sábado, 27 de fevereiro de 2010

2º DOMINGO DO TEMPO DA QUARESMA (ano C)



Leitura do Livro do Génesis
(Gen 15,5-12.17-18)
Naqueles dias, Deus levou Abrão para fora de casa e disse-lhe: «Olha para o céu e conta as estrelas, se as puderes contar». E acrescentou: «Assim será a tua descendência». Abrão acreditou no Senhor, o que lhe foi atribuído em conta de justiça. Disse-lhe Deus: «Eu sou o Senhor que te mandou sair de Ur dos caldeus, para te dar a posse desta terra». Abrão perguntou: «Senhor, meu Deus, como saberei que a vou possuir?» O Senhor respondeu-lhe: «Toma uma vitela de três anos, uma cabra de três anos e um carneiro de três anos, uma rola e um pombinho». Abrão foi buscar todos esses animais, cortou-os ao meio e pôs cada metade em frente da outra metade; mas não cortou as aves. Os abutres desceram sobre os cadáveres, mas Abrão pô-los em fuga. Ao pôr do sol, apoderou-se de Abrão um sono profundo, enquanto o assaltava um grande e escuro terror. Quando o sol desapareceu e caíram as trevas, um brasido fumegante e um archote de fogo passaram entre os animais cortados. Nesse dia, o Senhor estabeleceu com Abrão uma aliança, dizendo: «Aos teus descendentes darei esta terra, desde o rio do Egipto até ao grande rio Eufrates».


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 26 (27)
Refrão: O Senhor é a minha luz e a minha salvação.

O Senhor é minha luz e salvação:
a quem hei-de temer?
O Senhor é protector da minha vida:
de quem hei-de ter medo?

Ouvi, Senhor, a voz da minha súplica,
tende compaixão de mim e atendei-me.
Diz-me o coração: «Procurai a sua face».
A vossa face, Senhor, eu procuro.

Não escondais de mim o vosso rosto,
nem afasteis com ira o vosso servo.
Não me rejeiteis nem abandoneis,
meu Deus e meu Salvador.

Espero vir a contemplar a bondade do Senhor
na terra dos vivos.
Confia no Senhor, sê forte.
Tem coragem e confia no Senhor.


Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses
(Filip 3,17-4,1)
Irmãos: Sede meus imitadores e ponde os olhos naqueles que procedem segundo o modelo que tendes em nós. Porque há muitos, de quem tenho falado várias vezes e agora falo a chorar, que procedem como inimigos da cruz de Cristo. O fim deles é a perdição: têm por deus o ventre, orgulham-se da sua vergonha e só apreciam as coisas terrenas. Mas a nossa pátria está nos Céus, donde esperamos, como Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará o nosso corpo miserável, para o tornar semelhante ao seu corpo glorioso, pelo poder que Ele tem de sujeitar a Si todo o universo. Portanto, meus amados e queridos irmãos, minha alegria e minha coroa, permanecei firmes no Senhor.


Evangelho de Nosso senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 9,28b-36)
Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, João e Tiago e subiu ao monte, para orar. Enquanto orava, alterou-se o aspecto do seu rosto e as suas vestes ficaram de uma brancura refulgente. Dois homens falavam com Ele: eram Moisés e Elias, que, tendo aparecido em glória, falavam da morte de Jesus, que ia consumar-se em Jerusalém. Pedro e os companheiros estavam a cair de sono; mas, despertando, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com Ele. Quando estes se iam afastando, Pedro disse a Jesus: «Mestre, como é bom estarmos aqui! Façamos três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias». Não sabia o que estava a dizer. Enquanto assim falava, veio uma nuvem que os cobriu com a sua sombra; e eles ficaram cheios de medo, ao entrarem na nuvem. Da nuvem saiu uma voz, que dizia: «Este é o meu Filho, o meu Eleito: escutai-O». Quando a voz se fez ouvir, Jesus ficou sozinho. Os discípulos guardaram silêncio e, naqueles dias, a ninguém contaram nada do que tinham visto.


TENDA
O ano passado, quando meditámos a versão paralela deste episódio no evangelho de Marco, convidei-vos a reflectir sobre o significado da beleza da fé cristã (quem não se lembra desse comentário, pode clicar aqui). Hoje proponho-vos o tema da “tenda” e algumas considerações sobre a reacção dos discípulos.

