sexta-feira, 28 de setembro de 2018

26º DOMINGO DO TEMPO COMUM (ano B)

Leitura do Livro dos Números
(Nm 11,25-29)
Naqueles dias, o Senhor desceu na nuvem e falou com Moisés. Tirou uma parte do Espírito que estava nele e fê-lo poisar sobre setenta anciãos do povo. Logo que o Espírito poisou sobre eles, começaram a profetizar; mas não continuaram a fazê-lo. Tinham ficado no acampamento dois homens: um deles chamava-se Eldad e o outro Medad. O Espírito poisou também sobre eles, pois contavam-se entre os inscritos, embora não tivessem comparecido na tenda; e começaram a profetizar no acampamento. Um jovem correu a dizê-lo a Moisés: «Eldad e Medad estão a profetizar no acampamento». Então Josué, filho de Nun, que estava ao serviço de Moisés desde a juventude, tomou a palavra e disse: «Moisés, meu senhor, proíbe-os». Moisés, porém, respondeu-lhe: «Estás com ciúmes por causa de mim? Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta e que o Senhor infundisse o seu Espírito sobre eles!»


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 18 (19)
Refrão: Os preceitos do Senhor alegram o coração.

A lei do Senhor é perfeita,
ela reconforta a alma.
As ordens do Senhor são firmes,
dão sabedoria aos simples.

O temor do Senhor é puro
e permanece eternamente;
Os juízos do Senhor são verdadeiros,
todos eles são rectos.

Embora o vosso servo se deixe guiar por eles
e os observe com cuidado,
quem pode, entretanto, reconhecer os seus erros?
Purificai-me dos que me são ocultos.

Preservai também do orgulho o vosso servo,
para que não tenha poder algum sobre mim:
então serei irrepreensível
e imune de culpa grave.


Leitura da Epístola de São Tiago
(Tg 5,1-6)
Agora, vós, ó ricos, chorai e lamentai-vos, por causa das desgraças que vão cair sobre vós. As vossas riquezas estão apodrecidas e as vossas vestes estão comidas pela traça. O vosso ouro e a vossa prata enferrujaram-se, e a sua ferrugem vai dar testemunho contra vós e devorar a vossa carne como fogo. Acumulastes tesouros no fim dos tempos. Privastes do salário os trabalhadores que ceifaram as vossas terras. O seu salário clama; e os brados dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhor do Universo. Levastes na terra uma vida regalada e libertina, cevastes os vossos corações para o dia da matança. Condenastes e matastes o justo e ele não vos resiste.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
(Mc 9,38-43.45-47-48)
Naquele tempo, João disse a Jesus: «Mestre, nós vimos um homem a expulsar os demónios em teu nome e procurámos impedir-lho, porque ele não anda connosco». Jesus respondeu: «Não o proibais; porque ninguém pode fazer um milagre em meu nome e depois dizer mal de Mim. Quem não é contra nós é por nós. Quem vos der a beber um copo de água, por serdes de Cristo, em verdade vos digo que não perderá a sua recompensa. Se alguém escandalizar algum destes pequeninos que crêem em Mim, melhor seria para ele que lhe atassem ao pescoço uma dessas mós movidas por um jumento e o lançassem ao mar. Se a tua mão é para ti ocasião de escândalo, corta-a; porque é melhor entrar mutilado na vida do que ter as duas mãos e ir para a Geena, para esse fogo que não se apaga. E se o teu pé é para ti ocasião de escândalo, corta-o; porque é melhor entrar coxo na vida do que ter os dois pés e ser lançado na Geena. E se um dos teus olhos é para ti ocasião de escândalo, deita-o fora; porque é melhor entrar no reino de Deus só com um dos olhos do que ter os dois olhos e ser lançado na Geena, onde o verme não morre e o fogo não se apaga».


BOA NOTÍCIA
Basta não desafinar
O Evangelho do próximo domingo, dia 30, descreve-nos a dificuldade dos apóstolos em aceitar que alguém externo ao tradicional círculo dos discípulos, também pudesse acreditar e anunciar a Boa Nova.

