sábado, 18 de julho de 2009

XVI DOMINGO DO TEMPO COMUM (ano B)



Leitura do Livro de Jeremias
(Jer 23,1-6)
Diz o Senhor: «Ai dos pastores que perdem e dispersam as ovelhas do meu rebanho!» Por isso, assim fala o Senhor, Deus de Israel, aos pastores que apascentam o meu povo: «Dispersastes as minhas ovelhas e as escorraçastes, sem terdes cuidado delas. Vou ocupar-Me de vós e castigar-vos, pedir-vos contas das vossas más acções - oráculo do Senhor. Eu mesmo reunirei o resto das minhas ovelhas de todas as terras onde se dispersaram e as farei voltar às suas pastagens, para que cresçam e se multipliquem. Dar-lhes-ei pastores que as apascentem e não mais terão medo nem sobressalto; nem se perderá nenhuma delas – oráculo do Senhor. Dias virão, diz o Senhor, em que farei surgir para David um rebento justo. Será um verdadeiro rei e governará com sabedoria; há-de exercer no país o direito e a justiça. Nos seus dias, Judá será salvo e Israel viverá em segurança. Este será o seu nome: ‘O Senhor é a nossa justiça’».


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 22 (23)

Refrão: O Senhor é meu pastor: nada me faltará.

O Senhor é meu pastor: nada me falta.
Leva-me a descansar em verdes prados,
conduz-me às águas refrescantes
e reconforta a minha alma.

Ele me guia por sendas direitas por amor do seu nome.
Ainda que tenha de andar por vales tenebrosos,
não temerei nenhum mal, porque Vós estais comigo:
o vosso cajado e o vosso báculo me enchem de confiança.

Para mim preparais a mesa
à vista dos meus adversários;
com óleo me perfumais a cabeça,
e o meu cálice transborda.

A bondade e a graça hão-de acompanhar-me
todos os dias da minha vida,
e habitarei na casa do Senhor
para todo o sempre.


Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Efésios
(Ef 2,13-18)
Irmãos: Foi em Cristo Jesus que vós, outrora longe de Deus, vos aproximastes d’Ele, graças ao sangue de Cristo. Cristo é, de facto, a nossa paz. Foi Ele que fez de judeus e gregos um só povo e derrubou o muro da inimizade que os separava, anulando, pela imolação do seu corpo, a Lei de Moisés com as suas prescrições e decretos. E assim, de uns e outros, Ele fez em Si próprio um só homem novo, estabelecendo a paz. Pela cruz reconciliou com Deus uns e outros, reunidos num só Corpo, levando em Si próprio a morte á inimizade. Cristo veio anunciar a boa nova da paz, paz para vós, que estáveis longe, e paz para aqueles que estavam perto. Por Ele, uns e outros podemos aproximar-nos do Pai, num só Espírito.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
(Mc 6,30-34)
Naquele tempo, os Apóstolos voltaram para junto de Jesus e contaram-Lhe tudo o que tinham feito e ensinado. Então Jesus disse-lhes: «Vinde comigo para um lugar isolado e descansai um pouco». De facto, havia sempre tanta gente a chegar e a partir que eles nem tinham tempo de comer. Partiram, então, de barco para um lugar isolado, sem mais ninguém. Vendo-os afastar-se, muitos perceberam para onde iam; e, de todas as cidades, acorreram a pé para aquele lugar e chegaram lá primeiro que eles. Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e compadeceu-Se de toda aquela gente, que eram como ovelhas sem pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas.


FÉRIAS E DESCANSO!

No evangelho deste Domingo, escutamos Jesus que convida os apóstolos ao descanso, depois da fadiga da missão. Que bom conselho! Que boa ideia!

Esta semana também vou repousar um pouco e por isso deixo-vos um comentário preparado por outro sacerdote, o P. Vítor Gonçalves (que não conheço pessoalmente, mas cujas reflexões gosto muito de ler).


“Vinde comigo para um lugar isolado e descansai um pouco.” Mc 6, 31

A nossa relação com o tempo é uma aprendizagem difícil. Do tempo que passa depressa demais àquele que parece ter a lentidão da tartaruga estamos sempre em busca de um tempo ideal. Confundimos o urgente com o essencial, queremos a eternidade para alguns momentos e a rapidez para outros. E no meio das escolhas que fazemos, o tempo para descansar é o que mais sofre. Tem um certo ar de desperdício, de oportunidade perdida, de tempo improdutivo, e, contudo, sem descanso não é possível viver bem.

O descanso não é apenas dormir, e só isso já seria importante pois os especialistas dizem que dormimos pouco e mal. Lembro-me como a Bíblia está cheia de sonhos em que Deus fala e revela projectos para a humanidade, mas hoje dificilmente nos encontraria em sonos repousantes. Já ouvimos dizer que o dormir é um “arrumar” da biblioteca de pensamentos e sensações que povoaram o nosso estar acordados. Precisamos absolutamente desta alternância de dormir e acordar, como o nosso planeta precisa do dia e da noite. Mas descansar é mais do que dormir. É saborear o tempo como presente para nós e para os outros, é contemplar o que até julgamos conhecer só porque é visto todos os dias, é reaprender a olhar e a ouvir, é saborear o gosto de pensar e de dialogar libertos da guerra do “ganha ou perde” em que se transformam tantas conversas do quotidiano. Sem descanso facilmente nos transformamos em máquinas, cumprimos horários e atingimos objectivos, mas empobrecemos como pessoas. Julgamos evoluir e, simplesmente, perdemos aquele gosto do viver que é aceitar não dominar nem ser dono de tudo. Descansar é também passar das mãos fechadas da posse às mãos abertas da gratuidade. E vislumbrar no último desejo, “descansa em paz”, dito e escrito com dor e saudade, um tempo de plenitude e graça que é dom absoluto de Deus!

À beira de um tempo de férias sabe bem escutar o convite de Jesus dito aos discípulos no entusiasmo da sua primeira missão. O evangelho diz-nos que foi bem curto o descanso prometido: apenas uma travessia do lago. Mas teve o sabor da companhia e o contágio da compaixão pelas ovelhas sem pastor. Que melhor descanso do que estar junto de quem sabemos que nos ama? Quase poderiam cantar aquele cântico alentejano com seu ritmo calmo: “Quando Te encontro descanso / Tu reconfortas minh’alma / Cristo, Senhor, és o Guia,/ o Bom Pastor / que me conduz. / Minha vida e minha Luz.” Poderemos planear algum descanso que não seja apenas fuga do ritmo habitual e, sim, travessia do lago com Jesus ao nosso lado?

P. Vítor Gonçalves




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