sábado, 26 de fevereiro de 2011

VIII DOMINGO DO TEMPO COMUM (ano A)



Leitura do Livro do Êxodo
(Is 49, 14-15)
Sião dizia: «O Senhor abandonou-me, o Senhor esqueceu-Se de mim». Poderá a mulher esquecer a criança que amamenta e não ter compaixão do filho das suas entranhas? Mas ainda que ela se esqueça, Eu não te esquecerei.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 61 (62)
Refrão: Só em Deus descansa, ó minha alma.

Só em Deus descansa a minha alma,
d’Ele me vem a salvação.
Ele é meu refúgio e salvação,
minha fortaleza: jamais serei abalado.

Minha alma, só em Deus descansa:
d’Ele vem a minha esperança.
Ele é meu refúgio e salvação,
minha fortaleza: jamais serei abalado.

Em Deus está a minha salvação e a minha glória,
o meu abrigo, o meu refúgio está em Deus.
Povo de Deus, em todo o tempo ponde n’Ele a vossa confiança,
desafogai em sua presença os vossos corações.


Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
(1 Cor 4, 1-5)
Irmãos: Todos nos devem considerar como servos de Cristo e administradores dos mistérios de Deus. Ora o que se requer nos administradores é que sejam fiéis. Quanto a mim, pouco me importa ser julgado por vós ou por um tribunal humano; nem sequer me julgo a mim próprio. De nada me acusa a consciência, mas não é por isso que estou justificado: quem me julga é o Senhor. Portanto, não façais qualquer juízo antes do tempo, até que venha o Senhor, que há-de iluminar o que está oculto nas trevas e manifestar os desígnios dos corações. E então cada um receberá da parte de Deus o louvor que merece.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 6, 24-34)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há-de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro. Por isso vos digo: «Não vos preocupeis, quanto à vossa vida, com o que haveis de comer ou de beber, nem, quanto ao vosso corpo, com o que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento e o corpo mais do que o vestuário? Olhai para as aves do céu: não semeiam nem ceifam nem recolhem em celeiros; o vosso Pai celeste as sustenta. Não valeis vós muito mais do que elas? Quem de entre vós, por mais que se preocupe, pode acrescentar um só côvado à sua estatura? E porque vos inquietais com o vestuário? Olhai como crescem os lírios do campo: não trabalham nem fiam; mas Eu vos digo: nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles. Se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao forno, não fará muito mais por vós, homens de pouca fé? Não vos inquieteis, dizendo: ‘Que havemos de comer? Que havemos de beber? Que havemos de vestir?’ Os pagãos é que se preocupam com todas estas coisas. Bem sabe o vosso Pai celeste que precisais de tudo isso. Procurai primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais vos será dado por acréscimo. Portanto, não vos inquieteis com o dia de amanhã, porque o dia de amanhã tratará das suas inquietações. A cada dia basta o seu cuidado».


«NÃO STRESSES!»
Se lêssemos o Evangelho apenas uma vez (e com pouca atenção) provavelmente reagiríamos ao texto com estas palavras: «Vê-se logo que Jesus não teve nem mulher, nem filhos e nem contas para pagar!» De facto, a expressão «não vos preocupeis com o que haveis de comer ou de beber» à primeira vista, soa demasiado ingénua. A vida concreta do dia-a-dia ensina-nos lições bem diferentes da que (aparentemente) encontrámos hoje nesta página do Evangelho. Lições que encontramos cristalizadas nalguns antigos provérbios populares, tais como: «quem não trabalha, não come», ou ainda «quem em novo não trabalha, em velho come palha».

No entanto, é óbvio que o tema dominante deste domingo não pode ser um convite à preguiça ou à inactividade. O que Jesus tenta comunicar-nos é uma ideia bem diferente. Um conceito que hoje poderíamos traduzir com esta simples exortação, que certamente todos nós já ouvimos: «Não stresses!»

A preocupação de cada um pelas necessidades quotidianas não só é admitida: é imprescindível! O trabalho dignifica. São Paulo até dizia: «se alguém não quer trabalhar, também não coma!» (2Ts 3,10). No entanto, Jesus convida-nos a não “stressar”. O que se condena é a excessiva preocupação, a ânsia sem medida, a apreensão sem fim.

