sexta-feira, 30 de agosto de 2019

22º DOMINGO DO TEMPO COMUM (ano C)

Leitura do Livro do Ben-Sirá
(Sir 3,19-21.30-31)
Filho, em todas as tuas obras procede com humildade e serás mais estimado do que o homem generoso. Quanto mais importante fores, mais deves humilhar-te e encontrarás graça diante do Senhor. Porque é grande o poder do Senhor e os humildes cantam a sua glória. A desgraça do soberbo não tem cura, porque a árvore da maldade criou nele raízes. O coração do sábio compreende as máximas do sábio e o ouvido atento alegra-se com a sabedoria.


SALMO REPONSORIAL – Salmo 67 (68)
Refrão: Na vossa bondade, Senhor, preparastes uma casa para o pobre.

Os justos alegram-se na presença de Deus,
exultam e transbordam de alegria.
Cantai a Deus, entoai um cântico ao seu nome;
o seu nome é Senhor: exultai na sua presença.

Pai dos órfãos e defensor das viúvas,
é Deus na sua morada santa.
Aos abandonados Deus prepara uma casa,
conduz os cativos à liberdade.

Derramastes, ó Deus, uma chuva de bênçãos,
restaurastes a vossa herança enfraquecida.
A vossa grei estabeleceu-se numa terra
que a vossa bondade, ó Deus, preparara ao oprimido.


Leitura da Epístola aos Hebreus
(Heb 12,18-19.22-24a)
Irmãos: Vós não vos aproximastes de uma realidade sensível, como os israelitas no monte Sinai: o fogo ardente, a nuvem escura, as trevas densas ou a tempestade, o som da trombeta e aquela voz tão retumbante que os ouvintes suplicaram que não lhes falasse mais. Vós aproximastes-vos do monte Sião, da cidade do Deus vivo, a Jerusalém celeste, de muitos milhares de Anjos em reunião festiva, de uma assembleia de primogénitos inscritos no Céu, de Deus, juiz do universo, dos espíritos dos justos que atingiram a perfeição e de Jesus, mediador da nova aliança.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 14,1.7-14)
Naquele tempo, Jesus entrou, a um sábado, em casa de um dos principais fariseus para tomar uma refeição. Todos O observavam. Ao notar como os convidados escolhiam os primeiros lugares, Jesus disse-lhes esta parábola: «Quando fores convidado para um banquete nupcial, não tomes o primeiro lugar. Pode acontecer que tenha sido convidado alguém mais importante que tu; então, aquele que vos convidou a ambos, terá que te dizer: ‘Dá o lugar a este’; e ficarás depois envergonhado, se tiveres de ocupar o último lugar. Por isso, quando fores convidado, vai sentar-te no último lugar; e quando vier aquele que te convidou, dirá: ‘Amigo, sobe mais para cima’; ficarás então honrado aos olhos dos outros convidados. Quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado». Jesus disse ainda a quem O tinha convidado: «Quando ofereceres um almoço ou um jantar, não convides os teus amigos nem os teus irmãos, nem os teus parentes nem os teus vizinhos ricos, não seja que eles por sua vez te convidem e assim serás retribuído. Mas quando ofereceres um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos; e serás feliz por eles não terem com que retribuir-te: ser-te-á retribuído na ressurreição dos justos.


BOA NOTÍCIA
Etiqueta e boas maneiras
Apesar da mensagem ser muito mais profunda (e bonita!), o Evangelho do próximo Domingo parece, à primeira vista, uma simples lição de etiqueta e boas maneiras: «Quando fores convidado para um banquete nupcial, não tomes o primeiro lugar. Pode acontecer que tenha sido convidado alguém mais importante que tu; então, aquele que vos convidou a ambos, terá que te dizer: ‘Dá o lugar a este’; e ficarás depois envergonhado, se tiveres de ocupar o último lugar. Por isso, quando fores convidado, vai sentar-te no último lugar; e quando vier aquele que te convidou, dirá: ‘Amigo, sobe mais para cima’; ficarás então honrado aos olhos dos outros convidados. Quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado».