O desejo de uniformidade é uma tentação antiga a que a Igreja, ainda hoje, não é imune. Nos últimos decénios, as nossas comunidades paroquiais, outrora conformes e idênticas, foram “infiltradas” por numerosas e inovadoras experiências de fé. Este pluralismo não é uma realidade que basta “tolerar”: a comunidade cristã deve valorizar o complexo das expressões de fé que a caracterizam, como um tesouro que enriquece a vida da comunidade. Erguer muros, fechar portas, excluir tudo aquilo que é diferente... estes comportamentos são denunciados por Jesus como “anti-evangélicos” e a resposta que dá às “queixas” dos discípulos não podia ser mais clara: «Não o proibais. Quem não é contra nós é por nós».

Ao anseio de uniformidade, Cristo contrapõe a ideia de “comunhão na diversidade”: significa olhar para a Igreja como se esta fosse uma orquestra musical! Temos as cordas, os sopros, a percussão... toda uma série de instrumentos diferentes, com timbres bem distintos, mas que se fundem numa única melodia harmoniosa. Todos os instrumentos musicais devem encontrar o próprio espaço na orquestra e receber do Maestro a indicação de como inserir-se na sinfonia que juntos estão a executar. Mas já se sabe: se cada um decidir ignorar o Maestro e tocar sozinho para o seu lado, o resultado final será uma grande barulheira!

P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2018.09.28






sexta-feira, 21 de setembro de 2018

25º DOMINGO DO TEMPO COMUM (ano B)

Leitura do Livro da Sabedoria
(Sab 2,12.17-20)
Disseram os ímpios: «Armemos ciladas ao justo, porque nos incomoda e se opõe às nossas obras; censura-nos as transgressões à lei e repreende-nos as faltas de educação. Vejamos se as suas palavras são verdadeiras, observemos como é a sua morte. Porque, se o justo é filho de Deus, Deus o protegerá e o livrará das mãos dos seus adversários. Provemo-lo com ultrajes e torturas para conhecermos a sua mansidão e apreciarmos a sua paciência. Condenemo-lo à morte infame, porque, segundo diz, Alguém virá socorrê-lo.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 53 (54)
Refrão: O Senhor sustenta a minha vida.

Senhor, salvai-me pelo vosso nome,
pelo vosso poder fazei-me justiça.
Senhor, ouvi a minha oração,
atendei às palavras da minha boca.

Levantaram-se contra mim os arrogantes
e os violentos atentaram contra a minha vida.
Não têm a Deus na sua presença.

Deus vem em meu auxílio,
o Senhor sustenta a minha vida.
De bom grado oferecerei sacrifícios,
cantarei a glória do vosso nome, Senhor.


Leitura da Epístola de São Tiago
(Tiago 3,16-4,3)
Caríssimos: Onde há inveja e rivalidade, também há desordem e toda a espécie de más acções. Mas a sabedoria que vem do alto é pura, pacífica, compreensiva e generosa, cheia de misericórdia e de boas obras, imparcial e sem hipocrisia. O fruto da justiça semeia-se na paz para aqueles que praticam a paz. De onde vêm as guerras? De onde procedem os conflitos entre vós? Não é precisamente das paixões que lutam nos vossos membros? Cobiçais e nada conseguis: então assassinais. Sois invejosos e não podeis obter nada: então entrais em conflitos e guerras. Nada tendes, porque nada pedis. Pedis e não recebeis, porque pedis mal, pois o que pedis é para satisfazer as vossas paixões.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
(Mc 9,30-37)
Naquele tempo, Jesus e os seus discípulos caminhavam através da Galileia, mas Ele não queria que ninguém o soubesse; porque ensinava os discípulos, dizendo-lhes: «O Filho do homem vai ser entregue às mãos dos homens e eles vão matá-l’O; mas Ele, três dias depois de morto, ressuscitará». Os discípulos não compreendiam aquelas palavras e tinham medo de O interrogar. Quando chegaram a Cafarnaum e já estavam em casa, Jesus perguntou-lhes: «Que discutíeis no caminho?» Eles ficaram calados, porque tinham discutido uns com os outros sobre qual deles era o maior. Então, Jesus sentou-Se, chamou os Doze e disse-lhes: «Quem quiser ser o primeiro será o último de todos e o servo de todos». E, tomando uma criança, colocou-a no meio deles, abraçou-a e disse-lhes: «Quem receber uma destas crianças em meu nome é a Mim que recebe; e quem Me receber não Me recebe a Mim, mas Àquele que Me enviou».


