sábado, 2 de outubro de 2010

XXVII DOMINGO DO TEMPO COMUM (ano C)



Leitura da Profecia de Habacuc
(Hab 1,2-3; 2,2-4)
«Até quando, Senhor, chamarei por Vós e não Me ouvis? Até quando clamarei contra a violência e não me enviais a salvação? Porque me deixais ver a iniquidade e contemplar a injustiça? Diante de mim está a opressão e a violência, levantam-se contendas e reina a discórdia?» O Senhor respondeu-me: «Põe por escrito esta visão e grava-as em tábuas com toda a clareza, de modo que a possam ler facilmente. Embora esta visão só se realize na devida altura, ela há-de cumprir-se com certeza e não falhará. Se parece demorar, deves esperá-la, porque ela há-de vir e não tardará. Vede como sucumbe aquele que não tem alma recta; mas o justo viverá pela sua fidelidade».


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 94 (95)
Refrão: Se hoje ouvirdes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações.

Vinde, exultemos de alegria no Senhor,
aclamemos a Deus, nosso Salvador.
Vamos à sua presença e dêmos graças,
ao som de cânticos aclamemos o Senhor.

Vinde, prostremo-nos em terra,
adoremos o Senhor que nos criou.
O Senhor é o nosso Deus
e nós o seu povo, as ovelhas do seu rebanho.

Quem dera ouvísseis hoje a sua voz:
«Não endureçais os vossos corações,
como em Meriba, como no dia de Massa no deserto,
onde vossos pais Me tentaram e provocaram,
apesar de terem visto as minhas obras».


Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo
(2 Tim 1,6-8.13-14)
Caríssimo: Exorto-te a que reanimes o dom de Deus que recebeste pela imposição das minhas mãos. Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de caridade e moderação. Não te envergonhes de dar testemunho de Nosso Senhor, nem te envergonhes de mim, seu prisioneiro. Mas sofre comigo pelo Evangelho, confiando no poder de Deus. Toma como norma as sãs palavras que me ouviste, segundo a fé e a caridade que temos em Jesus Cristo. Guarda a boa doutrina que nos foi confiada, com o auxílio do Espírito Santo, que habita em nós.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 17,5-10)
Naquele tempo, os Apóstolos disseram ao Senhor: «Aumenta a nossa fé». O Senhor respondeu: «Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: ‘Arranca-te daí e vai plantar-te no mar’, e ela obedecer-vos-ia. Quem de vós, tendo um servo a lavrar ou a guardar gado, lhe dirá quando ele volta do campo: ‘Vem depressa sentar-te à mesa’? Não lhe dirá antes: ‘Prepara-me o jantar e cinge-te para me servires, até que eu tenha comido e bebido. Depois comerás e beberás tu. Terá de agradecer ao servo por lhe ter feito o que mandou? Assim também vós, quando tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: ‘Somos inúteis servos: fizemos o que devíamos fazer’».


INÚTEIS?
Nas últimas seis semanas o Evangelho sublinhou várias vezes as exigências do caminho que devemos percorrer para alcançar o “Reino”. Jesus falou-nos da necessidade de liberdade em relação aos bens materiais (XXVI e XXV domingo); da exigência de testemunhar, sempre, a misericórdia e o perdão, (XXIV domingo); do dever de renunciar a tudo o que possa ser obstáculo à missão (XXIII domingo); da importância de converter o nosso coração à humildade (XXII domingo). Ficámos também a saber que a «porta é estreita» (XXI domingo) e tudo isto acabou por suscitar nos Apóstolos (e em nós também) o pedido, muito concreto, que “abre” o Evangelho deste domingo: «Senhor, aumenta a nossa fé!».

No Novo Testamento, em geral, a fé não corresponde a uma adesão a dogmas ou a um conjunto de verdades abstractas sobre Deus: neste caso corresponde à adesão a Cristo e ao projecto do “Reino”. Pedir a Jesus que aumente a fé significa, portanto, pedir-Lhe que aumente a coragem de optar pelo “Reino” e pelas exigências que o “Reino” comporta.

Imediatamente após este trecho, para evitar que caiamos numa visão “contratual” da fé, Lucas propõe-nos a parábola do servo inútil, onde é descrita a atitude que o homem deve assumir diante de Deus. Os fariseus estavam convencidos de que bastava cumprir os mandamentos para alcançar a salvação: se o homem cumprisse as regras, Deus não teria outro remédio senão salvá-lo. A salvação dependia, de acordo com esta perspectiva, dos méritos do homem. Deus seria, assim, apenas um contabilista, empenhado em fazer contas para ver se o homem tinha ou não direito à salvação…

Com a parábola do servo inútil, Jesus coloca as coisas numa dimensão diferente. A atitude do verdadeiro discípulo frente a Deus não deve ser a atitude de quem sente que fez tudo muito bem feito e que, por isso, Deus lhe deve algo, mas deve ser a atitude de quem cumpre o seu papel com humildade, sentindo-se um servo que apenas fez o que lhe competia. “Inúteis”, não porque sejamos incapazes, mas porque a salvação não depende dos nossos esforços: depende apenas da bondade do Pai.


(Tenham uma boa semana!)




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