sexta-feira, 29 de abril de 2022

3º DOMINGO DA PÁSCOA – ANO C

Leitura dos Actos dos Apóstolos
(Actos 5,27b-32.40b-41)
Naqueles dias, o sumo sacerdote falou aos Apóstolos, dizendo: «Já vos proibimos formalmente de ensinar em nome de Jesus; e vós encheis Jerusalém com a vossa doutrina e quereis fazer recair sobre nós o sangue desse homem». Pedro e os Apóstolos responderam: «Deve obedecer-se antes a Deus que aos homens. O Deus dos nossos pais ressuscitou Jesus, a quem vós destes a morte, suspendendo-O no madeiro. Deus exaltou-O pelo seu poder, como Chefe e Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento e o perdão dos pecados. E nós somos testemunhas destes factos, nós e o Espírito Santo que Deus tem concedido àqueles que Lhe obedecem». Então os judeus mandaram açoitar os Apóstolos, intimando-os a não falarem no nome de Jesus, e depois soltaram-nos. Os Apóstolos saíram da presença do Sinédrio cheios de alegria, por terem merecido serem ultrajados por causa do nome de Jesus.
 
 
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 29 (30)
Refrão: Eu vos louvarei, Senhor, porque me salvastes.
 
Eu Vos glorifico, Senhor, porque me salvastes
e não deixastes que de mim se regozijassem os inimigos.
Tirastes a minha alma da mansão dos mortos,
vivificastes-me para não descer à cova.
 
Cantai salmos ao Senhor, vós os seus fiéis,
e dai graças ao seu nome santo.
A sua ira dura apenas um momento
e a sua benevolência a vida inteira.
Ao cair da noite vêm as lágrimas
e ao amanhecer volta a alegria.
 
Ouvi, Senhor, e tende compaixão de mim,
Senhor, sede Vós o meu auxílio.
Vós convertestes em júbilo o meu pranto:
Senhor meu Deus, eu Vos louvarei eternamente.
 
 
Leitura do Livro do Apocalipse
(Ap 5,11-14)
Eu, João, na visão que tive, ouvi a voz de muitos Anjos, que estavam em volta do trono, dos Seres Vivos e dos Anciãos. Eram miríades de miríades e milhares de milhares, que diziam em voz alta: «Digno é o Cordeiro que foi imolado de receber o poder e a riqueza, a sabedoria e a força, a honra, a glória e o louvor». E ouvi todas as criaturas que há no céu, na terra, debaixo da terra e no mar, e o universo inteiro, exclamarem: «Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro o louvor e a honra, a glória e o poder pelos séculos dos séculos». Os quatro Seres Vivos diziam: «Ámen!»; e os Anciãos prostraram-se em adoração.
 
 
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 21,1-19)
Naquele tempo, Jesus manifestou-Se outra vez aos seus discípulos, junto do mar de Tiberíades. Manifestou-Se deste modo: Estavam juntos Simão Pedro e Tomé, chamado Dídimo, Natanael, que era de Caná da Galileia, os filhos de Zebedeu e mais dois discípulos de Jesus. Disse-lhes Simão Pedro: «Vou pescar». Eles responderam-lhe: «Nós vamos contigo». Saíram de casa e subiram para o barco, mas naquela noite não apanharam nada. Ao romper da manhã, Jesus apresentou-Se na margem, mas os discípulos não sabiam que era Ele. Disse-lhes Jesus: «Rapazes, tendes alguma coisa de comer?» Eles responderam: «Não». Disse-lhes Jesus: «Lançai a rede para a direita do barco e encontrareis». Eles lançaram a rede e já mal a podiam arrastar por causa da abundância de peixes. O discípulo predilecto de Jesus disse a Pedro: «É o Senhor». Simão Pedro, quando ouviu dizer que era o Senhor, vestiu a túnica que tinha tirado e lançou-se ao mar. Os outros discípulos, que estavam apenas a uns duzentos côvados da margem, vieram no barco, puxando a rede com os peixes. Quando saltaram em terra, viram brasas acesas com peixe em cima, e pão. Disse-lhes Jesus: «Trazei alguns dos peixes que apanhastes agora». Simão Pedro subiu ao barco e puxou a rede para terra, cheia de cento e cinquenta e três grandes peixes; e, apesar de serem tantos, não se rompeu a rede. Disse-lhes Jesus: «Vinde comer». Nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar-Lhe: «Quem és Tu?», porque bem sabiam que era o Senhor. Jesus aproximou-Se, tomou o pão e deu-lho, fazendo o mesmo com os peixes. Esta foi a terceira vez que Jesus Se manifestou aos seus discípulos, depois de ter ressuscitado dos mortos. Depois de comerem, Jesus perguntou a Simão Pedro: «Simão, filho de João, tu amas-Me mais do que estes?» Ele respondeu-Lhe: «Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo». Disse-lhe Jesus: «Apascenta os meus cordeiros». Voltou a perguntar-lhe segunda vez: «Simão, filho de João, tu amas-Me?» Ele respondeu-Lhe: «Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo». Disse-lhe Jesus: «Apascenta as minhas ovelhas». Perguntou-lhe pela terceira vez: «Simão, filho de João, tu amas-Me?» Pedro entristeceu-se por Jesus lhe ter perguntado pela terceira vez se O amava e respondeu-Lhe: «Senhor, Tu sabes tudo, bem sabes que Te amo». Disse-lhe Jesus: «Apascenta as minhas ovelhas. Em verdade, em verdade te digo: Quando eras mais novo, tu mesmo te cingias e andavas por onde querias; mas quando fores mais velho, estenderás a mão e outro te cingirá e te levará para onde não queres». Jesus disse isto para indicar o género de morte com que Pedro havia de dar glória a Deus. Dito isto, acrescentou: «Segue-Me».
 
