sábado, 25 de junho de 2011

SANTÍSSIMO CORPO E SANGUE DE CRISTO (ano A)



Leitura do Livro do Deuteronómio
(Deut 8, 2-3.14b-16a)
Moisés falou ao povo, dizendo: «Recorda-te de todo o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer durante quarenta anos no deserto, para te atribular e pôr à prova, a fim de conhecer o íntimo do teu coração e verificar se guardarias ou não os seus mandamentos. Atribulou-te e fez-te passar fome, mas deu-te a comer o maná que não conhecias nem teus pais haviam conhecido, para te fazer compreender que o homem não vive só de pão, mas de toda a palavra que sai da boca do Senhor. Não te esqueças do Senhor teu Deus, que te fez sair da terra do Egipto, da casa de escravidão, e te conduziu através do imenso e temível deserto, entre serpentes venenosas e escorpiões, terreno árido e sem águas. Foi Ele quem, da rocha dura, fez nascer água para ti e, no deserto, te deu a comer o maná, que teus pais não tinham conhecido».


SALMO RESPONSORIAL - Salmo 147, 12-13.14-15.19-20
Refrão: Jerusalém, louva o teu Senhor.

Glorifica, Jerusalém, o Senhor,
louva, Sião, o teu Deus.
Ele reforçou as tuas portas
e abençoou os teus filhos.

Estabeleceu a paz nas tuas fronteiras
e saciou-te com a flor da farinha.
Envia à terra a sua palavra,
corre veloz a sua mensagem.

Revelou a sua palavra a Jacob,
suas leis e preceitos a Israel.
Não fez assim com nenhum outro povo,
a nenhum outro manifestou os seus juízos.


Leitura da Primeira Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios
(1 Cor 10, 16-17)
Irmãos: Não é o cálice de bênção que abençoamos a comunhão com o Sangue de Cristo? Não é o pão que partimos a comunhão com o Corpo de Cristo? Visto que há um só pão, nós, embora sejamos muitos, formamos um só corpo, porque participamos do mesmo pão.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 6, 51-58)
Naquele tempo, disse Jesus à multidão: «Eu sou o pão vivo descido do Céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que Eu hei-de dar é a minha Carne, que Eu darei pela vida do mundo». Os judeus discutiam entre si: «Como pode Ele dar-nos a sua Carne a comer?». Jesus disse-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a Carne do Filho do homem e não beberdes o seu Sangue, não tereis a vida em vós. Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue tem a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia. A minha Carne é verdadeira comida e o meu Sangue é verdadeira bebida. Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue permanece em mim e Eu nele. Assim como o Pai, que vive, Me enviou, e Eu vivo pelo Pai, também aquele que Me come viverá por Mim. Este é o pão que desceu do Céu; não é como aquele que os vossos pais comeram, e morreram; quem comer deste pão viverá eternamente».


«O SENHOR ESTEJA CONVOSCO»
Em 1264, um sacerdote chamado Pietro da Praga celebrava a eucaristia na igreja de Santa Cristina, na cidade de Bolsena em Itália. A tradição diz-nos que ele atravessava um momento de grande crise espiritual e duvidava que Cristo estivesse realmente presente no pão e no vinho consagrados. Durante a missa, após a consagração, no momento da fracção da hóstia, padre Pietro pôde testemunhar um prodígio que, inicialmente, o assustou e confundiu profundamente: a hóstia que segurava entre as mãos transformou-se em carne humana de onde escorria sangue. A hóstia e o corporal de linho (manchado de sangue) foram levados então até à cidade de Orvieto, onde se encontrava o Papa Urbano IV. As relíquias deste milagre eucarístico ainda hoje são conservadas na catedral dessa belíssima cidade e no dia 8 de Setembro de 1264, sempre em Orvieto, foi promulgada, para toda a Igreja Católica, a festa que celebramos este domingo: a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo.*

As tradicionais procissões de Corpus Christi ou Corpus Domini, que se realizam neste dia em quase todas as paróquias, recordam o antigo e solene cortejo que acompanhou a trasladação das relíquias desde Bolsena até Orvieto. No entanto, a festa que hoje celebramos é muito mais que uma mera recordação daqueles factos milagrosos. Nesta solenidade somos convidados a reflectir sobre o significado profundo da Eucarística e o papel que este sacramento assume nas nossas vidas.