Obviamente, uma leitura mais atenta revelará a bonita catequese que esta página nos propõe: Jesus Cristo pretende ensinar aos seus discípulos a importância da humildade, da gratuidade e do amor desinteressado. Estas são atitudes fundamentais para quem quiser participar no banquete do “Reino”.

Contudo, não podemos negar uma certa ligação entre as boas maneiras e o espírito cristão. As boas maneiras envolvem normalmente duas coisas: senso comum e “sentido do outro”. Estes dois elementos (principalmente o segundo) estão em perfeita sintonia com os valores do Evangelho. As boas maneiras são, essencialmente, um instrumento que nos ajuda a cultivar a atenção que dedicamos aos outros. Ajudam-nos a receber bem e a tratar com delicadeza as pessoas que nos rodeiam. Caro leitor, que não haja ilusões: maus modos e má educação não são compatíveis com o Caminho do Senhor.

P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2019.08.30





domingo, 25 de agosto de 2019

21º DOMINGO DO TEMPO COMUM (ano C)

Leitura do Livro de Isaías
(Is 66,18-21)
Eis o que diz o Senhor: «Eu virei reunir todas as nações e todas as línguas, para que venham contemplar a minha glória. Eu lhes darei um sinal e de entre eles enviarei sobreviventes às nações: a Társis, a Fut, a Luc, a Mosoc, a Rós, a Tubal e a Java, às ilhas remotas que não ouviram falar de Mim nem contemplaram ainda a minha glória, para que anunciem a minha glória entre as nações. De todas as nações, como oferenda ao Senhor, eles hão-de reconduzir todos os vossos irmãos, em cavalos, em carros, em liteiras, em mulas e em dromedários, até ao meu santo monte, em Jerusalém – diz o Senhor – como os filhos de Israel trazem a sua oblação em vaso puro ao templo do Senhor. Também escolherei alguns deles para sacerdotes e levitas».


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 116 (117)
Refrão: Ide por todo o mundo, anunciai a boa nova.

Louvai o Senhor, todas as nações,
aclamai-O, todos os povos.

É firme a sua misericórdia para connosco,
a fidelidade do Senhor permanece para sempre.


Leitura da Epístola aos Hebreus
(Heb 12,5-7.11-13)
Irmãos: Já esquecestes a exortação que vos é dirigida, como a filhos que sois: «Meu filho, não desprezes a correcção do Senhor, nem desanimes quando Ele te repreende; porque o Senhor corrige aquele que ama e castiga aquele que reconhece como filho». É para vossa correcção que sofreis. Deus trata-vos como filhos. Qual é o filho a quem o pai não corrige? Nenhuma correcção, quando se recebe, é considerada como motivo de alegria, mas de tristeza. Mais tarde, porém, dá àqueles que assim foram exercitados um fruto de paz e de justiça. Por isso, levantai as vossas mãos fatigadas e os vossos joelhos vacilantes e dirigi os vossos passos por caminhos direitos, para que o coxo não se extravie, mas antes seja curado.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 13,22-30)
Naquele tempo, Jesus dirigia-Se para Jerusalém e ensinava nas cidades e aldeias por onde passava. Alguém Lhe perguntou: «Senhor, são poucos os que se salvam?» Ele respondeu: «Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, porque Eu vos digo que muitos tentarão entrar sem o conseguir. Uma vez que o dono da casa se levante e feche a porta, vós ficareis fora e batereis à porta, dizendo: ‘Abre-nos, senhor’; mas ele responder-vos-á: ‘Não sei donde sois’. Então começareis a dizer: ‘Comemos e bebemos contigo e tu ensinaste nas nossas praças’. Mas ele responderá: ‘Repito que não sei donde sois. Afastai-vos de mim, todos os que praticais a iniquidade’. Aí haverá choro e ranger de dentes, quando virdes no reino de Deus Abraão, Isaac e Jacob e todos os Profetas, e vós a serdes postos fora. Hão-de vir do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul, e sentar-se-ão à mesa do reino de Deus. Há últimos que serão dos primeiros e primeiros que serão dos últimos».