 
BOA NOTÍCIA
«Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo»
Vivemos o tempo da Páscoa! Cristo Ressuscitou! No entanto, no Evangelho do próximo domingo, encontramos Simão Pedro ainda triste... Não consegue esquecer aquele momento em que lhe faltou a coragem e, cobardemente, negou três vezes o seu Mestre: «Não o conheço». É Páscoa, mas não para Pedro. Para ele (e para muitos de nós) não mudou nada. Jesus está vivo, glorioso, ressuscitado, mas o apóstolo continua prisioneiro dos seus erros, dos próprios limites, do próprio fracasso. Regressa ao mar, ao barco e à pesca como se os últimos três anos nunca tivessem acontecido. Como se a aventura com o jovem carpinteiro da Galileia tivesse terminado no momento da negação.
 
Depois de uma noite de pesca infrutífera, o velho pescador prepara-se para regressar à margem. Na praia, um “desconhecido” chama e convida-o a lançar de novo as redes, que imediatamente se enchem de peixes. Naquele momento, Pedro reconhece Jesus! Impulsivo e cheio de entusiasmo, lança-se à água, mas quando finalmente chega à praia, lembra-se… recorda os seus erros… e permanece em silêncio.
 
Jesus pergunta-lhe: «Tu amas-Me?»
 
A Páscoa de Pedro começa neste momento, com a resposta sincera a esta simples questão. Pedro achava que a Igreja era a comunidade dos fortes, dos irrepreensíveis, dos perfeitos! O diálogo com Jesus ensina-lhe que a Igreja é a casa dos perdoados, do Amor, dos que foram salvos pela misericórdia do Pai. Agora sim, Pedro pode anunciar o perdão! Porque foi perdoado. Pode testemunhar o Amor! Porque sabe que é amado. Está finalmente pronto para guiar e confirmar os irmãos na fé! Porque compreendeu que não caminha sozinho e que Jesus estará sempre ao seu lado.
 
P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2022.04.29



 

sábado, 23 de abril de 2022

DOMINGO DA DIVINA MISERICÓRDIA – ANO C

Leitura dos Actos dos Apóstolos
(Act 4,32-35)
A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma; ninguém chamava seu ao que lhe pertencia, mas tudo entre eles era comum. Os Apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus com grande poder e gozavam todos de grande simpatia. Não havia entre eles qualquer necessitado, porque todos os que possuíam terras ou casas vendiam-nas e traziam o produto das vendas, que depunham aos pés dos Apóstolos. Distribuía-se então a cada um conforme a sua necessidade.
 
 
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 117 (118)
Refrão: Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom, porque é eterna a sua misericórdia.
 
Diga a casa de Israel:
é eterna a sua misericórdia.
Diga a casa de Aarão:
é eterna a sua misericórdia.
Digam os que temem o Senhor:
é eterna a sua misericórdia.
 
A mão do Senhor fez prodígios,
A mão do Senhor foi magnífica.
Não morrerei, mas hei-de viver,
para anunciar as obras do Senhor.
Com dureza me castigou o Senhor,
mas não me deixou morrer.
 
A pedra que os construtores rejeitaram
tornou-se pedra angular.
Tudo isto veio do Senhor:
é admirável aos nossos olhos.
Este é o dia que o Senhor fez:
exultemos e cantemos de alegria.
 
 
Leitura da Primeira Epístola de São João
(1 Jo 5,1-6)
Caríssimos: Quem acredita que Jesus é o Messias, nasceu de Deus, e quem ama Aquele que gerou ama também Aquele que nasceu d’Ele. Nós sabemos que amamos os filhos de Deus quando amamos a Deus e cumprimos os seus mandamentos, porque o amor de Deus consiste em guardar os seus mandamentos. E os seus mandamentos não são pesados, porque todo o que nasceu de Deus vence o mundo. Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. Quem é o vencedor do mundo senão aquele que acredita que Jesus é o Filho de Deus? Este é o que veio pela água e pelo sangue: Jesus Cristo; não só com a água, mas com a água e o sangue. É o Espírito que dá testemunho, porque o Espírito é a verdade.
 