O convite a “não stressar” é o ponto de chegada de um ensinamento magnífico que percorre as leituras deste domingo e que começa com uma importante afirmação: Deus não nos abandona! Deus não se esquece de nós! Na primeira leitura essa verdade é-nos revelada na imagem de um amor tão forte que ultrapassa o próprio afecto de uma mãe pelo seu filho. Essa certeza transforma-se depois em “hino” quando o salmista proclama «Ele é meu refúgio e salvação, minha fortaleza: jamais serei abalado!» Mas é o Evangelho que transforma o cântico em “estrada” e indica o melhor Caminho para combater o “stress” e encontrar a paz: confiar em Deus! Caminhar é abandonar-se nas mãos do Pai, certos de que Ele não nos abandona nunca.


(Tenham uma boa semana!)



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sábado, 19 de fevereiro de 2011

VII DOMINGO DO TEMPO COMUM (ano A)



Leitura do Livro do Levítico
(Lv 19, 1-2.17-18)
O Senhor dirigiu-Se a Moisés nestes termos: «Fala a toda a comunidade dos filhos de Israel e diz-lhes: ‘Sede santos, porque Eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo’. Não odiarás do íntimo do coração os teus irmãos, mas corrigirás o teu próximo, para não incorreres em falta por causa dele. Não te vingarás, nem guardarás rancor contra os filhos do teu povo. Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor».


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 102 (103)
Refrão: O Senhor é clemente e cheio de compaixão.

Bendiz, ó minha alma, o Senhor
e todo o meu ser bendiga o seu nome santo.
Bendiz, ó minha alma, o Senhor
e não esqueças nenhum dos seus benefícios.

Ele perdoa todos os teus pecados
e cura as tuas enfermidades;
salva da morte a tua vida
e coroa-te de graça e misericórdia.

O Senhor é clemente e compassivo,
paciente e cheio de bondade;
não nos tratou segundo os nossos pecados,
nem nos castigou segundo as nossas culpas.

Como Oriente dista do Ocidente,
assim Ele afasta de nós os nossos pecados;
como um pai se compadece dos seus filhos,
assim o Senhor Se compadece dos que O temem.



Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
(1 Cor 3, 16-23)
Irmãos: Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá. Porque o templo de Deus é santo, e vós sois esse templo. Ninguém tenha ilusões. Se alguém entre vós se julga sábio aos olhos do mundo, faça-se louco, para se tornar sábio. Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus, como está escrito: «Apanharei os sábios na sua própria astúcia». E ainda: «O Senhor sabe como são vãos os pensamentos dos sábios». Por isso, ninguém deve gloriar-se nos homens. Tudo é vosso: Paulo, Apolo e Pedro, o mundo, a vida e a morte, as coisas presentes e as futuras. Tudo é vosso; mas vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 5, 38-48)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Olho por olho e dente por dente’. Eu, porém, digo-vos: Não resistais ao homem mau. Mas se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a esquerda. Se alguém quiser levar-te ao tribunal, para ficar com a tua túnica, deixa-lhe também o manto. Se alguém te obrigar a acompanhá-lo durante uma milha, acompanha-o durante duas. Dá a quem te pedir e não voltes as costas a quem te pede emprestado. Ouvistes que foi dito: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo’. Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem, para serdes filhos do vosso Pai que está nos Céus; pois Ele faz nascer o sol sobre bons e maus e chover sobre justos e injustos. Se amardes aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem a mesma coisa os publicanos? E se saudardes apenas os vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não o fazem também os pagãos? Portanto, sede perfeitos, como o vosso Pai celeste é perfeito».


«OLHO POR OLHO… E O MUNDO ACABARÁ CEGO»*
A semana passada encontrámos no Evangelho os primeiros quatro exemplos dados por Jesus para ilustrar a nova forma com que devemos entender a Lei. Escutámos quatro vezes o famoso «eu porém digo-vos…» que introduz a novidade cristã na interpretação da antiga Lei. Hoje encontramos os últimos dois exemplos: o primeiro refere-se à “lei de talião” e o segundo à antiga interpretação hebraica do mandamento do amor.

Ao contrário do que se possa pensar, a “lei de talião”, consagrada na conhecida fórmula “olho por olho, dente por dente” não é um convite à vingança mas sim, uma lei destinada a evitar as reacções excessivas, brutais, indiscriminadas… É uma lei que pretende limitar os excessos na punição, típicos de uma sociedade onde tribunais e juízes escasseavam e normalmente a justiça fazia-se “com as próprias mãos”. No entanto, Jesus diz-nos que não basta uma lei que mantenha a vingança dentro de fronteiras razoáveis, mas é preciso acabar com a lógica da violência de uma vez por todas. Para tornar mais clara a sua proposta, Jesus apresenta alguns casos concretos, onde é sublinhada em cada situação a necessidade de assumir uma atitude pacífica e de não resposta às provocações.

