quarta-feira, 26 de março de 2014

4º DOMINGO DO TEMPO DA QUARESMA (ano A)

Leitura do Primeiro Livro de Samuel
(1 Sam 16,1b.6-7.10-13a)
Naqueles dias, o Senhor disse a Samuel: «Enche o corno de óleo e parte. Vou enviar-te a Jessé de Belém, pois escolhi um rei entre os seus filhos». Quando chegou, Samuel viu Eliab e pensou consigo: «Certamente é este o ungido do Senhor». Mas o Senhor disse a Samuel: «Não te impressiones com o seu belo aspecto, nem com a sua elevada estatura, pois não foi esse que Eu escolhi. Deus não vê como o homem; o homem olha às aparências, o Senhor vê o coração». Jessé fez passar os sete filhos diante de Samuel, mas Samuel declarou-lhe: «O senhor não escolheu nenhum destes». E perguntou a Jessé: «Estão aqui todos os teus filhos?» Jessé respondeu-lhe: «Falta ainda o mais novo, que anda a guardar o rebanho». Samuel ordenou: «Manda-o chamar, porque não nos sentaremos à mesa, enquanto ele não chegar». Então Jessé mandou-o chamar: era loiro, de belos olhos e agradável presença. O Senhor disse a Samuel: «Levanta-te e unge-o, porque é este mesmo». Samuel pegou no corno do óleo e ungiu-o no meio dos irmãos. Daquele dia em diante, o Espírito do Senhor apoderou-Se de David.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 22 (23)
Refrão: O Senhor é meu pastor: nada me faltará.

O Senhor é meu pastor: nada me falta.
Leva-me a descansar em verdes prados,
conduz-me às águas refrescantes
e reconforta a minha alma.

Ele me guia por sendas direitas por amor do seu nome.
Ainda que tenha de andar por vales tenebrosos,
não temerei nenhum mal, porque Vós estais comigo:
o vosso cajado e o vosso báculo me enchem de confiança.

Para mim preparais a mesa
à vista dos meus adversários;
com óleo me perfumais a cabeça
e meu cálice transborda.

A bondade e a graça hão-de acompanhar-me
todos os dias da minha vida,
e habitarei na casa do Senhor
para todo o sempre.


Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Efésios
(Ef 5,8-14)
Irmãos: Outrora vós éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Vivei como filhos da luz, porque o fruto da luz é a bondade, a justiça e a verdade. Procurai sempre o que mais agrada ao Senhor. Não tomeis parte nas obras das trevas, que são inúteis; tratai antes de condená-las abertamente, porque o que eles fazem em segredo até é vergonhoso dizê-lo. Mas, todas as coisas que são condenadas são postas a descoberto pela luz, e tudo que assim se manifesta torna-se luz. É por isso que se diz: «Desperta, tu que dormes; levanta-te do meio dos mortos e Cristo brilhará sobre ti».