 
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 20,19-31)
Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhe-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes serão retidos». Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor». Mas ele respondeu-lhes: «Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado, não acreditarei». Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa, e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, apresentou-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». Depois disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente». Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!» Disse-lhe Jesus: «Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto». Muitos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome.
 
 
BOA NOTÍCIA
«Vê as minhas mãos»
A missão dos apóstolos de anunciar a Ressurreição não começa nada bem… A primeira pessoa que tentam convencer é São Tomé e a sua resposta é famosa: «Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado, não acreditarei».
 
O relato deste episódio (que escutaremos no Evangelho do próximo domingo, dia 24) é um convite a reflectir sobre os desafios enormes da evangelização e as frustrações que poderão provir: se Tomé (um dos doze apóstolos, que viveu e seguiu Jesus durante três anos) inicialmente não acredita sem ver, que esperança podia cultivar a Igreja nascente de evangelizar/converter o mundo?
 
Podemos considerar esta página como mais um exemplo da honestidade do Evangelho que não esconde as dificuldades do anúncio e a incredulidade que frequentemente o acompanhará.
 
Felizmente, este episódio revela-nos também uma outra verdade ainda mais importante: a evangelização não depende apenas dos nossos esforços! Cristo caminha com a sua Igreja (ontem, hoje e sempre) e o Espírito Santo enriquece-a com diversos dons e carismas. Aliás, é Ele que sopra nos corações dos fiéis aquele mesmo espírito de missão que animava o próprio Cristo.
 
A fé é realmente dom de Deus, mas isso não significa, obviamente, desresponsabilizar-se. Implica porém aceitar a natureza da nossa missão: não somos chamados a “recolher os frutos”; somos chamados a semear, semear sempre! E tal como nos recorda o Papa Francisco, o elemento mais importante do anúncio da fé é este: «que os cristãos demonstrem vivê-la concretamente, através do amor, da concórdia, da alegria».
 
P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2022.04.22



 
 

sexta-feira, 15 de abril de 2022

DOMINGO DE PÁSCOA – ANO C

Leitura dos Actos dos Apóstolos
(Act 10,34.37-43)
Naqueles dias, Pedro tomou a palavra e disse: «Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do baptismo que João pregou: Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré, que passou fazendo o bem e curando a todos os que eram oprimidos pelo Demónio, porque Deus estava com Ele. Nós somos testemunhas de tudo o que Ele fez no país dos judeus e em Jerusalém; e eles mataram-n’O, suspendendo-O na cruz. Deus ressuscitou-O ao terceiro dia e permitiu-Lhe manifestar-Se, não a todo o povo, mas às testemunhas de antemão designadas por Deus, a nós que comemos e bebemos com Ele, depois de ter ressuscitado dos mortos. Jesus mandou-nos pregar ao povo e testemunhar que Ele foi constituído por Deus juiz dos vivos e dos mortos. É d’Ele que todos os profetas dão o seguinte testemunho: quem acredita n’Ele recebe pelo seu nome a remissão dos pecados.
 
 
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 117 (118)
Refrão: Este é o dia que o Senhor fez: exultemos e cantemos de alegria.
 
Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom,
porque é eterna a sua misericórdia.
Diga a casa de Israel:
é eterna a sua misericórdia.
 
A mão do Senhor fez prodígios,
a mão do Senhor foi magnífica.
Não morrerei, mas hei-de viver
para anunciar as obras do Senhor.
 
A pedra que os construtores rejeitaram
tornou-se pedra angular.
Tudo isto veio do Senhor:
é admirável aos nossos olhos.
 
 
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Colossenses
(Col 3,1-4)
Irmãos: Se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra. Porque vós morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a vossa vida, Se manifestar, também vós vos haveis de manifestar com Ele na glória.
 
 
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 20,1-9)
No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi de manhãzinha, ainda escuro, ao sepulcro e viu a pedra retirada do sepulcro. Correu então e foi ter com Simão Pedro e com o discípulo predilecto de Jesus e disse-lhes: «Levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde O puseram». Pedro partiu com o outro discípulo e foram ambos ao sepulcro. Corriam os dois juntos, mas o outro discípulo antecipou-se, correndo mais depressa do que Pedro, e chegou primeiro ao sepulcro. Debruçando-se, viu as ligaduras no chão, mas não entrou. Entretanto, chegou também Simão Pedro, que o seguira. Entrou no sepulcro e viu as ligaduras no chão e o sudário que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não com as ligaduras, mas enrolado à parte. Entrou também o outro discípulo que chegara primeiro ao sepulcro: viu e acreditou. Na verdade, ainda não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos.
 
 
BOA NOTÍCIA
O sepulcro vazio
Durante semanas meditámos parábolas e ensinamentos de Jesus, mas no próximo domingo, Domingo de Páscoa, é-nos proposto um texto onde Jesus não fala, não aparece, não está presente. Somos confrontados com a realidade do sepulcro vazio e convidados a dar aquele último salto (de fé) necessário para nos reconhecermos como cristãos.
 
