sábado, 14 de junho de 2025

SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE – ANO C

Leitura do Livro dos Provérbios
(Prov 8,22-31)
Eis o que diz a Sabedoria de Deus: «O Senhor me criou como primícias da sua actividade, antes das suas obras mais antigas. Desde a eternidade fui formada, desde o princípio, antes das origens da terra. Antes de existirem os abismos e de brotarem as fontes das águas, já eu tinha sido concebida. Antes de se implantarem as montanhas e as colinas, já eu tinha nascido; ainda o Senhor não tinha feito a terra e os campos, nem os primeiros elementos do mundo. Quando Ele consolidava os céus, eu estava presente; Quando traçava sobre o abismo a linha do horizonte, quando condensava as nuvens nas alturas, quando fortalecia as fontes dos abismos, quando impunha ao mar os seus limites para que as águas não ultrapassassem o seu termo, quando lançava os fundamentos da terra, eu estava a seu lado como arquitecto, cheia de júbilo, dia após dia, deleitando-me continuamente na sua presença. Deleitava-me sobre a face da terra e as minhas delícias eram estar com os filhos dos homens».
 
 
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 8
Refrão: Como sois grande em toda a terra, Senhor, nosso Deus!
 
Quando contemplo os céus, obra das vossas mãos,
a lua e as estrelas que lá colocastes,
que é o homem para que Vos lembreis dele,
o filho do homem para dele Vos ocupardes?
 
Fizestes dele quase um ser divino,
de honra e glória o coroastes;
destes-lhes poder sobre a obra das vossas mãos,
tudo submetestes a seus pés:
 
Ovelhas e bois, todos os rebanhos,
e até os animais selvagens,
as aves do céu e os peixes do mar,
tudo o que se move nos oceanos.
 
 
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
(Rom 5,1-5)
Irmãos: Tendo sido justificados pela fé, estamos em paz com Deus, por Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual temos acesso, na fé, a esta graça em que permanecemos e nos gloriamos, apoiados na esperança da glória de Deus. Mais ainda, gloriamo-nos nas nossas tribulações, porque sabemos que a tribulação produz a constância, a constância a virtude sólida, a virtude sólida a esperança. Ora a esperança não engana, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.
 
 
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 16,12-15)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Tenho ainda muitas coisas para vos dizer, mas não as podeis compreender agora. Quando vier o Espírito da verdade, Ele vos guiará para a verdade plena; porque não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará o que está para vir. Ele Me glorificará, porque receberá do que é meu e vo-lo anunciará. Tudo o que o Pai tem é meu. Por isso vos disse que Ele receberá do que é meu e vo-lo anunciará».
 
 
BOA NOTÍCIA
Criados à Sua imagem
No próximo domingo, dia 15, celebramos a solenidade da Santíssima Trindade. Conta-se que um dia, Santo Agostinho passeava na praia e com muito esforço tentava compreender este mistério da fé: um único Deus em três pessoas distintas... A uma certa altura, viu um menino que corria com uma conchinha na mão. Repetidamente, o menino ia até ao mar, enchia a conchinha, levava-a com jeitinho até junto de um buraco na areia e vazava a água lá dentro. Agostinho perguntou-lhe: «O que estás a fazer?». O menino respondeu com simplicidade: «Estou a colocar o mar dentro deste buraco». Agostinho sorriu e disse: «Não vês que isso é impossível? O mar é tão grande e essa covinha é tão pequena!» O menino respondeu: «É mais fácil que o mar caiba nesta cova do que o mistério da Trindade seja entendido por um homem!».
 
A Solenidade do próximo domingo não é um convite a decifrar o enigma de “um Deus em três pessoas”: é uma oportunidade para meditarmos o que a Trindade nos ensina sobre nós mesmos. Deus não é solidão; não é o perfeito egoísta imutável que basta a si mesmo e subsiste sozinho. Deus é comunhão, relação, amor que se move na direcção do outro. E nós fomos criados à Sua imagem e semelhança! Jean-Paul Sartre dizia que «o inferno são os outros», mas Jesus mostra-nos que não podemos abraçar a felicidade sozinhos. A linguagem humana (finita e limitada) não conseguirá nunca definir completamente o mistério da Trindade mas, invocando o Pai, o Filho e o Espírito Santo, intuímos a nossa própria natureza e o lema que devemos seguir na construção da nossa vida, das nossas relações, da nossa Igreja: comunhão na diversidade!
 
P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2025.06.14



 
 

sábado, 7 de junho de 2025

SOLENIDADE DE PENTECOSTES – ANO C

Leitura dos Actos dos Apóstolos
(At 2, 1-11)
Quando chegou o dia de Pentecostes, os Apóstolos estavam todos reunidos no mesmo lugar. Subitamente, fez-se ouvir, vindo do Céu, um rumor semelhante a forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde se encontravam. Viram então aparecer uma espécie de línguas de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que se exprimissem. Residiam em Jerusalém judeus piedosos, procedentes de todas as nações que há debaixo do céu. Ao ouvir aquele ruído, a multidão reuniu-se e ficou muito admirada, pois cada qual os ouvia falar na sua própria língua. Atónitos e maravilhados, diziam: «Não são todos galileus os que estão a falar? Então, como é que os ouve cada um de nós falar na sua própria língua? Partos, medos, elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília, do Egipto e das regiões da Líbia, vizinha de Cirene, colonos de Roma, tanto judeus como prosélitos, cretenses e árabes, ouvimo-los proclamar nas nossas línguas as maravilhas de Deus».
 
 
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 103 (104)
Refrão: Enviai, Senhor, o vosso Espírito e renovai a face da terra.
 
Bendiz, ó minha alma, o Senhor.
Senhor, meu Deus, como sois grande!
Como são grandes, Senhor, as vossas obras!
A terra está cheia das vossas criaturas.
 
Se lhes tirais o alento, morrem
e voltam ao pó donde vieram.
Se mandais o vosso Espírito, retomam a vida
e renovais a face da terra.
 
Glória a deus para sempre!
Rejubile o Senhor nas suas obras.
Grato Lhe seja o meu canto
e eu terei alegria no Senhor.
 
 
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
(Rom 8, 8-17)
Irmãos: Os que vivem segundo a carne não podem agradar a Deus. Vós não estais sob o domínio da carne, mas do Espírito, se é verdade que o Espírito de Deus habita em vós. Mas se alguém não tem o Espírito de Cristo, não Lhe pertence. Se Cristo está em vós, embora o vosso corpo seja mortal por causa do pecado, o espírito permanece vivo por causa da justiça. E se o Espírito d’Aquele que ressuscitou Jesus de entre os mortos habita em vós, Ele que ressuscitou Cristo Jesus de entre os mortos, também dará vida aos vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que habita em vós. Assim, irmãos, já não somos devedores à carne, para vivermos segundo a carne. Se viverdes segundo a carne, morrereis; mas se pelo espírito fizerdes morrer as obras da carne, vivereis. Porque todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Vós não recebestes um espírito de escravidão para recair no temor, mas o Espírito de adopção filial, pelo qual exclamamos: «Abá, Pai». O próprio Espírito Santo dá testemunho, em união com o nosso espírito, de que somos filhos de Deus. Se somos filhos, também somos herdeiros, herdeiros de Deus e herdeiros com Cristo; Se sofrermos com Ele, também com Ele seremos glorificados.
 
 
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 14, 15-16.23a-26)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Se Me amardes, guardareis os meus mandamentos. E Eu pedirei ao Pai, que vos dará outro Paráclito, para estar sempre convosco. Quem Me ama guardará a minha palavra, e meu Pai o amará; Nós viremos a Ele e faremos nele a nossa morada. Quem Me não ama não guarda a minha palavra. Ora a palavra que ouvis não é minha, mas do Pai, que Me enviou. Disse-vos estas coisas, estando ainda convosco. Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos recordará tudo o que Eu vos disse».
 
