sábado, 12 de setembro de 2009

XXIV DOMINGO DO TEMPO COMUM (ano B)



Leitura do Livro de Isaías
(Is 50,5-9a)
O Senhor Deus abriu-me os ouvidos e eu não resisti nem recuei um passo. Apresentei as costas àqueles que me batiam e a face aos que me arrancavam a barba; não desviei o meu rosto dos que me insultavam e cuspiam. Mas o Senhor Deus veio em meu auxílio e por isso não fiquei envergonhado; tornei o meu rosto duro como pedra, e sei que não ficarei desiludido. O meu advogado está perto de mim. Pretende alguém instaurar-me um processo? Compareçamos juntos. Quem é o meu adversário? Que se apresente! O Senhor Deus vem em meu auxílio. Quem ousará condenar-me?


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 114 (116)

Refrão: Andarei na presença do Senhor sobre a terra dos vivos.

Amo o senhor,
porque ouviu a voz da minha súplica.
Ele me atendeu
no dia em que O invoquei.

Apertaram-me os laços da morte,
caíram sobre mim as angústias do além, vi-me na aflição e na dor.
Então invoquei o Senhor:
«Senhor, salvai a minha alma».

Justo e compassivo é o Senhor,
o nosso Deus é misericordioso.
O Senhor guarda os simples:
estava sem forças e o Senhor salvou-me.

Livrou da morte a minha alma,
das lágrimas os meus olhos, da queda os meus pés.
Andarei na presença do Senhor,
sobre a terra dos vivos.


Leitura da Epístola de São Tiago
(Tiago 2,14-18)
Meus irmãos: De que serve a alguém dizer que tem fé, se não tem obras? Poderá essa fé obter-lhe a salvação? Se um irmão ou uma irmã não tiverem que vestir e lhes faltar o alimento de cada dia, e um de vós lhe disser: «Ide em paz. Aquecei-vos bem e saciai-vos», sem lhes dar o necessário para o corpo, de que lhes servem as vossas palavras? Assim também a fé sem obras está completamente morta. Mas dirá alguém: «Tu tens a fé e eu tenho as obras». Mostra-me a tua fé sem obras, que eu, pelas obras, te mostrarei a minha fé.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
(Mc 8,27-35)
Naquele tempo, Jesus partiu com os seus discípulos para as povoações de Cesareia de Filipe. No caminho, fez-lhes esta pergunta: «Quem dizem os homens que Eu sou?» Eles responderam: «Uns dizem João Baptista; outros, Elias; e outros, um dos profetas». Jesus então perguntou-lhes: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» Pedro tomou a palavra e respondeu: «Tu és o Messias». Ordenou-lhes então severamente que não falassem d’Ele a ninguém. Depois, começou a ensinar-lhes que o Filho do homem tinha de sofrer muito, de ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos escribas; de ser morto e ressuscitar três dias depois. E Jesus dizia-lhes claramente estas coisas. Então, Pedro tomou-O à parte e começou a contestá-l’O. Mas Jesus, voltando-Se e olhando para os discípulos, repreendeu Pedro, dizendo: «Vai-te, Satanás, porque não compreendes as coisas de Deus, mas só as dos homens». E, chamando a multidão com os seus discípulos, disse-lhes: «Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. Na verdade, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; mas quem perder a vida, por causa de Mim e do Evangelho, salvá-la-á».


LÓGICA DA CRUZ
O Evangelho deste domingo narra-nos o episódio que “divide as águas” entre a primeira e a segunda parte da obra de Marcos.

Nos primeiros oito capítulos fomos convidados pelo evangelista a participar numa viagem (mais catequética do que geográfica) onde acompanhámos Jesus nas suas deslocações pela região da Galileia, escutámos a Sua mensagem de Salvação e, aos poucos, fomos tomando consciência da verdadeira identidade do jovem carpinteiro de Nazaré. Este percurso de descoberta termina hoje, com a confissão messiânica de Pedro, em Cesareia de Filipe: «Tu és o Messias».

“Fechada” esta primeira secção entramos imediatamente no tema da segunda parte da obra de Marcos (Mc 8,31-16,8). O objectivo agora é explicar que Jesus, além de ser o Messias libertador, é também o “Filho de Deus”. No entanto, Ele não veio ao mundo para cumprir um destino de triunfos e de glórias humanas, mas para oferecer a sua vida em dom de amor aos homens. O ponto alto desta “catequese” será a afirmação do centurião romano junto da cruz: «realmente este homem era o Filho de Deus» (Mc 15,39).

Quando Pedro responde, «Tu és o Messias», sabemos que a sua afirmação é correcta. No entanto, esta frase podia prestar-se a graves equívocos, numa altura em que o título de Messias estava conotado com esperanças político-nacionalistas. Por isso, os discípulos recebem ordens para não falarem disso a ninguém. Era preciso clarificar, depurar e completar a catequese sobre o Messias e a sua missão, para evitar desilusões.

Tal como no passado, também hoje não basta “acreditar” em Jesus, se depois a nossa fé se baseia numa imagem deturpada de Deus e do seu projecto de Salvação para os homens.

«Vai-te, Satanás» são as duras palavras que Jesus dirige a Pedro quando este contesta a “lógica” da Sua missão messiânica. O apóstolo está a repetir as tentações que Jesus experimentou no início do seu ministério durante o período passado no deserto (cf. Mc 1,13). Somos convidados, junto com Simão Pedro, a corrigir a nossa perspectiva de Jesus e do plano do Pai que Ele vem realizar.

A lógica dos homens aposta no poder, no domínio, no triunfo, no êxito. Garante-nos que a vida só tem sentido se estivermos do lado dos vencedores, se tivermos dinheiro em abundância, se formos reconhecidos e incensados pelas multidões, se tivermos acesso às festas onde se reúne a alta sociedade. A lógica de Jesus aposta na entrega da vida a Deus e aos irmãos; garante-nos que a vida só faz sentido se assumirmos os valores do Reino e vivermos no amor, na partilha, no serviço, na solidariedade. Neste contexto, a cruz é expressão de um amor total, radical, que se dá até à morte; “tomar a cruz” significa entregar a própria vida por amor a Deus e para bem dos irmão. A “lógica da cruz” convida-nos a acreditar que oferecer a vida por amor não é perdê-la, mas ganhá-la.

Na nossa vida de cada dia, estas duas perspectivas confrontam-se, a par e passo… Qual é a tua escolha?


(Tenham uma boa semana!)



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