sábado, 26 de junho de 2010

XIII DOMINGO DO TEMPO COMUM (ano C)



Leitura do Primeiro Livro dos Reis
(1 Re 19,16b.19-21)
Naqueles dias, disse o Senhor a Elias: «Ungirás Eliseu, filho de Safat, de Abel-Meola, como profeta em teu lugar». Elias pôs-se a caminho e encontrou Eliseu, filho de Safat, que andava a lavrar com doze juntas de bois e guiava a décima segunda. Elias passou junto dele e lançou sobre ele a sua capa. Então Eliseu abandonou os bois, correu atrás de Elias e disse-lhe: «Deixa-me ir abraçar meu pai e minha mãe; depois irei contigo». Elias respondeu: «Vai e volta, porque eu já fiz o que devia». Eliseu afastou-se, tomou uma junta de bois e matou-a; com a madeira do arado assou a carne, que deu a comer à sua gente. Depois levantou-se e seguiu Elias, ficando ao seu serviço.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 15 (16)
Refrão: O Senhor é a minha herança.

Defendei-me, Senhor: Vós sois o meu refúgio.
Diga ao Senhor: «Vós sois o meu Deus».
Senhor, porção da minha herança e do meu cálice,
está nas vossas mãos o meu destino.

Bendigo o Senhor por me ter aconselhado,
até de noite me inspira interiormente.
O Senhor está sempre na minha presença,
com Ele a meu lado não vacilarei.

Por isso o meu coração se alegra e a minha alma exulta
e até o meu corpo descansa tranquilo.
Vós não abandonareis a minha alma na mansão dos mortos,
nem deixareis o vosso fiel sofrer a corrupção.

Dar-me-eis a conhecer os caminhos da vida,
alegria plena na vossa presença,
delícias eternas à vossa direita.


Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Gálatas
(Gal 5,1.13-18)
Irmãos: Foi para a verdadeira liberdade que Cristo nos libertou. Portanto, permanecei firmes e não torneis a sujeitar-vos ao jugo da escravidão. Vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Contudo, não abuseis da liberdade como pretexto para viverdes segundo a carne; mas, pela caridade, colocai-vos ao serviço uns dos outros, porque toda a Lei se resume nesta palavra: «Amarás o teu próximo como a ti mesmo». Se vós, porém, vos mordeis e devorais mutuamente, tende cuidado, que acabareis por destruir-vos uns aos outros. Por isso vos digo: Deixai-vos conduzir pelo Espírito e não satisfareis os desejos da carne. Na verdade, a carne tem desejos contrários aos do Espírito, e o Espírito desejos contrários aos da carne. São dois princípios antagónicos e por isso não fazeis o que quereis. Mas se vos deixais guiar pelo Espírito, não estais sujeitos à Lei de Moisés.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 9,51-62)
Aproximando-se os dias de Jesus ser levado deste mundo, Ele tomou a decisão de Se dirigir a Jerusalém e mandou mensageiros à sua frente. Estes puseram-se a caminho e entraram numa povoação de samaritanos, a fim de Lhe prepararem hospedagem. Mas aquela gente não O quis receber, porque ia a caminho de Jerusalém. Vendo isto, os discípulos Tiago e João disseram a Jesus: «Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu que os destrua?» Mas Jesus voltou-Se e repreendeu-os. E seguiram para outra povoação. Pelo caminho, alguém disse a Jesus: «Seguir-Te-ei para onde quer que fores». Jesus respondeu-lhe: «As raposas têm as suas tocas e as aves do céu os seus ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça». Depois disse a outro: «Segue-Me». Ele respondeu: «Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar meu pai». Disse-lhe Jesus: «Deixa que os mortos sepultem os seus mortos; tu, vai anunciar o reino de Deus». Disse-Lhe ainda outro: «Seguir-Te-ei, Senhor; mas deixa-me ir primeiro despedir-me da minha família». Jesus respondeu-lhe: «Quem tiver lançado as mãos ao arado e olhar para trás não serve para o reino de Deus».


DISCÍPULOS
Se no domingo passado éramos convidados a responder à pergunta «quem é Jesus, para mim?», esta semana a perspectiva muda completamente e o Evangelho convida-nos a meditar a seguinte questão: «para Jesus, quem é o verdadeiro discípulo?». Lucas apresenta, através do diálogo com três “candidatos”, algumas das condições para entrar no discipulado de Jesus e percorrer com Ele, esse caminho que leva a Jerusalém, isto é, que leva à plenitude da salvação. Que condições são essas?

Com o primeiro diálogo aprendemos que o discípulo deve despojar-se totalmente das preocupações materiais: para ele, o Reino tem de ser infinitamente mais importante do que as comodidades e o bem-estar material. O segundo diálogo ensina que, todos os deveres e obrigações deste mundo, mesmo os mais importantes, são secundários quando comparados com o compromisso de seguir Jesus Cristo. O terceiro diálogo sugere-nos que o discípulo deve despegar-se de tudo (até da própria família, se for necessário), para fazer do Reino a sua prioridade fundamental: nada deve adiar ou demorar a nossa resposta.

É uma página do Evangelho que surpreende e choca pelo radicalismo e nível de compromisso que exige. Confirmamos que Jesus não é um “guru” sedento de adeptos, disposto a atenuar as condições do discipulado ou a abaixar o ideal de vida proposto, para obter o aplauso das multidões e aumentar o número dos fiéis da sua Igreja. O Caminho pede sacrifícios, abnegação, fidelidade. Porém, as exigências que encontramos nestes diálogos, não devem ser lidas como normas da fé cristã: sabemos que noutras circunstâncias, Jesus Cristo mandou cuidar dos pais (cf. Mt 15,3-9) e os discípulos fizeram-se acompanhar das esposas durante as viagens missionárias (cf. 1 Cor 9,5).

Na óptica do Reino de Deus, as relações pessoais não perdem a própria importância, mas convertem-se completamente à lógica do Evangelho. Jesus subordina os vínculos familiares à adesão ao Reino, não para minimizar estes laços fundamentais, mas sim, para realçar a nova mentalidade que deverá animar cada cristão. Utilizando estes três diálogos (polémicos e provocadores!), o evangelista Lucas encoraja os discípulos a eliminar da própria vida tudo aquilo que possa ser um obstáculo no testemunho quotidiano do Reino. Porém, paradoxalmente, nenhum testemunho é eficaz se não se traduz em relações concretas de amor e solidariedade. Tal como escreveu S. João apóstolo: «Se alguém disser: “Eu amo a Deus”, mas tiver ódio ao seu irmão, esse é um mentiroso; pois aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. E nós recebemos dele este mandamento: quem ama a Deus, ame também o seu irmão (1Jo 4,20-21)».


(Tenham uma boa semana!)


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