 
BOA NOTÍCIA
União na diversidade
Entre o evento de Pentecostes (ocorrido cinquenta dias após a Páscoa) e a história da torre de Babel (contada no livro de Génesis) há uma estreita relação. O episódio de Babel descreve como Deus criou as várias línguas e dispersou os homens pelos continentes da Terra. É a maneira escolhida pela Bíblia para explicar as dificuldades que os povos têm em entender-se, devido às diferentes línguas e tradições. À luz da revelação de Cristo, este episódio propõe-nos uma bonita catequese sobre a diversidade: se Deus interveio (criando as várias línguas) foi para ajudar a Humanidade a superar a tentação da uniformidade. Como se Ele nos dissesse: «Meus filhos, procurais a estrada da união e isso é bom. Mas não vos enganeis: a união não está na uniformidade. A verdadeira união de Amor pede e respeita a diversidade».
 
O evento de Pentecostes (que celebraremos amanhã) completa esta catequese. A primeira leitura da Missa, escolhida do livro dos Actos dos Apóstolos, descreve desta forma o anúncio da Boa Nova após a chegada do Espírito Santo: «a multidão reuniu-se e ficou muito admirada, pois cada qual os ouvia [os discípulos] falar na sua própria língua. Atónitos e maravilhados, diziam: “Não são todos galileus os que estão a falar? Então, como é que os ouve cada um de nós falar na sua própria língua?”».
 
Na torre de Babel a humanidade descobriu a sua própria variedade; no dia de Pentecostes ela aprendeu o caminho da comunhão na diversidade. E dali em diante, os povos «de todas as nações que há debaixo do céu» ouviram proclamar nas várias línguas do mundo, «as maravilhas do Senhor».
 
A Igreja Católica é uma comunidade multicultural e plurilingue! Graças ao fenómeno migratório, cada vez mais paróquias se deparam com a realidade concreta de uma assembleia heterogénea: onde antigamente preponderava uma única cultura, língua e sensibilidade religiosa, agora vemos uma variedade colorida de tradições e costumes, emblema do anunciado renovamento da face da terra.
 
A solenidade de Pentecostes recorda-nos que a união de todos os povos em Cristo faz parte da missão do Espírito Santo. Recorda-nos que somos chamados a construir pontes; não a levantar muros! Recorda-nos que na Igreja ninguém é estrangeiro, pois todos somos filhos e filhas de Deus.
 
P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2025.06.07



 
 

sábado, 31 de maio de 2025

ASCENSÃO DO SENHOR – ANO C

Leitura dos Actos dos Apóstolos
(Actos 1,1-11)
No meu primeiro livro, ó Teófilo, narrei todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar, desde o princípio até ao dia em que foi elevado ao Céu, depois de ter dado, pelo Espírito Santo, as suas instruções aos Apóstolos que escolhera. Foi também a eles que, depois da sua paixão, Se apresentou vivo com muitas provas, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando-lhes do reino de Deus. Um dia em que estava com eles à mesa, mandou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, «da Qual – disse Ele – Me ouvistes falar. Na verdade, João baptizou com água; vós, porém, sereis baptizados no Espírito Santo, dentro de poucos dias». Aqueles que se tinham reunido começaram a perguntar: «Senhor, é agora que vais restaurar o reino de Israel?» Ele respondeu-lhes: «Não vos compete saber os tempos ou os momentos que o Pai determinou com a sua autoridade; mas recebereis a força do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém e em toda a Judeia e na Samaria e até aos confins da terra». Dito isto, elevou-Se à vista deles e uma nuvem escondeu-O a seus olhos. E estando de olhar fito no Céu, enquanto Jesus Se afastava, apresentaram-se-lhes dois homens vestidos de branco, que disseram: «Homens da Galileia, porque estais a olhar para o Céu? Esse Jesus, que do meio de vós foi elevado para o Céu, virá do mesmo modo que O vistes ir para o Céu».
 
 
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 46 (47)
Refrão: Por entre aclamações e ao som da trombeta, ergue-Se Deus, o Senhor.
 
Povos todos, batei palmas,
aclamai a Deus com brados de alegria,
porque o Senhor, o Altíssimo, é terrível,
o Rei soberano de toda a terra.
 
Deus subiu entre aclamações,
o Senhor subiu ao som da trombeta.
Cantai hinos a Deus, cantai,
cantai hinos ao nosso Rei, cantai.
 
Deus é Rei do universo:
cantai os hinos mais belos.
Deus reina sobre os povos,
Deus está sentado no seu trono sagrado.
 
 
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Efésios
(Ef 1,17-23)
Irmãos: O Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda um espírito de sabedoria e de luz para O conhecerdes plenamente e ilumine os olhos do vosso coração, para compreenderdes a esperança a que fostes chamados, os tesouros de glória da sua herança entre os santos e a incomensurável grandeza do seu poder para nós os crentes. Assim o mostra a eficácia da poderosa força que exerceu em Cristo, que Ele ressuscitou dos mortos e colocou à sua direita nos Céus, acima de todo o Principado, Poder, Virtude e Soberania, acima de todo o nome que é pronunciado, não só neste mundo, mas também no mundo que há-de vir. Tudo submeteu aos seus pés e pô-l’O acima de todas as coisas como Cabeça de toda a Igreja, que é o seu Corpo, a plenitude d’Aquele que preenche tudo em todos.
 
 
Conclusão do santo Evangelho segundo São Lucas
(Lc 24,46-53)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Está escrito que o Messias havia de sofrer e de ressuscitar dos mortos ao terceiro dia e que havia de ser pregado em seu nome o arrependimento e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. Vós sois testemunhas disso. Eu vos enviarei Aquele que foi prometido por meu Pai. Por isso, permanecei na cidade, até que sejais revestidos com a força do alto». Depois Jesus levou os discípulos até junto de Betânia e, erguendo as mãos, abençoou-os. Enquanto os abençoava, afastou-Se deles e foi elevado ao Céu. Eles prostraram-se diante de Jesus, e depois voltaram para Jerusalém com grande alegria. E estavam continuamente no templo, bendizendo a Deus.
 
 
BOA NOTÍCIA
Deus tem fé no Homem
A Festa da Ascensão (celebrada em França no dia 29 de Maio e em Portugal no dia 1 de Junho) assinala o fim de um capítulo: terminaram os anos da presença histórica de Jesus Cristo entre nós. Na semana seguinte, com a solenidade de Pentecostes, recordaremos a vinda do Espírito Santo e a entrada definitiva no tempo da Igreja. «Recebereis a força do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas até aos confins da terra» (At 1,8). Com estas palavras, Jesus confia aos apóstolos a missão de anunciar ao mundo tudo aquilo que Ele ensinou.
 
Não acham estranha esta decisão? Colocar uma missão tão importante nas mãos de pessoas que, durante a Páscoa, demonstraram ser frágeis e incoerentes?
 
Existe apenas uma explicação: Deus tem fé no Homem! Ele ama-nos e acredita que podemos mudar; que podemos ser a melhor versão possível de nós mesmos. Por incrível que pareça, Ele escolheu-nos (a ti e a mim, querido leitor!) para anunciarmos ao mundo a Palavra. Somos os melhores? Não. Os mais inteligentes e sábios? Não. Os mais bonitos e fascinantes? Não. Somos tal e qual como os apóstolos. Somos Pedro, Tiago, João... e às vezes, até Judas. Uma comunidade, não de gente perfeita, mas de gente perdoada. Uma Igreja em caminho, confortada pelo Espírito e à procura de respostas para as perguntas que a História lhe coloca.
 
Deus ama-nos e quer que alcancemos a maturidade; que sejamos cristãos adultos. Ama-nos e por isso teve que esconder a sua presença, limitar a sua influência, para que pudéssemos ser livres nas nossas escolhas. Ama-nos! E confia que conseguiremos construir o Reino, purificar a nossa fé e anunciar o Seu amor.
 
P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2025.05.31
 
NB - No que diz respeito às Festas de Guarda, o calendário litúrgico pode apresentar algumas diferenças consoante o país. Normalmente, o blog “Liturgia da Palavra” segue a agenda prevista pela Conferência Episcopal Portuguesa. Por este motivo, coloco à vossa disposição as leituras da Festa da Ascensão e não aquelas do 7º Domingo da Páscoa.



