antes de continuardes o vosso caminho, pois não foi em vão que passastes diante da casa do vosso servo». Eles responderam: «Faz como disseste». Abraão apressou-se a ir à tenda onde estava Sara e disse-lhe: «Toma depressa três medidas de flor da farinha, amassa-a e coze uns pães no borralho». Abraão correu ao rebanho e escolheu um vitelo tenro e bom e entregou-o a um servo que se apressou a prepará-lo. Trouxe manteiga e leite e o vitelo já pronto e colocou-o diante deles; e, enquanto comiam, ficou de pé junto deles debaixo da árvore. Depois eles disseram-lhe: «Onde está Sara, tua esposa?». Abraão respondeu: «Está ali na tenda». E um deles disse: «Passarei novamente pela tua casa daqui a um ano e então Sara tua esposa terá um filho».
 
 
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 14 (15)
Refrão: Quem habitará, Senhor, no vosso santuário?
 
O que vive sem mancha e pratica a justiça
e diz a verdade que tem no seu coração
e guarda a sua língua da calúnia.
 
O que não faz mal ao seu próximo,
nem ultraja o seu semelhante,
o que tem por desprezível o ímpio,
mas estima os que temem o Senhor.
 
O que não falta ao juramento mesmo em seu prejuízo
e não empresta dinheiro com usura,
nem aceita presentes para condenar o inocente.
Quem assim proceder jamais será abalado.
 
 
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Colossenses
(Col 1,24-28)
Irmãos: Agora alegro-me com os sofrimentos que suporto por vós e completo na minha carne o que falta à paixão de Cristo, em benefício do seu corpo que é a Igreja. Dela me tornei ministro, em virtude do cargo que Deus me confiou a vosso respeito, isto é, anunciar em plenitude a palavra de Deus, o mistério que ficou oculto ao longo dos séculos e que foi agora manifestado aos seus santos. Deus quis dar-lhes a conhecer as riquezas e a glória deste mistério entre os gentios: Cristo no meio de vós, esperança da glória. E nós O anunciamos, advertindo todos os homens e instruindo-os em toda a sabedoria, a fim de os apresentarmos todos perfeitos em Cristo.
 
 
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 10,38-42)
Naquele tempo, Jesus entrou em certa povoação e uma mulher chamada Marta recebeu-O em sua casa. Ela tinha uma irmã chamada Maria, que, sentada aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra. Entretanto, Marta atarefava-se com muito serviço. Interveio então e disse: «Senhor, não Te importas que minha irmã me deixe sozinha a servir? Diz-lhe que venha ajudar-me». O Senhor respondeu-lhe: «Marta, Marta, andas inquieta e preocupada com muitas coisas, quando uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada».
 
 
BOA NOTÍCIA
Marta e Maria
No evangelho do próximo domingo, dia 17, encontramos a famosa resposta que Jesus dá ao “ralhete” da sua amiga Marta: «Senhor, não Te importas que minha irmã me deixe sozinha a servir? Diz-lhe que venha ajudar-me». O Senhor respondeu-lhe: «Marta, Marta, andas inquieta e preocupada com muitas coisas, quando uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada».
 
O que será que se passou a seguir...?
Será que Marta ficou de mau humor? Carrancuda durante todo o serão por Jesus não ter concordado e, ainda por cima (que surpresa!) ter defendido a sua irmã?
Se foi este o desfecho, é fácil perceber porque o evangelista Lucas interrompe abruptamente o relato bíblico... Um serão assim, com um ambiente pesado e duas irmãs zangadas, é coisa que ninguém recorda com gosto, quanto mais colocá-lo por escrito!
Mas talvez tudo se tenha passado de uma outra forma...
 