A festa de Corpus Christi (expressão latina que significa “Corpo de Cristo”) relembra-nos que, no pão e vinho consagrados, Jesus é presente não como uma “coisa”, mas como uma pessoa, como um “eu” que se doa a um “tu”. Trata-se de um verdadeiro encontro com alguém e portanto, de uma possibilidade concreta de comunhão entre pessoas. Ludwig Feuerbach, um famoso materialista ateu, escreveu que «o Homem é aquilo que come». Sem sabê-lo, este filósofo alemão deu-nos uma óptima definição da Eucaristia: graças a ela o homem pode converter-se naquilo de que se nutre, ou seja, no corpo de Cristo.

Na comunhão Jesus faz-se presente e pede-nos que essa presença se manifeste na nossa vida. Eis a Eucaristia! Certamente todos gostaríamos que as nossas assembleias fossem mais acolhedoras, que os nossos cânticos fossem mais afinados e que as nossas igrejas fossem mais hospitaleiras. Porém, o que realmente falta muitas vezes nas nossas missas é esta certeza arrebatadora da presença real do Senhor, pois quando essa fé é robusta e vigorosa, mesmo a celebração mais simples e “nua” torna-se um momento de alegria incomparável, pois o Senhor está connosco. Ele está no meio de nós.


(Tenham um bom domingo!)




* Tradicionalmente a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo celebra-se na quinta-feira após a Festa da Santíssima Trindade. Todavia, nalgumas nações, tais como França e Itália, onde foi eliminado o feriado nacional, esta solenidade é adiada para o domingo sucessivo.

Se a vossa paróquia celebra amanhã o 13º Domingo do Tempo Comum, deixo-vos aqui o excelente comentário do Padre Vítor Gonçalves a essa liturgia.

À PROCURA DA PALAVRA
“Quem perder a sua vida por minha causa, há-de encontrá-la.” Mt 10, 39

Perder para encontrar
Quem não brincou “às escondidas” quando era pequeno? Lembram-se que ganhava o último a ser encontrado, não era? A nossa relação com Deus parece-se, algumas vezes, com este jogo infantil em que Ele não desiste de nos procurar. As razões pelas quais nos escondemos de Deus, podem ser muitas, quase sempre marcadas por imagens distorcidas d’Ele. Mas aqui perde quem não se deixa encontrar, quem desenvolve estratégias para recusar esse encontro que pode mexer com a vida toda. Nas palavras de Jesus encontramos um permanente convite a rever os nossos critérios, a perder as seguranças fáceis e estabelecidas, e a confiar n’Ele como “meu Senhor e meu Deus” (na belíssima afirmação de fé de S. Tomé após a ressurreição).

“Perder? Nem a feijões!”, diz o futebolista Cristiano Ronaldo num anúncio televisivo. Nestes tempos de tantas perdas, e em que a mais dramática é a da esperança, é preciso rever o que entendemos por perder. Nem todas as vezes que perdemos algo isso é necessariamente o fim do mundo. Não é o correr da vida uma constante aprendizagem com as perdas de tempo, de oportunidades, de saúde, de coisas e de pessoas? Escolher é sempre perder aquilo que não se escolheu. Daí a importância da educação para ajudar a escolher melhor, a dar bons fundamentos às escolhas, a ser responsável com elas, particularmente quando surgem as dificuldades. Pois quanto mais importante a escolha, maiores as provas a superar! Educar para a vitória constante só produz frustração e desencanto, e é uma fonte de infelicidade. Pois, algumas vezes, perder é fundamental para encontrar algo maior, mais belo, mais essencial!

Perder uma certa imagem de si e dos outros, perder um projecto porque afinal não é aquilo que enche a alma, perder uma estrutura que é mais obstáculo do que ponte, são situações dolorosas. Mas o caminho da fé que Jesus aponta e percorre connosco baseia-se na verdade e na simplicidade. A verdade de que a vida tem o sinal da cruz e ela é sempre um sinal “mais” em tudo, um sinal que reclama doação e disponibilidade. A simplicidade de ser prático perante as dificuldades, de partir do real e perder o medo de errar ou de não fazer tudo certo.