 
 

domingo, 25 de maio de 2025

6º DOMINGO DA PÁSCOA – ANO C

Leitura dos Actos dos Apóstolos
(Actos 15,1-2.22-29)
Naqueles dias, alguns homens que desceram da Judeia ensinavam aos irmãos de Antioquia: «Se não receberdes a circuncisão, segundo a Lei de Moisés, não podereis salvar-vos». Isto provocou muita agitação e uma discussão intensa que Paulo e Barnabé tiveram com eles. Então decidiram que Paulo e Barnabé e mais alguns discípulos subissem a Jerusalém para tratarem dessa questão com os Apóstolos e os anciãos. Os Apóstolos e os anciãos, de acordo com toda a Igreja, decidiram escolher alguns irmãos e mandá-los a Antioquia com Barnabé e Paulo. Eram Judas, a quem chamavam Barsabás, e Silas, homens de autoridade entre os irmãos. Mandaram por eles esta carta: «Os Apóstolos e os anciãos, irmãos vossos, saúdam os irmãos de origem pagã residentes em Antioquia, na Síria e na Cilícia. Tendo sabido que, sem nossa autorização, alguns dos nossos vos foram inquietar, perturbando as vossas almas com as suas palavras, resolvemos, de comum acordo, escolher delegados para vo-los enviarmos juntamente com os nossos queridos Barnabé e Paulo, homens que expuseram a sua vida pelo nome de Nosso Senhor Jesus Cristo. Por isso vos mandamos Judas e Silas, que vos transmitirão de viva voz as nossas decisões. O Espírito Santo e nós decidimos não vos impor mais nenhuma obrigação, além destas que são indispensáveis: abster-se da carne imolada aos ídolos, do sangue, das carnes sufocadas e das relações imorais. Procedereis bem, evitando tudo isso. Adeus».
 
 
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 66 (67)
Refrão: Louvado sejais, Senhor, pelos povos de toda a terra.
 
Deus Se compadeça de nós e nos dê a sua bênção,
resplandeça sobre nós a luz do seu rosto.
Na terra se conhecerão os vossos caminhos
e entre os povos a vossa salvação.
 
Alegrem-se e exultem as nações,
porque julgais os povos com justiça
e governais as nações sobre a terra.
 
Os povos Vos louvem, ó Deus,
todos os povos Vos louvem.
Deus nos dê a sua bênção
e chegue o seu louvor aos confins da terra.
 
 
Leitura do livro do Apocalipse
(Ap 21,10-14.22-23)
Um Anjo transportou-me em espírito ao cimo de uma alta montanha e mostrou-me a cidade santa de Jerusalém, que descia do Céu, da presença de Deus, resplandecente da glória de Deus. O seu esplendor era como o de uma pedra preciosíssima, como uma pedra de jaspe cristalino. Tinha uma grande e alta muralha, com doze portas e, junto delas, doze Anjos; tinha também nomes gravados, os nomes das doze tribos dos filhos de Israel: três portas a nascente, três portas ao norte, três portas ao sul e três portas a poente.
 
 
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 14,23-29)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Quem Me ama guardará a minha palavra e meu Pai o amará; Nós viremos a ele e faremos nele a nossa morada. Quem Me não ama não guarda a minha palavra. Ora a palavra que ouvis não é minha, mas do Pai que Me enviou. Disse-vos estas coisas, estando ainda convosco. Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos recordará tudo o que Eu vos disse. Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como a dá o mundo. Não se perturbe nem se intimide o vosso coração. Ouvistes o que Eu vos disse: Vou partir, mas voltarei para junto de vós. Se Me amásseis, ficaríeis contentes por Eu ir para o Pai, porque o Pai é maior do que Eu. Disse-vo-lo agora, antes de acontecer, para que, quando acontecer, acrediteis».
 
 
BOA NOTÍCIA
«Dou-vos a minha paz»
No Evangelho deste domingo, o 6º do tempo da Páscoa, escutamos mais um trecho do discurso de despedida que Jesus pronunciou aos seus apóstolos durante a última ceia. A semana passada vimos como Ele revolucionou o mandamento do amor; esta semana somos convidados a reelaborar o nosso conceito de "paz".
 
«Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como a dá o mundo».
 
"Paz", na língua de Jesus diz-se "shalom", um termo hebraico muito comum entre os judeus como saudação. Aliás, é precisamente com a expressão "shalom aleikhem" que Jesus saúda os seus discípulos, quando os encontra pela primeira vez depois da ressurreição e diz: «a Paz esteja convosco» (Jo 20, 19).
 
Porém, o conceito cristão de "paz" é muito mais do que a mera ausência de guerra ou conflito. Não podemos não condenar a violência, a agressividade e o desejo de vingança, mas a paz de que nos fala hoje Jesus Cristo é algo de mais enérgico, dinâmico e bonito: é o viver sereno, sem medo, que provém (apenas) da confiança no Senhor.
 
«Shalom aleikhem!»: é o primeiro dom que o Ressuscitado dá ao mundo, quando aparece diante dos discípulos temerosos. «Não se perturbe nem se intimide o vosso coração». Um coração pacificado é um coração que confia, que crê, que sabe que é amado, que não se assusta diante das dificuldades e que não recua na presença de um desafio. É a serena coragem que alimentou o ardor missionário dos primeiros cristãos e que ainda hoje se sente na Igreja cada vez que anunciamos Jesus num lugar hostil à nossa fé. «A Paz esteja convosco!» Para que possais anunciar o Amor! Doar as vossas vidas! Testemunhar o Ressuscitado!
 
P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2025.05.25



 
 

sábado, 17 de maio de 2025

5º DOMINGO DA PÁSCOA – ANO C

Leitura dos Actos dos Apóstolos
(Actos 14,21b-27)
Naqueles dias, Paulo e Barnabé voltaram a Listra, a Icónio e a Antioquia. Iam fortalecendo as almas dos discípulos e exortavam-nos a permanecerem firmes na fé, «porque – diziam eles – temos de sofrer muitas tribulações para entrarmos no reino de Deus». Estabeleceram anciãos em cada Igreja, depois de terem feito orações acompanhadas de jejum, e encomendaram-nos ao Senhor, em quem tinham acreditado. Atravessaram então a Pisídia e chegaram à Panfília; depois, anunciaram a palavra em Perga e desceram até Atalia. De lá embarcaram para Antioquia, de onde tinham partido, confiados na graça de Deus, para a obra que acabavam de realizar. À chegada, convocaram a Igreja, contaram tudo o que Deus fizera com eles e como abrira aos gentios a porta da fé.
 
 
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 144
Refrão: Louvarei para sempre o vosso nome, Senhor, meu Deus e meu Rei.
 
O Senhor é clemente e compassivo,
paciente e cheio de bondade.
O Senhor é bom para com todos
e a sua misericórdia se estende a todas as criaturas.
 
Graças Vos dêem, senhor, todas as criaturas
e bendigam-Vos os vossos fiéis.
Proclamem a glória do vosso reino
e anunciem os vossos feitos gloriosos.
 
Para darem a conhecer aos homens o vosso poder,
a glória e o esplendor do vosso reino.
O vosso reino é um reino eterno,
o vosso domínio estende-se por todas as gerações.
 
 
Leitura do Livro do Apocalipse
(Ap 21,1-5ª)
Eu, João, vi um novo céu e uma nova terra, porque o primeiro céu e a primeira terra tinham desaparecido e o mar já não existia. Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do Céu, da presença de Deus, bela como noiva adornada para o seu esposo. Do trono ouvi uma voz forte que dizia: «Eis a morada de Deus com os homens. Deus habitará com os homens: eles serão o seu povo e o próprio Deus, no meio deles, será o seu Deus. Ele enxugará todas as lágrimas dos seus olhos; nunca mais haverá morte nem luto, nem gemidos nem dor, porque o mundo antigo desapareceu». Disse então Aquele que estava sentado no trono: «Vou renovar todas as coisas».
 
 
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 13,31-33a.34-35)
Quando Judas saiu do cenáculo, disse Jesus aos seus discípulos: «Agora foi glorificado o Filho do homem e Deus glorificado n’Ele. Se Deus foi glorificado n’Ele, Deus também O glorificará em Si mesmo e glorificá-l’O-á sem demora. Meus filhos, é por pouco tempo que ainda estou convosco. Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros. Como Eu vos amei, amai-vos também uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros».
 