Jesus conhecia muito bem Marta e Maria, irmãs do seu grande amigo Lázaro e, com certeza, não teve dificuldade em “pilotar” a situação de maneira a não criar um serão de mau ambiente. Marta queria tanto agradar ao seu amigo que acabou por se “esquecer” de estar com Ele. A frase de Jesus (provavelmente dita com um sorriso) recorda-lhe (e a nós também) que a coisa mais preciosa que podemos oferecer a alguém é a nossa atenção e companhia. Além disso, quem escuta e acolhe a Palavra de Jesus, não pode não colocar-se ao serviço dos irmãos. É por isso que tenho esta certeza: naquele serão em Betânia, depois de ter escutado os ensinamentos de Jesus, Maria levantou-se e ajudou a sua irmã.
 
P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2022.07.15



 
 

quinta-feira, 7 de julho de 2022

15º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C

Leitura do Livro do Deuteronómio
(Deut 30,10-14)
Moisés falou ao povo, dizendo: «Escutarás a voz do Senhor teu Deus, cumprindo os seus preceitos e mandamentos que estão escritos no Livro da Lei, e converter-te-ás ao Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma. Este mandamento que hoje te imponho não está acima das tuas forças nem fora do teu alcance. Não está no céu, para que precises de dizer: ‘Quem irá por nós subir ao céu, para no-lo buscar e fazer ouvir, a fim de o pormos em prática?’. Não está para além dos mares, para que precises de dizer: ‘Quem irá por nós transpor os mares, para no-lo buscar e fazer ouvir, a fim de o pormos em prática?’. Esta palavra está perto de ti, está na tua boca e no teu coração, para que a possas pôr em prática».
 
 
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 68 (69)
Refrão: Procurai, pobres, o Senhor e encontrareis a vida.
 
A Vós, Senhor, elevo a minha súplica,
pela vossa imensa bondade respondei-me.
Ouvi-me, Senhor, pela bondade da vossa graça,
voltai-Vos para mim pela vossa grande misericórdia.
 
Eu sou pobre e miserável:
defendei-me com a vossa protecção
Louvarei com cânticos o nome de Deus
e em acção de graças O glorificarei.
 
Vós, humildes, olhai e alegrai-vos,
buscai o Senhor e o vosso coração se reanimará.
O Senhor ouve os pobres
e não despreza os cativos.
 
Deus protegerá Sião,
reconstruirá as cidades de Judá.
Os seus servos a receberão em herança
e nela hão-de morar os que amam o seu nome.
 
 
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Colossenses
(Col 1,15-20)
Cristo Jesus é a imagem de Deus invisível, o Primogénito de toda a criatura; porque n’Ele foram criadas todas as coisas no céu e na terra, visíveis e invisíveis, Tronos e Dominações, Principados e Potestades: por Ele e para Ele tudo foi criado. Ele é anterior a todas as coisas e n’Ele tudo subsiste. Ele é a cabeça da Igreja, que é o seu corpo. Ele é o Princípio, o Primogénito de entre os mortos; em tudo Ele tem o primeiro lugar. Aprouve a Deus que n’Ele residisse toda a plenitude e por Ele fossem reconciliadas consigo todas as coisas, estabelecendo a paz, pelo sangue da sua cruz, com todas as criaturas na terra e nos céus.
 
 
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 10,25-37)
Naquele tempo, levantou-se um doutor da lei e perguntou a Jesus para O experimentar: «Mestre, que hei-de fazer para receber como herança a vida eterna?» Jesus disse-lhe: «Que está escrito na lei? Como lês tu?» Ele respondeu: «Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento; e ao próximo como a ti mesmo». Disse-lhe Jesus: «Respondeste bem. Faz isso e viverás». Mas ele, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: «E quem é o meu próximo?» Jesus, tomando a palavra, disse: «Um homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores. Roubaram-lhe tudo o que levava, espancaram-no e foram-se embora, deixando-o meio morto. Por coincidência, descia pelo mesmo caminho um sacerdote; viu-o e passou adiante. Do mesmo modo, um levita que vinha por aquele lugar, viu-o e passou adiante. Mas um samaritano, que ia de viagem, passou junto dele e, ao vê-lo, encheu-se de compaixão. Aproximou-se, ligou-lhe as feridas deitando azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. No dia seguinte, tirou duas moedas, deu-as ao estalajadeiro e disse: ‘Trata bem dele; e o que gastares a mais eu to pagarei quando voltar’. Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?» O doutor da lei respondeu: «O que teve compaixão dele». Disse-lhe Jesus: «Então vai e faz o mesmo».
 
