sábado, 13 de dezembro de 2025

3º DOMINGO DO TEMPO DO ADVENTO – ANO A

Leitura do Livro de Isaías
(Is 35,1-6a.10)
Alegrem-se o deserto e o descampado, rejubile e floresça a terra árida, cubra-se de flores como o narciso, exulte com brados de alegria. Ser-lhe-á dada a glória do Líbano, o esplendor do Carmelo e do Sáron. Verão a glória do Senhor, o esplendor do nosso Deus. Fortalecei as mãos fatigadas e robustecei os joelhos vacilantes. Dizei aos corações perturbados: «Tende coragem, não temais: Aí está o vosso Deus, vem para fazer justiça e dar a recompensa. Ele próprio vem salvar-nos». Então se abrirão os olhos dos cegos e se desimpedirão os ouvidos dos surdos. Então o coxo saltará como um veado e a língua do mudo cantará de alegria. Voltarão os que o Senhor libertar, hão-de chegar a Sião com brados de alegria, com eterna felicidade a iluminar-lhes o rosto. Reinarão o prazer e o contentamento e acabarão a dor e os gemidos.
 
 
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 145 (146)
Refrão: Vinde, Senhor, e salvai-nos.
 
O Senhor faz justiça aos oprimidos,
dá pão aos que têm fome
e a liberdade aos cativos.
 
O Senhor ilumina os olhos dos cegos,
o Senhor levanta ao abatidos,
o Senhor ama os justos.
 
O Senhor protege os peregrinos,
ampara o órfão e a viúva
e entrava o caminho aos pecadores.
 
O Senhor reina eternamente.
O teu Deus, ó Sião,
é rei por todas as gerações.
 
 
Leitura da Epístola de São Tiago
(Tg 5,7-10)
Irmãos: Esperai com paciência a vinda do Senhor. Vede como o agricultor espera pacientemente o precioso fruto da terra, aguardando a chuva temporã e a tardia. Sede pacientes, vós também, e fortalecei os vossos corações, porque a vinda do Senhor está próxima. Não vos queixeis uns dos outros, a fim de não serdes julgados. Eis que o Juiz está à porta. Irmãos, tomai como modelos de sofrimento e de paciência os profetas, que falaram em nome do Senhor.
 
 
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 11,2-11)
Naquele tempo, João Baptista ouviu falar, na prisão, das obras de Cristo e mandou-Lhe dizer pelos discípulos: «És Tu Aquele que há-de vir ou devemos esperar outro?» Jesus respondeu-lhes: «Ide contar a João o que vedes e ouvis: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e a boa nova é anunciada aos pobres. E bem-aventurado aquele que não encontrar em Mim motivo de escândalo». Quando os mensageiros partiram, Jesus começou a falar de João às multidões: «Que fostes ver ao deserto? Uma cana agitada pelo vento? Então que fostes ver? Um homem vestido com roupas delicadas? Mas aqueles que usam roupas delicadas encontram-se nos palácios dos reis. Que fostes ver então? Um profeta? Sim – Eu vo-lo digo – e mais que profeta. É dele que está escrito: ‘Vou enviar à tua frente o meu mensageiro, para te preparar o caminho’. Em verdade vos digo: Entre os filhos de mulher, não apareceu ninguém maior do que João Baptista. Mas o menor no reino dos Céus é maior do que ele».
 
 
BOA NOTÍCIA
Desconcerto e surpresa
No Evangelho do próximo domingo, dia 14, escutaremos a pergunta que, da prisão, João Baptista pede que coloquem a Jesus: «És Tu Aquele que há-de vir ou devemos esperar outro?»
 
João esperava um Messias que viesse lançar fogo à terra, castigar os maus e os pecadores, dar início ao “juízo de Deus”. Para sua grande surpresa, Jesus não é um vingador justiceiro e o Seu modo de agir desorienta-o totalmente: desde o início da sua missão, Jesus, em vez de condenar os culpados, procurou aproximar-se dos pecadores, dos marginais e dos impuros. Estendeu-lhes a mão, mostrou-lhes o amor de Deus, ofereceu-lhes perdão e misericórdia. João e os seus discípulos estão muito confusos: será realmente este o Messias esperado, ou houve um engano e é preciso esperar um outro que venha actuar de uma forma mais decidida e mais justiceira?
 
O desconcerto de João é também o nosso; a sua dificuldade de entrar na lógica do Amor é a nossa dificuldade. Muitos cristãos ainda caiem neste erro de dividir o mundo em maus e bons: os bons (normalmente, nós!) que serão salvos e os maus (os outros…) que serão implacavelmente punidos. Jesus troca-nos as voltas e em vez de condenar e punir, procura acima de tudo salvar e resgatar quem se afastou da Verdade.
 
Como é surpreendente o Senhor! Nós esperamos um Deus forte e majestoso e Ele vem como um bebé numa manjedoura; nós acreditamos num Deus encolerizado e Ele fala principalmente de amor e perdão; nós aguardamos um Deus triunfal e Ele revela-Se num crucificado.
 
Concluo com a inevitável questão que neste tempo do Advento todos somos convidados a responder: E tu? Qual é o Messias que esperas?
 
P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2025.12.13



 
 

sábado, 6 de dezembro de 2025

2º DOMINGO DO TEMPO DO ADVENTO – ANO A

Leitura do Livro de Isaías
(Is 11,1-10)
Naquele dia, sairá um ramo do tronco de Jessé e um rebento brotará das suas raízes. Sobre ele repousará o espírito do Senhor: espírito de sabedoria e de inteligência, espírito de conselho e de fortaleza, espírito de conhecimento e de temor de Deus. Animado assim do temor de Deus, não julgará segundo as aparências, nem decidirá pelo que ouvir dizer. Julgará os infelizes com justiça e com sentenças rectas os humildes do povo. Com o chicote da sua palavra atingirá o violento e com o sopro dos seus lábios exterminará o ímpio. A justiça será a faixa dos seus rins e a lealdade a cintura dos seus flancos. O lobo viverá com o cordeiro e a pantera dormirá com o cabrito; o bezerro e o leãozinho andarão juntos e um menino os poderá conduzir. A vitela e a ursa pastarão juntamente, suas crias dormirão lado a lado; e o leão comerá feno como o boi. A criança de leite brincará junto ao ninho da cobra e o menino meterá a mão na toca da víbora. Não mais praticarão o mal nem a destruição em todo o meu santo monte: o conhecimento do Senhor encherá o país, como as águas enchem o leito do mar. Nesse dia, a raiz de Jessé surgirá como bandeira dos povos; as nações virão procurá-la e a sua morada será gloriosa.
 