O que significa o sepulcro vazio? Os soldados que o guardavam não viram ninguém roubar o corpo... Os panos de linho e o sudário foram deixados no chão (se eram ladrões, qual o interesse em desnudar o cadáver?)... Mas o que realmente nos deve interpelar é o comportamento dos apóstolos.
 
A Bíblia conta-nos que apenas um discípulo e algumas mulheres estiveram presentes no momento da crucifixão: os restantes apóstolos, vencidos pelo medo, preferiram esconder-se e nem sequer presenciaram o momento da morte de Jesus. Mas a uma certa altura, eis que algo muda. Os apóstolos saem para a rua. Sem medo! E anunciam a todos que Jesus não está morto, ressuscitou! Estes homens, fracos e cobardes, transformam-se em testemunhas corajosas e destemidas. Enfrentam prisões, torturas e até a morte, mas não retractam o próprio anúncio e não calam a própria voz. «Jesus é o Messias! Não está morto. Ressuscitou!»
 
A ressurreição permanecerá sempre uma questão de fé. Mas não podemos negar que, após inúmeras provas de fragilidade e cobardia, algo (ou alguém) alterou profundamente a vida dos apóstolos, transformando-os nos maiores missionários que o mundo conheceu até hoje. Como podemos explicar esta transformação radical? O que será que lhes aconteceu? Quem será que viram? O que é que vocês acham?
 
P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2022.04.15



 
 

sexta-feira, 8 de abril de 2022

DOMINGO DE RAMOS – ANO C

Leitura do Livro de Isaías
(Is 50,4-7)
O Senhor deu-me a graça de falar como um discípulo, para que eu saiba dizer uma palavra de alento aos que andam abatidos. Todas as manhãs Ele desperta os meus ouvidos, para eu escutar, como escutam os discípulos. O Senhor Deus abriu-me os ouvidos e eu não resisti nem recuei um passo. Apresentei as costas àqueles que me batiam e a face aos que me arrancavam a barba; não desviei o meu rosto dos que me insultavam e cuspiam. Mas o senhor Deus veio em meu auxílio, e por isso não fiquei envergonhado; tornei o meu rosto duro como pedra, e sei que não ficarei desiludido.
 
 
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 21 (22)
Refrão: Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?
 
Todos os que me vêem escarnecem de mim,
estendem os lábios e meneiam a cabeça:
«Confiou no Senhor, Ele que o livre,
Ele que o salve, se é seu amigo».
 
Matilhas de cães me rodearam,
cercou-me um bando de malfeitores.
Trespassaram as minhas mãos e os meus pés,
posso contar todos os meus ossos.
 
Repartiram entre si as minhas vestes
e deitaram sortes sobre a minha túnica.
Mas Vós, Senhor, não Vos afasteis de mim,
sois a minha força, apressai-Vos a socorrer-me.
 
Hei-de falar do vosso nome aos meus irmãos,
hei-de louvar-Vos no meio da assembleia.
Vós, que temeis o Senhor, louvai-O,
glorificai-O, vós todos os filhos de Jacob,
reverenciai-O, vós todos os filhos de Israel.
 
 
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses
(Filip 2,6-11)
Cristo Jesus, que era de condição divina, não Se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio. Assumindo a condição de servo, tornou-Se semelhante aos homens. Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte e morte de cruz. Por isso Deus O exaltou e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus todos se ajoelhem no céu, na terra e nos abismos, e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.
 
 
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 22,14-23,56)
[Lido utilizando três leitores: N = narrador; J = Jesus; R = restantes personagens]
 
N Quando chegou a hora, Jesus sentou-Se à mesa com os seus Apóstolos e disse-lhes:
 
J «Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa, antes de padecer; pois digo-vos que não tornarei a comê-la, até que se realize plenamente no reino de Deus».
 
N Então, tomando um cálice, deu graças e disse:
 
J «Tomai e reparti entre vós, pois digo-vos que não tornarei a beber do fruto da videira, até que venha o reino de Deus».
 
N Depois tomou o pão e, dando graças, partiu-o e deu-lho, dizendo:
 
J «Isto é o meu corpo entregue por vós. Fazei isto em memória de Mim».
 
N No fim da ceia, fez o mesmo com o cálice, dizendo:
 
J «Este cálice é a nova aliança no meu Sangue, derramado por vós. Entretanto, está comigo à mesa a mão daquele que Me vai entregar. O Filho do homem vai partir, como está determinado. Mas ai daquele por quem Ele vai ser entregue!»
 