A experiência da beleza é avassaladora. Não estou a falar de coisas “engraçadas” ou “giras” mas sim, da experiência inebriante do contacto com o verdadeiro “Belo”, capaz de nos comover até às lágrimas. Normalmente são momentos raros e fugazes e a tentação de permanecer no torpor da contemplação é algo a que nenhum de nós é imune.

«Façamos três tendas» é a verbalização desse desejo profundo de prolongar ao máximo aquele momento. Pedro, João e Tiago presenciaram a “glória de Cristo”, uma beleza que não se pode descrever, e imediatamente procuram uma forma de dilatar essa experiência no tempo.

Contra todos aqueles que acusam a religião de ser um “ópio do povo”, a página do Evangelho deste domingo diz-nos claramente que não se pode viver para sempre no “monte”, alheados da realidade concreta do mundo, ou sem vontade de intervir para o renovar e transformar. A experiência da contemplação da beleza de Deus é essencial: é dali que provém a coragem e força necessárias para “regressar ao mundo” e fazer da nossa vida um dom e um instrumento nas mãos do Senhor.

Se hoje sou cristão e sacerdote é porque na minha vida não encontrei beleza maior que a fé em Jesus Cristo.

Mas não podemos viver para sempre “acampados” no alto do monte. Para não trair a beleza que encontrámos, é preciso “descer à terra” e indicar aos irmãos a vereda que leva ao cume mais alto. A glória que nos foi revelada não pode corromper-se num prazer egoístico, porque é comunhão perfeita, partilha sem limites e dom total de si.


(Tenham uma boa semana!)


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sábado, 20 de fevereiro de 2010

1º DOMINGO DO TEMPO DA QUARESMA (ano C)



Leitura do livro do Deuteronómio
(Deut 26,4-10)
Moisés falou ao povo, dizendo: «O sacerdote receberá da tua mão as primícias dos frutos da terra e colocá-las-ás diante do altar do Senhor teu Deus. E diante do Senhor teu Deus, dirás as seguintes palavras: ‘Meu pai era um arameu errante, que desceu ao Egipto com poucas pessoas, e aí viveu como estrangeiro até se tornar uma nação grande, forte e numerosa. Mas os egípcios maltrataram-nos, oprimiram-nos e sujeitaram-nos a dura escravidão. Então invocámos o Senhor Deus dos nossos pais e o Senhor ouviu a nossa voz, viu a nossa miséria, o nosso sofrimento e a opressão que nos dominava. O Senhor fez-nos sair do Egipto com mão poderosa e braço estendido, espalhando um grande terror e realizando sinais e prodígios. Conduziu-nos a este lugar e deu-nos esta terra, uma terra onde corre leite e mel. E agora venho trazer-Vos as primícias dos frutos da terra que me destes, Senhor’. Então colocarás diante do Senhor teu Deus as primícias dos frutos da terra e te prostrarás diante do Senhor teu Deus».


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 90 (91)
Refrão: Estai comigo, Senhor, no meio da adversidade.

Tu que habitas sob a protecção do Altíssimo
e moras à sombra do Omnipotente,
Diz ao Senhor: «Sois o meu refúgio e a minha cidadela:
meu Deus, em Vós confio».

Nenhum mal te acontecerá
nem a desgraça se aproximará da tua tenda,
porque Ele mandará aos seus Anjos
que te guardem em todos os teus caminhos.

Na palma das mãos te levarão,
para que não tropeces em alguma pedra.
Poderás andar sobre víboras e serpentes,
calcar aos pés o leão e o dragão.

Porque em Mim confiou, hei-de salvá-lo;
hei-de protegê-lo, pois conheceu o meu nome.
Quando Me invocar, hei-de atendê-lo,
estarei com ele na tribulação,
hei-de libertá-lo e dar-lhe glória.


Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
(Rom 10,8-13)
Irmãos: Que diz a Escritura? «A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração». Esta é a palavra da fé que nós pregamos. Se confessares com a tua boca que Jesus é o Senhor e se acreditares no teu coração que Deus O ressuscitou dos mortos, serás salvo. Pois com o coração se acredita para obter a justiça e com a boca se professa a fé para alcançar a salvação. Na verdade, a Escritura diz: «Todo aquele que acreditar no Senhor não será confundido». Não há diferença entre judeu e grego: todos têm o mesmo Senhor, rico para com todos os que O invocam. Portanto, todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 4,1-13)
Naquele tempo, Jesus, cheio do Espírito Santo, retirou-Se das margens do Jordão. Durante quarenta dias, esteve no deserto, conduzido pelo Espírito, e foi tentado pelo diabo. Nesses dias não comeu nada e, passado esse tempo, sentiu fome. O diabo disse-lhe: «Se és Filho de Deus, manda a esta pedra que se transforme em pão». Jesus respondeu-lhe: «Está escrito: ‘Nem só de pão vive o homem’». O diabo levou-O a um lugar alto e mostrou-Lhe num instante todos os reinos da terra e disse-Lhe: «Eu Te darei todo este poder e a glória destes reinos, porque me foram confiados e os dou a quem eu quiser. Se Te prostrares diante de mim, tudo será teu». Jesus respondeu-lhe: «Está escrito: ‘Ao Senhor teu Deus adorarás, só a Ele prestarás culto’». Então o demónio levou-O a Jerusalém, colocou-O sobre o pináculo do Templo e disse-Lhe: «Se és Filho de Deus, atira-te daqui abaixo, porque está escrito: ‘Ele dará ordens aos seus Anjos a teu respeito, para que te guardem’; e ainda: ‘Na palma das mãos te levarão, para que não tropeces em alguma pedra’». Jesus respondeu-lhe: «Está mandado: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus’». Então o diabo, tendo terminado toda a espécie de tentação, retirou-se da presença de Jesus, até certo tempo.


TER, COMANDAR E OSTENTAR
A página do Evangelho que acabámos de ler não pretende ser uma reportagem histórica, feita por um jornalista que presenciou o desafio entre Jesus e o Diabo, algures no deserto. Estamos diante de uma catequese, cujo objectivo é ensinar-nos que Jesus, como nós, sentiu o peso das tentações. Lucas apresenta esta catequese em torno de um diálogo, dividido em três episódios/tentações, onde o Diabo e Jesus citam a Escritura em apoio da própria posição

Ter.
O primeiro episódio sugere que Jesus poderia ter utilizado a sua divindade para resolver qualquer necessidade material e obter riquezas e luxos. A resposta de Jesus cita Dt 8,3, «nem só de pão vive o homem», sugerindo que o seu “alimento”, a sua prioridade, é a Palavra do Pai, e que o caminho da salvação não passa pela acumulação egoísta de bens.

Comandar.
O segundo episódio sugere que Jesus poderia ter escolhido uma estrada de poder, de domínio, de prepotência, ao jeito dos governantes da Terra. No entanto, Jesus sabe que esses esquemas são diabólicos e que não entram nos planos do Pai. Por isso, citando Dt 6,13, diz que só o Pai é o seu “absoluto” e que não se deve adorar mais nada: adorar o poder que corrompe e escraviza não tem nada a ver com o projecto de Deus.

Ostentar.
No terceiro episódio sugere-se que Jesus poderia ter construído um caminho de êxito fácil, de triunfalismo, mostrando o seu poder através de gestos espectaculares e sendo admirado e aclamado pelas multidões. Jesus responde a esta proposta citando Dt 6,16, que manda “não tentar” o Senhor Deus: neste contexto, “tentar” significa, não utilizar os dons de Deus ou a bondade de Deus com um fim egoísta e interesseiro.

Querer acumular mais e mais, olhar apenas para o próprio conforto e comodidade, fechar-se à partilha e às necessidades dos outros...
Sentir o impulso de dominar, de ter autoridade, de prevalecer sobre os outros...
Provar a tentação de usar Deus ou os dons de Deus para brilhar, para dar espectáculo, para levar os outros a admirar-nos e a bater-nos palmas...
Estas (e outras) tentações fazem parte da nossa vida quotidiana. No início da Quaresma, a liturgia da Palavra apela a repensar as nossas opções de vida e a tomar consciência destes “demónios” que nos impedem de renascer para a vida nova, para a vida de Deus. O Seu plano de salvação não passa pelo egoísmo, mas pela partilha; não passa pelo autoritarismo, mas pelo serviço; não passa por manifestações espectaculares que impressionam as massas, mas sim, por uma proposta de vida plena, apresentada com simplicidade e amor.