 
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 71 (72)
Refrão: Nos dias do Senhor nascerá a justiça e a paz para sempre.
 
Ó Deus, dai ao rei o poder de julgar
e a vossa justiça ao filho do rei.
Ele governará o vosso povo com justiça
e os vossos pobres com equidade.
 
Florescerá a justiça nos seus dias
e uma grande paz até ao fim dos tempos.
Ele dominará de um ao outro mar,
do grande rio até aos confins da terra.
 
Socorrerá o pobre que pede auxílio
e o miserável que não tem amparo.
Terá compaixão dos fracos e dos pobres
e defenderá a vida dos oprimidos.
 
O seu nome será eternamente bendito
e durará tanto como a luz do sol;
nele serão abençoadas todas as nações,
todos os povos da terra o hão-de bendizer.
 
 
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
(Rom 15,4-9)
Irmãos: Tudo o que foi escrito no passado foi escrito para nossa instrução, a fim de que, pela paciência e consolação que vêm das Escrituras, tenhamos esperança. O Deus da paciência e da consolação vos conceda que alimenteis os mesmos sentimentos uns para com os outros, segundo Cristo Jesus, para que, numa só alma e com uma só voz, glorifiqueis a Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo. Acolhei-vos, portanto, uns aos outros, como Cristo vos acolheu, para glória de Deus. Pois Eu vos digo que Cristo Se fez servidor dos judeus, para mostrar a fidelidade de Deus e confirmar as promessas feitas aos nossos antepassados. Por sua vez, os gentios dão glória a Deus pela sua misericórdia, como está escrito: «Por isso eu Vos bendirei entre as nações e cantarei a glória do vosso nome».
 
 
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 3,1-12)
Naqueles dias, apareceu João Baptista a pregar no deserto da Judeia, dizendo: «Arrependei-vos, porque está perto o reino dos Céus». Foi dele que o profeta Isaías falou, ao dizer: «Uma voz clama no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas’». João tinha uma veste tecida com pêlos de camelo e uma cintura de cabedal à volta dos rins. O seu alimento eram gafanhotos e mel silvestre. Acorria a ele gente de Jerusalém, de toda a Judeia e de toda a região do Jordão; e eram baptizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados. Ao ver muitos fariseus e saduceus que vinham ao seu baptismo, disse-lhes: «Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir? Praticai acções que se conformem ao arrependimento que manifestais. Não penseis que basta dizer: ‘Abraão é o nosso pai’, porque eu vos digo: Deus pode suscitar, destas pedras, filhos de Abraão. O machado já está posto à raiz das árvores. Por isso, toda a árvore que não dá fruto será cortada e lançada ao fogo. Eu baptizo-vos com água, para vos levar ao arrependimento. Mas Aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu e não sou digno de levar as suas sandálias. Ele baptizar-vos-á no Espírito Santo e no fogo. Tem a pá na sua mão: há-de limpar a eira e recolher o trigo no celeiro. Mas a palha, queimá-la-á num fogo que não se apaga».
 
 
BOA NOTÍCIA
«Tem a pá na sua mão»
Continuamos o caminho de preparação para o Natal e no Evangelho do próximo domingo, João Baptista descreve o Messias que irá chegar com estas palavras: «[Ele] tem a pá na sua mão: há-de limpar a eira e recolher o trigo no celeiro. Mas a palha, queimá-la-á num fogo que não se apaga».
 
Para quem não cresceu num ambiente agrícola, esta última referência à «pá na mão» pode parecer estranha... Uma forma eficaz de separar o trigo da palha é jogando tudo no ar, com a ajuda de uma grande pá especial. A palha aos poucos vai sendo levada pelo vento e os grãos de trigo (mais pesados) voltam a cair no chão da eira.
 
O Messias anunciado por João Baptista é portanto Aquele que purificará o mundo, que distinguirá o Bem do Mal. E esta distinção é hoje mais necessária que nunca. Cada vez mais tentam “vender-nos” pecados bem antigos, como se fossem novos valores. Trair, roubar, mentir… coisas que antigamente ninguém duvidava que fossem erradas, agora (aos olhos de alguns) parecem quase trunfos, sinais de esperteza, virtudes das quais podem gabar-se com vaidade!
 
Precisamos de limpar a nossa eira, de purificar a nossa consciência. Se uma coisa é moralmente errada, não percamos tempo a procurar absurdas justificações. Se algo na minha vida não me está a ajudar a ser uma pessoa melhor, então chegou o momento de eliminar esse comportamento, de queimá-lo no forno como palha. Se um vício nos impede de abraçar plenamente os valores do Evangelho, sejamos corajosos: chegou o momento de encarar com coragem a verdade e de renunciar aos maus hábitos.
 
Façamos verdade nas nossas vidas: deixemos que o Senhor separe o trigo da palha!
 
P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2025.12.06



 
 

sábado, 29 de novembro de 2025

1º DOMINGO DO TEMPO DO ADVENTO – ANO A

Leitura do Livro de Isaías
(Is 2,1-5)
Visão de Isaías, filho de Amós, acerca de Judá e de Jerusalém: Sucederá, nos dias que hão-de vir, que o monte do templo do Senhor se há-de erguer no cimo das montanhas e se elevará no alto das colinas. Ali afluirão todas as nações e muitos povos ocorrerão, dizendo: «Vinde, subamos ao monte do Senhor, ao templo do Deus de Jacob. Ele nos ensinará os seus caminhos e nós andaremos pelas suas veredas. De Sião há-de vir a lei e de Jerusalém a palavra do Senhor». Ele será juiz no meio das nações e árbitro de povos sem número. Converterão as espadas em relhas de arado e as lanças em foices. Não levantará a espada nação contra nação, nem mais se hão-de preparar para a guerra. Vinde, ó casa de Jacob, caminhemos à luz do Senhor.
 
 
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 121 (122)
Refrão: Vamos com alegria para a casa do Senhor.
 
Alegrei-me quando me disseram:
«Vamos para a casa do Senhor».
Detiveram-se os nossos passos
às tuas portas, Jerusalém.
 
Para lá sobem as tribos, as tribos do Senhor,
segundo costume de Israel, para celebrar o nome do Senhor;
ali estão os tribunais da justiça,
os tribunais da casa de David.
 
Pedi a paz para Jerusalém:
«Vivam seguros quantos te amam.
Haja paz dentro dos teus muros,
tranquilidade em teus palácios».
 
Por amor de meus irmãos e amigos,
pedirei a paz para ti.
Por amor da casa do Senhor,
pedirei para ti todos os bens.
 