N Começaram então a perguntar uns aos outros qual deles iria fazer semelhante coisa. Levantou-se também entre eles uma questão: qual deles se devia considerar o maior? Disse-lhes Jesus:
 
J «Os reis da nações exercem domínio sobre elas e os que têm sobre elas autoridade são chamados malfeitores. Vós não deveis proceder desse modo. O maior entre vós seja como o menor e aquele que manda seja como quem serve. Pois quem é o maior: o que está à mesa ou o que serve? Não é o que está à mesa? Ora Eu estou no meio de vós como aquele que serve. Vós estivestes sempre comigo nas minhas provações. E Eu preparo para vós um reino, como meu Pai o preparou para Mim: comereis e bebereis à minha mesa, no meu reino, e sentar-vos-eis em tronos, a julgar as doze tribos de Israel. Simão, Simão, Satanás vos reclamou para vos agitar na joeira como trigo. Mas Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça. E tu, uma vez convertido, fortalece os teus irmãos».
 
N Pedro respondeu-Lhe:
 
R «Senhor, eu estou pronto a ir contigo, até para a prisão e para a morte».
 
N Disse-lhe Jesus:
 
J «Eu te digo, Pedro: não cantará hoje o galo, sem que tu, por três vezes, negues conhecer-Me».
 
N Depois acrescentou:
 
J «Quando vos enviei sem bolsa nem alforge nem sandálias, faltou-vos alguma coisa?».
 
N Eles responderam que não lhes faltara nada. Disse-lhes Jesus:
 
J «Mas agora, quem tiver uma bolsa pegue nela, bem como no alforge; e quem não tiver espada venda a capa e compre uma. Porque Eu vos digo que se deve cumprir em Mim o que está escrito: ‘Foi contado entre os malfeitores’. Na verdade, o que Me diz respeito está a chegar ao fim».
 
N Eles disseram:
 
R «Senhor, estão aqui duas espadas».
 
N Mas Jesus respondeu:
 
J «Basta».
 
N Então saiu e foi, como de costume, para o Monte das Oliveiras e os discípulos acompanharam-n’O. Quando chegou ao local, disse-lhes:
 
J «Orai, para não entrardes em tentação».
 
N Depois afastou-Se deles cerca de um tiro de pedra e, pondo-Se de joelhos, começou a orar, dizendo:
 
J «Pai, se quiseres, afasta de Mim este cálice. Todavia, não se faça a minha vontade, mas a tua».
 
N Então apareceu-Lhe um Anjo, vindo do Céu, para O confortar. Entrando em angústia, orava mais instantemente e o suor tornou-se-Lhe como grossas gotas de sangue, que caíam na terra. Depois de ter orado, levantou-Se e foi ter com os discípulos, que encontrou a dormir, por causa da tristeza. Disse-lhes Jesus:
 
J «Porque estais a dormir? Levantai-vos e orai, para não entrardes em tentação».
 
N Ainda Ele estava a falar, quando apareceu uma multidão de gente. O chamado Judas, um dos Doze, vinha à sua frente e aproximou-se de Jesus, para O beijar. Disse-lhe Jesus:
 
J «Judas, é com um beijo que entregas o Filho do homem?»
 
N Ao verem o que ia suceder, os que estavam com Jesus perguntaram-Lhe:
 
R «Senhor, vamos feri-los à espada?»
 
N E um deles feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. Mas Jesus interveio, dizendo:
 
J «Basta! Deixai-os».
 
N E, tocando na orelha do homem, curou-o. Disse então Jesus aos que tinham vindo ao seu encontro, príncipes dos sacerdotes, oficiais do templo e anciãos:
 
J «Vós saístes com espadas e varapaus, como se viésseis ao encontro dum salteador. Eu estava todos os dias convosco no templo e não Me deitastes as mãos. Mas esta é a vossa hora e o poder das trevas.
 
N Apoderaram-se então de Jesus, levaram-n’O e introduziram-n’O em casa do sumo sacerdote. Pedro seguia-os de longe. Acenderam uma fogueira no meio do pátio, sentaram-se em volta dela e Pedro foi sentar-se no meio deles. Ao vê-lo sentado ao lume, uma criada, fitando os olhos nele, disse:
 
R «Este homem também andava com Jesus».
 
N Mas Pedro negou:
 
R «Não O conheço, mulher».
 
N Pouco depois, disse outro, ao vê-lo:
 
R «Tu também és um deles».
 
N Mas Pedro disse:
 
R «Homem, não sou».
 
N Passada mais ou menos uma hora, afirmava outro com insistência:
 
R «Esse homem, com certeza, também andava com Jesus, pois até é galileu».
 
N Pedro respondeu:
 
R «Homem, não sei o que dizes».
 
N Nesse instante – ainda ele falava – um galo cantou. O Senhor voltou-Se e fitou os olhos em Pedro. Então Pedro lembrou-se da palavra do Senhor, quando lhe disse:‘Antes do galo cantar, Me negarás três vezes’. E, saindo para fora, chorou amargamente. Entretanto, os homens que guardavam Jesus troçavam d’Ele e maltratavam-n’O. Cobrindo-Lhe o rosto, perguntavam-Lhe:
 
R «Adivinha, profeta: Quem te bateu?»
 