(Tenham uma boa semana!)




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domingo, 14 de fevereiro de 2010

VI DOMINGO DO TEMPO COMUM (ano C)



Leitura do Livro de Jeremias
(Jer 17,5-8)
Eis o que diz o Senhor: «Maldito quem confia no homem e põe na carne toda a sua esperança, afastando o seu coração do Senhor. Será como o cardo na estepe que nem percebe quando chega a felicidade: habitará na aridez do deserto, terra salobre, onde ninguém habita. Bendito quem confia no Senhor e põe no Senhor a sua esperança. É como a árvore plantada à beira da água, que estende as suas raízes para a corrente: nada tem a temer quando vem o calor e a sua folhagem mantém-se sempre verde; em ano de estiagem não se inquieta e não deixa de produzir os seus frutos».


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 1
Refrão: Feliz o homem que pôs a sua esperança no Senhor.

Feliz o homem que não segue o conselho dos ímpios,
nem se detém no caminho dos pecadores
mas antes se compraz na lei do Senhor,
e nela medita dia e noite.

É como árvore plantada à beira das águas:
dá fruto a seu tempo e sua folhagem não murcha.
Tudo quanto fizer será bem sucedido.

Bem diferente é a sorte dos ímpios:
são como palha que o vento leva.
O Senhor vela pelo caminho dos justos,
mas o caminho dos pecadores leva à perdição.


Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
(1 Cor 15,12.16-20)
Irmãos: Se pregamos que Cristo ressuscitou dos mortos, porque dizem alguns no meio de vós que não há ressurreição dos mortos? Se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. E se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, ainda estais nos vossos pecados; e assim, os que morreram em Cristo pereceram também. Se é só para a vida presente que temos posta em Cristo a nossa esperança, somos os mais miseráveis de todos os homens. Mas não. Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 6,17.20-26)
Naquele tempo, Jesus desceu do monte, na companhia dos Apóstolos, e deteve-Se num sítio plano, com numerosos discípulos e uma grande multidão de toda a Judeia, de Jerusalém e do litoral de Tiro e Sidónia. Erguendo então os olhos para os discípulos, disse:
Bem-aventurados vós, os pobres,
porque é vosso o reino de Deus.
Bem-aventurados vós, que agora tendes fome,
porque sereis saciados.
Bem-aventurados vós, que agora chorais,
porque haveis de rir.
Bem-aventurados sereis, quando os homens vos odiarem,
quando vos rejeitarem e insultarem
e prescreverem o vosso nome como infame,
por causa do Filho do homem.
Alegrai-vos e exultai nesse dia,
porque é grande no Céu a vossa recompensa.
Era assim que os seus antepassados tratavam os profetas.
Mas ai de vós, os ricos,
porque já recebestes a vossa consolação.
Ai de vós, que agora estais saciados,
porque haveis de ter fome.
Ai de vós, que rides agora,
porque haveis de entristecer-vos e chorar.
Ai de vós, quando todos os homens vos elogiarem.
Era assim que os seus antepassados
tratavam os falsos profetas.


“PRINKY”
Srinish Priyankara Rosan Wichramasinghe Arachchige Appuhami (“Prinky”, para os amigos) foi ordenado sacerdote este sábado em Piacenza. É o primeiro missionário scalabriniano cingalês e um dos primeiros jovens a ser ordenado em Itália depois de uma dura experiência de imigração clandestina.

Em 2001, Priyankara parte do Sri Lanka (antigo Ceilão) rumo à costa italiana, numa frágil embarcação, mais pequena que uma traineira portuguesa. No barco estão cerca de 70 compatriotas que, como ele, sonham encontrar um trabalho na Europa para poder ajudar as próprias famílias a sair da situação de extrema indigência em que se encontram.

A viagem dura mais de 40 dias. Os mantimentos e a água potável terminam quando ainda falta uma semana para chegar ao destino. Muitos irão morrer durante a travessia.

