Todas as semanas podem encontrar neste blog as leituras da missa dominical e também um breve comentário preparado pelo padre Carlos Caetano, vigário geral da congregação dos missionários scalabrinianos.
Leitura do Livro dos Números (Nm 11,25-29) Naqueles dias, o Senhor desceu na nuvem e falou
com Moisés. Tirou uma parte do Espírito que estava nele e fê-lo poisar sobre
setenta anciãos do povo. Logo que o Espírito poisou sobre eles, começaram a
profetizar; mas não continuaram a fazê-lo. Tinham ficado no acampamento dois
homens: um deles chamava-se Eldad e o outro Medad. O Espírito poisou também
sobre eles, pois contavam-se entre os inscritos, embora não tivessem comparecido
na tenda; e começaram a profetizar no acampamento. Um jovem correu a dizê-lo a
Moisés: «Eldad e Medad estão a profetizar no acampamento». Então Josué, filho
de Nun, que estava ao serviço de Moisés desde a juventude, tomou a palavra e
disse: «Moisés, meu senhor, proíbe-os». Moisés, porém, respondeu-lhe: «Estás
com ciúmes por causa de mim? Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta
e que o Senhor infundisse o seu Espírito sobre eles!» SALMO RESPONSORIAL – Salmo
18 (19) Refrão: Os preceitos do Senhor alegram o coração. A lei do Senhor é perfeita, ela reconforta a alma. As ordens do Senhor são firmes, dão sabedoria aos simples. O temor do Senhor é puro e permanece eternamente; Os juízos do Senhor são verdadeiros, todos eles são rectos. Embora o vosso servo se deixe guiar por eles e os observe com cuidado, quem pode, entretanto, reconhecer os seus erros? Purificai-me dos que me são ocultos. Preservai também do orgulho o vosso servo, para que não tenha poder algum sobre mim: então serei irrepreensível e imune de culpa grave. Leitura da Epístola de São
Tiago (Tg 5,1-6) Agora, vós, ó ricos, chorai e lamentai-vos, por
causa das desgraças que vão cair sobre vós. As vossas riquezas estão
apodrecidas e as vossas vestes estão comidas pela traça. O vosso ouro e a vossa
prata enferrujaram-se, e a sua ferrugem vai dar testemunho contra vós e devorar
a vossa carne como fogo. Acumulastes tesouros no fim dos tempos. Privastes do
salário os trabalhadores que ceifaram as vossas terras. O seu salário clama; e
os brados dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhor do Universo. Levastes na
terra uma vida regalada e libertina, cevastes os vossos corações para o dia da
matança. Condenastes e matastes o justo e ele não vos resiste. Evangelho de Nosso Senhor
Jesus Cristo segundo São Marcos (Mc
9,38-43.45-47-48) Naquele tempo, João disse a Jesus: «Mestre, nós
vimos um homem a expulsar os demónios em teu nome e procurámos impedir-lho,
porque ele não anda connosco». Jesus respondeu: «Não o proibais; porque ninguém
pode fazer um milagre em meu nome e depois dizer mal de Mim. Quem não é contra
nós é por nós. Quem vos der a beber um copo de água, por serdes de Cristo, em
verdade vos digo que não perderá a sua recompensa. Se alguém escandalizar algum
destes pequeninos que crêem em Mim, melhor seria para ele que lhe atassem ao
pescoço uma dessas mós movidas por um jumento e o lançassem ao mar. Se a tua
mão é para ti ocasião de escândalo, corta-a; porque é melhor entrar mutilado na
vida do que ter as duas mãos e ir para a Geena, para esse fogo que não se
apaga. E se o teu pé é para ti ocasião de escândalo, corta-o; porque é melhor
entrar coxo na vida do que ter os dois pés e ser lançado na Geena. E se um dos
teus olhos é para ti ocasião de escândalo, deita-o fora; porque é melhor entrar
no reino de Deus só com um dos olhos do que ter os dois olhos e ser lançado na
Geena, onde o verme não morre e o fogo não se apaga». BOA NOTÍCIA Basta não desafinar O Evangelho do próximo domingo, dia 29,
descreve-nos a dificuldade dos apóstolos em aceitar que alguém externo ao
tradicional círculo dos discípulos, também pudesse acreditar e anunciar a Boa
Nova. O desejo de uniformidade é uma tentação antiga a
que a Igreja, ainda hoje, não é imune. Nos últimos decénios, as nossas
comunidades paroquiais, outrora conformes e idênticas, foram “infiltradas” por
numerosas e inovadoras experiências de fé. Este pluralismo não é uma realidade
que basta “tolerar”: a comunidade cristã deve valorizar o complexo das
expressões de fé que a caracterizam, como um tesouro que enriquece a vida da
comunidade. Erguer muros, fechar portas, excluir tudo aquilo que é diferente...