 
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
(Rom 13,11-14)
Irmãos: Vós sabeis em que tempo estamos: Chegou a hora de nos levantarmos do sono, porque a salvação está agora mais perto de nós do que quando abraçámos a fé. A noite vai adiantada e o dia está próximo. Abandonemos as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz. Andemos dignamente, como em pleno dia, evitando comezainas e excessos de bebida, as devassidões e libertinagens, as discórdias e os ciúmes; não vos preocupeis com a natureza carnal, para satisfazer os seus apetites, mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo.
 
 
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 24,37-44)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Como aconteceu nos dias de Noé, assim sucederá na vinda do Filho do homem. Nos dias que precederam o dilúvio, comiam e bebiam, casavam e davam em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca; e não deram por nada, até que veio o dilúvio, que a todos levou. Assim será também na vinda do Filho do homem. Então, de dois que estiverem no campo, um será tomado e outro deixado; de duas mulheres que estiverem a moer com a mó, uma será tomada e outra deixada. Portanto, vigiai, porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor. Compreendei isto: se o dono da casa soubesse a que horas da noite viria o ladrão, estaria vigilante e não deixaria arrombar a sua casa. Por isso, estai vós também preparados, porque na hora em que menos pensais, virá o Filho do homem.
 
 
BOA NOTÍCIA
O Senhor virá
No próximo domingo, dia 30 de Novembro, iniciaremos o primeiro ano do ciclo litúrgico trienal, o chamado “ano A”. O primeiro domingo do ano marca também o início do Advento (do latim Adventus, que significa “chegada”), o tempo litúrgico que antecede o Natal. Porém, inesperadamente, o primeiro evangelho, do primeiro domingo, do primeiro ano, fala-nos... do último dia, o dia do Senhor: «Vigiai, porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor».
 
Jesus convida-nos a vigiar! Mas vigiar o quê? Vigiar quem? Numa sociedade onde abundam as sentinelas tecnológicas perfeitamente camufladas, perdemos o hábito de vigiar e tornámo-nos distraídos e alheados. Olhamos, mas não vemos. Ouvimos, mas não escutamos. E desperdiçamos imensas oportunidades de crescer na fé, de testemunhar o Evangelho, de construir mais um pedaço do Reino. Basta pensar no ano que está a terminar: quantas vezes fomos capazes de colher a presença do Senhor nas nossas vidas, no nosso quotidiano? Nos doze meses que passaram, quantas vezes fomos capazes de O reconhecer nas pessoas que encontrámos e nas experiências que fizemos? «Estai vós também preparados, porque na hora em que menos pensais, virá o Filho do homem».
 
Vigiai, vigiai! Pois cada minuto é importante. Cada momento da nossa vida (se não estamos distraídos) é uma nova oportunidade para acolher (ou rejeitar) o Senhor que vem, para escutar (ou ignorar) a Sua voz, para construir (ou demolir) o Reino.
 
Bom caminho, bom ano e não se distraiam demasiado!
 
P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2025.11.29



domingo, 23 de novembro de 2025

SOLENIDADE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO – ANO C

Leitura do Segundo Livro de Samuel
(2 Sam 5,1-3)
Naqueles dias, todas as tribos de Israel foram ter com David a Hebron e disseram-lhe: «Nós somos dos teus ossos e da tua carne. Já antes, quando Saul era o nosso rei, eras tu quem dirigia as entradas e saídas de Israel. E o Senhor disse-te: “Tu apascentarás o meu povo de Israel, tu serás rei de Israel”». Todos os anciãos de Israel foram à presença do rei, a Hebron. O rei David concluiu com eles uma aliança diante do Senhor e eles ungiram David como rei de Israel.
 
 
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 121 (122)
Refrão: Vamos com alegria para a casa do Senhor.
 
Alegrei-me quando me disseram:
«Vamos para a casa do Senhor».
Detiveram-se os nossos passos
às tuas portas, Jerusalém.
 
Jerusalém, cidade bem edificada,
que forma tão belo conjunto!
Para lá sobem as tribos,
as tribos do Senhor.
 
Para celebrar o nome do Senhor,
segundo o costume de Israel;
ali estão os tribunais da justiça,
os tribunais da casa de David.
 
 
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Colossenses
(Col 1,12-20)
Irmão: Damos graças a Deus Pai, que nos fez dignos de tomar parte na herança dos santos, na luz divina. Ele nos libertou do poder das trevas e nos transferiu para o reino do seu Filho muito amado, no qual temos a redenção, o perdão dos pecados. Cristo é a imagem de Deus invisível, o Primogénito de toda a criatura; Porque n’Ele foram criadas todas as coisas no céu e na terra, visíveis e invisíveis, Tronos e Dominações, Principados e Potestades: Ele é anterior a todas as coisas e n’Ele tudo subsiste. Ele é a cabeça da Igreja, que é o seu corpo. Ele é o Princípio, o Primogénito de entre os mortos; em tudo Ele tem o primeiro lugar. Aprouve a Deus que n’Ele residisse toda a plenitude e por Ele fossem reconciliadas consigo todas as coisas, estabelecendo a paz, pelo sangue da sua cruz, com todas as criaturas na terra e nos céus.
 
 
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Lc 23,35-43)
Naquele tempo, os chefes dos judeus zombavam de Jesus, dizendo: «Salvou os outros: salve-Se a Si mesmo, se é o Messias de Deus, o Eleito». Também os soldados troçavam d’Ele; aproximando-se para Lhe oferecerem vinagre, diziam: «Se és o Rei dos judeus, salva-Te a Ti mesmo». Por cima d’Ele havia um letreiro: «Este é o Rei dos judeus». Entretanto, um dos malfeitores que tinham sido crucificados insultava-O, dizendo: «Não és Tu o Messias? Salva-Te a Ti mesmo e a nós também». Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o: «Não temes a Deus, tu que sofres o mesmo suplício? Quanto a nós, fez-se justiça, pois recebemos o castigo das nossas más acções. Mas Ele nada praticou de condenável». E acrescentou: «Jesus, lembra-Te de Mim, quando vieres com a tua realeza». Jesus respondeu-lhe: «Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no Paraíso».
 
 
BOA NOTÍCIA
Cristo Rei
Titulus Crucis (literalmente, “título da cruz”) é o nome tradicionalmente dado ao letreiro que, como escutaremos no Evangelho de hoje, foi colocado no topo da cruz de Jesus. De facto, o código penal romano previa que se expusessem as motivações de uma sentença: era uma forma de incutir temor na população e assim prevenir futuros delitos. O “crime” de Jesus seria portanto alta traição: a inscrição «Este é o Rei dos judeus» sugere que conspirava contra a autoridade do imperador romano.
 
