sábado, 8 de janeiro de 2011

FESTA DO BAPTISMO DO SENHOR (ano A)



Leitura do Livro de Isaías
(Is 42,1-4.6-7)
Diz o Senhor: «Eis o meu servo, a quem Eu protejo, o meu eleito, enlevo da minha alma. Sobre ele fiz repousar o meu espírito, para que leve a justiça às nações. Não gritará, nem levantará a voz, nem se fará ouvir nas praças; não quebrará a cana fendida, nem apagará a torcida que ainda fumega: proclamará fielmente a justiça. Não desfalecerá nem desistirá, enquanto não estabelecer a justiça na terra, a doutrina que as ilhas longínquas esperam. Fui Eu, o Senhor, que te chamei segundo a justiça; tomei-te pela mão, formei-te e fiz de ti a aliança do povo e a luz das nações, para abrires os olhos aos cegos, tirares do cárcere os prisioneiros e da prisão os que habitam nas trevas».


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 28 (29)
Refrão: O Senhor abençoará o seu povo na paz.

Tributai ao Senhor, filhos de Deus,
tributai ao Senhor glória e poder.
Tributai ao Senhor a glória do seu nome,
adorai o Senhor com ornamentos sagrados.

A voz do Senhor ressoa sobre as nuvens,
o Senhor está sobre a vastidão das águas.
A voz do Senhor é poderosa,
a voz do Senhor é majestosa.

A majestade de Deus faz ecoar o seu trovão
e no seu templo todos clamam: Glória!
Sobre as águas do dilúvio senta-Se o Senhor,
o Senhor senta-Se como Rei eterno.


Leitura dos Actos dos Apóstolos
(Actos 10,34-38)
Naqueles dias, Pedro tomou a palavra e disse: «Na verdade, eu reconheço que Deus não faz acepção de pessoas, mas, em qualquer nação, aquele que O teme e pratica a justiça é-Lhe agradável. Ele enviou a sua palavra aos filhos de Israel, anunciando a paz por Jesus Cristo, que é o Senhor de todos. Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do baptismo que João pregou: Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré, que passou fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos pelo Demónio, porque Deus estava com Ele».


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 3,13-17)
Naquele tempo, Jesus chegou da Galileia e veio ter com João Baptista ao Jordão, para ser baptizado por ele. Mas João opunha-se, dizendo: «Eu é que preciso de ser baptizado por Ti, e Tu vens ter comigo?». Jesus respondeu-lhe: «Deixa por agora; convém que assim cumpramos toda a justiça». João deixou então que Ele Se aproximasse. Logo que Jesus foi baptizado, saiu da água. Então, abriram-se os céus e Jesus viu o Espírito de Deus descer como uma pomba e pousar sobre Ele. E uma voz vinda do Céu dizia: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência».


TRINTA ANOS DE SILÊNCIO
Hoje celebramos a Festa do Baptismo do Senhor, que fecha o ciclo do Natal e inicia uma nova etapa do Ano Litúrgico, a que chamamos “tempo comum”. Em apenas pouco mais de quinze dias, a Liturgia da Palavra convidou-nos a meditar o nascimento de Jesus em Belém, a visita dos reis magos e a fuga da Sagrada Família para o Egipto. Os relatos evangélicos da infância de Jesus incluem ainda um famoso episódio, de quando Ele aos doze anos, após ter estado desaparecido durante três dias, foi reencontrado pelos seu pais, no templo de Jerusalém, a dialogar com os doutores da lei. No entanto, no Evangelho de hoje, é um homem adulto que se apresenta diante de João para receber o baptismo. Um homem com cerca trinta anos de idade e por isso, a curiosidade suscita em todos nós uma pergunta natural: como foram passadas as primeiras três décadas da vida de Jesus?