BOA NOTÍCIA
Quem é o maior?
No Evangelho do próximo domingo, dia 23, encontramos os discípulos a discutirem «uns com os outros sobre qual deles era o maior»… e Jesus explica-lhes que «quem quiser ser o primeiro, será o último de todos e o servo de todos».

Esta afirmação é uma autêntica revolução! Ensina-nos que a única grandeza é a de quem, com humildade e simplicidade, faz da própria vida um serviço aos irmãos! Na comunidade cristã, distinções baseadas no dinheiro, na beleza, na cultura ou na posição social não têm qualquer sentido. Jesus Cristo deseja uma Igreja de irmãos iguais em dignidade, a quem a comunidade confia serviços diversos em vista do bem de todos. Quando é que somos os “maiores”…? Quando é grande a nossa vontade de servir e de partilhar com os outros os dons que Deus nos concedeu.

Jesus completa a sua “lição” com um gesto: toma uma criança, coloca-a no meio do grupo, abraça-a e convida os discípulos (e nós também) a acolhermos as “crianças”, pois quem as acolhe, acolhe o próprio Jesus e acolhe o Pai. Na sociedade palestina de então, as crianças não tinham direitos e não contavam do ponto de vista legal (pelo menos enquanto não tivessem feito o “bar mitzvah”, a cerimónia que definia a pertença de um rapaz à comunidade do Povo de Deus). Eram, portanto, um símbolo dos débeis, dos indefesos, dos marginalizados. No contexto da conversa que Jesus está a ter com os discípulos, este gesto confirma a sua mensagem: somos os “maiores”, não quando temos poder ou autoridade sobre os outros, mas quando abraçamos, quando amamos, quando servimos os pequenos, os pobres, os marginalizados e todos aqueles que o mundo rejeita e abandona.

P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2018.09.21






sexta-feira, 14 de setembro de 2018

24º DOMINGO DO TEMPO COMUM (ano B)

Leitura do Livro de Isaías
(Is 50,5-9a)
O Senhor Deus abriu-me os ouvidos e eu não resisti nem recuei um passo. Apresentei as costas àqueles que me batiam e a face aos que me arrancavam a barba; não desviei o meu rosto dos que me insultavam e cuspiam. Mas o Senhor Deus veio em meu auxílio e por isso não fiquei envergonhado; tornei o meu rosto duro como pedra, e sei que não ficarei desiludido. O meu advogado está perto de mim. Pretende alguém instaurar-me um processo? Compareçamos juntos. Quem é o meu adversário? Que se apresente! O Senhor Deus vem em meu auxílio. Quem ousará condenar-me?


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 114 (116)
Refrão: Andarei na presença do Senhor sobre a terra dos vivos.

Amo o senhor,
porque ouviu a voz da minha súplica.
Ele me atendeu
no dia em que O invoquei.

Apertaram-me os laços da morte,
caíram sobre mim as angústias do além, vi-me na aflição e na dor.
Então invoquei o Senhor:
«Senhor, salvai a minha alma».

Justo e compassivo é o Senhor,
o nosso Deus é misericordioso.
O Senhor guarda os simples:
estava sem forças e o Senhor salvou-me.

Livrou da morte a minha alma,
das lágrimas os meus olhos, da queda os meus pés.
Andarei na presença do Senhor,
sobre a terra dos vivos.


Leitura da Epístola de São Tiago
(Tiago 2,14-18)
Meus irmãos: De que serve a alguém dizer que tem fé, se não tem obras? Poderá essa fé obter-lhe a salvação? Se um irmão ou uma irmã não tiverem que vestir e lhes faltar o alimento de cada dia, e um de vós lhe disser: «Ide em paz. Aquecei-vos bem e saciai-vos», sem lhes dar o necessário para o corpo, de que lhes servem as vossas palavras? Assim também a fé sem obras está completamente morta. Mas dirá alguém: «Tu tens a fé e eu tenho as obras». Mostra-me a tua fé sem obras, que eu, pelas obras, te mostrarei a minha fé.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
(Mc 8,27-35)
Naquele tempo, Jesus partiu com os seus discípulos para as povoações de Cesareia de Filipe. No caminho, fez-lhes esta pergunta: «Quem dizem os homens que Eu sou?» Eles responderam: «Uns dizem João Baptista; outros, Elias; e outros, um dos profetas». Jesus então perguntou-lhes: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» Pedro tomou a palavra e respondeu: «Tu és o Messias». Ordenou-lhes então severamente que não falassem d’Ele a ninguém. Depois, começou a ensinar-lhes que o Filho do homem tinha de sofrer muito, de ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos escribas; de ser morto e ressuscitar três dias depois. E Jesus dizia-lhes claramente estas coisas. Então, Pedro tomou-O à parte e começou a contestá-l’O. Mas Jesus, voltando-Se e olhando para os discípulos, repreendeu Pedro, dizendo: «Vai-te, Satanás, porque não compreendes as coisas de Deus, mas só as dos homens». E, chamando a multidão com os seus discípulos, disse-lhes: «Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. Na verdade, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; mas quem perder a vida, por causa de Mim e do Evangelho, salvá-la-á».