estes comportamentos são denunciados por Jesus como “anti-evangélicos” e a
resposta que dá às “queixas” dos discípulos não podia ser mais clara: «Não o proibais. Quem não é contra nós é
por nós». Ao anseio de uniformidade, Cristo contrapõe a
ideia de “comunhão na diversidade”: significa olhar para a Igreja como se esta
fosse uma orquestra musical! Temos as cordas, os sopros, a percussão... toda
uma série de instrumentos diferentes, com timbres bem distintos, mas que se
fundem numa única melodia harmoniosa. Todos os instrumentos musicais devem
encontrar o próprio espaço na orquestra e receber do Maestro a indicação de
como inserir-se na sinfonia que juntos estão a executar. Mas já se sabe: se
cada um decidir ignorar o Maestro e tocar sozinho para o seu lado, o resultado
final será uma grande barulheira! P. Carlos Caetano in LusoJornal 2024.09.28
Leitura do Livro da
Sabedoria (Sab 2,12.17-20) Disseram os ímpios: «Armemos ciladas ao justo,
porque nos incomoda e se opõe às nossas obras; censura-nos as transgressões à
lei e repreende-nos as faltas de educação. Vejamos se as suas palavras são
verdadeiras, observemos como é a sua morte. Porque, se o justo é filho de Deus,
Deus o protegerá e o livrará das mãos dos seus adversários. Provemo-lo com
ultrajes e torturas para conhecermos a sua mansidão e apreciarmos a sua
paciência. Condenemo-lo à morte infame, porque, segundo diz, Alguém virá
socorrê-lo. SALMO RESPONSORIAL – Salmo
53 (54) Refrão: O Senhor sustenta a minha vida. Senhor, salvai-me pelo vosso nome, pelo vosso poder fazei-me justiça. Senhor, ouvi a minha oração, atendei às palavras da minha boca. Levantaram-se contra mim os arrogantes e os violentos atentaram contra a minha vida. Não têm a Deus na sua presença. Deus vem em meu auxílio, o Senhor sustenta a minha vida. De bom grado oferecerei sacrifícios, cantarei a glória do vosso nome, Senhor. Leitura da Epístola de São
Tiago (Tiago 3,16-4,3) Caríssimos: Onde há inveja e rivalidade, também há
desordem e toda a espécie de más acções. Mas a sabedoria que vem do alto é
pura, pacífica, compreensiva e generosa, cheia de misericórdia e de boas obras,
imparcial e sem hipocrisia. O fruto da justiça semeia-se na paz para aqueles
que praticam a paz. De onde vêm as guerras? De onde procedem os conflitos entre
vós? Não é precisamente das paixões que lutam nos vossos membros? Cobiçais e
nada conseguis: então assassinais. Sois invejosos e não podeis obter nada:
então entrais em conflitos e guerras. Nada tendes, porque nada pedis. Pedis e
não recebeis, porque pedis mal, pois o que pedis é para satisfazer as vossas paixões. Evangelho de Nosso Senhor
Jesus Cristo segundo São Marcos (Mc 9,30-37) Naquele tempo, Jesus e os seus discípulos
caminhavam através da Galileia, mas Ele não queria que ninguém o soubesse;
porque ensinava os discípulos, dizendo-lhes: «O Filho do homem vai ser entregue
às mãos dos homens e eles vão matá-l’O; mas Ele, três dias depois de morto,
ressuscitará». Os discípulos não compreendiam aquelas palavras e tinham medo de
O interrogar. Quando chegaram a Cafarnaum e já estavam em casa, Jesus perguntou-lhes:
«Que discutíeis no caminho?» Eles ficaram calados, porque tinham discutido uns
com os outros sobre qual deles era o maior. Então, Jesus sentou-Se, chamou os
Doze e disse-lhes: «Quem quiser ser o primeiro será o último de todos e o servo
de todos». E, tomando uma criança, colocou-a no meio deles, abraçou-a e
disse-lhes: «Quem receber uma destas crianças em meu nome é a Mim que recebe; e
quem Me receber não Me recebe a Mim, mas Àquele que Me enviou». BOA NOTÍCIA Quem é o maior? No Evangelho do próximo domingo, dia 22,
encontramos os discípulos a discutirem «uns
com os outros sobre qual deles era o maior»… e Jesus explica-lhes que «quem quiser ser o primeiro, será o último
de todos e o servo de todos». Esta afirmação é uma autêntica revolução!