BOA NOTÍCIA
Domingo começamos a dieta!
No próximo domingo, Jesus propõe-nos a curiosa imagem da “porta estreita” e fala-nos das condições necessárias para entrar no Reino de Deus.

«Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, porque Eu vos digo que muitos tentarão entrar sem o conseguir».

Quem são aqueles que não entrarão? Normalmente respondemos: «São os outros», e nem sequer consideramos a hipótese de que se esteja a falar precisamente de nós. Nós… tão seguros da nossa idoneidade... da nossa elegância... e que sempre nos confortamos com a expressão «há pessoas bem piores (bem mais gordas) do que eu!».

A ideia da “porta estreita” é realmente sugestiva, mas não indica a necessidade de uma dieta permanente (obviamente, sem negar a importância de uma alimentação saudável e equilibrada). Existem toda uma série de fardos que “engordam” o homem e que o impedem de viver na lógica do “Reino”. Que fardos são esses? Por exemplo: o egoísmo, o orgulho, a riqueza, a ambição, o desejo de poder e de domínio… Tudo aquilo que impede o homem de embarcar numa lógica de serviço, de entrega, de amor, de partilha, de dom da vida. Tudo aquilo que impede a adesão ao “Reino”.

Para nós, “assumidamente” cristãos, esta página do Evangelho é extremamente importante... Jesus dizia que, no banquete do Reino de Deus, muitos apareceriam a dizer: «comemos e bebemos contigo e tu ensinaste nas nossas praças». Mas receberiam como resposta: «não sei de onde sois; afastai-vos de mim todos os que praticais a iniquidade». Este aviso toca de forma especial aqueles que conheceram bem Jesus, que se sentaram com Ele à mesa (da Eucaristia), que escutaram as suas palavras, que fizeram parte do conselho pastoral da paróquia, que foram fiéis guardiães das chaves da igreja ou dos cheques da conta bancária paroquial, que até, se calhar, se sentaram em tronos episcopais ou papais… mas que nunca se preocuparam em entrar pela “porta estreita” do serviço, da simplicidade, do amor, do dom da vida. Esses (e aqui Jesus é perfeitamente claro e objectivo) não terão lugar no “Reino”.

P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2019.08.23






sábado, 17 de agosto de 2019

20º DOMINGO DO TEMPO COMUM (ano C)

Leitura do Livro de Jeremias
(Jer 38, 4-6.8-10)
Naqueles dias, os ministros disseram ao rei de Judá: «Esse Jeremias deve morrer, porque semeia o desânimo entre os combatentes que ficaram na cidade e também todo o povo com as palavras que diz. Este homem não procura o bem do povo, mas a sua perdição». O rei Sedecias respondeu: «Ele está nas vossas mãos; o rei não tem poder para vos contrariar». Apoderaram-se então de Jeremias e, por meio de cordas, fizeram-no descer à cisterna do príncipe Melquias, situada no pátio da guarda. Na cisterna não havia água, mas apenas lodo, e Jeremias atolou-se no lodo. Entretanto, Ebed-Melec, o etíope, saiu do palácio e falou ao rei: «Ó rei, meu senhor, esses homens procederam muito mal tratando assim o profeta Jeremias: meteram-no na cisterna, onde vai morrer de fome, pois já não há pão na cidade». Então o rei ordenou a Ebed-Melec, o etíope: «Leva daqui contigo três homens e retira da cisterna o profeta Jeremias, antes que ele morra».


SALMO RESPONSORIAL - Salmo 39 (40), 2.3.4.18 (R. 14b)
Refrão: Senhor, socorrei-me sem demora.

Esperei no Senhor com toda a confiança
e Ele atendeu-me.
Ouviu o meu clamor
e retirou-me do abismo e do lamaçal,
assentou os meus pés na rocha
e firmou os meus passos.

Pôs em meus lábios um cântico novo,
um hino de louvor ao nosso Deus.
Vendo isto, muitos hão-de temer
e pôr a sua confiança no Senhor.