BOA NOTÍCIA
O jogo do “perde-ganha”
No Evangelho do próximo domingo, dia 16, encontramos um duro diálogo entre Pedro e Jesus. O velho pescador pede ao jovem messias que não assuste (e afaste) as pessoas com conversas de cruzes, morte e sacrifícios… Porém, Jesus coloca-o no seu lugar (o lugar do discípulo) e distancia-se de todos os “gurus” e falsos profetas a quem apenas interessa agradar às multidões e ter muitos adeptos. A Ele interessa uma coisa: revelar a Verdade.

«Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. Na verdade, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; mas quem perder a vida, por causa de Mim e do Evangelho, salvá-la-á».

Realmente, é bem estranha esta lógica de opostos que nos recorda o jogo do “perde-ganha”, como quando jogamos às damas e vence quem dá a comer todas as peças. A reacção de Pedro não nos pode surpreender: é difícil acreditar que estas sejam as regras do jogo. No entanto, foi o próprio “árbitro” a informar-nos!

A lógica dos homens aposta no poder, no domínio, no triunfo; garante-nos que a vida só tem sentido se estivermos do lado dos vencedores, se tivermos muito dinheiro, se formos reconhecidos e incensados pelas multidões. A lógica de Jesus aposta na entrega da vida a Deus e aos irmãos; garante-nos que a vida só faz sentido se assumirmos os valores do Reino e vivermos no amor, na partilha, na solidariedade.

Para que não houvesse dúvidas, o árbitro tornou-se jogador e a Palavra fez-se carne, fez-se vida: para que pudéssemos, não só escutar, mas ver e acreditar. Acreditar que a verdadeira vitória é renúncia amorosa, a verdadeira glória é humildade digna e o verdadeiro Deus é Pai de misericórdia, Jesus crucificado e Espírito que se doa.

P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2018.09.14




sábado, 8 de setembro de 2018

23º DOMINGO DO TEMPO COMUM (ano B)

Leitura do Livro de Isaías
(Is 35,4-7a)
Dizei aos corações perturbados: «Tende coragem, não temais. Aí está o vosso Deus; vem para fazer justiça e dar a recompensa; Ele próprio vem salvar-nos». Então se abrirão os olhos dos cegos e se desimpedirão os ouvidos dos surdos. Então o coxo saltará como um veado e a língua do mudo cantará de alegria. As águas brotarão no deserto e as torrentes na aridez da planície; a terra seca transformar-se-á em lago e a terra árida em nascentes de água.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 145 (146)
Refrão:Ó minha alma, louva o Senhor.

O Senhor faz justiça aos oprimidos,
dá pão aos que têm fome
e a liberdade aos cativos.

O Senhor ilumina os olhos dos cegos,
o Senhor levanta os abatidos,
o Senhor ama os justos.

O Senhor protege os peregrinos,
ampara o órfão e a viúva
e entrava o caminho aos pecadores.

O Senhor reina eternamente;
o teu Deus, ó Sião,
é rei por todas as gerações.


Leitura da Epístola de São Tiago
(Tiago 2,1-5)
Meus irmãos: A fé em Nosso Senhor Jesus Cristo não deve admitir acepção de pessoas. Pode acontecer que na vossa assembleia entre um homem bem vestido e com anéis de ouro e entre também um pobre e mal vestido; talvez olheis para o homem bem vestido e lhe digais: «Tu, senta-te aqui em bom lugar», e ao pobre: «Tu, fica aí de pé», ou então: «Senta-te aí, abaixo do estrado dos meus pés». Não estareis a estabelecer distinções entre vós e a tornar-vos juízes com maus critérios? Escutai, meus caríssimos irmãos: Não escolheu Deus os pobres deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do reino que Ele prometeu àqueles que O amam?


