Leitura do Livro do Ben-Sirá
(Sir 3,19-21.30-31)
Filho, em todas as tuas
obras procede com humildade e serás mais estimado do que o homem generoso.
Quanto mais importante fores, mais deves humilhar-te e encontrarás graça diante
do Senhor. Porque é grande o poder do Senhor e os humildes cantam a sua glória.
A desgraça do soberbo não tem cura, porque a árvore da maldade criou nele
raízes. O coração do sábio compreende as máximas do sábio e o ouvido atento
alegra-se com a sabedoria.
SALMO REPONSORIAL – Salmo 67 (68)
Refrão: Na vossa bondade,
Senhor, preparastes uma casa para o pobre.
Os justos alegram-se na
presença de Deus,
exultam e transbordam de
alegria.
Cantai a Deus, entoai um
cântico ao seu nome;
o seu nome é Senhor:
exultai na sua presença.
Pai dos órfãos e defensor
das viúvas,
é Deus na sua morada santa.
Aos abandonados Deus
prepara uma casa,
conduz os cativos à
liberdade.
Derramastes, ó Deus, uma
chuva de bênçãos,
restaurastes a vossa
herança enfraquecida.
A vossa grei estabeleceu-se
numa terra
que a vossa bondade, ó
Deus, preparara ao oprimido.
Leitura da Epístola aos Hebreus
(Heb 12,18-19.22-24a)
Irmãos: Vós não vos
aproximastes de uma realidade sensível, como os israelitas no monte Sinai: o
fogo ardente, a nuvem escura, as trevas densas ou a tempestade, o som da
trombeta e aquela voz tão retumbante que os ouvintes suplicaram que não lhes
falasse mais. Vós aproximastes-vos do monte Sião, da cidade do Deus vivo, a Jerusalém
celeste, de muitos milhares de Anjos em reunião festiva, de uma assembleia de
primogénitos inscritos no Céu, de Deus, juiz do universo, dos espíritos dos
justos que atingiram a perfeição e de Jesus, mediador da nova aliança.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 14,1.7-14)
Naquele tempo, Jesus
entrou, a um sábado, em casa de um dos principais fariseus para tomar uma
refeição. Todos O observavam. Ao notar como os convidados escolhiam os
primeiros lugares, Jesus disse-lhes esta parábola: «Quando fores convidado para
um banquete nupcial, não tomes o primeiro lugar. Pode acontecer que tenha sido
convidado alguém mais importante que tu; então, aquele que vos convidou a
ambos, terá que te dizer: ‘Dá o lugar a este’; e ficarás depois envergonhado,
se tiveres de ocupar o último lugar. Por isso, quando fores convidado, vai
sentar-te no último lugar; e quando vier aquele que te convidou, dirá: ‘Amigo,
sobe mais para cima’; ficarás então honrado aos olhos dos outros convidados.
Quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado». Jesus disse
ainda a quem O tinha convidado: «Quando ofereceres um almoço ou um jantar, não
convides os teus amigos nem os teus irmãos, nem os teus parentes nem os teus
vizinhos ricos, não seja que eles por sua vez te convidem e assim serás
retribuído. Mas quando ofereceres um banquete, convida os pobres, os aleijados,
os coxos e os cegos; e serás feliz por eles não terem com que retribuir-te:
ser-te-á retribuído na ressurreição dos justos.
BOA NOTÍCIA
Etiqueta e boas maneiras
Apesar da mensagem ser
muito mais profunda (e bonita!), o Evangelho do próximo Domingo parece, à
primeira vista, uma simples lição de etiqueta e boas maneiras: «Quando fores convidado para um banquete
nupcial, não tomes o primeiro lugar. Pode acontecer que tenha sido convidado
alguém mais importante que tu; então, aquele que vos convidou a ambos, terá que
te dizer: ‘Dá o lugar a este’; e ficarás depois envergonhado, se tiveres de
ocupar o último lugar. Por isso, quando fores convidado, vai sentar-te no
último lugar; e quando vier aquele que te convidou, dirá: ‘Amigo, sobe mais
para cima’; ficarás então honrado aos olhos dos outros convidados. Quem se
exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado».