O segundo exemplo que o Evangelho de hoje nos apresenta (o sexto da lista) refere-se ao mandamento do amor. Já aqui vimos que para os antigos judeus, o preceito do amor era muito restrito e abrangia apenas os filhos do povo hebraico. Jesus não só supera a noção tribal da lei e anula todas as fronteiras raciais, linguísticas, culturais e religiosas, mas vai ainda mais longe e dilata a extensão do mandamento do amor até alcançar os próprios inimigos. Para Jesus, não basta amar aquele que está próximo, aquele a quem me sinto ligado por laços étnicos ou familiares, mas o amor deve atingir todos, sem excepção, inclusive os inimigos. Fica assim abolida qualquer discriminação. São abatidas todas as barreiras (todas as desculpas) que podem separar os homens.

A expressão final, «sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito», parafraseia a frase que encontrámos na primeira leitura, «sede santos porque Eu, o vosso Deus, sou santo». Esta expressão é o fundamento que motiva os ensinamentos que Jesus apresentou com estes seis exemplos (os quatro do passado domingo e os dois de hoje): viver na dinâmica do “Reino” exige a superação de uma perspectiva legalista e casuística, pois a nossa fé não é uma lista de mandamentos ou de preceitos religiosos. A nossa fé é uma pessoa: Jesus Cristo. E a comunhão com Deus está ao nosso alcance, não quando seguimos um conjunto de regras, mas quando abraçamos a Sua lógica e testemunhamos o Seu amor.




*Mahatma Gandhi (1869-1948)


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sábado, 12 de fevereiro de 2011

VI DOMINGO DO TEMPO COMUM (ano A)



Leitura do Livro de Ben-Sirá
(Sir 15, 16-21 [15-20])
Se quiseres, guardarás os mandamentos: ser-lhe fiel depende da tua vontade. Deus pôs diante de ti o fogo e a água: estenderás a mão para o que desejares. Diante do homem estão a vida e a morte: o que ele escolher, isso lhe será dado. Porque é grande a sabedoria do Senhor, Ele é forte e poderoso e vê todas as coisas. Seus olhos estão sobre aqueles que O temem, Ele conhece todas as coisas do homem. Não mandou a ninguém fazer o mal, nem deu licença a ninguém de cometer o pecado.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 118 (119)
Refrão: Ditoso o que anda na lei do Senhor.

Felizes os que seguem o caminho perfeito
e andam na lei do Senhor.
Felizes os que observam as suas ordens
e O procuram de todo o coração.

Promulgastes os vossos preceitos
para se cumprirem fielmente.
Oxalá meus caminhos sejam firmes
na observância dos vossos decretos.

Fazei bem ao vosso servo:
viverei e cumprirei a vossa palavra.
Abri, Senhor, os meus olhos
para ver as maravilhas da vossa Lei.

Ensinai-me, Senhor, o caminho dos vossos decretos
para ser fiel até ao fim.
Dai-me entendimento para guardar a vossa lei
e para a cumprir de todo o coração.


Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
(1 Cor 2, 6-10)
Irmãos: Nós falamos de sabedoria entre os perfeitos, mas de uma sabedoria que não é deste mundo, nem dos príncipes deste mundo, que vão ser destruídos. Falamos da sabedoria de Deus, misteriosa e oculta, que já antes dos séculos Deus tinha destinado para a nossa glória. Nenhum dos príncipes deste mundo a conheceu; porque se a tivessem conhecido, não teriam crucificado o Senhor da glória. Mas, como está escrito, «nem os olhos viram, nem os ouvidos escutaram, nem jamais passou pelo pensamento do homem o que Deus preparou para aqueles que O amam». Mas a nós Deus o revelou por meio do Espírito Santo, porque o Espírito Santo penetra todas as coisas, até o que há de mais profundo em Deus.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 5,17-37)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim revogar, mas completar. Em verdade vos digo: Antes que passem o céu e a terra, não passará da Lei a mais pequena letra ou o mais pequeno sinal, sem que tudo se cumpra. Portanto, se alguém transgredir um só destes mandamentos, por mais pequenos que sejam, e ensinar assim aos homens, será o menor no reino dos Céus. Mas aquele que os praticar e ensinar será grande no reino dos Céus. Porque Eu vos digo: Se a vossa justiça não superar a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos Céus. Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Não matarás; quem matar será submetido a julgamento’. Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que se irar contra o seu irmão será submetido a julgamento. Quem chamar imbecil a seu irmão será submetido ao Sinédrio, e quem lhe chamar louco será submetido à geena de fogo. Portanto, se fores apresentar a tua oferta sobre o altar e ali te recordares que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar, vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão e vem depois apresentar a tua oferta. Reconcilia-te com o teu adversário, enquanto vais com ele a caminho, não seja caso que te entregue ao juiz, o juiz ao guarda, e sejas metido na prisão. Em verdade te digo: Não sairás de lá, enquanto não pagares o último centavo. Ouvistes que foi dito: ‘Não cometerás adultério’. Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que olhar para uma mulher desejando-a, já cometeu adultério com ela no seu coração. Se o teu olho é para ti ocasião de pecado, arranca-o e lança-o para longe de ti, pois é melhor perder-se um dos teus membros do que todo o corpo ser lançado na geena. E se a tua mão direita é para ti ocasião de pecado, corta-a e lança-a para longe de ti, porque é melhor que se perca um dos teus membros, do que todo o corpo ser lançado na geena. Também foi dito: ‘Quem repudiar sua mulher dê-lhe certidão de repúdio’. Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que repudiar sua mulher, salvo em caso de união ilegal, fá-la cometer adultério. Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Não faltarás ao que tiveres jurado, mas cumprirás os teus juramentos para com o Senhor’. Eu, porém, digo-vos que não jureis em caso algum: nem pelo Céu, que é o trono de Deus; nem pela terra, que é o escabelo dos seus pés; nem por Jerusalém, que é a cidade do grande Rei. Também não jures pela tua cabeça, porque não podes fazer branco ou preto um só cabelo. A vossa linguagem deve ser: ‘Sim, sim; não, não’. O que passa disto vem do Maligno».


«EU, PORÉM, DIGO-VOS…!»
Prosseguimos com a leitura do famoso “sermão da montanha” e entramos no corpo do discurso, onde o evangelista Mateus agrupa um conjunto de “ditos” de Jesus e propõe à comunidade cristã o novo código ético que deve guiar a vida de cada discípulo.

Na primeira parte do Evangelho, é-nos confirmado que Cristo não veio abolir a antiga Lei do monte Sinai. No entanto, aprendemos que um verdadeiro caminho de fé não pode ser reduzido à observância de algumas normas e regras. O ensinamento de Jesus supera esta visão rígida (e quase idolátrica) da Lei e convida-nos a uma verdadeira conversão e a uma nova atitude interior de compromisso autêntico com Deus. Na segunda parte do texto que nos é proposto, encontramos quatro exemplos concretos desta nova forma de entender a Lei (na realidade, no discurso de Jesus os exemplos são seis, mas os outros dois ficam para o próximo domingo).

A antiga Lei proíbe o homicídio e o adultério; prevê a possibilidade de divórcio e obriga que sejam respeitados apenas os compromissos selados com um juramento. Matar, trair, repudiar, jurar… Com a expressão «eu, porém, digo-vos…», que acompanha cada um destes exemplos, são introduzidos quatro novos ensinamentos que podemos muito brevemente sintetizar da seguinte maneira:

- Não basta “não matar”: é necessário cultivar o respeito absoluto pela vida e pela dignidade de cada pessoa.

- Não basta uma fidelidade sexual, mas devemos também esforçarmo-nos por purificar o nosso coração e os nossos pensamentos.

- Apesar dos nossos limites e fragilidades, é preciso continuar a acreditar no matrimónio cristão: não nos podemos simplesmente render à “solução” do divórcio.

- A necessidade de jurar implica a existência de um clima de desconfiança que é incompatível com o “Reino”. Entre os discípulos deve haver um tal clima de sinceridade e confiança que os simples “sim” e “não” são suficientes.

Estes quatro ensinamentos não podem porém ofuscar a mensagem mais importante: que a nossa justiça deve «superar a dos escribas e fariseus». Não podemos deixar que as leis (mesmo que sejam leis muito “sagradas”) se transformem num ídolo, num absoluto, ou que contribuam para escravizar o homem. Os mandamentos são os “sinais” que indicam o caminho que conduz à vida plena, mas não podemos aplicá-los fanaticamente (tal como faziam os escribas e fariseus) e nem condenar cegamente quem os quebra, pois isso seria trair o espírito cristão que deve animar a nossa Lei. A justiça de Deus não é cega, pois Ele vê e ama cada um de nós.


(Tenham uma boa semana!)