Face à situação em que Jesus Se encontra, o Titulus Crucis é obviamente carregado de grande ironia e uma ulterior humilhação às aspirações de independência e soberania do povo judeu: o “rei dos judeus” não está sentado num trono, mas pregado numa cruz, nu, indefeso e condenado a uma morte infame. Contudo, o Titulus Crucis é fiel, na perspectiva de Deus, à realidade do jovem carpinteiro condenado à morte: Ele é o Rei que preside, não do alto da sua omnipotência, assustando os seus súbditos com gestos espectaculares, mas que reina com a força desarmada do amor, da entrega, do dom da vida.
 
O Titulus Crucis é um convite a repensar a nossa existência... Diante deste Rei despojado de tudo e pregado numa cruz, não nos parecem completamente ridículas as nossas pretensões de honras, de títulos, de aplausos, de reconhecimentos? Diante deste Rei que dá a vida por amor, não nos parecem completamente sem sentido as nossas manias de grandeza, as lutas para conseguirmos mais poder, as rivalidades e invejas que nos magoam e separam dos irmãos? Diante deste Rei que se dá sem guardar nada para si, não nos sentimos convidados a fazer da vida um dom?
 
P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2025.11.23



 
 

sábado, 15 de novembro de 2025

33º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C

Leitura da Profecia de Malaquias
(Mal 4,1-2)
Há-de vir o dia do Senhor, ardente como uma fornalha; e serão como a palha todos os soberbos e malfeitores. O dia que há-de vir os abrasará – diz o Senhor do Universo – e não lhes deixará raiz nem ramos. Mas para vós que temeis o meu nome, nascerá o sol de justiça, trazendo nos seus raios a salvação.
 
 
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 97 (98)
Refrão : O Senhor virá governar com justiça.
 
Cantai ao Senhor ao som da cítara,
ao som da cítara e da lira;
ao som da tuba e da trombeta,
aclamai o Senhor, nosso Rei.
 
Ressoe o mar e tudo o que ele encerra,
a terra inteira e tudo o que nela habita;
aplaudam os rios
e as montanhas exultem de alegria.
 
Diante do Senhor que vem,
que vem para julgar a terra;
julgará o mundo com justiça
e os povos com equidade.
 
 
Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses
(2Tes 3, 7-12)
Irmãos: Vós sabeis como deveis imitar-nos, pois não vivemos entre vós desordenadamente, nem comemos de graça o pão de ninguém. Trabalhámos dia e noite, com esforço e fadiga, para não sermos pesados a nenhum de vós. Não é que não tivéssemos esse direito, mas quisemos ser para vós exemplo a imitar. Quando ainda estávamos convosco, já vos dávamos esta ordem: quem não quer trabalhar, também não deve comer. Ouvimos dizer que alguns de vós vivem na ociosidade, sem fazerem trabalho algum, mas ocupados em futilidades. A esses ordenamos e recomendamos, em nome do Senhor Jesus Cristo, que trabalhem tranquilamente, para ganharem o pão que comem.
 
 
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 21,5-19)
Naquele tempo, comentavam alguns que o templo estava ornado com belas pedras e piedosas ofertas. Jesus disse-lhes: «Dias virão em que, de tudo o que estais a ver, não ficará pedra sobre pedra: tudo será destruído». Eles perguntaram-lhe: «Mestre, quando sucederá isso? Que sinal haverá de que está para acontecer?» Jesus respondeu: «Tende cuidado; não vos deixeis enganar, pois muitos virão em meu nome e dirão: “sou eu”; e ainda: “O tempo está próximo”. Não os sigais. Quando ouvirdes falar de guerras e revoltas, não vos alarmeis: é preciso que estas coisas aconteçam primeiro, mas não será logo o fim». Disse-lhes ainda: «Há-de erguer-se povo e reino contra reino. Haverá grandes terramotos e, em diversos lugares, fomes e epidemias. Haverá fenómenos espantosos e grandes sinais no céu. Mas antes de tudo isto, deitar-vos-ão as mãos e hão-de perseguir-vos, entregando-vos às sinagogas e às prisões, conduzindo-vos à presença de reis e governadores, por causa do meu nome. Assim tereis ocasião de dar testemunho. Tende presente em vossos corações que não deveis preparar a vossa defesa. Eu vos darei língua e sabedoria a que nenhum dos vossos adversários poderá resistir ou contradizer. Sereis entregues até pelos vossos pais, irmãos, parentes e amigos. Causarão a morte a alguns de vós e todos vos odiarão por causa do meu nome; mas nenhum cabelo da vossa cabeça se perderá. Pela vossa perseverança salvareis as vossas almas.
 
 
BOA NOTÍCIA
Nem um cabelo se perderá
O Evangelho do próximo domingo, dia 16, faz parte dos famosos discursos sobre o “fim do tempos” que encontramos normalmente nas últimas celebrações do ano litúrgico (de facto, está à porta o novo ciclo de leituras - ano A -, que começará no dia 30 de Novembro, com o primeiro domingo do tempo do Advento). 

Já aqui vos falei do género literário apocalíptico e de como estes textos, apesar das imagens espectaculares e aterradoras que utilizam, normalmente procuram veicular uma mensagem de esperança. O Evangelho do próximo domingo insere-se plenamente nesse filão: «Há-de erguer-se povo contra povo e reino contra reino. Haverá grandes terramotos e, em diversos lugares, fomes e epidemias (…) deitar-vos-ão as mãos e hão-de perseguir-vos, entregando-vos às sinagogas e às prisões, (…) por causa do meu nome». Esta página do Novo Testamento é um convite a não perder nunca a coragem e a esperança, mesmo nos momentos mais difíceis da nossa vida, porque «nenhum cabelo da vossa cabeça se perderá».
 
Porém, apesar do género literário utilizado, o discurso de Jesus não pode ser considerado puramente metafórico ou simbólico. As perseguições foram (e são...) uma realidade terrível. Para muitos de nós, as palavras de Jesus provavelmente soam distantes da nossa realidade, mas não nos esqueçamos que, infelizmente, neste preciso momento, vários nossos irmãos e irmãs vivem a assustadora realidade que Ele descreve. Sofrem entre «guerras e revoltas», «fomes e epidemias» e são «perseguidos e entregues às prisões». Rezemos por todos eles. Para que a paz volte às suas terras e para que, fiéis à própria fé, consigam testemunhar o amor e perdoar aqueles que os perseguem.
 