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 9,1-41)
Naquele tempo, Jesus encontrou no seu caminho um cego de nascença. Os discípulos perguntaram-Lhe: «Mestre, quem é que pecou para que ele nascesse cego? Ele ou os seus pais? Jesus respondeu-lhes: «Isso não tem nada que ver com os pecados dele ou dos pais; mas aconteceu assim para se manifestarem nele as obras de Deus. É preciso trabalhar, enquanto é dia, nas obras d’Aquele que Me enviou. Vai chegar a noite, em que ninguém pode trabalhar. Enquanto Eu estou no mundo, sou a luz do mundo». Dito isto, cuspiu em terra, fez com a saliva um pouco de lodo e ungiu os olhos do cego. Depois disse-lhe: «Vai lavar-te à piscina de Siloé»; Siloé quer dizer «Enviado». Ele foi, lavou-se e ficou a ver. Entretanto, perguntavam os vizinhos e os que antes o viam a mendigar: «Não é este o que costumava estar sentado a pedir esmola?» Uns diziam: «É ele». Outros afirmavam: «Não é. É parecido com ele». Mas ele próprio dizia: «Sou eu». Perguntaram-lhe então: «Como foi que se abriram os teus olhos?» Ele respondeu: «Esse homem, que se chama Jesus, fez um pouco de lodo, ungiu-me os olhos e disse-me: ‘Vai lavar-te à piscina de Siloé’. Eu fui, lavei-me e comecei a ver». Perguntaram-lhe ainda: «Onde está Ele?» O homem respondeu: «Não sei». Levaram aos fariseus o que tinha sido cego. Era sábado esse dia em que Jesus fizeram lodo e lhe tinha aberto os olhos. Por isso, os fariseus perguntaram ao homem como tinha recuperado a vista. Ele declarou-lhes: «Jesus pôs-me lodo nos olhos; depois fui lavar-me e agora vejo». Diziam alguns dos fariseus: «Esse homem não vem de Deus, porque não guarda o sábado». Outros observavam: «Como pode um pecador fazer tais milagres?» E havia desacordo entre eles. Perguntaram então novamente ao cego: «Tu que dizes d’Aquele que te deu a vista?» O homem respondeu: «É um profeta». Os judeus não quiseram acreditar que ele tinha sido cego e começara a ver. Chamaram então os pais dele e perguntaram-lhes: «É este o vosso filho? É verdade que nasceu cego? Como é que agora vê?» Os pais responderam: «Sabemos que este é o nosso filho e que nasceu cego; mas não sabemos como é que ele agora vê, nem sabemos quem lhe abriu os olhos. Ele já tem idade para responder: perguntai-lho vós». Foi por medo que eles deram esta resposta, porque os judeus tinham decidido expulsar da sinagoga quem reconhecesse que Jesus era o Messias. Por isso é que disseram: «Ele já tem idade para responder; perguntai-lho vós». Os judeus chamaram outra vez o que tinha sido curado e disseram-lhe: «Dá glória a Deus. Nós sabemos que esse homem é pecador». Ele respondeu: «Se é pecador, não sei. O que sei é que eu era cego e agora vejo». Perguntaram-lhe então: «Que te fez Ele? Como te abriu os olhos?» O homem replicou: «Já vos disse e não destes ouvidos. Porque desejais ouvi-lo novamente? Também quereis fazer-vos seus discípulos?» Então insultaram-no e disseram-lhe: «Tu é que és seu discípulo; nós somos discípulos de Moisés; mas este, nem sabemos de onde é». O homem respondeu-lhes: «Isto é realmente estranho: não sabeis de onde Ele é, mas a verdade é que Ele me deu a vista. Ora, nós sabemos que Deus não escuta os pecadores, mas escuta aqueles que O adoram e fazem a sua vontade. Nunca se ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença. Se Ele não viesse de Deus, nada podia fazer». Replicaram-lhe então eles: «Tu nasceste inteiramente em pecado e pretendes ensinar-nos?» E expulsaram-no. Jesus soube que o tinham expulsado e, encontrando-o, disse-lhe: «Tu acreditas no Filho do homem?» Ele respondeu-Lhe: «Senhor, quem é Ele, para que eu acredite?» Disse-lhe Jesus; «Já O viste: é Quem está a falar contigo». O homem prostrou-se diante de Jesus e exclamou: «Eu creio, Senhor». Então Jesus disse-lhe: «Eu vim para exercer um juízo: os que não vêem ficarão a ver; os que vêem ficarão cegos». Alguns fariseus que estavam com Ele, ouvindo isto, perguntaram-Lhe: «Nós também somos cegos?» Respondeu-lhes Jesus: «Se fôsseis cegos, não teríeis pecado. Mas como agora dizeis: ‘Nós vemos’, o vosso pecado permanece».


BOA NOTÍCIA
Super-heróis e super-vilões
Na indústria da banda desenhada, um super-herói “vende bem” quando os autores conseguem criar um super-vilão que seja antagónico ao protagonista; que seja o seu exacto contrário. Batman teria tido o mesmo êxito sem o Joker? Ou o Super-homem sem Lex Luthor? Este tipo de contraste seduz a maioria dos leitores, pois simplifica a trama da aventura e transforma cada episódio, por muito banal que seja o seu argumento, numa nova batalha da eterna guerra entre o Bem e o Mal.