 
BOA NOTÍCIA
Dou-vos um mandamento “novo”
No próximo domingo, o Evangelho propõe-nos a última instrução que Jesus deu aos seus discípulos, antes da traição de Judas: «Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros».
 
Curiosamente, no Levítico (o terceiro livro da Bíblia, escrito entre o sexto e o quinto século antes do nascimento de Cristo) encontramos este versículo: «Não te vingarás nem guardarás rancor aos filhos do teu povo, mas amarás o teu próximo como a ti mesmo». Afinal, o mandamento é novo ou é antigo?
 
«Não penseis que vim anular a Lei ou os Profetas. Não vim anulá-los, mas levá-los à perfeição» (Mt 5,17). Com estas palavras, Jesus convida-nos a não abandonar a sabedoria do Antigo Testamento, mas a reler tudo à luz da Sua vida e do Seu testemunho. Em Jesus Cristo, o mandamento do amor é revolucionado totalmente, adquirindo uma dimensão e profundidade até então inéditas.
 
O primeiro conceito a ser transformado é a noção de “próximo”. Para os antigos judeus, o preceito do amor abrangia apenas os filhos do povo hebraico. Jesus supera a noção tribal da lei e, com a parábola do bom samaritano, reescreve a definição de “próximo”. Ele ensina-nos a ultrapassar fronteiras raciais, linguísticas, culturais ou religiosas, e dilata a extensão do mandamento do amor até alcançar todos os homens e mulheres, sem excepção.
 
Mas o que realmente transforma a antiga lei não é tanto a universalidade do “novo” mandamento, quanto a profundidade, a intensidade com que ele deve ser vivido. A medida do amor já não é o amor que provamos por nós mesmos, mas sim, o amor que Jesus Cristo revelou com a sua vida e morte. É o amor total, o amor que «tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta» (1Cor 13,13).
 
P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2025.05.17



 
 

sábado, 10 de maio de 2025

4º DOMINGO DA PÁSCOA – ANO C

Leitura dos Actos dos Apóstolos
(Act 13,14.43-52)
Naqueles dias, Paulo e Barnabé seguiram de Perga até Antioquia da Pisídia. A um sábado, entraram na sinagoga e sentaram-se. Terminada a reunião da sinagoga, muitos judeus e prosélitos piedosos seguiram Paulo e Barnabé, que nas suas conversas com eles os exortavam a perseverar na graça de Deus. No sábado seguinte, reuniu-se quase toda a cidade para ouvir a palavra do Senhor. Ao verem a multidão, os judeus encheram-se de inveja e responderam com blasfémias. Corajosamente, Paulo e Barnabé declararam: «Era a vós que devia ser anunciada primeiro a palavra de Deus. Uma vez, porém, que a rejeitais e não vos julgais dignos da vida eterna, voltamo-nos para os gentios, pois assim nos mandou o Senhor: ‘Fiz de ti a luz das nações, para levares a salvação até aos confins da terra’». Ao ouvirem estas palavras, os gentios encheram-se de alegria e glorificavam a palavra do Senhor. Todos os que estavam destinados à vida eterna abraçaram a fé e a palavra do Senhor divulgava-se por toda a região. Mas os judeus, instigando algumas senhoras piedosas mais distintas e os homens principais da cidade, desencadearam uma perseguição contra Paulo e Barnabé e expulsaram-nos do seu território. Estes, sacudindo contra eles o pó dos seus pés, seguiram para Icónio. Entretanto, os discípulos estavam cheios de alegria e do Espírito Santo.
 
 
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 99 (100)
Refrão: Nós somos o povo de Deus, somos as ovelhas do seu rebanho.
 
Aclamai o Senhor, terra inteira,
servi o Senhor com alegria,
vinde a Ele com cânticos de júbilo.
 
Sabei que o Senhor é Deus,
Ele nos fez, a Ele pertencemos,
somos o seu povo, as ovelhas do seu rebanho.
 
O Senhor é bom,
eterna é a sua misericórdia,
a sua fidelidade estende-se de geração em geração.
 
 
Leitura do Livro do Apocalipse
(Ap 7,9.14b-17)
Eu, João, vi uma multidão imensa, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas. Estavam de pé, diante do trono e na presença do Cordeiro, vestidos com túnicas brancas e de palmas na mão. Um dos Anciãos tomou a palavra para me dizer: «Estes são os que vieram da grande tribulação, os que lavaram as túnicas e as branquearam no sangue do Cordeiro. Por isso estão diante do trono de Deus, servindo-O dia e noite no seu templo. Aquele que está sentado no trono abrigá-los-á na sua tenda. Nunca mais terão fome nem sede, nem o sol ou o vento ardente cairão sobre eles. O Cordeiro, que está no meio do trono, será o seu pastor e os conduzirá às fontes da água viva. E Deus enxugará todas as lágrimas dos seus olhos».
 
 
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 10,27-30)
Naquele tempo, disse Jesus: «As minhas ovelhas escutam a minha voz. Eu conheço as minhas ovelhas e elas seguem-Me. Eu dou-lhes a vida eterna e nunca hão-de perecer e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que Mas deu, é maior do que todos e ninguém pode arrebatar nada da mão do Pai. Eu e o Pai somos um só».
 
 
BOA NOTÍCIA
Conhecer a voz
O próximo domingo (o 4º do tempo Pascal) é chamado “Domingo do Bom Pastor”, pois a liturgia propõe-nos, todos os anos, um trecho diferente do 10º capítulo do Evangelho de S. João, onde Jesus se apresenta com esse título: «Eu sou o Bom Pastor que dá a vida pelas suas ovelhas».
 
Na nossa cultura urbana, o “pastor” é quase uma figura de outras eras, que pouco evoca, a não ser um mundo distante e quase fabulista, que pouco ou nada tem a ver com o nosso quotidiano. Em contrapartida, conhecemos bem a figura do presidente, do líder, do chefe: não raras vezes, é alguém que se impõe pela força, que manipula as massas, que escraviza os que estão sob a sua autoridade, que se aproveita dos fracos, que humilha os mais débeis… Ao propor-nos a figura bíblica do “Bom Pastor”, o Evangelho convida-nos a reflectir sobre o serviço da autoridade. É-nos proposta como modelo de líder (ou de “Pastor”) uma figura que oferece a vida, que serve, que respeita a liberdade das pessoas, que se dedica totalmente, que ama gratuitamente.
 
Para os cristãos, o Pastor por excelência é Cristo: Ele recebeu do Pai a missão de nos conduzir das trevas para a luz, da escravidão para a liberdade, da morte para a vida. No entanto, devemos responder com honestidade: o nosso Pastor é, de facto, Cristo, ou temos outros “pastores” que nos arrastam e que são as referências fundamentais à volta das quais construímos a nossa existência? Qual é a voz que condiciona as nossas opções? A voz do êxito e do triunfo a qualquer custo? Do comodismo e da instalação? Será que seguimos apenas quem grita mais alto e tenta inflamar as multidões?
Qual é a voz que te conduz?
Bom domingo e boa reflexão.
 
P. Carlos Caetano 
in LusoJornal 2025.05.10



 

sábado, 3 de maio de 2025

3º DOMINGO DA PÁSCOA – ANO C

Leitura dos Actos dos Apóstolos
(Actos 5,27b-32.40b-41)
Naqueles dias, o sumo sacerdote falou aos Apóstolos, dizendo: «Já vos proibimos formalmente de ensinar em nome de Jesus; e vós encheis Jerusalém com a vossa doutrina e quereis fazer recair sobre nós o sangue desse homem». Pedro e os Apóstolos responderam: «Deve obedecer-se antes a Deus que aos homens. O Deus dos nossos pais ressuscitou Jesus, a quem vós destes a morte, suspendendo-O no madeiro. Deus exaltou-O pelo seu poder, como Chefe e Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento e o perdão dos pecados. E nós somos testemunhas destes factos, nós e o Espírito Santo que Deus tem concedido àqueles que Lhe obedecem». Então os judeus mandaram açoitar os Apóstolos, intimando-os a não falarem no nome de Jesus, e depois soltaram-nos. Os Apóstolos saíram da presença do Sinédrio cheios de alegria, por terem merecido serem ultrajados por causa do nome de Jesus.
 