“Repensar a pastoral da Igreja em Portugal” é um projecto proposto pelo Episcopado português que está em execução. O Cónego Carlos Paes partilhou, num caderno publicado, a sua resposta propondo 14 “passagens” ou saltos qualitativos da nossa presença cristã na sociedade. São verdadeiros convites a “perder para encontrar”. Perder conceitos e atitudes que estão gastos para dar um ou vários saltos em frente. E se toda a perda assusta ou entristece, gosto de lembrar que aquilo que Jesus mais insistiu com os discípulos foi que “perdessem o medo”!

Padre Vítor Gonçalves

in VOZ DA VERDADE 26.06.2011







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sábado, 18 de junho de 2011

SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE (ano A)



Leitura do Livro do Êxodo
(Ex 34,4b-6.8-9)
Naqueles dias, Moisés levantou-se muito cedo e subiu ao monte Sinai, como o Senhor lhe ordenara, levando nas mãos as tábuas de pedra. O Senhor desceu na nuvem, ficou junto de Moisés, que invocou o nome do Senhor. O Senhor passou diante de Moisés e proclamou: «O Senhor, o Senhor é um Deus clemente e compassivo, sem pressa para Se indignar e cheio de misericórdia e fidelidade». Moisés caiu de joelhos e prostrou-se em adoração. Depois disse: «Se encontrei, Senhor, aceitação a vossos olhos, digne-Se o Senhor caminhar no meio de nós. É certo que se trata de um povo de dura cerviz, mas Vós perdoareis os nossos pecados e iniquidades e fareis de nós a vossa herança».


SALMO RESPONSORIAL – Dan 3,52-256
Refrão: Digno é o Senhor de louvor e de glória para sempre.

Bendito sejais, Senhor, Deus dos nossos pais:
digno de louvor e de glória para sempre.
Bendito o vosso nome glorioso e santo:
digno de louvor e de glória para sempre.

Bendito sejais no templo santo da vossa glória:
digno de louvor e de glória para sempre.
Bendito sejais no trono da vossa realeza:
digno de louvor e de glória para sempre.

Bendito sejais, Vós que sondais os abismos
e estais sentados sobre os Querubins:
digno de louvor e de glória para sempre.
Bendito sejais no firmamento dos céus:
digno de louvor e de glória para sempre.


Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
(2 Cor 13,11-13)
Irmãos: Sede alegres, trabalhai pela vossa perfeição, animai-vos uns aos outros, tende os mesmos sentimentos, vivei em paz. E o Deus do amor e da paz estará convosco. Saudai-vos uns aos outros com o ósculo santo. Todos os santos vos saúdam. A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 3,16-18)
Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: «Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito, para que todo o homem que acredita n’Ele não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele. Quem acredita n’Ele não é condenado, mas quem não acredita n’Ele já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho Unigénito de Deus».


1+1+1=1?
Hoje, Festa da Santíssima Trindade, perguntemo-nos: porque é que nós cristãos acreditamos que Deus é Pai, Filho e Espírito Santo? Para tantas pessoas já é difícil acreditar na existência de Deus! Para quê complicar as coisas acrescentando essa fórmula misteriosa de que Ele é “uno e trino”; de que 1+1+1=1? Para além do mais, hoje em dia, várias pessoas renunciariam tranquilamente a essa fórmula trinitária, pois acreditam que assim se poderia dialogar mais facilmente com os judeus e os muçulmanos, cujos credos prevêem um Deus rigidamente único…

A verdade é que não podemos renunciar à Trindade. Porquê? Porque acreditamos que Deus é Amor! E isso significa, necessariamente, que ama. Mas não existe um amor vazio, que não seja dirigido a alguém. Pergunta-te: Deus ama quem, para que possamos defini-l’O “Amor”? Uma primeira resposta poderia ser esta: Deus ama os homens! Mas os homens existem há “apenas” alguns milhões de anos, não mais do que isso. Antes que surgissem os homens, Deus amava quem? Pois Ele não é “Amor” a partir de uma certa altura, mas sempre, desde sempre e para sempre. Talvez a resposta seja outra: Deus ama o cosmos, o universo! Mas tudo indica que o universo também só exista há “apenas” alguns biliões de anos. E antes? Deus amava quem? Não podemos dizer «amava-se a Ele mesmo!», porque isso não é amor, mas sim egoísmo, ou como dizem os psicólogos, narcisismo.