N E dirigiam-Lhe muitos outros insultos. Ao romper do dia, reuniu-se o conselho dos anciãos do povo, os príncipes dos sacerdotes e os escribas. Levaram-n’O ao seu tribunal e disseram-Lhe:
 
R «Diz-nos se Tu és o Messias».
 
N Jesus respondeu-lhes:
 
J «Se Eu vos disser, não acreditareis e, se fizer alguma pergunta, não respondereis. Mas o Filho do homem sentar-Se-á doravante à direita do poder de Deus».
 
N Disseram todos:
 
R «Tu és então o Filho de Deus?»
 
N Jesus respondeu-lhes:
 
J «Vós mesmos dizeis que Eu sou».
 
N Então exclamaram:
 
R «Que necessidade temos ainda de testemunhas? Nós próprios o ouvimos da sua boca».
 
N Levantaram-se todos e levaram Jesus a Pilatos. Começaram a acusá-l’O, dizendo:
 
R «Encontrámos este homem a sublevar o nosso povo, a impedir que se pagasse o tributo a César e dizendo ser o Messias-Rei».
 
N Pilatos perguntou-Lhe:
 
R «Tu és o Rei dos judeus?»
 
N Jesus respondeu-lhe:
 
J «Tu o dizes».
 
N Pilatos disse aos príncipes dos sacerdotes e à multidão:
 
R «Não encontro nada de culpável neste homem».
 
N Mas eles insistiam:
 
R «Amotina o povo, ensinando por toda a Judeia, desde a Galileia, onde começou, até aqui».
 
N Ao ouvir isto, Pilatos perguntou se o homem era galileu; e, ao saber que era da jurisdição de Herodes, enviou-O a Herodes, que também estava nesses dias em Jerusalém. Ao ver Jesus, Herodes ficou muito satisfeito. Havia bastante tempo que O queria ver, pelo que ouvia dizer d’Ele, e esperava que fizesse algum milagre na sua presença. Fez-Lhe muitas perguntas, mas Ele nada respondeu. Os príncipes dos sacerdotes e os escribas que lá estavam acusavam-n’O com insistência. Herodes, com os seus oficiais, tratou-O com desprezo e, por troça, mandou-O cobrir com um manto magnífico e remeteu-O a Pilatos. Herodes e Pilatos, que eram inimigos, ficaram amigos nesse dia. Pilatos convocou os príncipes dos sacerdotes, os chefes e o povo, e disse-lhes:
 
R «Trouxestes este homem à minha presença como agitador do povo. Interroguei-O diante de vós e não encontrei n’Ele nenhum dos crimes de que O acusais. Herodes também não, uma vez que no-l’O mandou de novo. Como vedes, não praticou nada que mereça a morte. Vou, portanto, soltá-l’O, depois de O mandar castigar».
 
N Pilatos tinha obrigação de lhes soltar um preso por ocasião da festa. E todos se puseram a gritar:
 
R «Mata Esse e solta-nos Barrabás».
 
N Barrabás tinha sido metido na cadeia por causa de uma insurreição desencadeada na cidade e por assassínio. De novo Pilatos lhes dirigiu a palavra, querendo libertar Jesus. Mas eles gritavam:
 
R «Crucifica-O! Crucifica-O!»
 
N Pilatos falou-lhes pela terceira vez:
 
R Mas que mal fez este homem? Não encontrei n’Ele nenhum motivo de morte. Por isso vou soltá-l’O, depois de O mandar castigar».
 
N Mas eles continuavam a gritar, pedindo que fosse crucificado, e os seus clamores aumentavam de violência. Então Pilatos decidiu fazer o que eles pediam: soltou aquele que fora metido na cadeia por insurreição e assassínio, como eles reclamavam, e entregou-lhes Jesus para o que eles queriam.
 
N Quando o conduziam, lançaram mão de um certo Simão de Cirene, que vinha do campo, e puseram-lhe a cruz às costas, para a levar atrás de Jesus. Seguia-O grande multidão de povo e mulheres que batiam no peito e se lamentavam, chorando por Ele. Mas Jesus voltou-Se para elas e disse-lhes:
 
J «Filhas de Jerusalém, não choreis por Mim; chorai antes por vós mesmas e pelos vossos filhos; pois dias virão em que se dirá: ‘Felizes as estéreis, os ventres que não geraram e os peitos que não amamentaram’. Começarão a dizer aos montes: ‘Caí sobre nós’; e às colinas: ‘Cobri-nos’. Porque, se tratam assim a madeira verde, que acontecerá à seca?».
 
N Levavam ainda dois malfeitores para serem executados com Jesus. Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, crucificaram-n’O a Ele e aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda. Jesus dizia:
 
J «Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem».
 
N Depois deitaram sortes, para repartirem entre si as vestes de Jesus. O povo permanecia ali a observar. Por sua vez, os chefes zombavam e diziam:
 
R «Salvou os outros: salve-Se a Si mesmo, se é o Messias de Deus, o Eleito».
 
N Também os soldados troçavam d’Ele; aproximando-se para Lhe oferecerem vinagre, diziam:
 
R «Se és o Rei dos judeus, salva-Te a Ti mesmo».
 