Obviamente, uma leitura
mais atenta revelará a bonita catequese que esta página nos propõe: Jesus
Cristo pretende ensinar aos seus discípulos a importância da humildade, da
gratuidade e do amor desinteressado. Estas são atitudes fundamentais para quem
quiser participar no banquete do “Reino”.
Contudo, não podemos negar
uma certa ligação entre as boas maneiras e o espírito cristão. As boas maneiras
envolvem normalmente duas coisas: senso comum e “sentido do outro”. Estes dois
elementos (principalmente o segundo) estão em perfeita sintonia com os valores
do Evangelho. As boas maneiras são, essencialmente, um instrumento que nos
ajuda a cultivar a atenção que dedicamos aos outros. Ajudam-nos a receber bem e
a tratar com delicadeza as pessoas que nos rodeiam. Caro leitor, que não haja
ilusões: maus modos e má educação não são compatíveis com o Caminho do Senhor.
P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2025.08.30
Leitura do Livro de Isaías
(Is 66,18-21)
Eis o que diz o Senhor: «Eu virei reunir todas as nações
e todas as línguas, para que venham contemplar a minha glória. Eu lhes darei um
sinal e de entre eles enviarei sobreviventes às nações: a Társis, a Fut, a Luc,
a Mosoc, a Rós, a Tubal e a Java, às ilhas remotas que não ouviram falar de Mim
nem contemplaram ainda a minha glória, para que anunciem a minha glória entre as
nações. De todas as nações, como oferenda ao Senhor, eles hão-de reconduzir todos
os vossos irmãos, em cavalos, em carros, em liteiras, em mulas e em dromedários,
até ao meu santo monte, em Jerusalém – diz o Senhor – como os filhos de Israel trazem
a sua oblação em vaso puro ao templo do Senhor. Também escolherei alguns deles para
sacerdotes e levitas».
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 116
(117)
Refrão: Ide por todo o mundo, anunciai a boa nova.
Louvai o Senhor, todas as nações,
aclamai-O, todos os povos.
É firme a sua misericórdia para connosco,
a fidelidade do Senhor permanece para sempre.
Leitura da Epístola aos Hebreus
(Heb 12,5-7.11-13)
Irmãos: Já esquecestes a exortação que vos é dirigida,
como a filhos que sois: «Meu filho, não desprezes a correcção do Senhor, nem desanimes
quando Ele te repreende; porque o Senhor corrige aquele que ama e castiga aquele
que reconhece como filho». É para vossa correcção que sofreis. Deus trata-vos como
filhos. Qual é o filho a quem o pai não corrige? Nenhuma correcção, quando se recebe,
é considerada como motivo de alegria, mas de tristeza. Mais tarde, porém, dá àqueles
que assim foram exercitados um fruto de paz e de justiça. Por isso, levantai as
vossas mãos fatigadas e os vossos joelhos vacilantes e dirigi os vossos passos por
caminhos direitos, para que o coxo não se extravie, mas antes seja curado.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus
Cristo segundo São Lucas
(Lc 13,22-30)
Naquele tempo, Jesus dirigia-Se para Jerusalém e ensinava
nas cidades e aldeias por onde passava. Alguém Lhe perguntou: «Senhor, são poucos
os que se salvam?» Ele respondeu: «Esforçai-vos por entrar pela porta estreita,
porque Eu vos digo que muitos tentarão entrar sem o conseguir. Uma vez que o dono
da casa se levante e feche a porta, vós ficareis fora e batereis à porta, dizendo:
‘Abre-nos, senhor’; mas ele responder-vos-á: ‘Não sei donde sois’. Então começareis
a dizer: ‘Comemos e bebemos contigo e tu ensinaste nas nossas praças’. Mas ele responderá:
‘Repito que não sei donde sois. Afastai-vos de mim, todos os que praticais a iniquidade’.
Aí haverá choro e ranger de dentes, quando virdes no reino de Deus Abraão, Isaac
e Jacob e todos os Profetas, e vós a serdes postos fora. Hão-de vir do Oriente e
do Ocidente, do Norte e do Sul, e sentar-se-ão à mesa do reino de Deus. Há últimos
que serão dos primeiros e primeiros que serão dos últimos».