Devemos ter cuidado para não aplicar este tipo de interpretação ao Evangelho do próximo domingo, que descreve uma discussão entre Jesus e os fariseus: se Jesus é o Messias (o sumo Bem!) então os seus adversários são o Mal incarnado e tudo o que fazem e dizem é guiado pela pura maldade? Não. Com estes paradigmas reduzimos os fariseus a caricaturas e o sentido do Evangelho permanece fora do nosso alcance.

Na verdade, os fariseus eram homens (como nós) que procuravam conhecer a realidade divina e interpretar os textos sagrados. Qual é então o grande pecado dos fariseus? A resposta é simples: terem absolutizado (idolatrado) a própria concepção de Deus. Eles estão seguros de já ter compreendido tudo! E por isso, são incapazes de reconhecer em Jesus a presença de Deus, pois Ele não corresponde à imagem messiânica que a teologia farisaica tinha elaborado.

«Como agora dizeis: “Nós vemos”, o vosso pecado permanece». A última frase do Evangelho de domingo indica o obstáculo que impede aos fariseus de entrar na lógica do Reino de Deus: a arrogância. «Nós vemos; nós já sabemos; nós já conhecemos!» É esta atitude que não os deixa sair dos próprios esquemas mentais e abraçar a novidade que é Jesus Cristo.

P. Carlos Caetano
in LusoJornal 26.03.2014



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quarta-feira, 19 de março de 2014

3º DOMINGO DO TEMPO DA QUARESMA (ano A)

Leitura do Livro do Êxodo
(Ex 17,3-7)
Naqueles dias, o povo israelita, atormentado pela sede, começou a altercar com Moisés, dizendo: «Porque nos tiraste do Egipto? Para nos deixares morrer à sede, a nós, aos nossos filhos e aos nossos rebanhos?» Então Moisés clamou ao Senhor, dizendo: «Que hei-de fazer a este povo? Pouco falta para me apedrejarem». O Senhor respondeu a Moisés: «Passa para a frente do povo e leva contigo alguns anciãos de Israel. Toma na mão a vara com que fustigaste o rio e põe-te a caminho. Eu estarei diante de ti, sobre o rochedo, no monte Horeb. Baterás no rochedo e dele sairá água; então o povo poderá beber». Moisés assim fez à vista dos anciãos de Israel. E chamou àquele lugar Massa e Meriba, por causa da altercação dos filhos de Israel e por terem tentado o Senhor, ao dizerem: «O Senhor está ou não no meio de nós?»


SALMO RESPONSORIAL – SALMO 94 (95)
Refrão: Se hoje ouvirdes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações.

Vinde, exultemos de alegria no Senhor,
aclamemos a Deus nosso salvador.
Vamos à sua presença e dêmos graças,
ao som de cânticos aclamemos o Senhor.

Vinde, prostremo-nos em terra,
adoremos o Senhor que nos criou.
Pois Ele é o nosso Deus
e nós o seu povo, as ovelhas do seu rebanho.

Quem dera ouvísseis hoje a sua voz:
«Não endureçais os vossos corações,
como em Meriba, como no dia de Massa no deserto,
onde vossos pais Me tentaram e provocaram,
apesar de terem visto as minhas obras.


Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
(Rom 5,1-2.5-8)
Irmãos: Tendo sido justificados pela fé, estamos em paz com Deus, por Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual temos acesso, na fé, a esta graça em que permanecemos e nos gloriamos, apoiados na esperança da glória de Deus. Ora, a esperança não engana, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. Cristo morreu por nós, quando éramos ainda pecadores. Dificilmente alguém morre por um justo; por um homem bom, talvez alguém tivesse a coragem de morrer. Deus prova assim o seu amor para connosco: Cristo morreu por nós, quando éramos ainda pecadores.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 4,5-42)
Naquele tempo, chegou Jesus a uma cidade da Samaria, chamada Sicar, junto da propriedade que Jacob tinha dado a seu filho José, onde estava a fonte de Jacob. Jesus, cansado da caminhada, sentou-Se à beira do poço. Era por volta do meio dia. Veio uma mulher da Samaria para tirar água. Disse-lhe Jesus: «Dá-Me de beber». Os discípulos tinham ido à cidade comprar alimentos. Respondeu-Lhe a samaritana: «Como é que Tu, sendo judeu, me pedes de beber, sendo eu samaritana?» De facto, os judeus não se dão com os samaritanos. Disse-lhe Jesus: «Se conhecesses o dom de Deus e quem é Aquele que te diz: ‘Dá-Me de beber’, tu é que Lhe pedirias e Ele te daria água viva». Respondeu-Lhe a mulher: «Senhor, Tu nem sequer tens um balde, e o poço é fundo: donde Te vem a água viva? Serás Tu maior do que o nosso pai Jacob, que nos deu este poço, do qual ele mesmo bebeu, com os seus filhos e os seus rebanhos?» Disse-Lhe Jesus: «Todo aquele que bebe desta água voltará a ter sede. Mas aquele que beber da água que Eu lhe der nunca mais terá sede: a água que Eu lhe der tornar-se-á nele uma nascente que jorra para a vida eterna». «Senhor, suplicou a mulher, dá-me dessa água, para que eu não sinta mais sede e não tenha de vir aqui buscá-la». Vejo que és profeta. Os nossos pais adoraram neste monte e vós dizeis que é em Jerusalém que se deve adorar». Disse-lhe Jesus: «Mulher, podes acreditar em Mim: Vai chegar a hora em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas vai chegar a hora – e já chegou – em que os verdadeiros adoradores hão-de adorar o Pai em espírito e verdade, pois são esses os adoradores que o Pai deseja. Deus é espírito e os seus adoradores devem adorá-l’O em espírito e verdade». Disse-Lhe a mulher: «Eu sei que há-de vir o Messias, isto é, Aquele que chamam Cristo. Quando vier há-de anunciar-nos todas as coisas». Respondeu-lhe Jesus: «Sou Eu, que estou a falar contigo». Muitos samaritanos daquela cidade acreditaram em Jesus, por causa da palavra da mulher. Quando os samaritanos vieram ao encontro de Jesus, pediram-Lhe que ficasse com eles. E ficou lá dois dias. Ao ouvi-l’O, muitos acreditaram e diziam à mulher: «Já não é por causa das tuas palavras que acreditamos. Nós próprios ouvimos e sabemos que Ele é realmente o Salvador do mundo».


BOA NOTÍCIA
Água viva
O Evangelho do próximo domingo, dia 23, descreve-nos o encontro entre Jesus e uma samaritana junto ao poço de Jacob.

Disse-Lhe Jesus: «Todo aquele que bebe desta água voltará a ter sede. Mas aquele que beber da água que Eu lhe der nunca mais terá sede: a água que Eu lhe der tornar-se-á nele uma nascente que jorra para a vida eterna».

A precipitação média de chuva na Palestina é suficiente para a agricultura, mas o país tem falta de rios, de correntes de água perene e de lagos, sendo, por isso, mais árido do que a Europa ou a maior parte das Américas. A estepe e o deserto são realidades próximas, por isso a Bíblia demonstra uma clara consciência do valor da água e das terríveis consequências da sua falta: 1500 versículos do Antigo Testamento e 430 do Novo mencionam a água, o que lhe atribui um alto valor simbólico/teológico.

No entanto, a água e a sede naturais são insignificantes quando comparadas com a água viva que Jesus oferece e com a sede que Ele promete saciar: sede de sentido e de verdade e água de vida eterna.

