sábado, 11 de setembro de 2010

XXIV DOMINGO DO TEMPO COMUM (ano C)



Leitura do Livro do Êxodo
(Ex 32, 7-11.13-14)
Naqueles dias, o Senhor falou a Moisés, dizendo: «Desce depressa, porque o teu povo, que tiraste da terra do Egipto, corrompeu-se. Não tardaram em desviar-se do caminho que lhes tracei. Fizeram um bezerro de metal fundido, prostraram-se diante dele, ofereceram-lhe sacrifícios e disseram: ‘Este é o teu Deus, Israel, que te fez sair da terra do Egipto’». O Senhor disse ainda a Moisés: «Tenho observado este povo: é um povo de dura cerviz. Agora deixa que a minha indignação se inflame contra eles e os destrua. De ti farei uma grande nação». Então Moisés procurou aplacar o Senhor seu Deus, dizendo: «Por que razão, Senhor, se há-de inflamar a vossa indignação contra o vosso povo, que libertastes da terra do Egipto com tão grande força e mão tão poderosa? Lembrai-Vos dos vossos servos Abraão, Isaac e Israel, a quem jurastes pelo vosso nome, dizendo: ‘Farei a vossa descendência tão numerosa como as estrelas do céu e dar-lhe-ei para sempre em herança toda a terra que vos prometi’». Então o Senhor desistiu do mal com que tinha ameaçado o seu povo.


SALMO RESPONSORIAL Salmo 50 (51), 3-4.12-13.17.19
Refrão: Vou partir e vou ter com meu pai.

Compadecei-Vos de mim, ó Deus,
pela vossa bondade,
pela vossa grande misericórdia,
apagai os meus pecados.
Lavai-me de toda a iniquidade
e purificai-me de todas as faltas.

Criai em mim, ó Deus, um coração puro
e fazei nascer dentro de mim um espírito firme.
Não queirais repelir-me da vossa presença
e não retireis de mim o vosso espírito de santidade.

Abri, Senhor, os meus lábios
e a minha boca anunciará o vosso louvor.
Sacrifício agradável a Deus
é um espírito arrependido:
não desprezeis, Senhor,
um espírito humilhado e contrito.


Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo
(1 Tim 1, 12-17)
Caríssimo: Dou graças Àquele que me deu força, Jesus Cristo, Nosso Senhor, que me julgou digno de confiança e me chamou ao seu serviço, a mim que tinha sido blasfemo, perseguidor e violento. Mas alcancei misericórdia, porque agi por ignorância, quando ainda era descrente. A graça de Nosso Senhor superabundou em mim, com a fé e a caridade que temos em Cristo Jesus. É digna de fé esta palavra e merecedora de toda a aceitação: Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores e eu sou o primeiro deles. Mas alcancei misericórdia, para que, em mim primeiramente, Jesus Cristo manifestasse toda a sua magnanimidade, como exemplo para os que hão-de acreditar n’Ele, para a vida eterna. Ao Rei dos séculos, Deus imortal, invisível e único, honra e glória pelos séculos dos séculos. Amen.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 15,1-32)
Naquele tempo, os publicanos e os pecadores aproximaram-se todos de Jesus, para O ouvirem. Mas os fariseus e os escribas murmuravam entre si, dizendo: «Este homem acolhe os pecadores e come com eles». Jesus disse-lhes então a seguinte parábola: «Quem de vós, que possua cem ovelhas e tenha perdido uma delas, não deixa as outras noventa e nove no deserto, para ir à procura da que anda perdida, até a encontrar? Quando a encontra, põe-na alegremente aos ombros e, ao chegar a casa, chama os amigos e vizinhos e diz-lhes: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a minha ovelha perdida’. Eu vos digo: Assim haverá mais alegria no Céu por um só pecador que se arrependa, do que por noventa e nove justos, que não precisam de arrependimento. Ou então, qual é a mulher que, possuindo dez dracmas e tendo perdido uma, não acende uma lâmpada, varre a casa e procura cuidadosamente a moeda até a encontrar? Quando a encontra, chama as amigas e vizinhas e diz-lhes: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a dracma perdida’. Eu vos digo: Assim haverá alegria entre os Anjos de Deus por um pecador que se arrependa». Jesus disse-lhes ainda: «Um homem tinha dois filhos. O mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá-me parte da herança que me toca’. O pai repartiu os bens pelos filhos. Alguns dias depois, o filho mais novo, juntando todos os seus haveres, partiu para um país distante e por lá esbanjou quanto possuía, numa vida dissoluta. Tendo gasto tudo, houve uma grande fome naquela região e ele começou a passar privações. Entrou então ao serviço de um dos habitantes daquela terra que o mandou para os seus campos guardar porcos. Bem desejava ele matar a fome com as alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. Então, caindo em si, disse: ‘Quantos trabalhadores de meu pai têm pão em abundância, e eu aqui a morrer de fome! Vou-me embora, vou ter com meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho, mas trata-me como um dos teus trabalhadores’. Pôs-se a caminho e foi ter com o pai. Ainda ele estava longe, quando o pai o viu: Enchendo-se de compaixão, correu a lançar-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos. Disse-lhe o filho: ‘Pai, pequei contra o Céu e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho’. Mas o pai disse aos servos: ‘Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha. Ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei o vitelo gordo e matai-o. Comamos e festejemos, porque este meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado’. E começou a festa. Ora o filho mais velho estava no campo. Quando regressou, ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças. Chamou um dos servos e perguntou-lhe o que era aquilo. O servo respondeu-lhe: ‘O teu irmão voltou e teu pai mandou matar o vitelo gordo, porque ele chegou são e salvo’. Ele ficou ressentido e não queria entrar. Então o pai veio cá fora instar com ele. Mas ele respondeu ao pai: ‘Há tantos anos que eu te sirvo, sem nunca transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito para fazer uma festa com os meus amigos. E agora, quando chegou esse teu filho, que consumiu os teus bens com mulheres de má vida, mataste-lhe o vitelo gordo’. Disse-lhe o pai: ‘Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu. Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado’».