 
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 29 (30)
Refrão: Eu vos louvarei, Senhor, porque me salvastes.
 
Eu Vos glorifico, Senhor, porque me salvastes
e não deixastes que de mim se regozijassem os inimigos.
Tirastes a minha alma da mansão dos mortos,
vivificastes-me para não descer à cova.
 
Cantai salmos ao Senhor, vós os seus fiéis,
e dai graças ao seu nome santo.
A sua ira dura apenas um momento
e a sua benevolência a vida inteira.
Ao cair da noite vêm as lágrimas
e ao amanhecer volta a alegria.
 
Ouvi, Senhor, e tende compaixão de mim,
Senhor, sede Vós o meu auxílio.
Vós convertestes em júbilo o meu pranto:
Senhor meu Deus, eu Vos louvarei eternamente.
 
 
Leitura do Livro do Apocalipse
(Ap 5,11-14)
Eu, João, na visão que tive, ouvi a voz de muitos Anjos, que estavam em volta do trono, dos Seres Vivos e dos Anciãos. Eram miríades de miríades e milhares de milhares, que diziam em voz alta: «Digno é o Cordeiro que foi imolado de receber o poder e a riqueza, a sabedoria e a força, a honra, a glória e o louvor». E ouvi todas as criaturas que há no céu, na terra, debaixo da terra e no mar, e o universo inteiro, exclamarem: «Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro o louvor e a honra, a glória e o poder pelos séculos dos séculos». Os quatro Seres Vivos diziam: «Ámen!»; e os Anciãos prostraram-se em adoração.
 
 
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 21,1-19)
Naquele tempo, Jesus manifestou-Se outra vez aos seus discípulos, junto do mar de Tiberíades. Manifestou-Se deste modo: Estavam juntos Simão Pedro e Tomé, chamado Dídimo, Natanael, que era de Caná da Galileia, os filhos de Zebedeu e mais dois discípulos de Jesus. Disse-lhes Simão Pedro: «Vou pescar». Eles responderam-lhe: «Nós vamos contigo». Saíram de casa e subiram para o barco, mas naquela noite não apanharam nada. Ao romper da manhã, Jesus apresentou-Se na margem, mas os discípulos não sabiam que era Ele. Disse-lhes Jesus: «Rapazes, tendes alguma coisa de comer?» Eles responderam: «Não». Disse-lhes Jesus: «Lançai a rede para a direita do barco e encontrareis». Eles lançaram a rede e já mal a podiam arrastar por causa da abundância de peixes. O discípulo predilecto de Jesus disse a Pedro: «É o Senhor». Simão Pedro, quando ouviu dizer que era o Senhor, vestiu a túnica que tinha tirado e lançou-se ao mar. Os outros discípulos, que estavam apenas a uns duzentos côvados da margem, vieram no barco, puxando a rede com os peixes. Quando saltaram em terra, viram brasas acesas com peixe em cima, e pão. Disse-lhes Jesus: «Trazei alguns dos peixes que apanhastes agora». Simão Pedro subiu ao barco e puxou a rede para terra, cheia de cento e cinquenta e três grandes peixes; e, apesar de serem tantos, não se rompeu a rede. Disse-lhes Jesus: «Vinde comer». Nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar-Lhe: «Quem és Tu?», porque bem sabiam que era o Senhor. Jesus aproximou-Se, tomou o pão e deu-lho, fazendo o mesmo com os peixes. Esta foi a terceira vez que Jesus Se manifestou aos seus discípulos, depois de ter ressuscitado dos mortos. Depois de comerem, Jesus perguntou a Simão Pedro: «Simão, filho de João, tu amas-Me mais do que estes?» Ele respondeu-Lhe: «Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo». Disse-lhe Jesus: «Apascenta os meus cordeiros». Voltou a perguntar-lhe segunda vez: «Simão, filho de João, tu amas-Me?» Ele respondeu-Lhe: «Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo». Disse-lhe Jesus: «Apascenta as minhas ovelhas». Perguntou-lhe pela terceira vez: «Simão, filho de João, tu amas-Me?» Pedro entristeceu-se por Jesus lhe ter perguntado pela terceira vez se O amava e respondeu-Lhe: «Senhor, Tu sabes tudo, bem sabes que Te amo». Disse-lhe Jesus: «Apascenta as minhas ovelhas. Em verdade, em verdade te digo: Quando eras mais novo, tu mesmo te cingias e andavas por onde querias; mas quando fores mais velho, estenderás a mão e outro te cingirá e te levará para onde não queres». Jesus disse isto para indicar o género de morte com que Pedro havia de dar glória a Deus. Dito isto, acrescentou: «Segue-Me».
 
 
BOA NOTÍCIA
«Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo»
Vivemos o tempo da Páscoa! Cristo Ressuscitou! No entanto, no Evangelho do próximo domingo, encontramos Simão Pedro ainda triste... Não consegue esquecer aquele momento em que lhe faltou a coragem e, cobardemente, negou três vezes o seu Mestre: «Não o conheço». É Páscoa, mas não para Pedro. Para ele (e para muitos de nós) não mudou nada. Jesus está vivo, glorioso, ressuscitado, mas o apóstolo continua prisioneiro dos seus erros, dos próprios limites, do próprio fracasso. Regressa ao mar, ao barco e à pesca como se os últimos três anos nunca tivessem acontecido. Como se a aventura com o jovem carpinteiro da Galileia tivesse terminado no momento da negação.
 
Depois de uma noite de pesca infrutífera, o velho pescador prepara-se para regressar à margem. Na praia, um “desconhecido” chama e convida-o a lançar de novo as redes, que imediatamente se enchem de peixes. Naquele momento, Pedro reconhece Jesus! Impulsivo e cheio de entusiasmo, lança-se à água, mas quando finalmente chega à praia, lembra-se… recorda os seus erros… e permanece em silêncio.
 
Jesus pergunta-lhe: «Tu amas-Me?»
 
A Páscoa de Pedro começa neste momento, com a resposta sincera a esta simples questão. Pedro achava que a Igreja era a comunidade dos fortes, dos irrepreensíveis, dos perfeitos! O diálogo com Jesus ensina-lhe que a Igreja é a casa dos perdoados, do Amor, dos que foram salvos pela misericórdia do Pai. Agora sim, Pedro pode anunciar o perdão! Porque foi perdoado. Pode testemunhar o Amor! Porque sabe que é amado. Está finalmente pronto para guiar e confirmar os irmãos na fé! Porque compreendeu que não caminha sozinho e que Jesus estará sempre ao seu lado.
 
P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2025.05.03



 
 

sábado, 26 de abril de 2025

DOMINGO DA DIVINA MISERICÓRDIA – ANO C

Leitura dos Actos dos Apóstolos
(Act 4,32-35)
A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma; ninguém chamava seu ao que lhe pertencia, mas tudo entre eles era comum. Os Apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus com grande poder e gozavam todos de grande simpatia. Não havia entre eles qualquer necessitado, porque todos os que possuíam terras ou casas vendiam-nas e traziam o produto das vendas, que depunham aos pés dos Apóstolos. Distribuía-se então a cada um conforme a sua necessidade.
 
 
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 117 (118)
Refrão: Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom, porque é eterna a sua misericórdia.
 
Diga a casa de Israel:
é eterna a sua misericórdia.
Diga a casa de Aarão:
é eterna a sua misericórdia.
Digam os que temem o Senhor:
é eterna a sua misericórdia.
 
A mão do Senhor fez prodígios,
A mão do Senhor foi magnífica.
Não morrerei, mas hei-de viver,
para anunciar as obras do Senhor.
Com dureza me castigou o Senhor,
mas não me deixou morrer.
 
A pedra que os construtores rejeitaram
tornou-se pedra angular.
Tudo isto veio do Senhor:
é admirável aos nossos olhos.
Este é o dia que o Senhor fez:
exultemos e cantemos de alegria.
 