BOA NOTÍCIA
Domingo começamos a dieta!
No próximo domingo, Jesus propõe-nos a curiosa imagem
da “porta estreita” e fala-nos das condições necessárias para entrar no Reino de
Deus.
«Esforçai-vos por entrar pela
porta estreita, porque Eu vos digo que muitos tentarão entrar sem o conseguir».
Quem são aqueles que não entrarão? Normalmente respondemos:
«São os outros», e nem sequer consideramos a hipótese de que se esteja a falar precisamente
de nós. Nós… tão seguros da nossa idoneidade... da nossa elegância... e que sempre
nos confortamos com a expressão «há pessoas bem piores (bem mais gordas) do que
eu!».
A ideia da “porta estreita” é realmente sugestiva,
mas não indica a necessidade de uma dieta permanente (obviamente, sem negar a importância
de uma alimentação saudável e equilibrada). Existem toda uma série de fardos que
“engordam” o homem e que o impedem de viver na lógica do “Reino”. Que fardos são
esses? Por exemplo: o egoísmo, o orgulho, a riqueza, a ambição, o desejo de poder
e de domínio… Tudo aquilo que impede o homem de embarcar numa lógica de serviço,
de entrega, de amor, de partilha, de dom da vida. Tudo aquilo que impede a adesão
ao “Reino”.
Para nós, “assumidamente” cristãos, esta página do
Evangelho é extremamente importante... Jesus dizia que, no banquete do Reino de
Deus, muitos apareceriam a dizer: «comemos e bebemos contigo e tu ensinaste nas
nossas praças». Mas receberiam como resposta: «não sei de onde sois; afastai-vos
de mim todos os que praticais a iniquidade». Este aviso toca de forma especial aqueles
que conheceram bem Jesus, que se sentaram com Ele à mesa (da Eucaristia), que escutaram
as suas palavras, que fizeram parte do conselho pastoral da paróquia, que foram
fiéis guardiães das chaves da igreja ou dos cheques da conta bancária paroquial,
que até, se calhar, se sentaram em tronos episcopais ou papais… mas que nunca se
preocuparam em entrar pela “porta estreita” do serviço, da simplicidade, do amor,
do dom da vida. Esses (e aqui Jesus é perfeitamente claro e objectivo) não terão
lugar no “Reino”.
P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2025.08.23
Leitura do Livro de Jeremias
(Jer 38,
4-6.8-10)
Naqueles dias,
os ministros disseram ao rei de Judá: «Esse Jeremias deve morrer, porque semeia
o desânimo entre os combatentes que ficaram na cidade e também todo o povo com
as palavras que diz. Este homem não procura o bem do povo, mas a sua perdição».
O rei Sedecias respondeu: «Ele está nas vossas mãos; o rei não tem poder para
vos contrariar». Apoderaram-se então de Jeremias e, por meio de cordas,
fizeram-no descer à cisterna do príncipe Melquias, situada no pátio da guarda.
Na cisterna não havia água, mas apenas lodo, e Jeremias atolou-se no lodo. Entretanto,
Ebed-Melec, o etíope, saiu do palácio e falou ao rei: «Ó rei, meu senhor, esses
homens procederam muito mal tratando assim o profeta Jeremias: meteram-no na
cisterna, onde vai morrer de fome, pois já não há pão na cidade». Então o rei
ordenou a Ebed-Melec, o etíope: «Leva daqui contigo três homens e retira da
cisterna o profeta Jeremias, antes que ele morra».
SALMO RESPONSORIAL - Salmo 39 (40), 2.3.4.18 (R. 14b)
Refrão: Senhor,
socorrei-me sem demora.
Esperei no
Senhor com toda a confiança
e Ele atendeu-me.
Ouviu o meu
clamor
e retirou-me do
abismo e do lamaçal,
assentou os meus
pés na rocha
e firmou os meus
passos.
Pôs em meus
lábios um cântico novo,
um hino de
louvor ao nosso Deus.
Vendo isto,
muitos hão-de temer
e pôr a sua
confiança no Senhor.
Eu sou pobre e
infeliz:
Senhor, cuidai
de mim.
Sois o meu
protector e libertador:
ó meu Deus, não
tardeis.