Eis então a resposta da revelação cristã: Deus é Amor porque, desde sempre, ama o Filho, o Verbo, com um amor infinito, que é o Espírito Santo. No acto de amar encontramos sempre três realidades ou sujeitos: quem ama, quem é amado e o amor que os une. A reflexão teológica serviu-se dos termos “natureza” ou “substância” para indicar em Deus a unidade e do termo “pessoa” para indicar a distinção. Por isso dizemos que a Santíssima Trindade é um único Deus em três pessoas distintas. No entanto, a doutrina trinitária não é um compromisso entre o monoteísmo e o politeísmo. Pelo contrário, é um progresso extraordinário que introduz na nossa concepção de Deus um elemento novo, dinâmico e fundamental: Deus é relação, diálogo, comunhão. É Amor.

Chegados aqui, temos de parar, porque (tal como já vimos há dois anos) a nossa linguagem finita e humana não consegue “dizer” o indizível, não conseguirá nunca definir completamente o mistério de Deus. Por outro lado, a solenidade que hoje celebramos não é um convite a decifrar o mistério que se esconde por detrás de “um Deus em três pessoas”, mas é um convite a contemplar o Deus que é amor, que é família, que é comunidade e que criou os homens para os fazer comungar nesse mistério de amor.



(Tenham uma boa semana!)


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SOLENIDADE DE PENTECOSTES (ano A)



Leitura dos Actos dos Apóstolos
(Actos 2,1-11)
Quando chegou o dia de Pentecostes, os Apóstolos estavam todos reunidos no mesmo lugar. Subitamente, fez-se ouvir, vindo do Céu, um rumor semelhante a forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde se encontravam. Viram então aparecer uma espécie de línguas de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que se exprimissem. Residiam em Jerusalém judeus piedosos, procedentes de todas as nações que há debaixo do céu. Ao ouvir aquele ruído, a multidão reuniu-se e ficou muito admirada, pois cada qual os ouvia falar na sua própria língua. Atónitos e maravilhados, diziam: «Não são todos galileus os que estão a falar? Então, como é que os ouve cada um de nós falar na sua própria língua? Partos, medos, elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília, do Egipto e das regiões da Líbia, vizinha de Cirene, colonos de Roma, tanto judeus como prosélitos, cretenses e árabes, ouvimo-los proclamar nas nossas línguas as maravilhas de Deus».


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 103 (104)
Refrão: Mandai, Senhor, o vosso Espíritoe renovai a terra.

Bendiz, ó minha alma, o Senhor.
Senhor, meu Deus, como sois grande!
Como são grandes, Senhor, as vossas obras!
A terra está cheia das vossas criaturas.

Se lhes tirais o alento, morrem
e voltam ao pó donde vieram.
Se mandais o vosso espírito, retomam a vida
e renovais a face da terra.

Glória a Deus para sempre!
Rejubile o Senhor nas suas obras.
Grato Lhe seja o meu canto
e eu terei alegria no Senhor.


Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
(1 Cor 12,3b-7.12-13)
Irmãos: Ninguém pode dizer «Jesus é o Senhor» a não ser pela acção do Espírito Santo. De facto, há diversidade de dons espirituais, mas o Senhor é o mesmo. Há diversas operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. Em cada um se manifestam os dons do Espírito para o bem comum. Assim como o corpo é um só e tem muitos membros e todos os membros, apesar de numerosos, constituem um só corpo, assim também sucede com Cristo. Na verdade, todos nós - judeus e gregos, escravos e homens livres - fomos baptizados num só Espírito, para constituirmos um só Corpo. E a todos nos foi dado a beber um único Espírito.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 20,19-23)
Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes serão retidos».


