sábado, 25 de junho de 2011

SANTÍSSIMO CORPO E SANGUE DE CRISTO (ano A)



Leitura do Livro do Deuteronómio
(Deut 8, 2-3.14b-16a)
Moisés falou ao povo, dizendo: «Recorda-te de todo o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer durante quarenta anos no deserto, para te atribular e pôr à prova, a fim de conhecer o íntimo do teu coração e verificar se guardarias ou não os seus mandamentos. Atribulou-te e fez-te passar fome, mas deu-te a comer o maná que não conhecias nem teus pais haviam conhecido, para te fazer compreender que o homem não vive só de pão, mas de toda a palavra que sai da boca do Senhor. Não te esqueças do Senhor teu Deus, que te fez sair da terra do Egipto, da casa de escravidão, e te conduziu através do imenso e temível deserto, entre serpentes venenosas e escorpiões, terreno árido e sem águas. Foi Ele quem, da rocha dura, fez nascer água para ti e, no deserto, te deu a comer o maná, que teus pais não tinham conhecido».


SALMO RESPONSORIAL - Salmo 147, 12-13.14-15.19-20
Refrão: Jerusalém, louva o teu Senhor.

Glorifica, Jerusalém, o Senhor,
louva, Sião, o teu Deus.
Ele reforçou as tuas portas
e abençoou os teus filhos.

Estabeleceu a paz nas tuas fronteiras
e saciou-te com a flor da farinha.
Envia à terra a sua palavra,
corre veloz a sua mensagem.

Revelou a sua palavra a Jacob,
suas leis e preceitos a Israel.
Não fez assim com nenhum outro povo,
a nenhum outro manifestou os seus juízos.


Leitura da Primeira Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios
(1 Cor 10, 16-17)
Irmãos: Não é o cálice de bênção que abençoamos a comunhão com o Sangue de Cristo? Não é o pão que partimos a comunhão com o Corpo de Cristo? Visto que há um só pão, nós, embora sejamos muitos, formamos um só corpo, porque participamos do mesmo pão.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 6, 51-58)
Naquele tempo, disse Jesus à multidão: «Eu sou o pão vivo descido do Céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que Eu hei-de dar é a minha Carne, que Eu darei pela vida do mundo». Os judeus discutiam entre si: «Como pode Ele dar-nos a sua Carne a comer?». Jesus disse-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a Carne do Filho do homem e não beberdes o seu Sangue, não tereis a vida em vós. Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue tem a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia. A minha Carne é verdadeira comida e o meu Sangue é verdadeira bebida. Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue permanece em mim e Eu nele. Assim como o Pai, que vive, Me enviou, e Eu vivo pelo Pai, também aquele que Me come viverá por Mim. Este é o pão que desceu do Céu; não é como aquele que os vossos pais comeram, e morreram; quem comer deste pão viverá eternamente».


«O SENHOR ESTEJA CONVOSCO»
Em 1264, um sacerdote chamado Pietro da Praga celebrava a eucaristia na igreja de Santa Cristina, na cidade de Bolsena em Itália. A tradição diz-nos que ele atravessava um momento de grande crise espiritual e duvidava que Cristo estivesse realmente presente no pão e no vinho consagrados. Durante a missa, após a consagração, no momento da fracção da hóstia, padre Pietro pôde testemunhar um prodígio que, inicialmente, o assustou e confundiu profundamente: a hóstia que segurava entre as mãos transformou-se em carne humana de onde escorria sangue. A hóstia e o corporal de linho (manchado de sangue) foram levados então até à cidade de Orvieto, onde se encontrava o Papa Urbano IV. As relíquias deste milagre eucarístico ainda hoje são conservadas na catedral dessa belíssima cidade e no dia 8 de Setembro de 1264, sempre em Orvieto, foi promulgada, para toda a Igreja Católica, a festa que celebramos este domingo: a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo.*

As tradicionais procissões de Corpus Christi ou Corpus Domini, que se realizam neste dia em quase todas as paróquias, recordam o antigo e solene cortejo que acompanhou a trasladação das relíquias desde Bolsena até Orvieto. No entanto, a festa que hoje celebramos é muito mais que uma mera recordação daqueles factos milagrosos. Nesta solenidade somos convidados a reflectir sobre o significado profundo da Eucarística e o papel que este sacramento assume nas nossas vidas.