P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2025.11.15



 
 

domingo, 9 de novembro de 2025

FESTA DA DEDICAÇÃO DA BASÍLICA DE SÃO JOÃO DE LATRÃO - 9 de Novembro

Leitura da Profecia de Ezequiel
(Ez 47,1-2.8-9.12)
Naqueles dias, o Anjo reconduziu-me à entrada do templo. Depois do limiar da porta saía água em direcção ao Oriente, pois a fachada do templo estava voltada para o Oriente. As águas corriam da parte inferior, do lado direito do templo, ao sul do altar. O Anjo fez-me sair pela porta setentrional e contornar o templo por fora, até à porta exterior que está voltada para o Oriente. As águas corriam do lado direito. O Anjo disse-me: «Esta água corre para a região oriental, desce para Arabá e entra no mar, para que as suas águas se tornem salubres. Todo o ser vivo que se move na água onde chegar esta torrente terá novo alento e o peixe será mais abundante. Porque aonde esta água chegar, tornar-se-ão sãs as outras águas e haverá vida por toda a parte aonde chegar esta torrente. À beira da torrente, nas duas margens, crescerá toda a espécie de árvores de fruto; a sua folhagem não murchará, nem acabarão os seus frutos. Todos os meses darão frutos novos, porque as águas vêm do santuário. Os frutos servirão de alimento e as folhas de remédio».
 
 
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 45 (46)
Refrão: Os braços dum rio alegram a cidade de Deus, a morada santa do Altíssimo.
 
Deus é o nosso refúgio e a nossa força,
auxílio sempre pronto na adversidade.
Por isso nada receamos ainda que a terra vacile
e os montes se precipitem no fundo do mar.
 
Os braços dum rio alegram a cidade de Deus,
a mais santa das moradas do Altíssimo.
Deus está no meio dela e a torna inabalável,
Deus a protege desde o romper da aurora.
 
O Senhor dos Exércitos está connosco,
o Deus de Jacob é a nossa fortaleza.
Vinde e contemplai as obras do Senhor,
as maravilhas que realizou na terra.
 
 
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
(1 Cor 3,9c-11.16-17)
Irmãos: Vós sois edifício de Deus. Segundo a graça de Deus que me foi dada, eu, como sábio arquitecto, coloquei o alicerce e outro levanta o edifício. Veja cada um como constrói: ninguém pode colocar outro alicerce além do que está posto, que é Jesus Cristo. Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá. Porque o templo de Deus é santo e vós sois esse templo.
 
 
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 2,13-22)
Estava próxima a Páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém. Encontrou no templo os vendedores de bois, de ovelhas e de pombas e os cambistas sentados às bancas. Fez então um chicote de cordas e expulsou-os a todos do templo, com as ovelhas e os bois; deitou por terra o dinheiro dos cambistas e derrubou-lhes as mesas; e disse aos que vendiam pombas: «Tirai tudo isto daqui; não façais da casa de meu Pai casa de comércio». Os discípulos recordaram-se do que estava escrito: «Devora-me o zelo pela tua casa». Então os judeus tomaram a palavra e perguntaram-Lhe: «Que sinal nos dás de que podes proceder deste modo?». Jesus respondeu-lhes: «Destruí este templo e em três dias o levantarei». Disseram os judeus: «Foram precisos quarenta e seis anos para construir este templo e Tu vais levantá-lo em três dias?». Jesus, porém, falava do templo do seu Corpo. Por isso, quando Ele ressuscitou dos mortos, os discípulos lembraram-se do que tinha dito e acreditaram na Escritura e na palavra de Jesus.
 
 
Roma em festa!
A festa da Dedicação da Basílica de São João de Latrão — catedral do Papa e “mãe” de todas as igrejas — é uma ocasião para meditar dois temas: o sentido cristão do templo e o papel de Roma na Igreja Católica.
 
Para nós cristãos, Jesus é o novo Templo onde se adora o Pai “em espírito e verdade” (Jo 4,24). Graças ao mistério da Incarnação, caiu a separação entre sagrado e profano: qualquer lugar pode tornar-se lugar de encontro com Deus. Porém, se Deus pode ser adorado em todo o lado, para que servem as igrejas, o Domingo e a Missa?
 
A resposta é simples: Jesus não veio ao mundo para nos salvar separados, um a um, mas sim, para formar um povo, uma comunidade, uma família. As igrejas (com letra minúscula) são importantes principalmente porque são os locais onde se reúne a Igreja (com letra maiúscula) a assembleia (ecclesia) dos que acreditam em Cristo e onde se cumpre a promessa: «onde dois ou três estão reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles» (Mt 18,20).
 
Sem a Igreja, cai-se numa fé prisioneira do subjetivismo e corre-se o risco de reduzir Deus a uma projecção dos nossos desejos e necessidades. Aliás: quem vos garante que eu próprio não esteja apenas a anunciar um “deus” criado à minha imagem e semelhança? Também neste caso a resposta não é complicada: é a comunhão com a Igreja de Roma que garante a interpretação católica do Evangelho de Cristo. Celebrando a festa da catedral romana, recordamos a importância da união na Igreja. É a comunhão com Roma que assegura a fidelidade entre a Palavra revelada por Cristo e as palavras com que hoje anunciamos o Evangelho.
 
Peçamos hoje a graça de amar a Igreja como casa onde Deus nos reúne e envia. Se Cristo é o novo Templo, a Eucaristia dominical é o coração que nos mantém vivos: dela nascem a comunhão, o perdão e a missão. Renovemos, pois, a nossa adesão à Igreja, não por hábito, mas por fé; não por tradição, mas por amor.
 
P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2025.11.09



 

domingo, 2 de novembro de 2025

COMEMORAÇÃO DE TODOS OS FIÉIS DEFUNTOS - 2 de Novembro

No próximo domingo, dia 2 de Novembro, celebraremos a liturgia da Comemoração dos Fiéis Defuntos. As leituras deverão ser escolhidas entre as várias do Leccionário das Missas de defuntos (cf. Leccionário VIII, p. 1069-1131) todavia, na página oficial do Secretariado Nacional de Liturgia encontramos já três sugestões:
 
 
Como já é habitual, proponho-vos também um pequeno comentário que espero vos ajudará a viver na fé e na esperança este próximo dia de finados.
 
BOA NOTÍCIA
Chorar, sim. Desesperar, não.
No dia 2 de Novembro, a Igreja faz memória de todos os fiéis defuntos. Não é um “dia de tristeza”, mas um “dia pascal”, sobretudo neste ano em que calha de Domingo. Esta comemoração, colocada logo a seguir à Solenidade de Todos os Santos, recorda-nos que a santidade e a esperança caminham juntas: a comunhão dos santos abraça vivos e mortos e ilumina os nossos lutos com a luz da ressurreição. Mandamos celebrar missas pelos defuntos, porque a comunhão dos santos é mais forte do que o túmulo e a Eucaristia é o lugar onde o céu toca a terra.
 