Ensina-nos que a única grandeza é a de quem, com humildade e simplicidade, faz
da própria vida um serviço aos irmãos! Na comunidade cristã, distinções
baseadas no dinheiro, na beleza, na cultura ou na posição social não têm
qualquer sentido. Jesus Cristo deseja uma Igreja de irmãos iguais em dignidade,
a quem a comunidade confia serviços diversos em vista do bem de todos. Quando é
que somos os “maiores”…? Quando é grande a nossa vontade de servir e de
partilhar com os outros os dons que Deus nos concedeu. Jesus completa a sua “lição” com um gesto: toma
uma criança, coloca-a no meio do grupo, abraça-a e convida os discípulos (e nós
também) a acolhermos as “crianças”, pois quem as acolhe, acolhe o próprio Jesus
e acolhe o Pai. Na sociedade hebraica de então, as crianças não tinham direitos
e não contavam do ponto de vista legal (pelo menos enquanto não tivessem feito
o “bar mitzvah”, a cerimónia que definia a pertença de um rapaz à comunidade do
Povo de Deus). Eram, portanto, um símbolo dos débeis, dos indefesos, dos
marginalizados. No contexto da conversa que Jesus está a ter com os discípulos,
este gesto confirma a sua mensagem: somos os “maiores”, não quando temos poder
ou autoridade sobre os outros, mas quando abraçamos, quando amamos, quando
servimos os pequenos, os pobres, os marginalizados e todos aqueles que o mundo
rejeita e abandona. P. Carlos Caetano in LusoJornal 2024.09.21
Leitura do Livro de Isaías (Is 50,5-9a) O Senhor Deus abriu-me os ouvidos e eu não resisti
nem recuei um passo. Apresentei as costas àqueles que me batiam e a face aos
que me arrancavam a barba; não desviei o meu rosto dos que me insultavam e
cuspiam. Mas o Senhor Deus veio em meu auxílio e por isso não fiquei
envergonhado; tornei o meu rosto duro como pedra, e sei que não ficarei
desiludido. O meu advogado está perto de mim. Pretende alguém instaurar-me um
processo? Compareçamos juntos. Quem é o meu adversário? Que se apresente! O
Senhor Deus vem em meu auxílio. Quem ousará condenar-me? SALMO RESPONSORIAL – Salmo
114 (116) Refrão: Andarei na presença do Senhor sobre a
terra dos vivos. Amo o senhor, porque ouviu a voz da minha súplica. Ele me atendeu no dia em que O invoquei. Apertaram-me os laços da morte, caíram sobre mim as angústias do além, vi-me na
aflição e na dor. Então invoquei o Senhor: «Senhor, salvai a minha alma». Justo e compassivo é o Senhor, o nosso Deus é misericordioso. O Senhor guarda os simples: estava sem forças e o Senhor salvou-me. Livrou da morte a minha alma, das lágrimas os meus olhos, da queda os meus pés. Andarei na presença do Senhor, sobre a terra dos vivos. Leitura da Epístola de São
Tiago (Tiago 2,14-18) Meus irmãos: De que serve a alguém dizer que tem
fé, se não tem obras? Poderá essa fé obter-lhe a salvação? Se um irmão ou uma
irmã não tiverem que vestir e lhes faltar o alimento de cada dia, e um de vós
lhe disser: «Ide em paz. Aquecei-vos bem e saciai-vos», sem lhes dar o
necessário para o corpo, de que lhes servem as vossas palavras? Assim também a
fé sem obras está completamente morta. Mas dirá alguém: «Tu tens a fé e eu
tenho as obras». Mostra-me a tua fé sem obras, que eu, pelas obras, te mostrarei
a minha fé. Evangelho de Nosso Senhor
Jesus Cristo segundo São Marcos (Mc 8,27-35) Naquele tempo, Jesus partiu com os seus discípulos
para as povoações de Cesareia de Filipe. No caminho, fez-lhes esta pergunta:
«Quem dizem os homens que Eu sou?» Eles responderam: «Uns dizem João Baptista;
outros, Elias; e outros, um dos profetas». Jesus então perguntou-lhes: «E vós,
quem dizeis que Eu sou?» Pedro tomou a palavra e respondeu: «Tu és o Messias».