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
(Mc 7,31-37)
Naquele tempo, Jesus deixou de novo a região de Tiro e, passando por Sidónia, veio para o mar da Galileia, atravessando o território da Decápole. Trouxeram-Lhe então um surdo que mal podia falar e suplicaram-Lhe que impusesse as mãos sobre ele. Jesus, afastando-Se com ele da multidão, meteu-lhe os dedos nos ouvidos e com saliva tocou-lhe a língua. Depois, erguendo os olhos ao Céu, suspirou e disse-lhe: «Effathá», que quer dizer «Abre-te». Imediatamente se abriram os ouvidos do homem, soltou-se-lhe a prisão da língua e começou a falar correctamente. Jesus recomendou que não contassem nada a ninguém. Mas, quanto mais lho recomendava, tanto mais intensamente eles o apregoavam. Cheios de assombro, diziam: «Tudo o que faz é admirável: faz que os surdos oiçam e que os mudos falem».


BOA NOTÍCIA
Effathá: abre-te!
No tempo de Jesus, predominava uma mentalidade “geográfica” da santidade: para os judeus, quanto mais longe de Jerusalém, menores eram as possibilidades de salvação. Quem habitava na Judeia poderia ainda salvar-se, mas as populações da Samaria e da Galileia (regiões de fronteira, habitadas por populações mistas) dificilmente encontrariam benevolência aos olhos de Deus.

No Evangelho do próximo domingo, dia 9, é-nos descrita a cura de um surdo-mudo mas, para além do milagre em si, vê-se que o texto se preocupa em informar-nos do lugar onde tudo se passou: Jesus estava numa região chamada “Decápole”, que correspondia a uma liga de dez cidades gregas, não sujeitas às leis judaicas e, por isso, vistas pelos judeus como um território completamente à margem dos caminhos da salvação, onde a acção de Deus seria altamente improvável.

É claro que esta página não é “apenas” a narração de uma cura prodigiosa, mas é uma catequese, uma “parábola viva” onde aprendemos que Deus não faz distinção entre povos e que a Sua salvação está ao alcance de todos os homens e mulheres.

De acordo com o Evangelho, Jesus pronunciou a palavra “effathá” (“abre-te”), quando abriu os ouvidos e “soltou” a língua do surdo-mudo. Não se trata de uma fórmula mágica, com especiais virtudes curativas: “effathá” é um convite! É um convite ao homem fechado no seu mundo a abrir o coração à vida nova da relação com Deus e com os irmãos. É uma proposta feita a todos nós para que abandonemos os nossos esquemas de exclusão, racismo e xenofobia e abracemos a mensagem de fraternidade sem fronteiras que Jesus revelou com a sua vida!

P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2018.09.07





sábado, 1 de setembro de 2018

22º DOMINGO DO TEMPO COMUM (ano B)

Leitura do Livro do Deuteronómio
(Dt 4,1-2.6-8)
Moisés falou ao povo, dizendo: «Agora escuta, Israel, as leis e os preceitos que vos dou a conhecer e ponde-os em prática, para que vivais e entreis na posse da terra que vos dá o Senhor, Deus de vossos pais. Não acrescentareis nada ao que vos ordeno, nem suprimireis coisa alguma, mas guardareis os mandamentos do Senhor vosso Deus, tal como eu vo-los prescrevo. Observai-os e ponde-os em prática: eles serão a vossa sabedoria e a vossa prudência aos olhos dos povos, que, ao ouvirem falar de todas estas leis, dirão: ‘Que povo tão sábio e tão prudente é esta grande nação!’ Qual é, na verdade, a grande nação que tem a divindade tão perto de si como está perto de nós o Senhor, nosso Deus, sempre que O invocamos? E qual é a grande nação que tem mandamentos e decretos tão justos como esta lei que hoje vos apresento?»


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 14 (15)
Refrão: Quem habitará, Senhor, no vosso santuário?

O que vive sem mancha e pratica a justiça
e diz a verdade que tem no seu coração
e guarda a sua língua da calúnia.