Leitura da Epístola aos Hebreus
(Hebr 12, 1-4)
Irmãos: Estando
nós rodeados de tão grande número de testemunhas, ponhamos de parte todo o
fardo e pecado que nos cerca e corramos com perseverança para o combate que se
apresenta diante de nós, fixando os olhos em Jesus, guia da nossa fé e autor da
sua perfeição. Renunciando à alegria que tinha ao seu alcance, Ele suportou a
cruz, desprezando a sua ignomínia, e está sentado à direita do trono de Deus.
Pensai n’Aquele que suportou contra Si tão grande hostilidade da parte dos
pecadores, para não vos deixardes abater pelo desânimo. Vós ainda não
resististes até ao sangue, na luta contra o pecado.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 12, 49-53)
Naquele tempo,
disse Jesus aos seus discípulos: «Eu vim trazer o fogo à terra e que quero Eu
senão que ele se acenda? Tenho de receber um baptismo e estou ansioso até que
ele se realize. Pensais que Eu vim estabelecer a paz na terra? Não. Eu vos digo
que vim trazer a divisão. A partir de agora, estarão cinco divididos numa casa:
três contra dois e dois contra três. Estarão divididos o pai contra o filho e o
filho contra o pai, a mãe contra a filha e a filha contra a mãe, a sogra contra
a nora e a nora contra a sogra».
BOA NOTÍCIA
Da conversão à paz
No Evangelho do
próximo domingo, Jesus compara a sua missão ao fogo: «Eu vim trazer o fogo à terra e que quero Eu senão que ele se acenda?»
Menciona também as divisões que a sua missão provoca: «A partir de agora, estarão cinco divididos numa casa: três contra dois
e dois contra três».
Poderíamos pensar
que o anúncio destas divisões é a expressão de um pressentimento, mas não:
infelizmente, Jesus fala por experiência. Recordemos, por exemplo, o episódio
da sua visita a Nazaré. Depois de um primeiro momento de entusiasmo, os amigos
de infância voltaram-se contra Ele, quando explicou que a sua missão superava
as fronteiras de Israel: «Ao ouvirem estas palavras, todos, na sinagoga, se
encheram de furor. E, erguendo-se, lançaram-no fora da cidade e levaram-no ao
cimo do monte sobre o qual a cidade estava edificada, a fim de o precipitarem
dali abaixo» (Lc 4,28-29). Esta não é a única situação em que Jesus encontrará
a incompreensão e a oposição dos seus amigos e parentes. São João também escreveu:
«nem sequer os seus irmãos acreditavam nele» (Jo 7,5). De facto, Jesus nunca
escondeu que uma das condições para segui-Lo é a aceitação das possíveis rupturas:
«Se alguém vem ter comigo e não me tem mais amor que ao seu pai, à sua mãe, à
sua esposa, aos seus filhos, aos seus irmãos, às suas irmãs e até à própria vida,
não pode ser meu discípulo» (Lc 14,26).
No entanto, é
legítimo perguntarmo-nos: num mundo já marcado por tantas divisões, guerras e
conflitos, o Messias não deveria trazer a paz?
O problema é que
a paz não se obtém com um gesto de varinha mágica. Ela exige uma radical
conversão do coração e é a essa conversão que muitos se opõem com violência. Se
realmente somos discípulos de Jesus, isso significa que a chama do Espírito
Santo arde nos nossos corações: cabe a nós “incendiar” o mundo, proclamar a Boa
Nova e testemunhar a alegria da conversão.
P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2025.08.16
Leitura do Livro da Sabedoria
(Sab 18,6-9)
A noite em que
foram mortos os primogénitos do Egipto foi dada previamente a conhecer aos
nossos antepassados, para que, sabendo com certeza a que juramentos tinham dado
crédito, ficassem cheios de coragem. Ela foi esperada pelo vosso povo, como
salvação dos justos e perdição dos ímpios, pois da mesma forma que castigastes
os adversários, nos cobristes de glória, chamando-nos para Vós. Por isso os
piedosos filhos dos justos ofereciam sacrifícios em segredo e de comum acordo
estabeleceram esta lei divina: que os justos seriam solidários nos bens e nos
perigos; e começaram a cantar os hinos de seus antepassados.