 
Leitura da Primeira Epístola de São João
(1 Jo 5,1-6)
Caríssimos: Quem acredita que Jesus é o Messias, nasceu de Deus, e quem ama Aquele que gerou ama também Aquele que nasceu d’Ele. Nós sabemos que amamos os filhos de Deus quando amamos a Deus e cumprimos os seus mandamentos, porque o amor de Deus consiste em guardar os seus mandamentos. E os seus mandamentos não são pesados, porque todo o que nasceu de Deus vence o mundo. Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. Quem é o vencedor do mundo senão aquele que acredita que Jesus é o Filho de Deus? Este é o que veio pela água e pelo sangue: Jesus Cristo; não só com a água, mas com a água e o sangue. É o Espírito que dá testemunho, porque o Espírito é a verdade.
 
 
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 20,19-31)
Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhe-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes serão retidos». Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor». Mas ele respondeu-lhes: «Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado, não acreditarei». Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa, e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, apresentou-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». Depois disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente». Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!» Disse-lhe Jesus: «Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto». Muitos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome.
 
 
BOA NOTÍCIA
Ver para crer
Em todo o mundo existem apenas três igrejas construídas sobre túmulos dos apóstolos de Cristo. A mais conhecida é a Basílica de S. Pedro, erigida sobre o túmulo de Simão Pedro em Roma, na Itália. Depois temos a Catedral de Santiago de Compostela, em Espanha, construída sobre o túmulo de Tiago, filho de Zebedeu e irmão de S. João Evangelista. A terceira é o Santuário Nacional de S. Tomé de Meliapore, na costa ocidental da Índia. Quando em 1522, os navegadores portugueses chegaram a este território, encontraram uma comunidade vivaz de cristãos, que atribuíam a própria evangelização ao esforço missionário de S. Tomé. O Apóstolo fora martirizado no ano 72 (trespassado por uma lança hindu) e, desde então, a comunidade cristã conservava com devoção os seus restos mortais numa pequena capela subterrânea, já mencionada nos diários de viagem do grande explorador veneziano Marco Polo, que a visitou em 1292.
 
Infelizmente, quando se fala de S. Tomé, quase nunca se recorda o seu ardor missionário, a vida de santidade, ou o martírio corajoso. O que recordamos facilmente é a incredulidade face à notícia da Ressurreição: «se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado, não acreditarei». No entanto, Tomé nunca abandonou a Igreja. E o evangelho desta semana diz-nos que foi na comunidade que ele, oito dias depois (domingo…), finalmente encontrou Jesus ressuscitado.
 
Há aqui uma importante lição! Não é sensato procurar o Senhor em experiências solitárias e egoístas: Ele prefere revelar-se no diálogo comunitário, na Palavra partilhada, no Pão repartido e no amor que une os irmãos.
 
P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2025.04.26



 
 

domingo, 20 de abril de 2025

DOMINGO DE PÁSCOA – ANO C

Leitura dos Actos dos Apóstolos
(Act 10,34.37-43)
Naqueles dias, Pedro tomou a palavra e disse: «Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do baptismo que João pregou: Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré, que passou fazendo o bem e curando a todos os que eram oprimidos pelo Demónio, porque Deus estava com Ele. Nós somos testemunhas de tudo o que Ele fez no país dos judeus e em Jerusalém; e eles mataram-n’O, suspendendo-O na cruz. Deus ressuscitou-O ao terceiro dia e permitiu-Lhe manifestar-Se, não a todo o povo, mas às testemunhas de antemão designadas por Deus, a nós que comemos e bebemos com Ele, depois de ter ressuscitado dos mortos. Jesus mandou-nos pregar ao povo e testemunhar que Ele foi constituído por Deus juiz dos vivos e dos mortos. É d’Ele que todos os profetas dão o seguinte testemunho: quem acredita n’Ele recebe pelo seu nome a remissão dos pecados.
 
 
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 117 (118)
Refrão: Este é o dia que o Senhor fez: exultemos e cantemos de alegria.
 
Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom,
porque é eterna a sua misericórdia.
Diga a casa de Israel:
é eterna a sua misericórdia.
 
A mão do Senhor fez prodígios,
a mão do Senhor foi magnífica.
Não morrerei, mas hei-de viver
para anunciar as obras do Senhor.
 
A pedra que os construtores rejeitaram
tornou-se pedra angular.
Tudo isto veio do Senhor:
é admirável aos nossos olhos.
 
 
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Colossenses
(Col 3,1-4)
Irmãos: Se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra. Porque vós morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a vossa vida, Se manifestar, também vós vos haveis de manifestar com Ele na glória.
 
 
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 20,1-9)
No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi de manhãzinha, ainda escuro, ao sepulcro e viu a pedra retirada do sepulcro. Correu então e foi ter com Simão Pedro e com o discípulo predilecto de Jesus e disse-lhes: «Levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde O puseram». Pedro partiu com o outro discípulo e foram ambos ao sepulcro. Corriam os dois juntos, mas o outro discípulo antecipou-se, correndo mais depressa do que Pedro, e chegou primeiro ao sepulcro. Debruçando-se, viu as ligaduras no chão, mas não entrou. Entretanto, chegou também Simão Pedro, que o seguira. Entrou no sepulcro e viu as ligaduras no chão e o sudário que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não com as ligaduras, mas enrolado à parte. Entrou também o outro discípulo que chegara primeiro ao sepulcro: viu e acreditou. Na verdade, ainda não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos.
 
 
BOA NOTÍCIA
O sepulcro vazio
Durante semanas meditámos parábolas e ensinamentos de Jesus, mas no Domingo de Páscoa, é-nos proposto um texto onde Jesus não fala, não aparece, não está presente. Somos confrontados com a realidade do sepulcro vazio e convidados a dar aquele último salto (de fé) necessário para nos reconhecermos como cristãos.
 
O que significa o sepulcro vazio? Os soldados que o guardavam não viram ninguém roubar o corpo... Os panos de linho e o sudário foram deixados no chão (se eram ladrões, qual o interesse em desnudar o cadáver?)... Mas o que realmente nos deve inquietar é o comportamento dos apóstolos.
 
A Bíblia conta-nos que apenas um discípulo e algumas mulheres estiveram presentes no momento da crucifixão: os restantes apóstolos, vencidos pelo medo, preferiram esconder-se e nem sequer presenciaram o momento da morte de Jesus. Mas a uma certa altura, eis que algo muda. Os apóstolos saem para a rua. Sem medo! E anunciam a todos que Jesus não está morto, ressuscitou! Estes homens, fracos e cobardes, transformam-se em testemunhas corajosas e destemidas. Enfrentam prisões, torturas e até a morte, mas não retractam o próprio anúncio e não calam a própria voz. «Jesus é o Messias! Não está morto. Ressuscitou!»
 
A ressurreição permanecerá sempre uma questão de fé. Mas não podemos negar que, após inúmeras provas de fragilidade e cobardia, algo (ou alguém) alterou profundamente a vida dos apóstolos, transformando-os nos maiores missionários que o mundo conheceu até hoje. Como podemos explicar esta transformação radical? O que será que lhes aconteceu? Quem será que viram? O que é que vocês acham?
 
P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2025.04.20



 
 
 

sábado, 12 de abril de 2025

DOMINGO DE RAMOS – ANO C

Leitura do Livro de Isaías
(Is 50,4-7)
O Senhor deu-me a graça de falar como um discípulo, para que eu saiba dizer uma palavra de alento aos que andam abatidos. Todas as manhãs Ele desperta os meus ouvidos, para eu escutar, como escutam os discípulos. O Senhor Deus abriu-me os ouvidos e eu não resisti nem recuei um passo. Apresentei as costas àqueles que me batiam e a face aos que me arrancavam a barba; não desviei o meu rosto dos que me insultavam e cuspiam. Mas o senhor Deus veio em meu auxílio, e por isso não fiquei envergonhado; tornei o meu rosto duro como pedra, e sei que não ficarei desiludido.
 
 
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 21 (22)
Refrão: Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?
 
Todos os que me vêem escarnecem de mim,
estendem os lábios e meneiam a cabeça:
«Confiou no Senhor, Ele que o livre,
Ele que o salve, se é seu amigo».
 