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sábado, 5 de fevereiro de 2011

V DOMINGO DO TEMPO COMUM (ano A)



Leitura do Livro do profeta Isaías
(Is 58, 7-10)
Eis o que diz o Senhor: «Reparte o teu pão com o faminto, dá pousada aos pobres sem abrigo, leva roupa ao que não tem que vestir e não voltes as costas ao teu semelhante. Então a tua luz despontará como a aurora e as tuas feridas não tardarão a sarar. Preceder-te-á a tua justice e seguir-te-á a glória do Senhor. Então, se chamares, o Senhor responderá, se O invocares, dir-te-á: “Aqui estou”. Se tirares do meio de ti a opressão, os gestos de ameaça e as palavras ofensivas, se deres do teu pão ao faminto e matares a fome ao indigente, a tua luz brilhará na escuridão e a tua noite será como o meio-dia».


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 111 (112)
Refrão: Para o homem recto nascerá uma luz no meio das trevas.

Brilha aos homens rectos, como luz nas trevas,
o homem misericordioso, compassivo e justo.
Ditoso o homem que se compadece e empresta
e dispõe das suas coisas com justiça.

Este jamais será abalado;
o justo deixará memória eterna.
Ele não receia más notícias:
seu coração está firme, confiado no Senhor.

O seu coração é inabalável, nada teme;
reparte com largueza pelos pobres,
a sua generosidade permanece para sempre
e pode levantar a cabeça com altivez.


Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
(1 Cor 2, 1-5)
Quando fui ter convosco, irmãos, não me apresentei com sublimidade de linguagem ou de sabedoria a anunciar-vos o mistério de Deus. Pensei que, entre vós, não devia saber nada senão Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado. Apresentei-me diante de vós cheio de fraqueza e de temor e a tremer deveras. A minha palavra e a minha pregação não se basearam na linguagem convincente da sabedoria humana, mas na poderosa manifestação do Espírito Santo, para que a vossa fé não se fundasse na sabedoria humana, mas no poder de Deus.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 5, 13-16)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Vós sois o sal da terra. Mas se ele perder a força, com que há-de salgar-se? Não serve para nada, senão para ser lançado fora e pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte; nem se acende uma lâmpada para a colocar debaixo do alqueire, mas sobre o candelabro, onde brilha para todos os que estão em casa. Assim deve brilhar a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai que está nos Céus».


ESPARGUETE À BOLONHESA (PARA 4 PESSOAS)

- 400 g de carne de vaca picada
- ½ chouriço
- 1 cebola grande
- 2 dentes de alho
- 60 g de margarina
- 1 lata pequena de tomate em pedaços
- 1 colher de sobremesa de manjericão fresco picado
- 350 gramas de esparguete
- Óleo
- Queijo parmesão ralado
- Uma pitada de sal e de pimenta

Estes são os ingredientes que me servem para o almoço de hoje. Não que eu seja um grande cozinheiro, mas seguindo direitinho as instruções de uma receita, normalmente não faço desastres. No Evangelho de hoje, Jesus compara-nos ao sal e até eu, que não sou um “Ás” da cozinha, sei que com o sal não é preciso exagerar. Ninguém quer comida insonsa, mas os pratos que já não conseguimos “corrigir” sãos os que ficaram demasiado salgados.

«Vós sois o sal». Com esta metáfora é definida a missão dos discípulos no mundo e o tipo de presença que a Igreja deve testemunhar. O mais importante não é sermos muitos, sermos maioria, sermos numerosos. O sal nunca é adicionado às mãos-cheias! O importante é “salgar” o mundo. Por vezes deprimimo-nos quando vemos que a uma actividade aderiram poucos paroquianos, no entanto o sucesso de uma iniciativa não depende (apenas) do número de participantes. Podemos ser muitos, mas insonsos! Podemos ser poucos… mas o importante é que sejamos sal!

Porém, “ser sal” não significa ostentar a própria fé ou perseguir lugares de visibilidade para que as massas nos admirem e aplaudam. A nossa missão é “dar sabor” ao mundo, questioná-lo, provocá-lo, testemunhar o Reino e ser uma interpelação profética. O nosso drama (pelo menos no Ocidente) é sermos um cristianismo sem Cristo, uma religião sem fé, um rito sem celebração. Um cristianismo cultural que se reduza a hábitos e tradições é incapaz de dar sabor à vida e serve apenas para «ser lançado fora».

Chegou o momento de abandonar a nossa insipidez! De sermos sal (e luz) para o mundo!
Como?
Não é complicado. Basta seguir as indicações que nos dá o profeta Isaías na primeira leitura…


Bom domingo, boa leitura e (para os que ainda vão almoçar) bom apetite!


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