Ordenou-lhes então severamente que não falassem d’Ele a ninguém. Depois,
começou a ensinar-lhes que o Filho do homem tinha de sofrer muito, de ser rejeitado
pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos escribas; de ser morto e
ressuscitar três dias depois. E Jesus dizia-lhes claramente estas coisas.
Então, Pedro tomou-O à parte e começou a contestá-l’O. Mas Jesus, voltando-Se e
olhando para os discípulos, repreendeu Pedro, dizendo: «Vai-te, Satanás, porque
não compreendes as coisas de Deus, mas só as dos homens». E, chamando a
multidão com os seus discípulos, disse-lhes: «Se alguém quiser seguir-Me,
renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. Na verdade, quem quiser salvar
a sua vida perdê-la-á; mas quem perder a vida, por causa de Mim e do Evangelho,
salvá-la-á». BOA NOTÍCIA O jogo do “perde-ganha” No Evangelho do próximo domingo, dia 15,
encontramos um duro diálogo entre Pedro e Jesus. O velho pescador pede ao jovem
messias que não assuste (e afaste) as pessoas com conversas de cruzes, morte e
sacrifícios… Porém, Jesus coloca-o no seu lugar (o lugar do discípulo) e
distancia-se de todos os “gurus” e falsos profetas a quem apenas interessa
agradar às multidões e ter muitos adeptos. A Ele interessa uma coisa: revelar a
Verdade. «Se alguém quiser seguir-Me,
renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. Na verdade, quem quiser salvar
a sua vida perdê-la-á; mas quem perder a vida, por causa de Mim e do Evangelho,
salvá-la-á». Realmente, é bem estranha esta lógica de opostos
que nos recorda o jogo do “perde-ganha”, como quando jogamos às damas e vence
quem dá a comer todas as peças. A reacção de Pedro não nos pode surpreender: é
difícil acreditar que estas sejam as regras do jogo. No entanto, foi o próprio
“árbitro” a informar-nos! A lógica dos homens aposta no poder, no domínio,
no triunfo; garante-nos que a vida só tem sentido se estivermos do lado dos
vencedores, se tivermos muito dinheiro, se formos reconhecidos e incensados
pelas multidões. A lógica de Jesus aposta na entrega da vida a Deus e aos
irmãos; garante-nos que a vida só faz sentido se assumirmos os valores do Reino
e vivermos no amor, na partilha, na solidariedade. Para que não houvesse dúvidas, o árbitro tornou-se
jogador e a Palavra fez-se carne, fez-se vida: para que pudéssemos, não só
escutar, mas ver e acreditar. Acreditar que a verdadeira vitória é renúncia
amorosa, a verdadeira glória é humildade digna e o verdadeiro Deus é Pai de
misericórdia, Jesus crucificado e Espírito que se doa. P. Carlos Caetano in LusoJornal 2024.09.14
Leitura do Livro de Isaías (Is 35,4-7a) Dizei aos corações perturbados: «Tende coragem,
não temais. Aí está o vosso Deus; vem para fazer justiça e dar a recompensa;
Ele próprio vem salvar-nos». Então se abrirão os olhos dos cegos e se
desimpedirão os ouvidos dos surdos. Então o coxo saltará como um veado e a
língua do mudo cantará de alegria. As águas brotarão no deserto e as torrentes
na aridez da planície; a terra seca transformar-se-á em lago e a terra árida em
nascentes de água. SALMO RESPONSORIAL – Salmo
145 (146) Refrão:Ó minha alma, louva o Senhor. O Senhor faz justiça aos oprimidos, dá pão aos que têm fome e a liberdade aos cativos. O Senhor ilumina os olhos dos cegos, o Senhor levanta os abatidos, o Senhor ama os justos. O Senhor protege os peregrinos, ampara o órfão e a viúva e entrava o caminho aos pecadores. O Senhor reina