Inicialmente a mulher fica confusa e pensa que Jesus proponha o abandono das tradições samaritanas e o ceder às pretensões religiosas dos judeus («nossos pais adoraram neste monte, mas vós dizeis que é em Jerusalém que se deve adorar»). No entanto, Jesus nega que se trate de escolher entre o templo de Jerusalém ou o templo do monte Garizim. Beber a água viva significa acolher a novidade do próprio Jesus e aceitar a sua proposta de vida! Jesus é o novo poço, o novo templo, onde todos os que têm sede de vida plena se poderão saciar.

P. Carlos Caetano
in LusoJornal 19.03.2014


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quarta-feira, 12 de março de 2014

2º DOMINGO DO TEMPO DA QUARESMA (ano A)

Leitura do Livro do Génesis
(Gen 12,1-4)
Naqueles dias, o Senhor disse a Abrão: «Deixa a tua terra, a tua família e a casa de teu pai e vai para a terra que Eu te indicar. Farei de ti uma grande nação e te abençoarei; engrandecerei o teu nome e serás uma bênção. Abençoarei a quem te abençoar, amaldiçoarei a quem te amaldiçoar; por ti serão abençoadas todas as nações da terra». Abrão partiu, como o Senhor lhe tinha ordenado.


SALMO RESPONSORIAL – SALMO 32 (33)
Refrão: Esperamos, Senhor, na vossa misericórdia.

A palavra do Senhor é recta,
na fidelidade nascem as suas obras.
Ele ama a justiça e a rectidão:
a terra está cheia da bondade do Senhor.

Os olhos do Senhor estão voltados para os que O temem,
para os que esperam na sua bondade,
para libertar da morte as suas almas
e os alimentar no tempo da fome.

A nossa alma espera o Senhor:
Ele é o nosso amparo e protector.
Venha sobre nós a vossa bondade,
porque em Vós esperamos, Senhor.


Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo
(2 Tim 1,8b-10)
Caríssimo: Sofre comigo pelo Evangelho, apoiado na força de Deus. Ele salvou-nos e chamou-nos à santidade, não em virtude das nossas obras, mas do seu próprio desígnio e da sua graça. Esta graça, que nos foi dada em Cristo Jesus, desde toda a eternidade manifestou-se agora pelo aparecimento de Cristo Jesus, nosso Salvador, que destruiu a morte e fez brilhar a vida e a imortalidade, por meio do Evangelho.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 17,1-9)
Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João seu irmão e levou os, em particular, a um alto monte e transfigurou Se diante deles: o seu rosto ficou resplandecente como o sol e as suas vestes tornaram se brancas como a luz. E apareceram Moisés e Elias a falar com Ele. Pedro disse a Jesus: «Senhor, como é bom estarmos aqui! Se quiseres, farei aqui três tendas: uma para Ti, outra para Moisés a outra para Elias». Ainda ele falava, quando uma nuvem luminosa os cobriu com a sua sombra e da nuvem uma voz dizia: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência. Escutai O». Ao ouvirem estas palavras, os discípulos caíram de rosto por terra a assustaram se muito. Então Jesus aproximou se e, tocando os, disse: «Levantai vos e não temais». Erguendo os olhos, eles não viram mais ninguém, senão Jesus. Ao descerem do monte, Jesus deu lhes esta ordem: «Não conteis a ninguém esta visão, até o Filho do homem ressuscitar dos mortos».


BOA NOTÍCIA
Do Tabor ao monte Calvário
O Evangelho do próximo domingo, dia 16, descreve-nos a experiência vivida por Pedro, Tiago e João, no alto do monte Tabor, quando testemunharam a Transfiguração de Jesus, ou seja, aquele breve momento em que Cristo revelou a sua glória divina sob a forma de uma luz refulgente. Este episódio aparece todos os anos no segundo domingo da Quaresma, como anúncio/antecipação da Ressurreição, para que, ao longo deste tempo de preparação pascal, estejamos bem conscientes de que o horizonte, para onde caminhamos, é Jesus ressuscitado.