Eu sou pobre e infeliz:
Senhor, cuidai de mim.
Sois o meu protector e libertador:
ó meu Deus, não tardeis.


Leitura da Epístola aos Hebreus
(Hebr 12, 1-4)
Irmãos: Estando nós rodeados de tão grande número de testemunhas, ponhamos de parte todo o fardo e pecado que nos cerca e corramos com perseverança para o combate que se apresenta diante de nós, fixando os olhos em Jesus, guia da nossa fé e autor da sua perfeição. Renunciando à alegria que tinha ao seu alcance, Ele suportou a cruz, desprezando a sua ignomínia, e está sentado à direita do trono de Deus. Pensai n’Aquele que suportou contra Si tão grande hostilidade da parte dos pecadores, para não vos deixardes abater pelo desânimo. Vós ainda não resististes até ao sangue, na luta contra o pecado.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 12, 49-53)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Eu vim trazer o fogo à terra e que quero Eu senão que ele se acenda? Tenho de receber um baptismo e estou ansioso até que ele se realize. Pensais que Eu vim estabelecer a paz na terra? Não. Eu vos digo que vim trazer a divisão. A partir de agora, estarão cinco divididos numa casa: três contra dois e dois contra três. Estarão divididos o pai contra o filho e o filho contra o pai, a mãe contra a filha e a filha contra a mãe, a sogra contra a nora e a nora contra a sogra».


BOA NOTÍCIA
Da conversão à paz
No Evangelho do próximo domingo, Jesus compara a sua missão ao fogo: «Eu vim trazer o fogo à terra e que quero Eu senão que ele se acenda?» Menciona também as divisões que a sua missão provoca: «A partir de agora, estarão cinco divididos numa casa: três contra dois e dois contra três».

Poderíamos pensar que o anúncio destas divisões é a expressão de um pressentimento, mas não: infelizmente, Jesus fala por experiência. Recordemos, por exemplo, o episódio da sua visita a Nazaré. Depois de um primeiro momento de entusiasmo, os amigos de infância voltaram-se contra Ele, quando explicou que a sua missão superava as fronteiras de Israel: «Ao ouvirem estas palavras, todos, na sinagoga, se encheram de furor. E, erguendo-se, lançaram-no fora da cidade e levaram-no ao cimo do monte sobre o qual a cidade estava edificada, a fim de o precipitarem dali abaixo» (Lc 4,28-29). Esta não é a única situação em que Jesus encontrará a incompreensão e a oposição dos seus amigos e parentes. São João também escreveu: «nem sequer os seus irmãos acreditavam nele» (Jo 7,5). De facto, Jesus nunca escondeu que uma das condições para segui-Lo é a aceitação das possíveis rupturas: «Se alguém vem ter comigo e não me tem mais amor que ao seu pai, à sua mãe, à sua esposa, aos seus filhos, aos seus irmãos, às suas irmãs e até à própria vida, não pode ser meu discípulo» (Lc 14,26).

No entanto, é legítimo perguntarmo-nos: num mundo já marcado por tantas divisões, guerras e conflitos, o Messias não deveria trazer a paz?

O problema é que a paz não se obtém com um gesto de varinha mágica. Ela exige uma radical conversão do coração e é a essa conversão que muitos se opõem com violência. Se realmente somos discípulos de Jesus, isso significa que a chama do Espírito Santo arde nos nossos corações: cabe a nós “incendiar” o mundo, proclamar a Boa Nova e testemunhar a alegria da conversão.

P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2019.08.16





sexta-feira, 9 de agosto de 2019

19º DOMINGO DO TEMPO COMUM (ano C)

Leitura do Livro da Sabedoria
(Sab 18,6-9)
A noite em que foram mortos os primogénitos do Egipto foi dada previamente a conhecer aos nossos antepassados, para que, sabendo com certeza a que juramentos tinham dado crédito, ficassem cheios de coragem. Ela foi esperada pelo vosso povo, como salvação dos justos e perdição dos ímpios, pois da mesma forma que castigastes os adversários, nos cobristes de glória, chamando-nos para Vós. Por isso os piedosos filhos dos justos ofereciam sacrifícios em segredo e de comum acordo estabeleceram esta lei divina: que os justos seriam solidários nos bens e nos perigos; e começaram a cantar os hinos de seus antepassados.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 32 (33)
Refrão: Feliz o povo que o Senhor escolheu para sua herança.