eternamente; o teu Deus, ó Sião, é rei por todas as gerações. Leitura da Epístola de São
Tiago (Tiago 2,1-5) Meus irmãos: A fé em Nosso Senhor Jesus Cristo não
deve admitir acepção de pessoas. Pode acontecer que na vossa assembleia entre
um homem bem vestido e com anéis de ouro e entre também um pobre e mal vestido;
talvez olheis para o homem bem vestido e lhe digais: «Tu, senta-te aqui em bom
lugar», e ao pobre: «Tu, fica aí de pé», ou então: «Senta-te aí, abaixo do
estrado dos meus pés». Não estareis a estabelecer distinções entre vós e a
tornar-vos juízes com maus critérios? Escutai, meus caríssimos irmãos: Não
escolheu Deus os pobres deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do reino
que Ele prometeu àqueles que O amam? Evangelho de Nosso Senhor
Jesus Cristo segundo São Marcos (Mc 7,31-37) Naquele tempo, Jesus deixou de novo a região de
Tiro e, passando por Sidónia, veio para o mar da Galileia, atravessando o
território da Decápole. Trouxeram-Lhe então um surdo que mal podia falar e
suplicaram-Lhe que impusesse as mãos sobre ele. Jesus, afastando-Se com ele da
multidão, meteu-lhe os dedos nos ouvidos e com saliva tocou-lhe a língua.
Depois, erguendo os olhos ao Céu, suspirou e disse-lhe: «Effathá», que quer
dizer «Abre-te». Imediatamente se abriram os ouvidos do homem, soltou-se-lhe a
prisão da língua e começou a falar correctamente. Jesus recomendou que não
contassem nada a ninguém. Mas, quanto mais lho recomendava, tanto mais
intensamente eles o apregoavam. Cheios de assombro, diziam: «Tudo o que faz é
admirável: faz que os surdos oiçam e que os mudos falem». BOA NOTÍCIA Effathá: abre-te! No tempo de Jesus, predominava uma mentalidade
“geográfica” da santidade: para os judeus, quanto mais longe de Jerusalém,
menores eram as possibilidades de salvação. Quem habitava na Judeia poderia
ainda salvar-se, mas as populações da Samaria e da Galileia (regiões de
fronteira, habitadas por populações mistas) dificilmente encontrariam
benevolência aos olhos de Deus. No Evangelho do próximo domingo, dia 8, é-nos
descrita a cura de um surdo-mudo mas, para além do milagre em si, vê-se que o
texto se preocupa em informar-nos do lugar onde tudo se passou: Jesus estava
numa região chamada “Decápole”, que correspondia a uma liga de dez cidades
gregas, não sujeitas às leis judaicas e, por isso, vistas pelos judeus como um
território completamente à margem dos caminhos da salvação, onde a acção de
Deus seria altamente improvável. É claro que esta página não é “apenas” a narração
de uma cura prodigiosa, mas é uma catequese, uma “parábola viva” onde
aprendemos que Deus não faz distinção entre povos e que a Sua salvação está ao
alcance de todos os homens e mulheres. De acordo com o Evangelho, Jesus pronunciou a palavra “effathá” (“abre-te”), quando abriu os
ouvidos e “soltou” a língua do surdo-mudo. Não se trata de uma fórmula
mágica, com especiais virtudes curativas: “effathá” é um convite! É um convite
ao homem fechado no seu mundo a abrir o coração à vida nova da relação com Deus
e com os irmãos. É uma proposta feita a todos nós para que abandonemos os
nossos esquemas de exclusão, racismo e xenofobia e abracemos a mensagem de
fraternidade sem fronteiras que Jesus revelou com a sua vida! P. Carlos Caetano in LusoJornal 2024.09.07