sábado, 25 de dezembro de 2010

FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA (ano A)



Leitura do Livro de Ben-Sirá
(Sir 3, 3-7.14-17a [gr. 2-6.12-14])
Deus quis honrar os pais nos filhos e firmou sobre eles a autoridade da mãe. Quem honra seu pai obtém o perdão dos pecados e acumula um tesouro quem honra sua mãe. Quem honra o pai encontrará alegria nos seus filhos e será atendido na sua oração. Quem honra seu pai terá longa vida, e quem lhe obedece será o conforto de sua mãe. Filho, ampara a velhice do teu pai e não o desgostes durante a sua vida. Se a sua mente enfraquece, sê indulgente para com ele e não o desprezes, tu que estás no vigor da vida, porque a tua caridade para com teu pai nunca será esquecida e converter-se-á em desconto dos teus pecados.


SALMO RESPONSORIAL Salmo 127 (128), 1-2.3.4-5
Refrão: Felizes os que esperam no Senhor e seguem os seus caminhos.

Feliz de ti, que temes o Senhor
e andas nos seus caminhos.
Comerás do trabalho das tuas mãos,
serás feliz e tudo te correrá bem.

Tua esposa será como videira fecunda,
no íntimo do teu lar;
teus filhos serão como ramos de oliveira,
ao redor da tua mesa.

Assim será abençoado o homem que teme o Senhor.
De Sião te abençoe o Senhor:
vejas a prosperidade de Jerusalém,
todos os dias da tua vida.


Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Colossenses
(Col 3, 12-21)
Irmãos: Como eleitos de Deus, santos e predilectos, revesti-vos de sentimentos de misericórdia, de bondade, humildade, mansidão e paciência. Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente, se algum tiver razão de queixa contra outro. Tal como o Senhor vos perdoou, assim deveis fazer vós também. Acima de tudo, revesti-vos da caridade, que é o vínculo da perfeição. Reine em vossos corações a paz de Cristo, à qual fostes chamados para formar um só corpo. E vivei em acção de graças. Habite em vós com abundância a palavra de Cristo, para vos instruirdes e aconselhardes uns aos outros com toda a sabedoria; e com salmos, hinos e cânticos inspirados, cantai de todo o coração a Deus a vossa gratidão. E tudo o que fizerdes, por palavras ou por obras, seja tudo em nome do Senhor Jesus, dando graças, por Ele, a Deus Pai. Esposas, sede submissas aos vossos maridos, como convém no Senhor. Maridos, amai as vossas esposas e não as trateis com aspereza. Filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque isto agrada ao Senhor. Pais, não exaspereis os vossos filhos, para que não caiam em desânimo.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 2, 13-15.19-23)
Depois de os Magos partirem, o Anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse-lhe: «Levanta-te, toma o Menino e sua Mãe e foge para o Egipto e fica lá até que eu te diga, pois Herodes vai procurar o Menino para O matar». José levantou-se de noite, tomou o Menino e sua Mãe e partiu para o Egipto e ficou lá até à morte de Herodes. Assim se cumpriu o que o Senhor anunciara pelo Profeta: «Do Egipto chamei o meu filho». Quando Herodes morreu, o Anjo apareceu em sonhos a José, no Egipto, e disse-lhe: «Levanta-te, toma o Menino e sua Mãe e vai para a terra de Israel, pois aqueles que atentavam contra a vida do Menino já morreram». José levantou-se, tomou o Menino e sua Mãe e voltou para a terra de Israel. Mas, quando ouviu dizer que Arquelau reinava na Judeia, em lugar de seu pai, Herodes, teve receio de ir para lá. E, avisado em sonhos, retirou-se para a região da Galileia e foi morar numa cidade chamada Nazaré. Assim se cumpriu o que fora anunciado pelos Profetas: «Há-de chamar-Se Nazareno».


«LEVANTA-TE, TOMA O MENINO E SUA MÃE E FOGE…»
Este ano, o dia 25 de Dezembro calhou num sábado, o que significa que na liturgia de amanhã (primeiro domingo após o Natal e portanto, Festa da Sagrada Família) encontramos a página do Evangelho que corresponde ao relato do dia seguinte ao nascimento de Jesus. Vinte e quatro horas após as grandes celebrações natalícias somos convidados a visitar de novo o presépio e descobrimos (com surpresa!) que o cenário sereno e bucólico da noite anterior se transformou completamente. Durante a noite de Natal emocionámo-nos com o clima de ternura e de consolação que se respirava no estábulo de Belém. É normal (e justo) que assim seja! É bonito imaginar os pastores que se ajoelham para contemplar o menino e os anjos que cantam «glória a Deus nas alturas». Porém, na manhã seguinte tudo se alterou: os pastores e os reis magos voltaram às próprias vidas e a família de Nazaré foi obrigada a fugir para o Egipto, para escapar da fúria homicida de Herodes.

Infelizmente, muitos (que se dizem) “cristãos” esquecem facilmente que a família de Jesus era uma família emigrante e que os primeiros anos da Sua vida foram passados numa terra onde era estrangeiro. A Festa da Sagrada Família e o episódio da fuga para o Egipto são uma boa ocasião para recordar que milhares de pessoas vivem neste preciso momento o drama de uma emigração triste e traumática, enfrentando geralmente viagens incrivelmente longas e perigosas, leis repressivas e xenófobas e um capitalismo proxeneta que, esfregando as mãos diante do desespero humano, propõe salários ridículos e condições de trabalho desumanas.

Dizia Bonhoeffer, teólogo alemão e mártir nos campos de concentração nazis: «Nós cristãos, não podemos nunca pronunciar as palavras últimas da fé, se antes não tivermos pronunciado as palavras penúltimas». A missão da Igreja é anunciar ao mundo as palavras “últimas”: anunciar o Reino, a esperança e a salvação plena. Mas este anúncio não é completo e autêntico se falta um compromisso sério no campo das realidades “penúltimas”, ou seja, se não nos batermos pela justiça, pelo progresso dos povos e pela dignidade humana.

João Paulo II escreveu nas suas mensagens para o Dia Mundial dos Migrantes e dos Refugiados que «a catolicidade não se manifesta somente na comunhão fraterna dos baptizados, mas exprime-se também na hospitalidade assegurada ao estrangeiro, qualquer que seja a sua pertença religiosa, na rejeição de toda a exclusão ou discriminação racial e no reconhecimento da dignidade pessoal de cada um, com o consequente compromisso de promover os seus direitos inalienáveis.

«Era estrangeiro e acolheste-Me» (Mt 25,35). É tarefa da Igreja não só repropor ininterruptamente este ensinamento de fé do Senhor, mas também indicar a sua apropriada aplicação às diversas situações, que a variação dos tempos continua a suscitar. Hoje o migrante irregular apresenta-se-nos como aquele “estrangeiro”, em quem Jesus pede que seja reconhecido. Acolhê-lo e ser solidário com ele é dever de hospitalidade e fidelidade à própria identidade de cristão.

Na Igreja ninguém é estrangeiro, e a Igreja não é estrangeira a nenhum homem e em nenhum lugar. Enquanto sacramento de unidade, e portanto sinal e força agregante de todo o género humano, a Igreja é o lugar onde também os imigrados ilegais são reconhecidos e acolhidos como irmãos. É tarefa das diversas dioceses [e de cada cristão] mobilizar-se para que estas pessoas, constrangidas a viver fora da rede de protecção da sociedade civil, encontrem um sentido de fraternidade na comunidade cristã».


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Um bom domingo a todos, um santo Natal e se quiserem (re)ler a meditação “natalícia” do ano passado, cliquem aqui.


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