N Por cima d’Ele havia um letreiro: «Este é o rei dos judeus». Entretanto, um dos malfeitores que tinham sido crucificados insultava-O, dizendo:
 
R «Não és Tu o Messias? Salva-Te a Ti mesmo e a nós também».
 
N Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o:
 
R «Não temes a Deus, tu que sofres o mesmo suplício? Quanto a nós, fez-se justiça, pois recebemos o castigo das nossas más acções. Mas Ele nada praticou de condenável».
 
N E acrescentou:
 
R «Jesus, lembra-Te de mim, quando vieres com a tua realeza».
 
N Jesus respondeu-lhe:
 
J «Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no Paraíso».
 
N Era já quase meio-dia, quando as trevas cobriram toda a terra, até às três horas da tarde, porque o sol se tinha eclipsado. O véu do templo rasgou-se ao meio. E Jesus exclamou com voz forte:
 
J «Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito».
 
N Dito isto, expirou. Vendo o que sucedera, o centurião deu glória a Deus, dizendo:
 
R «Realmente este homem era justo».
 
N E toda a multidão que tinha assistido àquele espectáculo, ao ver o que se passava, regressava batendo no peito. Todos os conhecidos de Jesus, bem como as mulheres que O acompanhavam desde a Galileia, mantinham-se à distância, observando estas coisas.
 
N Havia um homem chamado José, da cidade de Arimateia, que era pessoa recta e justa e esperava o reino de Deus. Era membro do Sinédrio, mas não tinha concordado com a decisão e o proceder dos outros. Foi ter com Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. E depois de o ter descido da cruz, envolveu-o num lençol e depositou-o num sepulcro escavado na rocha, onde ninguém ainda tinha sido sepultado. Era o dia da Preparação e começavam a aparecer as luzes do sábado. Entretanto, as mulheres que tinham vindo com Jesus da Galileia acompanharam José e observaram o sepulcro e a maneira como fora depositado o corpo de Jesus. No regresso, prepararam aromas e perfumes. E no sábado guardaram o descanso, conforme o preceito.
 
 
BOA NOTÍCIA
Testemunhas da Paixão
A liturgia do próximo domingo (Domingo de Ramos!) propõe-nos o relato da Paixão de Cristo. Em toda a história da humanidade não encontramos outro episódio que tenha inspirado tantas obras de arte quanto este Evangelho, que nos convida a percorrer os passos que do cenáculo, passando pelo Monte das Oliveiras, pela casa do sumo-sacerdote e pelo pretório romano, levaram Jesus até ao Calvário e, finalmente, ao túmulo escavado na rocha.
 
É óbvio que, por motivo de espaço, não se pode falar de tudo, mas como posso não mencionar o drama de Pedro, que nega conhecer Jesus, e esquecer aquele momento em que os dois cruzam o olhar? Ou não comentar as reacções de Pilatos, Herodes, Simão de Cirene, das mulheres de Jerusalém, dos malfeitores, do centurião romano…?
 
Este Evangelho não é “apenas” o relato das últimas horas de Jesus: é também a história de todos aqueles que presenciaram a Sua prisão, processo e morte. No fundo, é a nossa história! É o espelho onde nos reconhecemos nas várias personagens que estiveram junto a Cristo, desde o momento da última ceia até ao enterro do Seu corpo sem vida.
 
O protagonista da Paixão é um só: Jesus Cristo. Mas a Paixão é algo que todos testemunhamos; que todos nós vivemos. Diante do episódio desconcertante do Filho de Deus que morre na cruz, alguns ainda hoje exclamam: «Não O conheço». Outros dizem: «Salva-te a Ti mesmo e a nós também». Mas poucos conseguem entender que a morte é o culminar da Sua vida; é a afirmação última, porém mais radical e mais verdadeira (porque escrita com sangue), daquilo que Jesus pregou com palavras e com gestos: o amor total, o perdão sincero, o dom sem limites.
 
P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2022.04.08



 
 

sexta-feira, 1 de abril de 2022

5º DOMINGO DO TEMPO DA QUARESMA - ANO C

Leitura do livro de Isaías
(Is 43,16-21)
O Senhor abriu outrora caminhos através do mar, veredas por entre as torrentes das águas. Pôs em campanha carros e cavalos, um exército de valentes guerreiros; e todos caíram para não mais se levantarem, extinguiram-se como um pavio que se apaga. Eis o que diz o Senhor: «Não vos lembreis mais dos acontecimentos passados, não presteis atenção às coisas antigas. Olhai: vou realizar uma coisa nova, que já começa a aparecer; não a vedes? Vou abrir um caminho no deserto, fazer brotar rios na terra árida. Os animais selvagens – chacais e avestruzes – proclamarão a minha glória, porque farei brotar água no deserto, rios na terra árida, para matar a sede ao meu povo escolhido, o povo que formei para Mim e que proclamará os meus louvores».
 