É na Eucaristia que aprendemos que a vida eterna começa já: «quem come a minha carne e bebe o meu sangue TEM a vida eterna» (Jo 6,54). O presente do indicativo na afirmação de Jesus sublinha que a promessa se cumpre hoje.
 
Hoje, a liturgia pede-nos um olhar pascal sobre a morte: chorar, sim; desesperar, não. A fé cristã não nega a dor, mas recusa o desespero. Em Cristo, a morte foi vencida e não terá a última palavra, pois essa será sempre de Deus Pai que «enxugará todas as lágrimas e não haverá mais morte, nem luto, nem pranto, nem dor» (Ap 21,4). Esta promessa não é anestesia: é esperança e missão!
 
Quem sabe “para onde vai” (quem acredita nas promessas de Cristo) vive com prioridades novas. Porque quem crê sabe que a eternidade não é um prémio que se recebe no final: a eternidade é uma semente, plantada hoje e chamada a crescer em gestos de fé, de caridade e de justiça.
 
P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2025.11.02 



 

sábado, 25 de outubro de 2025

30º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C

Leitura do Livro de Ben-Sirá
(Sir 35,15b-17.20-22a)
O Senhor é um juiz que não faz acepção de pessoas. Não favorece ninguém em prejuízo do pobre e atende a prece do oprimido. Não despreza a súplica do órfão nem os gemidos da viúva. Quem adora a Deus será bem acolhido e a sua prece sobe até às nuvens. A oração do humilde atravessa as nuvens e não descansa enquanto não chega ao seu destino. Não desiste, até que o Altíssimo o atenda, para estabelecer o direito dos justos e fazer justiça.
 
 
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 33 (34)
Refrão: O pobre clamou e o Senhor ouviu a sua voz.
 
A toda a hora bendirei o Senhor,
o seu louvor estará sempre na minha boca.
A minha alma gloria-se no Senhor:
escutem e alegrem-se os humildes.
 
A face do Senhor volta-se contra os que fazem o mal,
para apagar da terra a sua memória.
Os justos clamaram e o Senhor os ouviu,
livrou-os de todas as angústias.
 
O Senhor está perto dos que têm o coração atribulado
e salva os de ânimo abatido.
O Senhor defende a vida dos seus servos,
não serão castigados os que n’Ele confiam.
 
 
Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo
(2 Tim 4,6-8.16-18)
Caríssimo: Eu já estou oferecido em libação e o tempo da minha partida está iminente. Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. E agora já me está preparada a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me há-de dar naquele dia; e não só a mim, mas a todos aqueles que tiverem esperado com amor a sua vinda. Na minha primeira defesa, ninguém esteve a meu lado: todos me abandonaram. Queira Deus que esta falta não lhes seja imputada. O Senhor esteve a meu lado e deu-me força, para que, por meu intermédio, a mensagem do Evangelho fosse plenamente proclamada e todas as nações a ouvissem; e eu fui libertado da boca do leão. O Senhor me livrará de todo o mal e me dará a salvação no seu reino celeste. Glória a Ele pelos séculos dos séculos. Amen.
 
 
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 18,9-14)
Naquele tempo, Jesus disse a seguinte parábola para alguns que se consideravam justos e desprezavam os outros: «Dois homens subiram ao templo para orar; um era fariseu e o outro publicano. O fariseu, de pé, orava assim: ‘Meu Deus, dou-Vos graças por não ser como os outros homens, que são ladrões, injustos e adúlteros, nem como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e pago o dízimo de todos os meus rendimentos’. O publicano ficou a distância e nem sequer se atrevia a erguer os olhos ao Céu; Mas batia no peito e dizia: ‘Meu Deus, tende compaixão de mim, que sou pecador’. Eu vos digo que este desceu justificado para sua casa e o outro não. Porque todo aquele que se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado».
 
 
BOA NOTÍCIA
Não é um palco: é um encontro.
No Evangelho do próximo Domingo, dia 26, Jesus conta uma parábola dirigida «a alguns que se consideravam justos e desprezavam os outros». Dois homens (um fariseu e um publicano) sobem ao Templo para rezar. As suas orações revelam dois modos muito diferentes de estar diante de Deus: o fariseu faz o inventário das suas virtudes e compara-se com os outros; o publicano reconhece a própria miséria e pede perdão a Deus. Um reza para se afirmar, o outro para se entregar. Um fala de si, o outro fala a Deus. E Jesus conclui: «Quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado».
 
Apesar de breve, esta parábola ensina-nos tantas coisas…
Aprendemos que Deus Pai não precisa das nossas palavras bonitas, mas anseia por corações verdadeiros. Que a oração não é um palco, mas sim um encontro. Que não é o lugar onde listamos méritos, mas onde pedimos e recebemos misericórdia. Aprendemos também que a humildade não é desprezo por si mesmo: é lucidez! É o reconhecimento dos nossos limites! E quem se reconhece frágil encontra mais facilmente a força da graça. Todavia, quem se julga justo fecha-se à misericórdia.
 
O fariseu subiu ao templo cheio de méritos e desceu vazio; o publicano subiu vazio e desceu cheio de misericórdia. A parábola é um convite a descermos do pedestal das aparências e a rezarmos a partir da verdade da nossa vida. Só aí – só no terreno fértil da honestidade e da humildade – a graça poderá finalmente florescer.
 
P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2025.10.25



 
 

sábado, 18 de outubro de 2025

29º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C

Leitura do Livro do Êxodo
(Ex 17,8-13a)
Naqueles dias, Amalec veio a Refidim atacar Israel. Moisés disse a Josué: «Escolhe alguns homens e amanhã sai a combater Amalec. Eu irei colocar-me no cimo da colina, com a vara de Deus na mão». Josué fez o que Moisés lhe ordenara e atacou Amalec, enquanto Moisés, Aarão e Hur subiram ao cimo da colina. Quando Moisés tinha as mãos levantadas, Israel ganhava vantagem; mas quando as deixava cair, tinha vantagem Amalec. Como as mãos de Moisés se iam tornando pesadas, trouxeram uma pedra e colocaram-no por debaixo para que ele se sentasse, enquanto Aarão e Hur, um de cada lado, lhe seguravam as mãos. Assim se mantiveram firmes as suas mãos até ao pôr do sol e Josué desbaratou Amalec e o seu povo ao fio da espada.
 
 
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 120 (121)
Refrão: O nosso auxílio vem do Senhor, que fez o céu e a terra.
 