 
BOA NOTÍCIA
O que devo fazer?
Um dia um homem (um doutor da Lei) colocou a Jesus esta questão: «o que devo fazer para chegar à vida eterna?»
 
Jesus perguntou-lhe «Que está escrito na Lei? – e ele respondeu - Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento; e ao próximo como a ti mesmo».
 
Jesus sabia que ele sabia: a resposta está correcta! E nós também a conhecemos… mas não basta conhecê-la: é preciso actuá-la, vivê-la. É preciso amar! No entanto, tal como muitos de nós, também o doutor vacila, amedronta-se e imediatamente procura justificar-se: «Quem é o meu próximo?»
 
Quantas vezes na nossa vida de fé somo “atormentados” com esta e outras questões… «Será que me devo interessar? Será que devo/posso/consigo fazer alguma coisa para ajudar aquela pessoa? E o que é isso do amor ao próximo? Até onde se deve ir? É preciso exagerar?»
 
Jesus responde(-nos) com a famosa parábola do “bom samaritano”: um homem foi atacado por salteadores e deixado caído na berma da estrada. Ninguém o ajuda, excepto um estrangeiro, um samaritano (um “infiel”, segundo a teologia judaica daquele tempo). Jesus conclui a parábola dizendo ao doutor da Lei que o interrogara: «Vai e faz o mesmo».
 
A conclusão é óbvia: para alcançar a vida eterna é preciso amar a Deus e amar o próximo. O “próximo” é qualquer um que necessita de nós, qualquer irmão caído nos caminhos da vida que necessita, para se levantar, da nossa ajuda e do nosso amor. E se há um limite (e infelizmente há) é aquele “muro” com o qual Deus Pai por vezes também se depara: não podemos ajudar quem não quer ser ajudado. Mas podemos amar. Podemos amar sempre.
 
P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2022.07.07



 
 

sexta-feira, 1 de julho de 2022

14º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C

Leitura do Livro de Isaías
(Is 66,10-14c)
Alegrai-vos com Jerusalém, exultai com ela, todos vós que a amais. Com ela enchei-vos de júbilo, todos vós que participastes no seu luto. Assim podereis beber e saciar-vos com o leite das suas consolações, podereis deliciar-vos no seio da sua magnificência. Porque assim fala o Senhor: «Farei correr para Jerusalém a paz como um rio e a riqueza das nações como torrente transbordante. Os seus meninos de peito serão levados ao colo e acariciados sobre os joelhos. Como a mãe que anima o seu filho, também Eu vos confortarei: em Jerusalém sereis consolados. Quando o virdes, alegrar-se-á o vosso coração e, como a verdura, retomarão vigor os vossos membros. A mão do Senhor manifestar-se-á aos seus servos.
 
 
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 65 (66)
Refrão: A terra inteira aclame o Senhor.
 
Aclamai a Deus, terra inteira,
cantai a glória do seu nome,
celebrai os seus louvores, dizei a Deus:
«Maravilhosas são as vossas obras».
 
A terra inteira Vos adore e celebre,
entoe hinos ao vosso nome.
Vinde contemplar as obras de Deus,
admirável na sua acção pelos homens.
 
Mudou o mar em terra firme,
atravessaram o rio a pé enxuto.
Alegremo-nos n’Ele:
domina eternamente com o seu poder.
 
Todos os que temeis a Deus, vinde e ouvi,
vou narrar-vos quanto Ele fez por mim.
Bendito seja Deus que não rejeitou a minha prece,
nem me retirou a sua misericórdia.
 