A reacção de Pedro verbaliza o desejo profundo de prolongar ao máximo aquele momento e de permanecer para sempre no torpor da contemplação: «Senhor, como é bom estarmos aqui! Se quiseres, farei aqui três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias».  

No entanto, contra todos aqueles que acusam a religião de ser um “ópio do povo”, este episódio ensina que não podemos viver para sempre no Tabor, alheados da realidade concreta do mundo, ou sem vontade de intervir para o renovar e transformar. Para não trair a beleza que encontrámos, é preciso “descer do monte” e indicar aos irmãos a vereda que leva ao cume mais alto. A glória que nos foi revelada não pode corromper-se num prazer egoístico, porque é comunhão perfeita, partilha sem limites e dom total de si. Porém, a experiência da contemplação da beleza de Deus é essencial: é dali que provém a coragem e força necessárias para “regressar ao mundo”, fazer da nossa vida um dom e um instrumento nas mãos do Senhor e, com Ele, subir uma outra colina onde doamos tudo o que somos e possuímos: a colina do Calvário.

P. Carlos Caetano
in LusoJornal 12.03.2014



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quarta-feira, 5 de março de 2014

1º DOMINGO DO TEMPO DA QUARESMA (ano A)

Leitura do Livro do Génesis
(Gen 2,7-9;3,1-7)
O Senhor Deus formou o homem do pó da terra, insuflou em suas narinas um sopro de vida, e o homem tornou-se um ser vivo. Depois, o Senhor Deus plantou um jardim no Éden, a oriente, e nele colocou o homem que tinha formado. Fez nascer na terra toda a espécie de árvores, de frutos agradáveis à vista e bons para comer, entre as quais a árvore da vida, no meio do jardim, e a árvore da ciência do bem e do mal. Ora, a serpente era o mais astucioso de todos os animais do campo que o Senhor Deus tinha feito. Ela disse à mulher: «É verdade que Deus vos disse: “Não podeis comer o fruto de nenhuma árvore do Jardim”?» A mulher respondeu: «Podemos comer o fruto das árvores do jardim; mas, quanto ao fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus avisou-nos: “Não podeis comer dele nem tocar-lhe, senão morrereis”». A serpente replicou à mulher: «De maneira nenhuma! Não morrereis. Mas Deus sabe que, no dia em que o comerdes, abrir-se-ão os vossos olhos e sereis como deuses, ficando a conhecer o bem e o mal». A mulher viu então que o fruto da árvore era bom para comer e agradável à vista, e precioso para esclarecer a inteligência. Colheu o fruto e comeu-o; depois deu-o ao marido, que estava junto dela, e ele também comeu. Abriram-se então os seus olhos e compreenderam que estavam despidos. Por isso, entrelaçaram folhas de figueira e cingiram os rins com elas.


SALMO RESPONSORIAL – SALMO 50 (51)
Refrão: Tende compaixão de nós, Senhor, porque somos pecadores.

Compadecei-Vos de mim, ó Deus, pela vossa bondade,
pela vossa grande misericórdia, apagai os meus pecados.
Lavai-me de toda a iniquidade
e purificai-me de todas as faltas.

Porque eu reconheço os meus pecados
e tenho sempre diante de mim as minhas culpas
Pequei contra Vós, só contra Vós,
e fiz o mal diante dos vossos olhos.

Criai em mim, ó Deus, um coração puro
e fazei nascer dentro de mim um espírito firme.
Não queirais repelir-me da vossa presença
e não retireis de mim o vosso espírito de santidade.

Dai-me de novo a alegria da vossa salvação
e sustentai-me com espírito generoso.
Abri, Senhor, os meus lábios
e a minha boca cantará o vosso louvor.