Levanto os meus olhos para os montes:
donde me virá o auxílio?
O meu auxílio vem do Senhor,
que fez o céu e a terra.
 
Não permitirá que vacilem os teus passos,
não dormirá Aquele que te guarda.
Não há-de dormir nem adormecer
aquele que guarda Israel.
 
O Senhor é quem te guarda,
o Senhor está a teu lado, Ele é o teu abrigo.
O sol não te fará mal durante o dia,
nem a luz durante a noite.
 
O Senhor te defende de todo o mal,
o Senhor vela pela tua vida.
Ele te protege quando vais e quando vens,
agora e para sempre.
 
 
Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo
(2 Tim 3,14-4,2)
Caríssimo: Permanece firme no que aprendeste e aceitaste como certo, sabendo de quem o aprendeste. Desde a infância conheces as Sagradas Escrituras; elas podem dar-te a sabedoria que leva à salvação, pela fé em Cristo Jesus. Toda a Escritura, inspirada por Deus, é útil para ensinar, persuadir, corrigir e formar segundo a justiça. Assim o homem de Deus será perfeito, bem preparado para todas as boas obras. Conjuro-te diante de Deus e de Jesus Cristo, que há-de julgar os vivos e os mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino: Proclama a palavra, insiste a propósito e fora de propósito, argumenta, ameaça e exorta, com toda a paciência e doutrina.
 
 
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 18,1-8)
Naquele tempo, Jesus disse aos seus discípulos uma parábola sobre a necessidade de orar sempre sem desanimar: «Em certa cidade vivia um juiz que não temia a Deus nem respeitava os homens. Havia naquela cidade uma viúva que vinha ter com ele e lhe dizia: ‘Faz-me justiça contra o meu adversário’. Durante muito tempo ele não quis atendê-la. Mas depois disse consigo: ‘É certo que eu não temo a Deus nem respeito os homens; mas, porque esta viúva me importuna, vou fazer-lhe justiça, para que não venha incomodar-me indefinidamente’». E o Senhor acrescentou: «Escutai o que diz o juiz iníquo!... E Deus não havia de fazer justiça aos seus eleitos, que por Ele clamam dia e noite, e iria fazê-los esperar muito tempo? Eu vos digo que lhes fará justiça bem depressa. Mas quando voltar o Filho do homem, encontrará fé sobre esta terra?»
 
 
BOA NOTÍCIA
Esperar rezando. Rezar esperando.
No Evangelho do próximo Domingo, Jesus conta a parábola da viúva persistente que, sem se cansar, pede justiça a um juiz iníquo. No final, o juiz cede, não por compaixão, mas para se livrar dela. Jesus conclui: «E Deus não havia de fazer justiça aos seus eleitos, que por Ele clamam dia e noite?»
 
O elemento mais surpreendente desta parábola é o contraste entre a fragilidade da pobre viúva e a força da sua perseverança. Ela não desiste, não se deixa vencer pelo silêncio, não perde a esperança. Jesus revela que a oração é um verdadeiro espaço de resistência: quando tudo parece perdido, o coração que continua a rezar mantém acesa a chama da coragem, da fé e da esperança.
 
Rezar não é tentar convencer Deus, mas permanecer diante d’Ele, confiando, esperando, acreditando. A viúva representa todos os que não vacilam na fé, mesmo quando a vida parece injusta e o silêncio de Deus pesa.
 
Vivemos num mundo apressado, onde tudo se mede pela eficácia e pelo resultado. Mas a fé amadurece na espera. Só quem persevera descobre que Deus age até no silêncio e que a oração transforma, antes de tudo, quem reza.
 
A catequese deste Evangelho é simples, mas exigente: não desistir de rezar, mesmo quando não obtemos imediatamente uma resposta. A constância da oração transformará a espera em encontro, o silêncio em diálogo, a tribulação em coragem.
 
P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2025.10.18



 
 

sábado, 11 de outubro de 2025

28º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C

Leitura do Segundo Livro dos Reis
(2 Reis 5,14-17)
Naqueles dias, o general sírio Naamã desceu ao Jordão e aí mergulhou sete vezes, como lhe mandara Eliseu, o homem de Deus. A sua carne tornou-se tenra como a de uma criança e ficou purificado da lepra. Naamã foi ter novamente com o homem de Deus, acompanhado de toda a sua comitiva. Ao chegar diante dele, exclamou: «Agora reconheço que em toda a terra não há outro Deus senão o de Israel. Peço-te que aceites um presente deste teu servo». Eliseu respondeu-lhe: «Pela vida do Senhor que eu sirvo, nada aceitarei». E apesar das insistências, ele recusou. Disse então Naamã: «Se não aceitas, permite ao menos que se dê a este teu servo uma porção de terra para um altar, tanto quanto possa carregar uma parelha de mulas, porque o teu servo nunca mais há-de oferecer holocausto ou sacrifício a quaisquer outros deuses, mas apenas ao Senhor, Deus de Israel».
 
 
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 97 (98)
Refrão : O Senhor manifestou a salvação a todos os povos.
 
Cantai ao Senhor um cântico novo
pelas maravilhas que Ele operou.
A sua mão e o seu santo braço
Lhe deram a vitória.
 
O Senhor deu a conhecer a salvação,
revelou aos olhos das nações a sua justiça.
Recordou-Se da sua bondade e fidelidade
em favor da casa de Israel.
 
Os confins da terra puderam ver
a salvação do nosso Deus.
Aclamai o Senhor, terra inteira,
exultai de alegria e cantai.
 
 
Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo
(2 Tim 2,8-13)
Caríssimo: Lembra-te de que Jesus Cristo, descendente de David, ressuscitou dos mortos, segundo o meu Evangelho, pelo qual eu sofro, até ao ponto de estar preso a estas cadeias como um malfeitor. Mas a palavra de Deus não está encadeada. Por isso, tudo suporto por causa dos eleitos, para que obtenham a salvação que está em Cristo Jesus, com a glória eterna. É digna de fé esta palavra: Se morremos com Cristo, também com Ele viveremos; se sofremos com Cristo, também com ele reinaremos; se O negarmos, também Ele nos negará; se Lhe formos infiéis, Ele permanece fiel, porque não pode negar-Se a Si mesmo.
 