Naquele pequeno mundo flutuante, Priyankara é a pessoa mais culta. Estudou vários anos no seminário diocesano e assume quase inevitavelmente o papel de “sacerdote”: celebra os funerais e guia os seus companheiros (mesmo os que são muçulmanos e budistas) na oração do santo rosário, a única fonte de esperança que quotidianamente dá coragem àquele grupo.

Os guardas do Centro de Acolhimento de Imigrantes certamente ainda recordam com surpresa aquele estranho grupo de sobreviventes. Resgatados às águas do mar mediterrâneo, descem com fadiga dos autocarros militares, mas não se dirigem às camaratas ou ao refeitório, como todos os outros clandestinos. Caminham até ao centro do campo de futebol e juntos ajoelham-se e permanecem em oração durante muitas horas.

«Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque haveis de rir».
Este sábado, durante a cerimónia da ordenação sacerdotal, Priyankara incarnava com o seu sorriso esta página do Evangelho que acabámos de escutar. Quase dez anos depois de ter chegado em Itália, realizou finalmente o sonho de colocar a própria vida ao serviço da Igreja e dos migrantes. Um sonho cujas raízes se encontram algures nas profundas águas que separam o Sri Lanka da Itália.

Rezemos todos por este jovem sacerdote, para que a sua vida possa sempre testemunhar a alegria da fé em Jesus Cristo, o amor e a misericórdia de Deus Pai e a riqueza dos sete dons do Espírito Santo.


(Tenham uma boa semana!)



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sábado, 6 de fevereiro de 2010

V DOMINGO DO TEMPO COMUM (ano C)



Leitura do Livro de Isaías
(Is 6,1-2a.3-8)
No ano em que morreu Ozias, rei de Judá, vi o Senhor, sentado num trono alto e sublime; a fímbria do seu manto enchia o templo. À sua volta estavam serafins de pé, que tinham seis asas cada um e clamavam alternadamente, dizendo: «Santo, santo, santo é o Senhor do Universo. A sua glória enche toda a terra!» Com estes brados as portas oscilavam nos seus gonzos e o templo enchia-se de fumo. Então exclamei: «Ai de mim, que estou perdido, porque sou um homem de lábios impuros, moro no meio de um povo de lábios impuros e os meus olhos viram o Rei, Senhor do Universo». Um dos serafins voou ao meu encontro, tendo na mão um carvão ardente que tirara do altar com uma tenaz. Tocou-me com ele na boca e disse-me: «Isto tocou os teus lábios: desapareceu o teu pecado, foi perdoada a tua culpa». Ouvi então a voz do Senhor, que dizia: «Quem enviarei? Quem irá por nós?» Eu respondi: «Eis-me aqui: podeis enviar-me».


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 137 (138)
Refrão: Na presença dos Anjos, eu Vos louvarei, Senhor.

De todo o coração, Senhor, eu Vos dou graças,
porque ouvistes as palavras da minha boca.
Na presença dos Anjos Vos hei-de cantar
e Vos adorarei, voltado para o vosso templo santo.

Hei-de louvar o vosso nome pela vossa bondade e fidelidade,
porque exaltastes acima de tudo o vosso nome e a vossa promessa.
Quando Vos invoquei, me respondestes,
aumentastes a fortaleza da minha alma.

Todos os reis da terra Vos hão-de louvar, Senhor,
quando ouvirem as palavras da vossa boca.
Celebrarão os caminhos do Senhor,
porque é grande a glória do Senhor.

A vossa mão direita me salvará,
o Senhor completará o que em meu auxílio começou.
Senhor, a vossa bondade é eterna,
não abandoneis a obra das vossas mãos.


Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
(1 Cor 15,1-11)
Recordo-vos, irmãos, o Evangelho que vos anunciei e que recebestes, no qual permaneceis e pelo qual sereis salvos, se o conservais como eu vo-lo anunciei; aliás teríeis abraçado a fé em vão. Transmiti-vos em primeiro lugar o que eu mesmo recebi: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e apareceu a Pedro e depois aos Doze. Em seguida apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez, dos quais a maior parte ainda vive, enquanto alguns já faleceram. Posteriormente apareceu a Tiago e depois a todos os Apóstolos. Em último lugar, apareceu-me também a mim, como o abortivo. Porque eu sou o menor dos Apóstolos e não sou digno de ser chamado Apóstolo, por ter perseguido a Igreja de Deus. Mas pela graça de Deus sou aquilo que sou e a graça que Ele me deu não foi inútil. Pelo contrário, tenho trabalhado mais que todos eles, não eu, mas a graça de Deus, que está comigo. Por conseguinte, tanto eu como eles, é assim que pregamos; e foi assim que vós acreditastes.