 
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 125 (126)
Refrão: Grandes maravilhas fez por nós o Senhor.
 
Quando o Senhor fez regressar os cativos de Sião,
parecia-nos viver um sonho.
Da nossa boca brotavam expressões de alegria
e de nossos lábios cânticos de júbilo.
 
Diziam então os pagãos:
«O Senhor fez por eles grandes coisas».
Sim, grandes coisas fez por nós o Senhor,
estamos exultantes de alegria.
 
Fazei regressar, Senhor, os nossos cativos,
como as torrentes do deserto.
Os que semeiam em lágrimas
recolhem com alegria.
 
À ida, vão a chorar,
levando as sementes;
à volta, vêm a cantar,
trazendo os molhos de espigas.
 
 
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses
(Filip 3,8-14)
Irmãos: Considero todas as coisas como prejuízo, comparando-as com o bem supremo, que é conhecer Jesus Cristo, meu Senhor. Por Ele renunciei a todas as coisas e considerei tudo como lixo, para ganhar a Cristo e n’Ele me encontrar, não com a minha justiça que vem da Lei, mas com a que se recebe pela fé em Cristo, a justiça que vem de Deus e se funda na fé. Assim poderei conhecer Cristo, o poder da sua ressurreição e a participação nos seus sofrimentos, configurando-me à sua morte, para ver se posso chegar à ressurreição dos mortos. Não que eu tenha já chegado à meta, ou já tenha atingido a perfeição. Mas continuo a correr, para ver se a alcanço, uma vez que também fui alcançado por Cristo Jesus. Não penso, irmãos, que já o tenha conseguido. Só penso numa coisa: esquecendo o que fica para trás, lançar-me para a frente, continuar a correr para a meta, em vista do prémio a que Deus, lá do alto, me chama em Cristo Jesus.
 
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 8,1-11)
Naquele tempo, Jesus foi para o Monte das Oliveiras. Mas de manhã cedo, apareceu outra vez no templo, e todo o povo se aproximou d’Ele. Então sentou-Se e começou a ensinar. Os escribas e os fariseus apresentaram a Jesus uma mulher surpreendida em adultério, colocaram-na no meio dos presentes e disseram a Jesus: «Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério. Na Lei, Moisés mandou-nos apedrejar tais mulheres. Tu que dizes?». Falavam assim para Lhe armarem uma cilada e terem pretexto para O acusar. Mas Jesus inclinou-Se e começou a escrever com o dedo no chão. Como persistiam em interrogá-l’O, ergueu-Se e disse-lhes: «Quem de entre vós estiver sem pecado atire a primeira pedra». Inclinou-Se novamente e continuou a escrever no chão. Eles, porém, quando ouviram tais palavras, foram saindo um após outro, a começar pelos mais velhos, e ficou só Jesus e a mulher, que estava no meio. Jesus ergueu-Se e disse-lhe: «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?». Ela respondeu: «Ninguém, Senhor». Disse então Jesus: «Nem Eu te condeno. Vai e não tornes a pecar».
 
 
BOA NOTÍCA
Miséria e Misericórdia
O Evangelho do próximo domingo, dia 3, é uma das páginas mais dramáticas e comoventes do Novo Testamento. Os escribas e fariseus arrastam uma mulher, surpreendida em flagrante adultério, até que ela caia junto aos pés de Jesus. «Tu que dizes?» Os olhos do povo fixam-se sobre Ele. Se perdoa, desrespeita a lei hebraica; se a condena à morte, viola a lei romana (a única que podia sentenciar a pena capital).
 
Os ânimos exaltam-se; os escribas e fariseus atiçam a multidão e exigem uma resposta de Jesus. Num ambiente hostil em que todos gritam e ninguém escuta, Ele faz algo que capta a (nossa) atenção e abranda o ritmo frenético do episódio: inclina-se e começa a escrever com o dedo na areia. Jesus abaixa-se (como que para estar mais perto daquela mulher que agoniza no chão) e reflecte. O verdadeiro sentido da Lei (que o “dedo” de Deus escreveu um dia na pedra) está para ser revelado. E tudo começa com o gesto de um dedo que escreve na areia.
 
«Quem de entre vós estiver sem pecado atire a primeira pedra». Tal como dizia santo Agostinho, «ficaram só os dois: a miséria e a misericórdia»; a mulher e Jesus. A Lei (r)escrita permanece intacta, mas ao mesmo tempo, radicalmente transformada. O único sem pecado, que poderia condenar a mulher, prefere salvá-la, distinguindo para sempre o pecado do pecador. A lógica de Deus não é uma lógica de morte, mas uma lógica de vida! A proposta que Deus nos faz não passa pela eliminação dos que erram, mas por um convite à vida nova, à libertação de tudo o que oprime e escraviza. E destruir ou matar em nome de Deus é uma ofensa inqualificável ao Senhor da vida e do amor, que apenas deseja a realização plena do homem.
 
P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2022.04.01



 
 

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