A festa de Corpus Christi (expressão latina que significa “Corpo de Cristo”) relembra-nos que, no pão e vinho consagrados, Jesus é presente não como uma “coisa”, mas como uma pessoa, como um “eu” que se doa a um “tu”. Trata-se de um verdadeiro encontro com alguém e portanto, de uma possibilidade concreta de comunhão entre pessoas. Ludwig Feuerbach, um famoso materialista ateu, escreveu que «o Homem é aquilo que come». Sem sabê-lo, este filósofo alemão deu-nos uma óptima definição da Eucaristia: graças a ela o homem pode converter-se naquilo de que se nutre, ou seja, no corpo de Cristo.

Na comunhão Jesus faz-se presente e pede-nos que essa presença se manifeste na nossa vida. Eis a Eucaristia! Certamente todos gostaríamos que as nossas assembleias fossem mais acolhedoras, que os nossos cânticos fossem mais afinados e que as nossas igrejas fossem mais hospitaleiras. Porém, o que realmente falta muitas vezes nas nossas missas é esta certeza arrebatadora da presença real do Senhor, pois quando essa fé é robusta e vigorosa, mesmo a celebração mais simples e “nua” torna-se um momento de alegria incomparável, pois o Senhor está connosco. Ele está no meio de nós.


(Tenham um bom domingo!)




* Tradicionalmente a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo celebra-se na quinta-feira após a Festa da Santíssima Trindade. Todavia, nalgumas nações, tais como França e Itália, onde foi eliminado o feriado nacional, esta solenidade é adiada para o domingo sucessivo.

Se a vossa paróquia celebra amanhã o 13º Domingo do Tempo Comum, deixo-vos aqui o excelente comentário do Padre Vítor Gonçalves a essa liturgia.

À PROCURA DA PALAVRA
“Quem perder a sua vida por minha causa, há-de encontrá-la.” Mt 10, 39

Perder para encontrar
Quem não brincou “às escondidas” quando era pequeno? Lembram-se que ganhava o último a ser encontrado, não era? A nossa relação com Deus parece-se, algumas vezes, com este jogo infantil em que Ele não desiste de nos procurar. As razões pelas quais nos escondemos de Deus, podem ser muitas, quase sempre marcadas por imagens distorcidas d’Ele. Mas aqui perde quem não se deixa encontrar, quem desenvolve estratégias para recusar esse encontro que pode mexer com a vida toda. Nas palavras de Jesus encontramos um permanente convite a rever os nossos critérios, a perder as seguranças fáceis e estabelecidas, e a confiar n’Ele como “meu Senhor e meu Deus” (na belíssima afirmação de fé de S. Tomé após a ressurreição).

“Perder? Nem a feijões!”, diz o futebolista Cristiano Ronaldo num anúncio televisivo. Nestes tempos de tantas perdas, e em que a mais dramática é a da esperança, é preciso rever o que entendemos por perder. Nem todas as vezes que perdemos algo isso é necessariamente o fim do mundo. Não é o correr da vida uma constante aprendizagem com as perdas de tempo, de oportunidades, de saúde, de coisas e de pessoas? Escolher é sempre perder aquilo que não se escolheu. Daí a importância da educação para ajudar a escolher melhor, a dar bons fundamentos às escolhas, a ser responsável com elas, particularmente quando surgem as dificuldades. Pois quanto mais importante a escolha, maiores as provas a superar! Educar para a vitória constante só produz frustração e desencanto, e é uma fonte de infelicidade. Pois, algumas vezes, perder é fundamental para encontrar algo maior, mais belo, mais essencial!

Perder uma certa imagem de si e dos outros, perder um projecto porque afinal não é aquilo que enche a alma, perder uma estrutura que é mais obstáculo do que ponte, são situações dolorosas. Mas o caminho da fé que Jesus aponta e percorre connosco baseia-se na verdade e na simplicidade. A verdade de que a vida tem o sinal da cruz e ela é sempre um sinal “mais” em tudo, um sinal que reclama doação e disponibilidade. A simplicidade de ser prático perante as dificuldades, de partir do real e perder o medo de errar ou de não fazer tudo certo.

“Repensar a pastoral da Igreja em Portugal” é um projecto proposto pelo Episcopado português que está em execução. O Cónego Carlos Paes partilhou, num caderno publicado, a sua resposta propondo 14 “passagens” ou saltos qualitativos da nossa presença cristã na sociedade. São verdadeiros convites a “perder para encontrar”. Perder conceitos e atitudes que estão gastos para dar um ou vários saltos em frente. E se toda a perda assusta ou entristece, gosto de lembrar que aquilo que Jesus mais insistiu com os discípulos foi que “perdessem o medo”!

Padre Vítor Gonçalves

in VOZ DA VERDADE 26.06.2011







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