Esta escassez de notícias deu azo a que muitos tentassem saciar a curiosidade das gentes, escrevendo numerosos livros apócrifos, que pescam os seus relatos na fantasia e criatividade dos próprios autores, sem qualquer preocupação de basear-se em factos históricos. Contudo, o evangelho de Lucas (para além de Mateus, o único fidedigno no que diz respeito à infância de Jesus) preenche o vazio deste período com apenas uma frase que conclui o episódio no templo de Jerusalém:

«Depois desceu com eles, voltou para Nazaré e era-lhes submisso. Sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração. E Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens». (Lc 2,51-52)

Devemos render-nos a esta evidência: dos primeiros trinta anos da vida de Jesus podemos apenas fazer hipóteses e suposições, pois não possuímos fontes históricas que nos descrevam episódios credíveis desse tempo em que Jesus vivia em Nazaré com José e Maria. Aliás, o silêncio que envolve aqueles anos acaba por ser o elemento mais plausível para incluir nos nossos palpites: a falta de relatos leva-nos a supor que não houvesse nada de extraordinário para relatar. A vida de Jesus até ao momento do baptismo no rio Jordão (excluindo os eventos ligados ao Seu nascimento) provavelmente não era muito distinta da vida dos Seus contemporâneos: uma vida anónima, trabalhando como carpinteiro numa pequena aldeia da Galileia. A Palavra fez-se carne e durante trinta anos permaneceu num silêncio frutífero: escutando, aprendendo, meditando.

Se o exemplo de Jesus deve iluminar a nossa vida, também este período de "mutismo" tem algo para nos ensinar. Diz o ditado popular que, se Deus nos deu uma boca e dois ouvidos, é para que os usemos nessa proporção: falar menos e ouvir mais.

Os trinta anos de recolhimento preparam a Sua pregação e ensinam-nos o valor da quietude, do silêncio, da solidão fecunda. É um silêncio que retorna e que antecede todas as horas difíceis e todas as decisões importantes, como na véspera da escolha dos Apóstolos (cf. Lc 6,12-16), ou antes da Paixão (cf. Lc 22,39-46). Silêncio, também, diante de Pilatos, em face das acusações de falsas testemunhas (cf. Mt 27,13-14); e diante de Herodes, a ponto de ser escarnecido pelo tetrarca e os seus oficiais (cf. Lc 23,8-11). Por fim, silêncio na própria sepultura, durante os três dias que antecederam a Ressurreição.

A atitude de Jesus está em sintonia com o magnífico hino que encontramos no terceiro capítulo do livro do Eclesiastes e que nos ensina que todas as coisas têm o seu tempo. Deixo-vos aqui, uma adaptação desse hino e despeço-me com duas perguntas: irmão, qual o tempo que estás a viver neste momento? É tempo de calar ou tempo de falar?


Para tudo há um momento e um tempo para cada coisa:
tempo para nascer e tempo para morrer,
tempo para plantar e tempo para arrancar o que se plantou,
tempo para chorar e tempo para rir,
tempo para se lamentar e tempo para dançar,
tempo para atirar pedras e tempo para as juntar,
tempo para abraçar e tempo para evitar o abraço,
tempo para guardar e tempo para atirar fora,
tempo para rasgar e tempo para coser,
tempo para calar e tempo para falar



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3 comentários:

dina raimundo disse...

Obrigado.É uma ajuda grande para melhor interiorizar a palavra do Senhor..Um beijinho

josé manuel nascimento disse...

Muito obrigado Pe. Carlos pelo comentário de hoje à Palavra do Senhor nesta Festa do Baptismo do Senhor. O tempo, o silêncio, a palavra... eis os pilares a partir dos quais o Senhor Jesus nos convida no Seu Baptismo a uma opção profunda pela Sua escuta e pelo Seu seguimento nos tempos comuns das nossas vidas... Um excelente mote para o novo ano de 2011!! Bom Ano Pe. Carlos!!

Paulo Gonçalves disse...

Sem dúvida um convite a um homem novo.
O Baptismo renova-nos por meio do espírito santo. É assim que me sinto quando me encontro com Cristo. Ele não necessita de ser baptizado mas vem sempre ao meu encontro, tal como o fez com João.
Um bom Ano!

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