 
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 17,11-19)
Naquele tempo, indo Jesus a caminho de Jerusalém, passava entre a Samaria e a Galileia. Ao entrar numa povoação, vieram ao seu encontro dez leprosos. Conservando-se a distância, disseram em alta voz: «Jesus, Mestre, tem compaixão de nós». Ao vê-los, Jesus disse-lhes: «Ide mostrar-vos aos sacerdotes». E sucedeu que no caminho ficaram limpos da lepra. Um deles, ao ver-se curado, voltou atrás, glorificando a Deus em alta voz, e prostrou-se de rosto por terra aos pés de Jesus para Lhe agradecer. Era um samaritano. Jesus, tomando a palavra, disse: «Não foram dez que ficaram curados? Onde estão os outros nove? Não se encontrou quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro?» E disse ao homem: «Levanta-te e segue o teu caminho; a tua fé te salvou».
 
 
BOA NOTÍCIA
São e salvos. E gratos!
No Evangelho do próximo Domingo, dez leprosos aproximam-se de Jesus, mantendo as distâncias, mas clamando com fé: «Mestre, tem compaixão de nós». Desta vez, o jovem profeta de Nazaré não realiza gestos espectaculares: convida-os simplesmente a irem apresentar-se aos sacerdotes, e, pelo caminho, são curados. Contudo, apenas um deles, um samaritano, volta atrás para agradecer e louvar a Deus. É o estrangeiro, o “distante”, quem reconhece no dom recebido a presença viva de Deus.
 
Jesus admira-se: «Não se encontrou quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro?». Todos foram curados, mas só um foi salvo, porque soube reconhecer o dom e agradecer. A fé autêntica não se detém na graça recebida: transforma-se em louvor, gratidão e relação viva com o Senhor.
 
Por vezes, também recebemos graças, mas esquecemo-nos de «voltar atrás», de voltar a Jesus; esquecemo-nos de louvar e agradecer. Vivemos a fé como pedido, mas nem sempre como reconhecimento. No entanto, um coração grato é sinal de uma fé madura, capaz de ver a mão de Deus até nas pequenas coisas.
 
Este Evangelho é um convite à conversão da gratidão: passar de pedir… a agradecer; de exigir… a reconhecer. Só assim a fé se torna encontro e a vida transforma-se em louvor.
Quem sabe agradecer descobre que tudo é graça!
 
P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2025.10.11



 
 

sábado, 4 de outubro de 2025

27º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C

Leitura da Profecia de Habacuc
(Hab 1,2-3; 2,2-4)
«Até quando, Senhor, chamarei por Vós e não Me ouvis? Até quando clamarei contra a violência e não me enviais a salvação? Porque me deixais ver a iniquidade e contemplar a injustiça? Diante de mim está a opressão e a violência, levantam-se contendas e reina a discórdia?» O Senhor respondeu-me: «Põe por escrito esta visão e grava-as em tábuas com toda a clareza, de modo que a possam ler facilmente. Embora esta visão só se realize na devida altura, ela há-de cumprir-se com certeza e não falhará. Se parece demorar, deves esperá-la, porque ela há-de vir e não tardará. Vede como sucumbe aquele que não tem alma recta; mas o justo viverá pela sua fidelidade».
 
 
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 94 (95)
Refrão: Se hoje ouvirdes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações.
 
Vinde, exultemos de alegria no Senhor,
aclamemos a Deus, nosso Salvador.
Vamos à sua presença e dêmos graças,
ao som de cânticos aclamemos o Senhor.
 
Vinde, prostremo-nos em terra,
adoremos o Senhor que nos criou.
O Senhor é o nosso Deus
e nós o seu povo, as ovelhas do seu rebanho.
 
Quem dera ouvísseis hoje a sua voz:
«Não endureçais os vossos corações,
como em Meriba, como no dia de Massa no deserto,
onde vossos pais Me tentaram e provocaram,
apesar de terem visto as minhas obras».
 
 
Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo
(2 Tim 1,6-8.13-14)
Caríssimo: Exorto-te a que reanimes o dom de Deus que recebeste pela imposição das minhas mãos. Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de caridade e moderação. Não te envergonhes de dar testemunho de Nosso Senhor, nem te envergonhes de mim, seu prisioneiro. Mas sofre comigo pelo Evangelho, confiando no poder de Deus. Toma como norma as sãs palavras que me ouviste, segundo a fé e a caridade que temos em Jesus Cristo. Guarda a boa doutrina que nos foi confiada, com o auxílio do Espírito Santo, que habita em nós.
 
 
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 17,5-10)
Naquele tempo, os Apóstolos disseram ao Senhor: «Aumenta a nossa fé». O Senhor respondeu: «Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: ‘Arranca-te daí e vai plantar-te no mar’, e ela obedecer-vos-ia. Quem de vós, tendo um servo a lavrar ou a guardar gado, lhe dirá quando ele volta do campo: ‘Vem depressa sentar-te à mesa’? Não lhe dirá antes: ‘Prepara-me o jantar e cinge-te para me servires, até que eu tenha comido e bebido. Depois comerás e beberás tu. Terá de agradecer ao servo por lhe ter feito o que mandou? Assim também vós, quando tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: ‘Somos inúteis servos: fizemos o que devíamos fazer’».
 
 
BOA NOTÍCIA
Somos inúteis?
Nas últimas seis semanas, o Evangelho sublinhou várias vezes as exigências do caminho que devemos percorrer para alcançar o “Reino”. Jesus falou-nos da necessidade de liberdade em relação aos bens materiais (26º e 25º domingo); do dever de renunciar a tudo o que possa ser obstáculo à missão (23º domingo); da importância de converter o nosso coração à humildade (22º domingo). Ficámos também a saber que a «porta é estreita» (21º domingo) e tudo isto acabou por suscitar nos Apóstolos (e em nós também) o pedido preocupado que abre o Evangelho do próximo domingo: «Senhor, aumenta a nossa fé!».
 
Esta súplica explica-se porque muitos acreditavam que a Salvação dependesse exclusivamente dos méritos do homem: se alguém cumpria os mandamentos, Deus não teria outro remédio senão salvá-lo. Deus seria apenas um “contabilista” empenhado em fazer contas, para ver se temos - ou não - direito à Salvação…
 
Para nos ajudar a superar esta visão “contratual” da fé, Jesus propôs a parábola do servo inútil, onde é descrita a atitude que o homem deve assumir diante de Deus: «quando tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: ‘Somos inúteis servos: fizemos o que devíamos fazer’». Assim, a atitude do verdadeiro discípulo frente a Deus não deve ser a atitude de quem sente que Deus lhe deve algo, mas sim a de quem cumpre o seu papel com humildade, sentindo-se um servo que apenas fez o que lhe competia. “Inúteis”, não porque sejamos incapazes, mas porque a salvação não resulta dos nossos esforços: é gratuita e procede da bondade do Pai.
 
P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2025.10.04



 
 

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