Justos, aclamai o Senhor,
os corações rectos devem louvá-l’O.
Feliz a nação que tem o Senhor por seu Deus,
o povo que Ele escolheu para sua herança.

Os olhos do Senhor estão voltados para os que O temem,
para os que esperam na sua bondade,
para libertar da morte as suas almas
e os alimentar no tempo da fome.

A nossa alma espera o Senhor,
Ele é o nosso amparo e protector.
Venha sobre nós a vossa bondade,
porque em Vós esperamos, Senhor.


Leitura da Epístola aos Hebreus
(Heb 11,1-2.8-19)
Irmãos: A fé é a garantia dos bens que se esperam e a certeza das realidades que não se vêem. Ela valeu aos antigos um bom testemunho. Pela fé, Abraão obedeceu ao chamamento e partiu para uma terra que viria a receber como herança; e partiu sem saber para onde ia. Pela fé, morou como estrangeiro na terra prometida, habitando em tendas, com Isaac e Jacob, herdeiros, como ele, da mesma promessa, porque esperava a cidade de sólidos fundamentos, cujo arquitecto e construtor é Deus. Pela fé, também Sara recebeu o poder de ser mãe já depois de passada a idade, porque acreditou na fidelidade d’Aquele que lho prometeu. É por isso também que de um só homem - um homem que a morte já espreitava – nasceram descendentes tão numerosos como as estrelas do céu e como a areia que há na praia do mar. Todos eles morreram na fé, sem terem obtido a realização das promessas. Mas vendo-as e saudando-as de longe, confessaram que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra. Aqueles que assim falam mostram claramente que procuram uma pátria. Se pensassem na pátria de onde tinham saído, teriam tempo de voltar para lá. Mas eles aspiravam a uma pátria melhor, que era a pátria celeste. E como Deus lhes tinha preparado uma cidade, não Se envergonha de Se chamar seu Deus. Pela fé, Abraão, submetido à prova, ofereceu o seu filho único Isaac, que era o depositário das promessas, como lhe tinha sido dito: «Por Isaac será assegurada a tua descendência». Ele considerava que Deus pode ressuscitar os mortos; por isso, numa espécie de prefiguração, ele recuperou o seu filho.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 12,32-48)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Não temas, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o reino. Vendei o que possuís e dai-o em esmola. Fazei bolsas que não envelheçam, um tesouro inesgotável nos Céus, onde o ladrão não chega nem a traça rói. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração. Tende os rins cingidos e as lâmpadas acesas. Sede como homens que esperam o seu senhor voltar do casamento, para lhe abrirem logo a porta, quando chegar e bater. Felizes esses servos, que o senhor, ao chegar, encontrar vigilantes. Em verdade vos digo: cingir-se-á e mandará que se sentem à mesa e, passando diante deles, os servirá. Se vier à meia-noite ou de madrugada, felizes serão se assim os encontrar. Compreendei isto: se o dono da casa soubesse a que hora viria o ladrão, não o deixaria arrombar a sua casa. Estai vós também preparados, porque na hora em que não pensais virá o Filho do homem». Disse Pedro a Jesus: «Senhor, é para nós que dizes esta parábola, ou também para todos os outros?» O Senhor respondeu: «Quem é o administrador fiel e prudente que o senhor estabelecerá à frente da sua casa, para dar devidamente a cada um a sua ração de trigo? Feliz o servo a quem o senhor, ao chegar, encontrar assim ocupado. Em verdade vos digo que o porá à frente de todos os seus bens. Mas se aquele servo disser consigo mesmo: ‘o meu senhor tarda em vir’; e começar a bater em servos e servas, a comer, a beber e a embriagar-se, o senhor daquele servo chegará no dia em que menos espera e a horas que ele não sabe; ele o expulsará e fará que tenha a sorte dos infiéis. O servo que, conhecendo a vontade do seu senhor, não se preparou ou não cumpriu a sua vontade, levará muitas vergastadas. Aquele, porém, que, sem a conhecer, tenha feito acções que mereçam vergastadas, levará apenas algumas. A quem muito foi dado, muito será exigido; a quem muito foi confiado, mais se lhe pedirá».