O que não faz mal ao seu próximo nem ultraja o seu semelhante,
o que tem por desprezível o ímpio,
mas estima os que temem o Senhor.

O que não falta ao juramento, mesmo em seu prejuízo,
e não empresta dinheiro com usura,
nem aceita presentes para condenar o inocente.
Quem assim proceder jamais será abalado.


Leitura da Epístola de São Tiago
(Tg 1,17-18.21-22.27)
Caríssimos irmãos: Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vêm do alto, descem do Pai das luzes, no qual não há variação nem sombra de mudança. Foi Ele que nos gerou pela palavra da verdade, para sermos como primícias das suas criaturas. Acolhei docilmente a palavra em vós plantada, que pode salvar as vossas almas. Sede cumpridores da palavra e não apenas ouvintes, pois seria enganar-vos a vós mesmos. A religião pura e sem mancha, aos olhos de Deus, nosso Pai, consiste em visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e conservar-se limpo do contágio do mundo.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
(Mc 7,1-8.14-15.21-23)
Naquele tempo, reuniu-se à volta de Jesus um grupo de fariseus e alguns escribas que tinham vindo de Jerusalém. Viram que alguns dos discípulos de Jesus comiam com as mãos impuras, isto é, sem as lavar. – Na verdade, os fariseus e os judeus em geral não comem sem terem lavado cuidadosamente as mãos, conforme a tradição dos antigos. Ao voltarem da praça pública, não comem sem antes se terem lavado. E seguem muitos outros costumes a que se prenderam por tradição, como lavar os copos, os jarros e as vasilhas de cobre –. Os fariseus e os escribas perguntaram a Jesus: «Porque não seguem os teus discípulos a tradição dos antigos, e comem sem lavar as mãos?» Jesus respondeu-lhes: «Bem profetizou Isaías a respeito de vós, hipócritas, como está escrito: ‘Este povo honra-Me com os lábios, mas o seu coração está longe de Mim. É vão o culto que Me prestam, e as doutrinas que ensinam não passam de preceitos humanos’. Vós deixais de lado o mandamento de Deus, para vos prenderdes à tradição dos homens». Depois, Jesus chamou de novo a Si a multidão e começou a dizer-lhe: «Ouvi-Me e procurai compreender. Não há nada fora do homem que ao entrar nele o possa tornar impuro. O que sai do homem é que o torna impuro; porque do interior dos homens é que saem os maus pensamentos: imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, cobiças, injustiças, fraudes, devassidão, inveja, difamação, orgulho, insensatez. Todos estes vícios saem lá de dentro e tornam o homem impuro».


BOA NOTÍCIA
Encontro, comunhão e conversão
Terminadas as férias, começamos bem o novo ano (laboral, escolar ou pastoral) com uma página do Evangelho que nos convida a redescobrir a essência da nossa fé e interroga-nos sobre o que é realmente decisivo na experiência religiosa… Será o estrito cumprimento das leis definidas pela Igreja? Serão as manifestações exteriores de religiosidade? Ou será outra coisa?

No Evangelho do próximo domingo, dia 2, Jesus critica a religiosidade hipócrita dos fariseus e recorda-nos que leis e ritos não têm sentido se não nos ajudam (e eis o que realmente é essencial…) a aprofundar a nossa comunhão com Deus e com os outros homens: «Este povo honra-Me com os lábios, mas o seu coração está longe de Mim. É vão o culto que Me prestam, e as doutrinas que ensinam não passam de preceitos humanos».

Naturalmente, algumas normas têm o seu lugar na experiência religiosa, mas apenas enquanto sinais indicadores de um caminho a percorrer. Se as absolutizamos, tornam-se para nós um fim e não um caminho. Tornam-se uma forma de nos julgarmos em regra com Deus; de sentirmos que Deus nos deve algo porque cumprimos as leis estabelecidas. Nesse caso, o culto torna-se um processo egoísta de compra e venda de favores e não uma manifestação do amor que une o Pai e os seus filhos. A nossa religião torna-se um negócio, uma mentira.

Só abandonando as máscaras do ritualismo artificial (que esvazia a celebração e a transforma em cerimónia) e do moralismo estéril (que corrompe o Evangelho e o reduz a uma legislação) poderemos redescobrir a essência da nossa fé, que é encontro (pessoal), comunhão (total) e conversão (radical).

P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2018.08.31





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