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 32 (33)
Refrão: Feliz o
povo que o Senhor escolheu para sua herança.
Justos, aclamai
o Senhor,
os corações
rectos devem louvá-l’O.
Feliz a nação
que tem o Senhor por seu Deus,
o povo que Ele
escolheu para sua herança.
Os olhos do
Senhor estão voltados para os que O temem,
para os que esperam
na sua bondade,
para libertar da
morte as suas almas
e os alimentar
no tempo da fome.
A nossa alma
espera o Senhor,
Ele é o nosso
amparo e protector.
Venha sobre nós
a vossa bondade,
porque em Vós
esperamos, Senhor.
Leitura da Epístola aos Hebreus
(Heb
11,1-2.8-19)
Irmãos: A fé é a
garantia dos bens que se esperam e a certeza das realidades que não se vêem.
Ela valeu aos antigos um bom testemunho. Pela fé, Abraão obedeceu ao chamamento
e partiu para uma terra que viria a receber como herança; e partiu sem saber
para onde ia. Pela fé, morou como estrangeiro na terra prometida, habitando em
tendas, com Isaac e Jacob, herdeiros, como ele, da mesma promessa, porque
esperava a cidade de sólidos fundamentos, cujo arquitecto e construtor é Deus.
Pela fé, também Sara recebeu o poder de ser mãe já depois de passada a idade,
porque acreditou na fidelidade d’Aquele que lho prometeu. É por isso também que
de um só homem - um homem que a morte já espreitava – nasceram descendentes tão
numerosos como as estrelas do céu e como a areia que há na praia do mar. Todos
eles morreram na fé, sem terem obtido a realização das promessas. Mas vendo-as
e saudando-as de longe, confessaram que eram estrangeiros e peregrinos sobre a
terra. Aqueles que assim falam mostram claramente que procuram uma pátria. Se
pensassem na pátria de onde tinham saído, teriam tempo de voltar para lá. Mas
eles aspiravam a uma pátria melhor, que era a pátria celeste. E como Deus lhes
tinha preparado uma cidade, não Se envergonha de Se chamar seu Deus. Pela fé,
Abraão, submetido à prova, ofereceu o seu filho único Isaac, que era o
depositário das promessas, como lhe tinha sido dito: «Por Isaac será assegurada
a tua descendência». Ele considerava que Deus pode ressuscitar os mortos; por
isso, numa espécie de prefiguração, ele recuperou o seu filho.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 12,32-48)
Naquele tempo,
disse Jesus aos seus discípulos: «Não temas, pequenino rebanho, porque aprouve
ao vosso Pai dar-vos o reino. Vendei o que possuís e dai-o em esmola. Fazei
bolsas que não envelheçam, um tesouro inesgotável nos Céus, onde o ladrão não
chega nem a traça rói. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o
vosso coração. Tende os rins cingidos e as lâmpadas acesas. Sede como homens
que esperam o seu senhor voltar do casamento, para lhe abrirem logo a porta,
quando chegar e bater. Felizes esses servos, que o senhor, ao chegar, encontrar
vigilantes. Em verdade vos digo: cingir-se-á e mandará que se sentem à mesa e,
passando diante deles, os servirá. Se vier à meia-noite ou de madrugada,
felizes serão se assim os encontrar. Compreendei isto: se o dono da casa
soubesse a que hora viria o ladrão, não o deixaria arrombar a sua casa. Estai
vós também preparados, porque na hora em que não pensais virá o Filho do
homem». Disse Pedro a Jesus: «Senhor, é para nós que dizes esta parábola, ou
também para todos os outros?» O Senhor respondeu: «Quem é o administrador fiel
e prudente que o senhor estabelecerá à frente da sua casa, para dar devidamente
a cada um a sua ração de trigo? Feliz o servo a quem o senhor, ao chegar,
encontrar assim ocupado. Em verdade vos digo que o porá à frente de todos os
seus bens. Mas se aquele servo disser consigo mesmo: ‘o meu senhor tarda em
vir’; e começar a bater em servos e servas, a comer, a beber e a embriagar-se,
o senhor daquele servo chegará no dia em que menos espera e a horas que ele não
sabe; ele o expulsará e fará que tenha a sorte dos infiéis. O servo que,
conhecendo a vontade do seu senhor, não se preparou ou não cumpriu a sua
vontade, levará muitas vergastadas. Aquele, porém, que, sem a conhecer, tenha
feito acções que mereçam vergastadas, levará apenas algumas. A quem muito foi
dado, muito será exigido; a quem muito foi confiado, mais se lhe pedirá».