Leitura do apóstolo São Paulo aos Romanos
(Rom 5,12-19)
Irmãos: Assim como por um só homem entrou o pecado no mundo e pelo pecado a morte, assim também a morte atingiu todos os homens, porque todos pecaram. De facto, até à Lei, existia o pecado no mundo. Mas o pecado não é levado em conta, se não houver lei. Entretanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, mesmo para aqueles que não tinham pecado por uma transgressão à semelhança de Adão, que é figura d’Aquele que havia de vir. Mas o dom gratuito não é como a falta. Se pelo pecado de um só pereceram muitos, com muito mais razão a graça de Deus, dom contido na graça de um só homem, Jesus Cristo, se concedeu com abundância a muitos homens. E esse dom não é como o pecado de um só: o julgamento que resultou desse único pecado levou à condenação, ao passo que o dom gratuito, que veio depois de muitas faltas, leva à justificação. Se a morte reinou pelo pecado de um só homem, com muito mais razão, aqueles que recebem com abundância a graça e o dom da justiça, reinarão na vida por meio de um só, Jesus Cristo. Porque, assim como pelo pecado de um só, veio para todos os homens a condenação, assim também, pela obra de justiça de um só, virá para todos a justificação que dá a vida. De facto, como pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, pela obediência de um só, muitos se tornarão justos.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 4,1-11)
Naquele tempo, Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto, a fim de ser tentado pelo Demónio. Jejuou quarenta dias e quarenta noites e, por fim, teve fome. O tentador aproximou-se e disse-lhe: «Se és Filho de Deus, diz a estas pedras que se transformem em pães». Jesus respondeu-lhe: «Está escrito: ‘Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus’». Então o Demónio conduziu-O à cidade santa, levou-O ao pináculo do templo e disse-Lhe: «Se és Filho de Deus, lança-Te daqui abaixo, pois está escrito: ‘Deus mandará aos seus Anjos que te recebam nas suas mãos, para que não tropeces em alguma pedra’». Respondeu-Lhe Jesus: «Também está escrito: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus’». De novo o Demónio O levou consigo a um monte muito alto, mostrou-Lhe todos os reinos do mundo e a sua glória, e disse-Lhe: «Tudo isto Te darei, se, prostrado, me adorares». Respondeu-Lhe Jesus: «Vai-te, Satanás, porque está escrito: ‘Adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele prestarás culto’». Então o Demónio deixou-O e logo os Anjos se aproximaram e serviram Jesus.


BOA NOTÍCIA
Um passo de cada vez
Esta semana, mais precisamente na quarta-feira (de Cinzas…) entramos no tempo litúrgico da Quaresma. Em vez do “tradicional” comentário ao Evangelho, proponho-vos dois conselhos na esperança de que vos possam ajudar a viver bem este tempo de renovação espiritual e de preparação para a Páscoa.

O tempo da Quaresma é um convite à conversão, mas transformar a própria vida é um processo difícil que requer tempo, perseverança e força de vontade. Tentar «mudar tudo!» de uma só vez não é uma táctica muito realista e normalmente, o resultado é acabar por não mudar nada. Nesta Quaresma aconselho-vos a não dispersar a vossa energia em mil e um pequenos projectos, mas a concentrar os vossos esforços numa única, difícil e importante mudança. Pode parecer pouco empenhar-se durante 40 dias em mudar apenas um único aspecto da nossa vida, mas se em dez anos conseguíssemos eliminar dez grandes defeitos, não seria formidável?

O segundo conselho é intimamente ligado ao primeiro. Quando na quarta-feira recebemos as cinzas, o sacerdote diz-nos, «converte-te e crê no Evangelho». Ora a conversão não é algo que dure apenas 40 dias, mas deve ter continuidade, superar o tempo da Quaresma e acompanhar-nos para o resto das nossas vidas. Que sentido tem conter os defeitos durante este período, se já decidimos que no Domingo de Páscoa voltamos à velha vida? Vamos tentar eliminar o que nos impede de abraçar plenamente o Evangelho! Vamos anular as estruturas de pecado que não nos deixam ser a melhor versão de nós mesmos! Vamos escolher um projecto que não termine na Páscoa, mas que continue e que siga connosco para sempre.

Bom domingo, boa Quaresma e bom caminho.

P. Carlos Caetano
in LusoJornal 05.03.2014



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