Evangelho de Nosso senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 5,1-11)
Naquele tempo, estava a multidão aglomerada em volta de Jesus, para ouvir a palavra de Deus. Ele encontrava-Se na margem do lago de Genesaré e viu dois barcos estacionados no lago. Os pescadores tinham deixado os barcos e estavam a lavar as redes. Jesus subiu para um barco, que era de Simão, e pediu-lhe que se afastasse um pouco da terra. Depois sentou-Se e do barco pôs-Se a ensinar a multidão. Quando acabou de falar, disse a Simão: «Faz-te ao largo e lançai as redes para a pesca». Respondeu-Lhe Simão: «Mestre, andámos na faina toda a noite e não apanhámos nada. Mas, já que o dizes, lançarei as redes». Eles assim fizeram e apanharam tão grande quantidade de peixes que as redes começavam a romper-se. Fizeram sinal aos companheiros que estavam no outro barco para os virem ajudar; eles vieram e encheram ambos os barcos de tal modo que quase se afundavam. Ao ver o sucedido, Simão Pedro lançou-se aos pés de Jesus e disse-Lhe: «Senhor, afasta-Te de mim, que sou um homem pecador». Na verdade, o temor tinha-se apoderado dele e de todos os seus companheiros, por causa da pesca realizada. Isto mesmo sucedeu a Tiago e a João, filhos de Zebedeu, que eram companheiros de Simão. Jesus disse a Simão: «Não temas. Daqui em diante serás pescador de homens». Tendo conduzido os barcos para terra, eles deixaram tudo e seguiram Jesus.


VOCAÇÃO
Pedro deveria estar no pior humor possível: uma noite inteira de pesca infrutífera! Horas e horas de trabalho perdido. Na margem do lago uma multidão escuta as palavras de Jesus, o Nazareno, mas este não é o melhor momento para falar a Pedro do Reino de Deus, do mandamento do Amor ou da promessa de vida eterna. A que serve a vida eterna quando não conseguimos colocar comida na mesa? Ele sabe que, depois de lavar as redes, terá que voltar a casa de mãos vazias. Está preocupado com coisas concretas (a crise... perder o barco... empobrecer...) e não tem tempo para “misticismos” e “espiritualismos”.

Jesus sobe para a sua barca e pede-lhe que se afaste um pouco da margem, pois a multidão continua a empurrar e esta é a única forma de poder catequizar tranquilamente. Se o humor de Pedro já não era dos melhores, este pedido só veio piorar as coisas... Está cansado, frustrado e quer ir dormir: não tem tempo para perder com estes discursos. Mas aceita. No fundo Jesus é seu amigo e ele não quer fazer má figura à frente de todas aquelas pessoas.

Por fim, Jesus diz-lhe: «Faz-te ao largo e lança as redes para a pesca». Apesar de ser neto de um pescador, não entendo muito de pesca, mas até eu sei que é melhor pescar de noite que de dia. Durante o dia a sombra do barco afugenta os peixes e é muito mais difícil descobrir a olho nu, onde estão os cardumes. «Agora chega!», pensou Pedro. E tem razão: o que sabe um carpinteiro da arte de pescar? Porém não consegue dizer “não” a Jesus. Nem hoje e nem quando Ele lhe pedir que seja a primeira pedra da sua Igreja.

Deus revela-Se no final de uma longa noite infrutífera, na improbabilidade de uma pesca bem sucedida e na fragilidade de três pescadores cansados. A pesca “milagrosa” não depende da habilidade de Simão Pedro, mas somente da confiança depositada nas palavras de Jesus. Deus pede-nos que lancemos as nossas redes, mesmo quando a vida (ferida pelos nossos limites e pecados) nos ensina a prever um fracasso. No Evangelho descobrimos que Deus não necessita de super-homens, modelos de passarela ou talentos geniais. O que Ele precisa é que tu e eu tenhamos confiança na Sua Palavra.


(Boa semana!)


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