BOA NOTÍCIA
Nunca roubei. Nunca matei.
O sacramento da
confissão é uma autêntica “escola de humanidade”. Entre outras coisas,
aprende-se que alguns fiéis precisam de comparar-se com quem erra: é quase como
se tomassem vitaminas para a auto-estima!
«Sr. Padre, eu
nunca roubei nem matei ninguém!» e dizendo isto, o próprio ego sobe até às
estrelas, seguros de não se estar entre os piores do mundo. «Há pessoas bem
piores do que eu!». Já viste que sorte? Mas esquecemo-nos que muitos
criminosos, ladrões e assassinos, se tivessem nascido no seio da nossa família,
se tivessem tido as oportunidades e os apoios que nós tivemos, também não
teriam enveredado por maus caminhos ou cometido os crimes com que se mancharam.
A frase que
“fecha” o Evangelho do próximo domingo é uma grande provocação para todos nós: «A quem muito foi dado, muito será exigido;
a quem muito foi confiado, mais se lhe pedirá». Logicamente, a quem pouco
foi dado, pouco será pedido. E há pessoas que nunca receberam nada.
Quanto é duro
para um professor “adivinhar” o triste futuro de um aluno, consciente do quão
será difícil “salvá-lo” do seu destino... porque ele nasceu naquela família,
naquele bairro, naquele ambiente. E que grande alegria (e fonte de inspiração),
quando alguém, que apenas conheceu miséria, sofrimento e pecado, emerge de toda
essa “lama”, limpo, são e virtuoso. Nós, que recebemos muito, não podemos
contentarmo-nos de não fazer o mal. Temos de trabalhar, perseverar, lutar pelo
bem! «Feliz o servo a quem o Senhor, ao
chegar, encontrar assim ocupado», pois não basta ser medianos: é preciso
querer ser santos!
P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2025.08.10
Leitura do Livro de Coelet
(Co (Ecle) 1,2; 2,21-23)
Vaidade das vaidades – diz Coelet – vaidade das
vaidades: tudo é vaidade. Quem trabalhou com sabedoria, ciência e êxito, tem de
deixar tudo a outro que nada fez. Também isto é vaidade e grande desgraça. Mas
então, que aproveita ao homem todo o seu trabalho e a ânsia com que se afadigou
debaixo do sol? Na verdade, todos os seus dias são cheios de dores e os seus
trabalhos cheios de cuidados e preocupações; e nem de noite o seu coração
descansa. Também isto é vaidade.
SALMO RESPONSORIAL – Salmo
89 (90)
Refrão: Senhor, tendes sido o nosso refúgio
através das gerações.
Vós reduzis o homem ao pó da terra
e dizeis: «Voltai, filhos de Adão».
Mil anos a vossos olhos são como o dia de ontem
que passou
e como uma vigília da noite.
Vós os arrebatais como um sonho,
como a erva que de manhã reverdece;
de manhã floresce e viceja,
de tarde ela murcha e seca.
Ensinai-nos a contar os nossos dias,
para chegarmos à sabedoria do coração.
Voltai, Senhor! Até quando…
Tende piedade dos vossos servos.
Saciai-nos desde a manhã com a vossa bondade,
para nos alegrarmos e exultarmos todos os dias.
Desça sobre nós a graça do Senhor nosso Deus.
Confirmai, Senhor, a obra das nossas mãos.
Leitura da Epístola do
apóstolo São Paulo aos Colossenses
(Col 3,1-5.9-11)
Irmãos: Se ressuscitastes com Cristo, aspirai às
coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às
coisas do alto e não às da terra. Porque vós morrestes e a vossa vida está
escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a vossa vida, Se manifestar,
também vós vos haveis de manifestar com Ele na glória. Portanto, fazei morrer o
que em vós é terreno: imoralidade, impureza, paixões, maus desejos e avareza,
que é uma idolatria. Não mintais uns aos outros, vós que vos despojastes do
homem velho com as suas acções e vos revestistes do homem novo, que, para
alcançar a verdadeira ciência, se vai renovando à imagem do seu Criador. Aí não
há grego ou judeu, circunciso ou incircunciso, bárbaro ou cita, escravo ou
livre; o que há é Cristo, que é tudo e está em todos.