Matilhas de cães me rodearam,
cercou-me um bando de malfeitores.
Trespassaram as minhas mãos e os meus pés,
posso contar todos os meus ossos.
 
Repartiram entre si as minhas vestes
e deitaram sortes sobre a minha túnica.
Mas Vós, Senhor, não Vos afasteis de mim,
sois a minha força, apressai-Vos a socorrer-me.
 
Hei-de falar do vosso nome aos meus irmãos,
hei-de louvar-Vos no meio da assembleia.
Vós, que temeis o Senhor, louvai-O,
glorificai-O, vós todos os filhos de Jacob,
reverenciai-O, vós todos os filhos de Israel.
 
 
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses
(Filip 2,6-11)
Cristo Jesus, que era de condição divina, não Se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio. Assumindo a condição de servo, tornou-Se semelhante aos homens. Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte e morte de cruz. Por isso Deus O exaltou e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus todos se ajoelhem no céu, na terra e nos abismos, e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.
 
 
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 22,14-23,56)
[Lido utilizando três leitores: N = narrador; J = Jesus; R = restantes personagens]
 
N Quando chegou a hora, Jesus sentou-Se à mesa com os seus Apóstolos e disse-lhes:
 
J «Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa, antes de padecer; pois digo-vos que não tornarei a comê-la, até que se realize plenamente no reino de Deus».
 
N Então, tomando um cálice, deu graças e disse:
 
J «Tomai e reparti entre vós, pois digo-vos que não tornarei a beber do fruto da videira, até que venha o reino de Deus».
 
N Depois tomou o pão e, dando graças, partiu-o e deu-lho, dizendo:
 
J «Isto é o meu corpo entregue por vós. Fazei isto em memória de Mim».
 
N No fim da ceia, fez o mesmo com o cálice, dizendo:
 
J «Este cálice é a nova aliança no meu Sangue, derramado por vós. Entretanto, está comigo à mesa a mão daquele que Me vai entregar. O Filho do homem vai partir, como está determinado. Mas ai daquele por quem Ele vai ser entregue!»
 
N Começaram então a perguntar uns aos outros qual deles iria fazer semelhante coisa. Levantou-se também entre eles uma questão: qual deles se devia considerar o maior? Disse-lhes Jesus:
 
J «Os reis da nações exercem domínio sobre elas e os que têm sobre elas autoridade são chamados malfeitores. Vós não deveis proceder desse modo. O maior entre vós seja como o menor e aquele que manda seja como quem serve. Pois quem é o maior: o que está à mesa ou o que serve? Não é o que está à mesa? Ora Eu estou no meio de vós como aquele que serve. Vós estivestes sempre comigo nas minhas provações. E Eu preparo para vós um reino, como meu Pai o preparou para Mim: comereis e bebereis à minha mesa, no meu reino, e sentar-vos-eis em tronos, a julgar as doze tribos de Israel. Simão, Simão, Satanás vos reclamou para vos agitar na joeira como trigo. Mas Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça. E tu, uma vez convertido, fortalece os teus irmãos».
 
N Pedro respondeu-Lhe:
 
R «Senhor, eu estou pronto a ir contigo, até para a prisão e para a morte».
 
N Disse-lhe Jesus:
 
J «Eu te digo, Pedro: não cantará hoje o galo, sem que tu, por três vezes, negues conhecer-Me».
 
N Depois acrescentou:
 
J «Quando vos enviei sem bolsa nem alforge nem sandálias, faltou-vos alguma coisa?».
 
N Eles responderam que não lhes faltara nada. Disse-lhes Jesus:
 
J «Mas agora, quem tiver uma bolsa pegue nela, bem como no alforge; e quem não tiver espada venda a capa e compre uma. Porque Eu vos digo que se deve cumprir em Mim o que está escrito: ‘Foi contado entre os malfeitores’. Na verdade, o que Me diz respeito está a chegar ao fim».
 
N Eles disseram:
 
R «Senhor, estão aqui duas espadas».
 
N Mas Jesus respondeu:
 
J «Basta».
 
N Então saiu e foi, como de costume, para o Monte das Oliveiras e os discípulos acompanharam-n’O. Quando chegou ao local, disse-lhes:
 
J «Orai, para não entrardes em tentação».
 
N Depois afastou-Se deles cerca de um tiro de pedra e, pondo-Se de joelhos, começou a orar, dizendo:
 
J «Pai, se quiseres, afasta de Mim este cálice. Todavia, não se faça a minha vontade, mas a tua».
 
N Então apareceu-Lhe um Anjo, vindo do Céu, para O confortar. Entrando em angústia, orava mais instantemente e o suor tornou-se-Lhe como grossas gotas de sangue, que caíam na terra. Depois de ter orado, levantou-Se e foi ter com os discípulos, que encontrou a dormir, por causa da tristeza. Disse-lhes Jesus:
 
J «Porque estais a dormir? Levantai-vos e orai, para não entrardes em tentação».
 
N Ainda Ele estava a falar, quando apareceu uma multidão de gente. O chamado Judas, um dos Doze, vinha à sua frente e aproximou-se de Jesus, para O beijar. Disse-lhe Jesus:
 
J «Judas, é com um beijo que entregas o Filho do homem?»
 
N Ao verem o que ia suceder, os que estavam com Jesus perguntaram-Lhe:
 
R «Senhor, vamos feri-los à espada?»
 
N E um deles feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. Mas Jesus interveio, dizendo:
 
J «Basta! Deixai-os».
 
N E, tocando na orelha do homem, curou-o. Disse então Jesus aos que tinham vindo ao seu encontro, príncipes dos sacerdotes, oficiais do templo e anciãos:
 
J «Vós saístes com espadas e varapaus, como se viésseis ao encontro dum salteador. Eu estava todos os dias convosco no templo e não Me deitastes as mãos. Mas esta é a vossa hora e o poder das trevas.
 
N Apoderaram-se então de Jesus, levaram-n’O e introduziram-n’O em casa do sumo sacerdote. Pedro seguia-os de longe. Acenderam uma fogueira no meio do pátio, sentaram-se em volta dela e Pedro foi sentar-se no meio deles. Ao vê-lo sentado ao lume, uma criada, fitando os olhos nele, disse:
 
R «Este homem também andava com Jesus».
 
N Mas Pedro negou:
 
R «Não O conheço, mulher».
 
N Pouco depois, disse outro, ao vê-lo:
 
R «Tu também és um deles».
 
N Mas Pedro disse:
 
R «Homem, não sou».
 
N Passada mais ou menos uma hora, afirmava outro com insistência:
 
R «Esse homem, com certeza, também andava com Jesus, pois até é galileu».
 
N Pedro respondeu:
 
R «Homem, não sei o que dizes».
 
N Nesse instante – ainda ele falava – um galo cantou. O Senhor voltou-Se e fitou os olhos em Pedro. Então Pedro lembrou-se da palavra do Senhor, quando lhe disse:‘Antes do galo cantar, Me negarás três vezes’. E, saindo para fora, chorou amargamente. Entretanto, os homens que guardavam Jesus troçavam d’Ele e maltratavam-n’O. Cobrindo-Lhe o rosto, perguntavam-Lhe:
 
R «Adivinha, profeta: Quem te bateu?»
 
N E dirigiam-Lhe muitos outros insultos. Ao romper do dia, reuniu-se o conselho dos anciãos do povo, os príncipes dos sacerdotes e os escribas. Levaram-n’O ao seu tribunal e disseram-Lhe:
 
R «Diz-nos se Tu és o Messias».
 
N Jesus respondeu-lhes:
 
J «Se Eu vos disser, não acreditareis e, se fizer alguma pergunta, não respondereis. Mas o Filho do homem sentar-Se-á doravante à direita do poder de Deus».
 
N Disseram todos:
 
R «Tu és então o Filho de Deus?»
 
N Jesus respondeu-lhes:
 
J «Vós mesmos dizeis que Eu sou».
 
N Então exclamaram:
 
R «Que necessidade temos ainda de testemunhas? Nós próprios o ouvimos da sua boca».
 