BOA NOTÍCIA
Nunca roubei. Nunca matei.
O sacramento da confissão é uma autêntica “escola de humanidade”. Entre outras coisas, aprende-se que alguns fiéis precisam de comparar-se com quem erra: é quase como se tomassem vitaminas para a auto-estima!

«Sr. Padre, eu nunca roubei nem matei ninguém!» e dizendo isto, o próprio ego sobe até às estrelas, seguros de não se estar entre os piores do mundo. «Há pessoas bem piores do que eu!». Já viste que sorte? Mas esquecemo-nos que muitos criminosos, ladrões e assassinos, se tivessem nascido no seio da nossa família, se tivessem tido as oportunidades e os apoios que nós tivemos, também não teriam enveredado por maus caminhos ou cometido os crimes com que se mancharam.

A frase que “fecha” o Evangelho do próximo domingo é uma grande provocação para todos nós: «A quem muito foi dado, muito será exigido; a quem muito foi confiado, mais se lhe pedirá». Logicamente, a quem pouco foi dado, pouco será pedido. E há pessoas que nunca receberam nada.

Quanto é duro para um professor “adivinhar” o triste futuro de um aluno, consciente do quão será difícil “salvá-lo” do seu destino... porque ele nasceu naquela família, naquele bairro, naquele ambiente. E que grande alegria (e fonte de inspiração), quando alguém, que apenas conheceu miséria, sofrimento e pecado, emerge de toda essa “lama”, limpo, são e virtuoso. Nós, que recebemos muito, não podemos contentarmo-nos de não fazer o mal. Temos de trabalhar, perseverar, lutar pelo bem! «Feliz o servo a quem o Senhor, ao chegar, encontrar assim ocupado», pois não basta ser medianos: é preciso querer ser santos!

P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2019.08.09






sexta-feira, 2 de agosto de 2019

18º DOMINGO DO TEMPO COMUM (ano C)

Leitura do Livro de Coelet
(Co (Ecle) 1,2; 2,21-23)
Vaidade das vaidades – diz Coelet – vaidade das vaidades: tudo é vaidade. Quem trabalhou com sabedoria, ciência e êxito, tem de deixar tudo a outro que nada fez. Também isto é vaidade e grande desgraça. Mas então, que aproveita ao homem todo o seu trabalho e a ânsia com que se afadigou debaixo do sol? Na verdade, todos os seus dias são cheios de dores e os seus trabalhos cheios de cuidados e preocupações; e nem de noite o seu coração descansa. Também isto é vaidade.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 89 (90)
Refrão: Senhor, tendes sido o nosso refúgio através das gerações.

Vós reduzis o homem ao pó da terra
e dizeis: «Voltai, filhos de Adão».
Mil anos a vossos olhos são como o dia de ontem que passou
e como uma vigília da noite.

Vós os arrebatais como um sonho,
como a erva que de manhã reverdece;
de manhã floresce e viceja,
de tarde ela murcha e seca.

Ensinai-nos a contar os nossos dias,
para chegarmos à sabedoria do coração.
Voltai, Senhor! Até quando…
Tende piedade dos vossos servos.

Saciai-nos desde a manhã com a vossa bondade,
para nos alegrarmos e exultarmos todos os dias.
Desça sobre nós a graça do Senhor nosso Deus.
Confirmai, Senhor, a obra das nossas mãos.


Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Colossenses
(Col 3,1-5.9-11)
Irmãos: Se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra. Porque vós morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a vossa vida, Se manifestar, também vós vos haveis de manifestar com Ele na glória. Portanto, fazei morrer o que em vós é terreno: imoralidade, impureza, paixões, maus desejos e avareza, que é uma idolatria. Não mintais uns aos outros, vós que vos despojastes do homem velho com as suas acções e vos revestistes do homem novo, que, para alcançar a verdadeira ciência, se vai renovando à imagem do seu Criador. Aí não há grego ou judeu, circunciso ou incircunciso, bárbaro ou cita, escravo ou livre; o que há é Cristo, que é tudo e está em todos.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 12,13-21)
Naquele tempo, alguém, do meio da multidão, disse a Jesus: «Mestre, diz a meu irmão que reparta a herança comigo». Jesus respondeu-lhe: «Amigo, quem Me fez juiz ou árbitro das vossas partilhas?» Depois disse aos presentes: «Vede bem, guardai-vos de toda a avareza: a vida de uma pessoa não depende da abundância dos seus bens». E disse-lhes esta parábola: «O campo dum homem rico tinha produzido excelente colheita. Ele pensou consigo: ‘Que hei-de fazer, pois não tenho onde guardar a minha colheita? Vou fazer assim: Deitarei abaixo os meus celeiros para construir outros maiores, onde guardarei todo o meu trigo e os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: Minha alma, tens muitos bens em depósito para longos anos. Descansa, come, bebe, regala-te’. Mas Deus respondeu-lhe: ‘Insensato! Esta noite terás de entregar a tua alma. O que preparaste, para quem será?’ Assim acontece a quem acumula para si, em vez de se tornar rico aos olhos de Deus».


BOA NOTÍCIA
Mudam-se os tempos
Mudam-se os tempos, mas nem sempre se mudam as vontades... e a vontade de acumular riquezas, a preocupação de ter sempre mais e o medo de renunciar ao que quer que seja, são sentimentos tão actuais hoje quanto ontem, na Palestina Antiga. O problema das partilhas e das heranças não é uma questão moderna, mas já no tempo de Jesus era fonte de aborrecimentos e tensões entre familiares.

Se pensarmos bem, é quase paradoxal que isso aconteça, pois a partilha de uma herança pressupõe que a família viva um momento de luto. O falecimento de alguém não deveria ser a lição mais evidente do quanto é inútil todo este apegamento aos bens materiais? A constatação de que não levamos nada connosco para a túmulo não deveria suscitar em nós um são relativismo (e desinteresse) em relação às coisas materiais?

No Evangelho do próximo domingo, Jesus aproveita a deixa de um pedido de ajuda numa questão de heranças («Mestre, diz a meu irmão que reparta a herança comigo») para ir para lá daquele caso específico e propor, a quem o escuta, uma catequese sobre a justa relação que devemos estabelecer com os bens terrenos.

«O campo dum homem rico tinha produzido excelente colheita. Ele pensou consigo: (…) Deitarei abaixo os meus celeiros para construir outros maiores (…) Mas Deus respondeu-lhe: ‘Insensato! Esta noite terás de entregar a tua alma. O que preparaste, para quem será?’ (…)»

O que é que Ele pretende ensinar, ao contar a pequena parábola do homem rico? Convidar os seus discípulos a despojar-se de todos os bens? Ensinar aos seus seguidores que não devem preocupar-se com o futuro? Propor aos que aderem ao Reino uma existência de miséria, sem o necessário para uma vida minimamente digna e humana? Não. O que Jesus nos diz é que não podemos viver na escravatura do dinheiro e dos bens materiais, como se eles fossem a coisa mais importante da nossa vida.

O que Cristo condena não é a posse de bens materiais em sim, mas a deificação da riqueza. Nas nossas sociedades a forma mais comum de idolatria é a cobiça dos bens; o desejo insaciável de ter. “Insensato” é o nome que Deus dá àqueles que desperdiçam a vida buscando fortuna, sacrificando muitas vezes as relações familiares e até a própria saúde. Já uma vez aqui disse e volto a repetir: a pessoa mais rica não é a que tem muitas coisas, mas sim a que não precisa de nada.

P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2019.08.02




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