Homilia de Bento XVI na Solenidade de Pentecostes, 12 de Junho de 2011

«(...) o Espírito Criador de todas as coisas e o Espírito Santo que Cristo fez descer do Pai sobre a comunidade dos discípulos são um e o mesmo: criação e redenção pertencem-se reciprocamente e constituem, em profundidade, um único mistério de amor e de salvação. O Espírito Santo é, antes de tudo, o Espírito Criador e, portanto, Pentecostes é a festa da criação. Para nós, cristãos, o mundo é fruto de um acto de amor de Deus (...). A expressão "Jesus é o Senhor" pode-se ler nos dois sentidos. Significa: Jesus é Deus, e contemporaneamente: Deus é Jesus. O Espírito Santo ilumina esta reciprocidade: Jesus tem dignidade divina, e Deus tem o rosto humano de Jesus».

«(...) da desordem de Babel, daquelas vozes que se chocam uma contra a outra, acontece uma radical transformação: a multiplicidade faz-se multiforme unidade, do poder unificador da Verdade cresce a compreensão».

«(...) o Espírito Santo anima a Igreja. Ela não deriva da vontade humana, da reflexão, da habilidade do homem e da sua capacidade organizativa, posto que se assim fosse já há tempos estaria extinta, assim como passa cada coisa humana. Ela é, ao contrário, o Corpo de Cristo, animado pelo Espírito Santo».

«Quando São Lucas fala de línguas de fogo para representar o Espírito Santo, relembra aquele antigo Pacto, estabelecido com base na Lei recebida por Israel sobre o Sinai. Assim, o evento de Pentecostes é representado como um novo Sinai, como o dom de um novo Pacto em que a aliança com Israel é estendida a todos os povos da Terra (...)».

«A extensão do Pacto a todos os povos da Terra é representada por São Lucas através de um elenco de populações consideráveis para aquela época (cf. At 2,9-11). Com isso, é-nos dita uma coisa muito importante: que a Igreja é católica desde o primeiro momento, que a sua universalidade não é o fruto da inclusão sucessiva de diversas comunidades. Desde o primeiro instante, de facto, o Espírito Santo criou-a como a Igreja de todos os povos; essa abraça o mundo inteiro, supera todas as fronteiras de raça, classe, nação; abate todas as barreiras e une os homens na profissão do Deus uno e trino. Desde o início a Igreja é una, católica e apostólica: essa é a sua verdadeira natureza e como tal deve ser reconhecida. Ela é santa, não graças à capacidade dos seus membros, mas porque Deus mesmo, com o seu Espírito, cria-a, purifica-a e santifica-a sempre».

Papa Bento XVI



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sábado, 4 de junho de 2011

ASCENSÃO DO SENHOR (ano A)



Leitura dos Actos dos Apóstolos
(Actos 1,1-11)
No meu primeiro livro, ó Teófilo, narrei todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar, até ao dia em que foi elevado ao Céu, depois de ter dado, pelo Espírito Santo, as suas instruções aos Apóstolos que escolhera. Foi também a eles que, depois da sua paixão, Se apresentou vivo com muitas provas, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando-lhes do reino de Deus. Um dia em que estava com eles à mesa, mandou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, «do Qual - disse Ele - Me ouvistes falar. Na verdade, João baptizou com água; vós, porém, sereis baptizados no Espírito Santo, dentro de poucos dias». Aqueles que se tinham reunido começaram a perguntar: «Senhor, é agora que vais restaurar o reino de Israel?» Ele respondeu-lhes: «Não vos compete saber os tempos ou os momentos que o Pai determinou com a sua autoridade; mas recebereis a força do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém e em toda a Judeia e na Samaria e até aos confins da terra». Dito isto, elevou-Se à vista deles e uma nuvem escondeu-O a seus olhos. E estando de olhar fito no Céu, enquanto Jesus Se afastava, apresentaram-se-lhes dois homens vestidos de branco, que disseram: «Homens da Galileia, porque estais a olhar para o Céu? Esse Jesus, que do meio de vós foi elevado para o Céu, virá do mesmo modo que O vistes ir para o Céu».


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 46 (47)
Refrão: Por entre aclamações e ao som da trombeta, ergue-Se Deus, o Senhor.