Evangelho de Nosso Senhor
Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 12,13-21)
Naquele tempo, alguém, do meio da multidão, disse
a Jesus: «Mestre, diz a meu irmão que reparta a herança comigo». Jesus
respondeu-lhe: «Amigo, quem Me fez juiz ou árbitro das vossas partilhas?»
Depois disse aos presentes: «Vede bem, guardai-vos de toda a avareza: a vida de
uma pessoa não depende da abundância dos seus bens». E disse-lhes esta
parábola: «O campo dum homem rico tinha produzido excelente colheita. Ele
pensou consigo: ‘Que hei-de fazer, pois não tenho onde guardar a minha
colheita? Vou fazer assim: Deitarei abaixo os meus celeiros para construir
outros maiores, onde guardarei todo o meu trigo e os meus bens. Então poderei
dizer a mim mesmo: Minha alma, tens muitos bens em depósito para longos anos.
Descansa, come, bebe, regala-te’. Mas Deus respondeu-lhe: ‘Insensato! Esta
noite terás de entregar a tua alma. O que preparaste, para quem será?’ Assim
acontece a quem acumula para si, em vez de se tornar rico aos olhos de Deus».
BOA NOTÍCIA
Mudam-se os tempos
Mudam-se os tempos, mas nem sempre se mudam as
vontades... e a vontade de acumular riquezas, a preocupação de ter sempre mais
e o medo de renunciar ao que quer que seja, são sentimentos tão actuais hoje
quanto ontem, na Palestina Antiga. O problema das partilhas e das heranças não
é uma questão moderna, mas já no tempo de Jesus era fonte de aborrecimentos e
tensões entre familiares.
Se pensarmos bem, é quase paradoxal que isso
aconteça, pois a partilha de uma herança pressupõe que a família viva um momento
de luto. O falecimento de alguém não deveria ser a lição mais evidente do
quanto é inútil todo este apegamento aos bens materiais? A constatação de que
não levamos nada connosco para a túmulo não deveria suscitar um são relativismo
(e desinteresse) em relação às coisas materiais?
No Evangelho de hoje, Jesus aproveita a deixa de
um pedido de ajuda numa questão de heranças («Mestre, diz a meu irmão que reparta a herança comigo») para ir
para lá daquele caso específico e propor, a quem o escuta, uma catequese sobre
a justa relação que devemos estabelecer com os bens terrenos.
«O campo dum homem rico
tinha produzido excelente colheita. Ele pensou consigo: (…) Deitarei abaixo os
meus celeiros para construir outros maiores (…) Mas Deus respondeu-lhe:
‘Insensato! Esta noite terás de entregar a tua alma. O que preparaste, para
quem será?’ (…)»
O que é que Ele pretende ensinar, ao contar a
pequena parábola do homem rico? Convidar os seus discípulos a despojar-se de
todos os bens? Ensinar aos seus seguidores que não devem preocupar-se com o
futuro? Propor aos que aderem ao Reino uma existência de miséria, sem o
necessário para uma vida minimamente digna e humana? Não. O que Jesus nos diz é
que não podemos viver na escravatura do dinheiro e dos bens materiais, como se
eles fossem a coisa mais importante da nossa vida.
O que Cristo condena não é a posse de bens
materiais em sim, mas a deificação da riqueza. Nas nossas sociedades a forma
mais comum de idolatria é a cobiça dos bens; o desejo insaciável de ter.
“Insensato” é o nome que Deus dá àqueles que desperdiçam a vida buscando
fortuna, sacrificando muitas vezes as relações familiares e até a própria
saúde. Já uma vez aqui disse e volto a repetir: a pessoa mais rica não é a que
tem muitas coisas, mas sim a que não precisa de nada.
P. Carlos Caetano
in LusoJornal 2025.08.03