QUEM? NINGUÉM! SOMENTE...
Já aqui falámos uma vez da parábola do “Pai misericordioso” (se não se lembram, cliquem AQUI) e por isso, hoje convido-vos a concentrar a vossa atenção na primeira das três parábolas da misericórdia: a parábola da ovelha perdida.

Normalmente as parábolas propõem-nos situações típicas da vida quotidiana, que Jesus convida a comparar com uma realidade maior. Graças a essa comparação (esse paralelo... daí o nome “parábola”), Ele ajuda-nos a descobrir uma verdade nova. Portanto, habitualmente, começa-se com um exemplo simples e familiar; algo bem concreto que todos podem perceber. Porém, o Evangelho deste domingo não segue os passos que acabámos de descrever, pois a parábola da ovelha perdida parte de uma situação profundamente estranha e atípica.

«Quem de vós – pergunta Jesus – não deixa noventa e nove ovelhas sozinhas no deserto, para ir à procura de uma que anda perdida?» Resposta: ninguém. Nenhum pastor, de mente sã, deixaria um rebanho inteiro abandonado, para procurar uma pobre ovelha extraviada. E ninguém, ajuizado, incomodaria amigos e vizinhos, com a notícia (pouco interessante...) de uma ovelha encontrada. Quem poderia agir desta forma ilógica e incoerente? Quem poderia fazer todo este espalhafato à volta de um facto banal como é o reencontro com uma ovelha que se extraviou… Somente um louco ou um apaixonado. Mas Deus ama-nos loucamente...

Nestes exageros e nestas reacções desproporcionadas revela-se a mensagem essencial da parábola: a atitude de Jesus para com os pecadores (que tanto aborreceu os fariseus) segue a lógica de Deus em relação aos filhos afastados. Deus não os rejeita, não os marginaliza, mas ama-os sempre. Loucamente!

Não é fácil entrar nesta lógica da misericórdia e da não-exclusão: infelizmente, é bem mais simples excomungar... Mas essa não é a lógica do Pai! E todos nós, todos os “filhos de Deus”, devemos converter o nosso coração, a nossa mentalidade e as nossas regras à lógica da misericórdia. Não é que Deus pactue com o pecado: Deus abomina o pecado, mas, tal como escutámos nestas três parábolas, Ele não deixa nunca (nunca!) de amar/procurar/acolher o pecador.


(Tenham uma boa semana)



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2 comentários:

Anónimo disse...

e assim se 'fez' a mentalidade do homem de hoje, o homem da sociedade. Aquele que sabe que pode pecar e que por 'imposição', de alguma forma constitucional, alguem o vai abssolver...

:)=

C disse...

Não há absolvição sem arrependimento e sem propósito honesto de conversão.

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