Povos todos, batei palmas,
aclamai a Deus com brados de alegria,
porque o Senhor, o Altíssimo, é terrível,
o Rei soberano de toda a terra.

Deus subiu entre aclamações,
o Senhor subiu ao som da trombeta.
Cantai hinos a Deus, cantai,
cantai hinos ao nosso Rei, cantai.

Deus é Rei do universo:
cantai os hinos mais belos.
Deus reina sobre os povos,
Deus está sentado no seu trono sagrado.


Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Efésios
(Ef 1,17-23)
Irmãos: O Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda um espírito de sabedoria e de luz para O conhecerdes plenamente e ilumine os olhos do vosso coração, para compreenderdes a esperança a que fostes chamados, os tesouros de glória que encerra a sua herança entre os santos e a incomensurável grandeza que representa o seu poder para nós os crentes. Assim o mostra a eficácia da poderosa força que exerceu em Cristo, que Ele ressuscitou dos mortos e colocou à sua direita nos Céus, acima de todo o Principado, Poder, Virtude e Soberania, acima de todo o nome que é pronunciado, não só neste mundo, mas também no mundo que há de vir. Tudo submeteu aos seus pés e pô-1'O acima de todas as coisas como Cabeça de toda a Igreja, que é o seu Corpo, a plenitude d’Aquele que preenche tudo em todos.


Conclusão do santo Evangelho segundo São Mateus.
(Mt 28,16-20)
Naquele tempo, os onze discípulos partiram para a Galileia, em direcção ao monte que Jesus lhes indicara. Quando O viram, adoraram-n’O; mas alguns ainda duvidaram. Jesus aproximou-Se e disse-lhes: «Todo o poder Me foi dado no Céu e na terra. Ide e ensinai todas as nações, baptizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a cumprir tudo o que vos mandei. Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos».


FESTA?
A Ascensão é realmente uma festa ou é uma tristeza? No evangelho e na primeira leitura deste Domingo encontramos duas descrições do encontro final entre Jesus e os seus discípulos. Um evento que, à primeira vista, não deveria dar azo a grandes celebrações: Cristo regressou ao Pai.

Quem se pode alegrar, se perdemos a presença material, visível de Jesus? Não era melhor se Ele tivesse ficado connosco para sempre? Se ainda hoje pudéssemos escutar a Sua voz ou olhar o Seu sorriso? A alegria proposta na liturgia deste Domingo é uma alegria difícil de entender...

A Ascensão é a última prova de que Deus, em Jesus, assumiu realmente e plenamente a nossa humanidade. Uma humanidade que se caracteriza por uma série de limites, sendo um deles o limite do tempo. Neste mundo ninguém vive para sempre. Uma regra que nem mesmo o mistério da Incarnação pôde quebrar. Jesus vence a morte, mas a sua presença tem de se transformar porque os homens (e Cristo era verdadeiramente homem) podem experimentar a eternidade somente quando juntos a Deus Pai. Em Cristo, Deus assumiu profundamente a nossa humanidade e por isso não podia negar-se esta última experiência, tipicamente humana, que caracteriza a nossa existência terrena: a experiência da separação, da distância e da saudade.

Mas a Ascensão é verdadeiramente festa! O mistério do “regresso ao Pai” significa a dilatação máxima do Amor de Cristo, sem limites de tempo ou de espaço: «Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos». Jesus não nos abandonou e nem sequer está longe. Junto a Deus Pai e através da acção do Espírito Santo, Cristo acompanha a Sua Igreja e nunca abandona o Seu rebanho. Ele é o “Emanuel”, “Deus-connosco”, que acompanhará, a par e passo, a caminhada dos Seus discípulos pela história.

No entanto, celebrar a ascensão de Jesus significa, antes de mais, tomar consciência da vocação que nos foi confiada: Ele deixou aos seus discípulos a missão de anunciar o “Reino” e de torná-lo uma proposta capaz de renovar e de transformar o mundo. Estamos conscientes de que a Igreja tem que ser, no meio dos homens, a presença libertadora e salvadora de Jesus Cristo? Concretamente, como é que procuramos testemunhar o “Reino” na nossa vida de todos os dias?

Como? Onde? Quando?



(Tenham uma boa semana!)




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