N Levantaram-se todos e levaram Jesus a Pilatos. Começaram a acusá-l’O, dizendo:
 
R «Encontrámos este homem a sublevar o nosso povo, a impedir que se pagasse o tributo a César e dizendo ser o Messias-Rei».
 
N Pilatos perguntou-Lhe:
 
R «Tu és o Rei dos judeus?»
 
N Jesus respondeu-lhe:
 
J «Tu o dizes».
 
N Pilatos disse aos príncipes dos sacerdotes e à multidão:
 
R «Não encontro nada de culpável neste homem».
 
N Mas eles insistiam:
 
R «Amotina o povo, ensinando por toda a Judeia, desde a Galileia, onde começou, até aqui».
 
N Ao ouvir isto, Pilatos perguntou se o homem era galileu; e, ao saber que era da jurisdição de Herodes, enviou-O a Herodes, que também estava nesses dias em Jerusalém. Ao ver Jesus, Herodes ficou muito satisfeito. Havia bastante tempo que O queria ver, pelo que ouvia dizer d’Ele, e esperava que fizesse algum milagre na sua presença. Fez-Lhe muitas perguntas, mas Ele nada respondeu. Os príncipes dos sacerdotes e os escribas que lá estavam acusavam-n’O com insistência. Herodes, com os seus oficiais, tratou-O com desprezo e, por troça, mandou-O cobrir com um manto magnífico e remeteu-O a Pilatos. Herodes e Pilatos, que eram inimigos, ficaram amigos nesse dia. Pilatos convocou os príncipes dos sacerdotes, os chefes e o povo, e disse-lhes:
 
R «Trouxestes este homem à minha presença como agitador do povo. Interroguei-O diante de vós e não encontrei n’Ele nenhum dos crimes de que O acusais. Herodes também não, uma vez que no-l’O mandou de novo. Como vedes, não praticou nada que mereça a morte. Vou, portanto, soltá-l’O, depois de O mandar castigar».
 
N Pilatos tinha obrigação de lhes soltar um preso por ocasião da festa. E todos se puseram a gritar:
 
R «Mata Esse e solta-nos Barrabás».
 
N Barrabás tinha sido metido na cadeia por causa de uma insurreição desencadeada na cidade e por assassínio. De novo Pilatos lhes dirigiu a palavra, querendo libertar Jesus. Mas eles gritavam:
 
R «Crucifica-O! Crucifica-O!»
 
N Pilatos falou-lhes pela terceira vez:
 
R Mas que mal fez este homem? Não encontrei n’Ele nenhum motivo de morte. Por isso vou soltá-l’O, depois de O mandar castigar».
 
N Mas eles continuavam a gritar, pedindo que fosse crucificado, e os seus clamores aumentavam de violência. Então Pilatos decidiu fazer o que eles pediam: soltou aquele que fora metido na cadeia por insurreição e assassínio, como eles reclamavam, e entregou-lhes Jesus para o que eles queriam.
 
N Quando o conduziam, lançaram mão de um certo Simão de Cirene, que vinha do campo, e puseram-lhe a cruz às costas, para a levar atrás de Jesus. Seguia-O grande multidão de povo e mulheres que batiam no peito e se lamentavam, chorando por Ele. Mas Jesus voltou-Se para elas e disse-lhes:
 
J «Filhas de Jerusalém, não choreis por Mim; chorai antes por vós mesmas e pelos vossos filhos; pois dias virão em que se dirá: ‘Felizes as estéreis, os ventres que não geraram e os peitos que não amamentaram’. Começarão a dizer aos montes: ‘Caí sobre nós’; e às colinas: ‘Cobri-nos’. Porque, se tratam assim a madeira verde, que acontecerá à seca?».
 
N Levavam ainda dois malfeitores para serem executados com Jesus. Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, crucificaram-n’O a Ele e aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda. Jesus dizia:
 
J «Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem».
 
N Depois deitaram sortes, para repartirem entre si as vestes de Jesus. O povo permanecia ali a observar. Por sua vez, os chefes zombavam e diziam:
 
R «Salvou os outros: salve-Se a Si mesmo, se é o Messias de Deus, o Eleito».
 
N Também os soldados troçavam d’Ele; aproximando-se para Lhe oferecerem vinagre, diziam:
 
R «Se és o Rei dos judeus, salva-Te a Ti mesmo».
 
N Por cima d’Ele havia um letreiro: «Este é o rei dos judeus». Entretanto, um dos malfeitores que tinham sido crucificados insultava-O, dizendo:
 
R «Não és Tu o Messias? Salva-Te a Ti mesmo e a nós também».
 
N Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o:
 
R «Não temes a Deus, tu que sofres o mesmo suplício? Quanto a nós, fez-se justiça, pois recebemos o castigo das nossas más acções. Mas Ele nada praticou de condenável».
 
N E acrescentou:
 
R «Jesus, lembra-Te de mim, quando vieres com a tua realeza».
 
N Jesus respondeu-lhe:
 
J «Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no Paraíso».
 
N Era já quase meio-dia, quando as trevas cobriram toda a terra, até às três horas da tarde, porque o sol se tinha eclipsado. O véu do templo rasgou-se ao meio. E Jesus exclamou com voz forte:
 
J «Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito».
 
N Dito isto, expirou. Vendo o que sucedera, o centurião deu glória a Deus, dizendo:
 
R «Realmente este homem era justo».
 
N E toda a multidão que tinha assistido àquele espectáculo, ao ver o que se passava, regressava batendo no peito. Todos os conhecidos de Jesus, bem como as mulheres que O acompanhavam desde a Galileia, mantinham-se à distância, observando estas coisas.
 
N Havia um homem chamado José, da cidade de Arimateia, que era pessoa recta e justa e esperava o reino de Deus. Era membro do Sinédrio, mas não tinha concordado com a decisão e o proceder dos outros. Foi ter com Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. E depois de o ter descido da cruz, envolveu-o num lençol e depositou-o num sepulcro escavado na rocha, onde ninguém ainda tinha sido sepultado. Era o dia da Preparação e começavam a aparecer as luzes do sábado. Entretanto, as mulheres que tinham vindo com Jesus da Galileia acompanharam José e observaram o sepulcro e a maneira como fora depositado o corpo de Jesus. No regresso, prepararam aromas e perfumes. E no sábado guardaram o descanso, conforme o preceito.
 
 
BOA NOTÍCIA
Testemunhas da Paixão
A liturgia do próximo domingo (Domingo de Ramos!) propõe-nos o relato da Paixão de Cristo. Em toda a história da humanidade não encontramos outro episódio que tenha inspirado tantas obras de arte quanto este Evangelho, que nos convida a percorrer os passos que do cenáculo, passando pelo Monte das Oliveiras, pela casa do sumo-sacerdote e pelo pretório romano, levaram Jesus até ao Calvário e, finalmente, ao túmulo escavado na rocha.
 
É óbvio que, por motivo de espaço, não se pode falar de tudo, mas como posso não mencionar o drama de Pedro, que nega conhecer Jesus, e esquecer aquele momento em que os dois cruzam o olhar? Ou não comentar as reacções de Pilatos, Herodes, Simão de Cirene, das mulheres de Jerusalém, dos malfeitores, do centurião romano…?
 
Este Evangelho não é “apenas” o relato das últimas horas de Jesus: é também a história de todos aqueles que presenciaram a Sua prisão, processo e morte. No fundo, é a nossa história! É o espelho onde nos reconhecemos nas várias personagens que estiveram junto a Cristo, desde o momento da última ceia até ao enterro do Seu corpo sem vida.
 
O protagonista da Paixão é um só: Jesus Cristo. Mas a Paixão é algo que todos testemunhamos; que todos nós vivemos. Diante do episódio desconcertante do Filho de Deus que morre na cruz, alguns ainda hoje exclamam: «Não O conheço». Outros dizem: «Salva-te a Ti mesmo e a nós também». Mas poucos conseguem entender que a morte é o culminar da Sua vida; é a afirmação última, porém mais radical e mais verdadeira (porque escrita com sangue), daquilo que Jesus pregou com palavras e com gestos: o amor total, o perdão sincero, o dom sem limites.
 
P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2025.04.12





 
 

Arquivo do blogue