 
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Gálatas
(Gal 6,14-18)
Irmãos: Longe de mim gloriar-me, a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo. Pois nem a circuncisão nem a incircuncisão valem alguma coisa: o que tem valor é a nova criatura. Paz e misericórdia para quantos seguirem esta norma, bem como para o Israel de Deus. Doravante ninguém me importune, porque eu trago no meu corpo os estigmas de Jesus. Irmãos, a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja com o vosso espírito. Amen.
 
 
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 10,1-12.17-20)
Naquele tempo, designou o Senhor setenta e dois discípulos e enviou-os dois a dois à sua frente, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir. E dizia-lhes: «A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi ao dono da seara que mande trabalhadores para a sua seara. Ide: Eu vos envio como cordeiros para o meio de lobos. Não leveis bolsa nem alforge nem sandálias, nem vos demoreis a saudar alguém pelo caminho. Quando entrardes nalguma casa, dizei primeiro: ‘Paz a esta casa’. E se lá houver gente de paz, a vossa paz repousará sobre eles: senão, ficará convosco. Ficai nessa casa, comei e bebei do que tiverem, que o trabalhador merece o seu salário. Não andeis de casa em casa. Quando entrardes nalguma cidade e vos receberem, comei do que vos servirem, curai os enfermos que nela houver e dizei-lhes: ‘Está perto de vós o reino de Deus’. Mas quando entrardes nalguma cidade e não vos receberem, saí à praça pública e dizei: ‘Até o pó da vossa cidade que se pegou aos nossos pés sacudimos para vós. No entanto, ficai sabendo: Está perto o reino de Deus’. Eu vos digo: Haverá mais tolerância, naquele dia, para Sodoma do que para essa cidade». Os setenta e dois discípulos voltaram cheios de alegria, dizendo: «Senhor, até os demónios nos obedeciam em teu nome». Jesus respondeu-lhes: «Eu via Satanás cair do céu como um relâmpago. Dei-vos o poder de pisar serpentes e escorpiões e dominar toda a força do inimigo; nada poderá causar-vos dano. Contudo, não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem; alegrai-vos antes porque os vossos nomes estão escritos nos Céus».
 
 
BOA NOTÍCIA
Partir ao “Deus-dará”
«A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi ao dono da seara que mande trabalhadores para a sua seara». Esta frase de Jesus, que encontramos nos Evangelho do próximo Domingo, leva-nos a suspeitar que a crise vocacional não seja apenas uma realidade do nosso tempo. Pudera! Partir ao “deus-dará”, sem bolsa, nem alforge, confiando apenas na eficácia do anúncio do Evangelho e dependendo inteiramente da generosidade de desconhecidos... é um convite que hoje, tal como ontem, poucos conseguem aceitar. Quais as garantias de que esta viagem não terminará num desastre? Quem nos assegura de que não será tudo um desperdício de tempo e energia?
 
No livro do profeta Jeremias encontramos alguns indícios para uma boa resposta:
 
«Feliz o homem que confia no Senhor,
Que tem no Senhor a sua esperança.
É como a árvore plantada perto da água,
a qual estende as raízes para a corrente;
não teme quando vem o calor,
e a sua folhagem fica sempre verdejante».
 
O Senhor é a nossa única garantia! E para quem acredita, isso basta: não são necessários outros fiadores! Não é fácil descrever esta realidade... Uma mãe pode tentar explicar à própria filha o que é a maternidade, mas a filha só a compreenderá realmente quando nascer o seu primeiro filho. Podemos tentar descrever a alegria de confiar a própria vida nas mãos de Deus, mas enquanto não tivermos feito essa experiência em primeira pessoa, não poderemos compreendê-la inteiramente.
 
Não é o peso da “bagagem” (quilos e quilos de cálculos, planos e estratégias...) que assegura um “sim” sereno ou o êxito da viagem. Somente a confiança depositada no Senhor pode garantir uma resposta tranquila e o sucesso da missão.
 
P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2022.07.01



 
 

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